segunda-feira, novembro 3

O que observar da natureza para imitá-la - Olhando com os olhos de querer vê

Antônio Roberto Mendes Pereira

Não é fácil saber como imitar a natureza. São muitos detalhes que os nossos olhos podem ver quando se observa e em especial uma paisagem natural. Treinar nossos olhos para saber o que olhar diante do todo da natureza é o objetivo deste texto. Olhar e buscar compreender como aquele espaço foi organizado, tentar entender o porquê um determinado elemento está localizado próximo daquele outro, e o que os une, são tarefas não muito fáceis se nós não treinarmos os nossos olhos para tal propósito. E isto só se aprende observando.


A tarefa não é imitar unicamente o formato dos elementos, mas a lógica que os une naquele contexto da realidade. 

As exposições que irão ser apresentadas são experiências reais vividas durante a aprendizagem de aplicação da Permacultura. Olhar com os olhos de ver é o que se pretende o que se pretende ensinar.

OBSERVAÇÕES NECESSÁRIAS

Quais os elementos que compõe o espaço observado? – Reconhecer os elementos que fazem parte deste espaço de recorte observado é de suma importância, para buscar o entendimento dos acontecimentos que surgem por estarem juntos. As propriedades emergentes surgem quando os elementos se encontram e se combinam, surgindo o novo ou um novo acontecimento, um fato, ou qualquer outro fenômeno que até então não aconteceria, e só está acontecendo porque houve este encontro natural espontâneo ou até provocado.

Tem alguma coisa, ou motivo que une os elementos principalmente nos que estão localizados mais próximos – Tente identificar o que os une. Que elos são estes e se estão entrelaçados aumentando a resistência da existência e da permanência dos mesmos naquele ambiente.

Eles se beneficiam de algum outro elemento, ou fenômeno? – Tente também verificar se algum fenômeno maior está aumentando estas ligações ou conexões. Pois normalmente na natureza são redes dentro de redes e ou sistemas dentro de sistemas, logo com certeza um sistema menor irá está conectado com sistemas maiores.

Eles estão juntos em todos os momentos? Ou apenas em algumas estações? – Estas combinações ou relações vão continuar? irão ter perpetuidade por mais algum tempo? Ou foi localizada e de pouco tempo?

Os elementos irão ter continuidade presencial mesmo depois que cumprir sua função? – Será que o elemento após ter suas necessidades atendidas irá continuar com a parceria ou combinação com os demais, ou vai se retirar do espaço? É um detalhe a ser observado. Por exemplo, tem algumas árvores que em determinado período do ano soltam suas folhas e é claro que este processo irá ativar a presença de alguns elementos vivos que irão tirar proveito daquela quantidade de matéria  orgânica depositada e disponível no solo. Mas com certeza este processo terá início, meio e fim. Logo, este processo de parceria pode ser passageiro. 

O que provoca a integração entre estes elementos? – É o clima? A presença de água? A quantidade de matéria orgânica? A sombra? A luminosidade? O frio? O calor? A fertilidade do solo, ou algo mais?

Muitos elementos existem no ambiente que facilitam, provocam ou concorrem para esta agregação, ou presença.

A presença de umidade - Cria ambientes propícios para o aumento de vida e logicamente o aumento de conexões. A presença de uma grande quantidade de plantas de grande porte está nos dizendo que existe uma boa quantidade de água armazenada no solo. Estes solos conseguem armazenar água para fornecer posteriormente a toda vida que esta se formando ou que já reside neste ambiente. Vegetação pequena, seca e de folhas estreitas normalmente são indicadores de áreas de pouca capacidade de reserva de água ou de estações de inverno pequeno.

Uma fonte de alimento - Permanente ou temporária, e um bom exemplo é a presença de matéria orgânica cobrindo os solos. Lembrando que quanto mais variada for esta matéria orgânica mais biodiversidade de fauna e flora o ambiente terá, o que é muito bom. Observe a quantidade desta matéria orgânica por metro quadrado, junte, colete e pese, verifique a diversidade deste material se é rico em quantidade e em espécies. Tente identificar se encontra neste material a presença de esterco de animais e de que espécie será.

Precisamos também estar atento para as fontes de alimentos in natura, frutas, frutos, cascas, folhas estes também fazem parte da reserva alimentar do espaço. É biomassa para atender a demanda dos seres consumidores que fazem parte deste bioma natural.

Microclimas – Uma combinação de vários elementos que compõe o clima (precipitação, temperatura, etc) provocam o surgimento de microclimas que facilitam o surgimento e o aumento de mais vida no ambiente. 

Observe se existe microclima particular dentro do ambiente observado, e tente descobrir quais os fatores que concorreram para este acontecimento.

O aspecto do terreno – De que lado está exposto o terreno, ou o plantio em relação ao sol, ao vento e as chuvas. Quanto mais atende-se a demanda dos elementos cultivados ou criados, melhor seu desempenho produtivo. 

Tem plantas que preferem uma maior quantidade de luz solar logo verifique se ela esta bem localizada em relação ao sol, outras menos, alguns tipos necessitam de mais água, outras de menos. E a escolha de qual aspecto vai ser cultivado contribui enormemente no sucesso da atividade.

Em relação ao solo – Se ele é raso, profundo, escuro, claro, protegido ou desprotegido são informações que fazem a diferença no decifrar na paisagem o que une e organiza os elementos. Este procedimento facilita a tomada de decisão na escolha do que se vai pretender fazer para produzir e como organizar seu espaço produtivo imitando os processos de organização natural. 

A cor dos solos são grandes indicadores de qualidade e composição, logo é de suma importância também a observação deste detalhe do componente.

Se existi uma boa biodiversidade de vegetais e animais – A presença de uma boa biodiversidade nos indica a riqueza do ambiente para sustentar toda esta quantidade de vida. Quanto mais o ambiente consegue sustentar sustentavelmente toda vida do ambiente cultivada, criada ou espontânea mais sustentável é este meio. E entender a teia alimentar que une é imprescindível.

O caminho das águas – É outro fator importantíssimo para ser reconhecido. Com esta informação e marcação pode-se utilizar tecnologias para captar e armazenar as águas de escorrimento tendo certeza por onde ela escorre construindo seu caminho.


O sombreamento da área – Todas as plantas necessitam de luz solