Antônio Roberto Mendes Pereira
Na agricultura de subsistência, as
necessidades humanas determinam o que se vai produzir. E como nossas
necessidades são sempre variadas, a produção precisa atender a esta demanda.
O ser humano é exigente na sua dieta e
requer uma nutrição difícil de obter a partir de poucos tipos de alimentos.
Os carboidratos são de mais fácil
produção (macaxeira, milho, arroz, etc.). Sistemas simples conseguem facilmente
atender as necessidades de uma família. Mas alimentos que dêem nutrientes mais
complexos como as proteínas, podendo atender os níveis idéias de vitaminas,
gorduras e sais minerais nem sempre são facilmente produzidos e atendidos em
sistemas simples. Necessita-se de mais conhecimentos sobre as suas exigências
para sua produção. Uma floresta em seu estado natural só consegue atender de 7
a 8% dos alimentos consumidos por nós humanos. Mas, hoje se utilizando as
técnicas do sistema permacultural já se consegue introduzir vegetais cultivados
nestes ambientes aumentando estes números percentuais para 60 a 70%. E Uma das
grandes estratégias utilizada para se alcançar estes resultados é o correto manejo
da luz solar.
Nas pequenas e médias propriedades
rurais o suprimento destes alimentos mais complexos é atendido na sua maioria por
uma rede de transporte, armazenamento e comercialização que transcende as
porteiras de muitas propriedades, e em especial dos pequenos imóveis rurais. Às
vezes estes alimentos viajam centenas de quilômetros para atender esta demanda
crescente e exigente dos consumidores urbanos e rurais.
E de quanto mais distante vem este
alimento, mais energia na forma de petróleo (combustível) é gasto, tornando
estes alimentos caríssimos para sua aquisição. As técnicas de conservação
destes alimentos também demandam grandes quantidades de insumos químicos que na
sua maioria são oriundos e derivados do petróleo. Também contribuindo para os
preços elevados destes produtos.
E vale a pena salientar que só estamos dando
ênfase às necessidades alimentícias, se formos explorar outras necessidades
veremos que a lógica é mais ou menos essa, o ser humano não se contenta com o
que tem, e quer sempre mais, e esta rede de necessidades vai sendo alimentadas
por uma mídia desenfreada que prega e vende o consumismo. Imaginem que os
aborígenes durante toda sua vida manipulavam mais ou menos 40 elementos, quase
todos orgânicos. Já na sociedade moderna atual, o ser humano manipula durante
sua vida mais de 10 mil objetos. E quase todos consumindo energia para ser produzidos
e para ser utilizados.
O que fazer para que estas
necessidades sejam atendidas localmente, na propriedade? Esta é a intenção
deste texto, trazer idéias, estratégias e princípios que se aplicados podem
minimizar esta dependência externa de compra de alimentos e outros insumos.
Não podemos esquecer que quando as
necessidades de um sistema não são atendidas ou supridas dentro dele, nós
pagamos o preço em consumo de energia e em poluição. Não podemos mais arcar com
os custos verdadeiros de um modelo de agricultura que degrada o meio ambiente
de forma arbitrária, sem nenhum sentimento ou responsabilidade pelo que se faz,
pelo que gera, pelo que transforma, pelo que excreta. Este modelo está matando
nosso mundo, e com certeza irá nos matar também, pois estamos e somos todos
ligados, estamos numa mesma rede de relações e de vida.
A produtividade, na agricultura
moderna, é usualmente medida por unidade de área plantada. Na Permacultura para
qualquer espécie plantada de forma monocultural, a produção na sua maioria é
quase sempre menor, quando comparada com o sistema moderno. Porém, a soma das
produções onde os policultivos de sucessão permanentes são realizados, os
resultados serão sempre maiores, simplesmente porque um sistema, de uma só
espécie, nunca poderá usar toda a energia e os nutrientes que estão disponíveis
naquele sistema. Por exemplo, um sistema de plantas de multinivéis (de alturas
diferentes), usa ou tenta utilizar toda luz disponível para a fotossíntese
naquele espaço, no monocultural toda essa energia não é utilizada e se perde.
Os sistemas radiculares destas plantas
também por ser variados em tamanho, espessura e forma, exploram profundidade de
solos diferentes, aproveitando ao máximo os minerais que estão disponíveis.
Logo, numa área mista a probabilidade de uso completo e integral é maior. Um
peixe que se alimenta de plâncton de modo algum vai competir com outro que tem
como base alimentar as algas numa lagoa.
Logo, a primeira medida a ser seguida
é praticar uma Permacultura complexa e diversa, para poder maximizar o uso de
todos os recursos e energias disponíveis, e assim aumentar a produtividade
local. Se tiver luz, como aproveitar melhor esta luz? Se tiver minerais como
produzir ao máximo com o que se tem? Se tiver água como reaproveitar ao máximo
a mesma água?
A interação entre espécies é
necessária em sistemas Permaculturais. Quando bem projetada com certeza aumenta
a produção e a produtividade local. Possa ser que animais e plantas não
consigam coexistir totalmente sem competição, mas a simples presença de um,
pode melhorar ou preparar o ambiente para o outro. Como exemplo, podemos frisar
plantas altas e exigentes em sol, pode preparar o ambiente para plantas que não
exigem grande quantidade de luz solar, como é o caso do café e muitas outras.
Para minimizar estas demandas sugiro a
criação de um sistema evolutivo, que possa aproveitar e reaproveitar todas as
energias e recursos, que possam estar presentes no ambiente da propriedade, ou
vir de fora, além de criar situações onde os alimentos mais complexos possam
fazer parte deste sistema de produção.
SEMPRE
SISTEMA EVOLUTIVO DE MONTAGEM PERMACULTURAL
DE REUSO DE ENERGIAS.
Para que este sistema possa funcionar
se faz necessário utilizar várias estratégias. Talvez o uso de uma só
estratégia não se consiga alcançar os resultados na sua inteireza. Logo, é o
conjunto de ações que facilitam e promovem o sucesso deste sistema.
·
Não queimando a
biomassa – Não pode perder este potencial nas propriedades. Toda esta biomassa
para ser produzida necessitou retirar do solo e do ar os minerais para produzir
crescimento vegetal. A decomposição desta biomassa devolve para o sistema
gratuitamente parte destes minerais. Em muitos casos transfere nutrientes de
camadas mais profundas, colocando a disposição nas camadas mais superficial,
podendo ser alcançado pela maioria dos sistemas radiculares das plantas. O uso
da cinza também devolve mineral para o solo, mas a capacidade da matéria
orgânica de tornar o solo fofo, grumoso é perdida, só na decomposição desta
matéria orgânica através dos microorganismos é que se alcança esta bio condição
de solo (bioestrutura).
· Aumentando a
quantidade de matéria orgânica no solo por metro² - Até parece que é a mesma
coisa da estratégia anterior, mas são diferentes. O primeiro nos remete a
preocupação de não perder a matéria orgânica, e o segundo nos remete a
preocupação de produzir e implantar estratégias de aumentar a produção de
matéria orgânica, de forma que a retroalimentação do solo seja constante e com
um cardápio adequado e variado.
Uma das
grandes preocupações de quem pratica agroecologia é a realimentação dos solos, que
estão sendo cultivados, já que os naturais, a própria natureza se encarrega de
forma espontânea. Aumentar esta quantidade de matéria orgânica onde se pratica
agricultura pode até parecer uma contradição, mas não podemos esquecer que ao
se colher os frutos de um determinado cultivo para a venda, parte dos minerais
e da água que fora utilizado para a sua produção é exportado para outros
espaços. É claro que esta operacionalização irá provocar um empobrecimento do
solo onde aconteceu e se praticou a agricultura.
Como
diminuir estas saídas equilibrando esta prática? Sabemos também que todo ser
vivo permite saídas e entradas para se manter vivo e ativo. Como fazer para que
as nossas propriedades possam ter estratégias produtivas que levem em conta
estes mecanismos? No texto “Transferência
de fertilidade” tento trazer
várias alternativas que podem resolver este problema.
· Arrumando a
distribuição das plantas em relação à posição do sol da estação – A posição das
plantas em relação ao sol tem uma influência direta na fotossíntese e
consequentemente no metabolismo da planta trazendo como resultado o equilíbrio
de todo ciclo da planta. Ela com certeza irá cumprir todo seu ciclo produtivo e
reprodutivo. O Permacultor observador tem necessidade de conhecer e ter uma
relação das necessidades de cada cultivo que pretende incluir no seu
agroecossistema. Tem plantas que necessitam de mais luz, outras de menos, mas
com certeza todas necessitam de luz para fazer fotossíntese. Toda folha de uma
planta foi projetada para fazer fotossíntese, toda ela precisa ter contato com
o sol em algum momento do dia. Logo, entender e aprender o jogo de luz é uma
necessidade primária. Dependendo da estação o sol pode ter uma influência maior
ou menor no desenvolvimento das plantas. A altura e a inclinação do sol pode
ser um diferencial no que se quer produzir.
Estude e
anote estas inclinações. O aproveitamento ao máximo da energia solar deve ser
um dos objetivos almejados. Esta energia nos é dada de graça e precisa produzir
biomassa ao máximo. É uma forma de armazenar toda esta energia que nos foi presenteada
pelo sol através da fotossíntese. Esta biomassa é a base para fazer que toda esta
matéria orgânica possa passar por todo sistema, ora sendo matéria orgânica viva,
ora sendo matéria orgânica morta, ora sendo flor, ora sendo semente, ora sendo
fruto. E assim passar e estar presente contribuindo de forma direta e indireta
no ecossistema ou no agroecossistema.
· Contribuindo para
o aumento da fotossíntese, diminuindo as podas, desmatamento, plantando plantas
de grandes portes com potencial de maior captura de carbono e de fotossíntese –
O aumento da fotossíntese tem uma relação direta com energia, com captura de
carbono, com mais oxigênio disponível, com mais produção, pois tenho toda uma
usina de energia (folha) que consegue transformar luz em alimento, e vale apena
dizer que o homem só deveria comer alimento produzido pelo sol. E podemos ainda
afirmar que planta não consome minerais e sim açúcar, que é um dos resultados
da fotossíntese. Precisamos fazer com que todas as folhas de uma planta
consigam desempenhar seu maior papel, que é o de fazer fotossíntese.
Lembre-se
que a Energia dos seres vivos é o sol transformado em alimento a serviço da
vida.
· Diminuindo a
entropia – Todos os seres vivos produzem entropia, perda de energia, energia
que se perde e não volta ao mesmo ser da mesma forma. Como exemplo, quando
transpiramos estamos fazendo entropia, e este calor é perdido. Como diminuir
esta entropia? Já que ela acontece, como
reaproveitar esta energia exalada pelos seres para outras tarefas no sistema?
Para melhorar a compreensão pergunto: como aproveitar o ar quente da minha
respiração, o que posso fazer com ele? Será que posso utilizar esta energia exalada
para aquecer algum espaço? Imagine um espaço onde tenham muitas pessoas juntas,
onde esta exalação é bem maior, o que posso fazer? Posso encarar como uma
pequena usina de ar quente? Pense nisso e busque outros exemplos no dia a dia
de sua propriedade.
· Diminuindo as
saídas do sistema – Produzir e consumir localmente ou equilibrando as saídas e
entradas é outra alternativa que precisa ser repensada. Quanto menos compro e
mais produzo para o meu consumo diminuo o gasto com energia. Evito o gasto com
uma infinidade de ações que precisam ser realizadas para colher, selecionar,
separar, embalar, transportar, expor e vender, quase todas estas ações pode ser
minimizado a partir do momento que penso em primeiro produzir para o meu
consumo. E caso seja necessário escoar o excesso ou a produção comercial posso
buscar formas de fazer coletivamente, dividindo os custos com transportes com
outros companheiros produtores.
· Armazenando ao
máxima as fontes de biomassa no período de maior produção (das águas) – Este
tema já foi tratado mais ainda necessita de mais um complemento. O melhor
momento para se produzir e armazenar biomassa é no período das chuvas, onde
posso ter um maior número de plantas sendo cultivadas e também de forma
natural. A natureza está me permitindo este beneficio bastando para isso fazer
uma ação planejada. Com esta postura consigo fazer várias ações ao mesmo tempo:
1. Aumento a captura de carbono;
2. Posso ter o solo mais protegido por certo
período;
3. Aumento a capacidade de transferência de fertilidade
na minha propriedade, entre outras.
· Aumentando o
consumo de alimentos crus – A partir do momento que aumento o consumo de alimentos
crus, diminuo o gasto de energia para cozinhar. Vai aumentar a sobra para
acontecer o armazenamento de energia que pode ser direcionada para outras
atividades produtivas ou de consumo. O texto Consumo
verde pode esclarecer e trazer mais
subsídios para a prática desta atividade.
·
Utilizando ao
máximo o principio de design de localização relativa dos elementos – Quanto
mais distante um elemento do outro maior a possibilidade de haver aumento no
gasto de energias. Logo a localização do elemento precisa ser vista com
bastante atenção. Busque sempre aumentar as conexões entre os elementos além de
aumentar as aproximações.
· Transformando uma
fonte de energia em outra(s) - Com uma fonte de Calor podemos: desidratar,
ferver, aquecer, desinfetar, derreter, torrar, expurgar, etc. Esta com certeza pode
ser outra estratégia para aumentar o reuso das energias.
· Gerando
tecnologias vivas - Esta é outra forma de melhorar a capacidade de reuso de
energias. Várias tecnologias podem ser adaptadas e até criadas para atender a
este reuso destas fontes energéticas. Como exemplo, podemos utilizar os animais
como tratores biológicos dentro da propriedade, onde determinadas funções podem
ser atendidas pela ação destes animais. Porcos podem arar, gansos podem
capinar, galinha pode controlar alguns insetos, minhocas podem revirar o solo.
Como vemos precisamos ver os animais com outros olhos, os olhos de parceiros
que facilitam a vida do Permacultor.
· Mínimo de mudança
para o máximo de efeito – Este é um desafio permanente, como operacionalizar esta
proposta? Quando bem pensada a nossa intervenção, podemos encontrar formas de alcançar este objetivo. Como exemplo, para
melhorar a compreensão: um ventilador numa determinada posição atende a
necessidade de um elemento, apenas com a troca de lugar ou de direção ele pode
atender a muito mais elementos utilizando-se a mesma energia. Dentro das
propriedades durante minhas visitas percebo uma infinidade de elementos que com
o mínimo poderia alcançar o máximo.
· Aproveitar as
rochas existentes no local transformando-as em farinha para aumentar o grau de disponibilidade
de minerais para as plantas cultivadas. Ter rochas na propriedade é um presente
da natureza e precisa ser visto como um privilégio “É ter uma fabrica de
minerais para o solo a nossa disposição”, desde que possamos criar formas de
desintegrar em pó estas rochas. Elas são fontes naturais e limpas de minerais
para os solos. E muitas destas rochas já se conhecem suas riquezas minerais,
pesquisem, perguntem. Com isto podemos também reutilizar todo este potencial
minimizando a entrada de fora de minerais sintéticos.
Como podemos ver existe uma série de
ações que podem fazer a diferença produtiva nas propriedades, é uma pena que a
mídia não divulgue estratégias como as colocadas acima. Todas estas frisadas
são tecnologias de processo que se pode fazer sem gerar gastos econômicos
através de compras, unicamente necessitando decisões, planejamento e
implantação.
Sabemos que toda interferência humana
na natureza gera perturbação. Já que a interferência humana é necessária, como
fazer para perturbar menos? Como fazer uma perturbação planejada? E não esqueça
que o elemento colocado pelo homem, exemplo pés de milho, quem decide se o
elemento fica ou não no sistema com toda certeza não é você é a natureza. Não
tente comprar uma briga com a natureza, nesta briga sempre quem sai perdendo é
o homem.
Não quero ser repetitivo em meus
textos, mas se faz necessário que estas compreensões possam ser incorporadas
não só no consciente, mas também no subconsciente. Uma mentira repetida
permanentemente passa a ser conhecida como verdades logo precisarão repetir
várias vezes a verdade para que ela seja aceita com verdade. Estamos cansados
de ouvir tantas propagandas que tenta nos vender diariamente, elas são
repetidas em alguns casos na TV a cada 5 a 10 minutos e nós aceitamos assistir
e até divulgamos e compramos.
Estou tentando utilizar a mesma
estratégia sendo até algumas vezes repetitivo em alguns trechos dos meus
textos, mas é em prol de uma justa causa. Precisamos formar quadros de pessoas
que façam diferentes e que sejam diferentes falando e defendendo formas de
respeito ao meio ambiente, as formas de produção e estimulem um consumo muito
mais consciente e saudável. Faça também parte desta luta não só lendo e
divulgando. Pratique.
12 de julho de 2011
Já me tornei suspeito para elogiar, mas repito... Parabéns. A cada leitura aprendo muito.
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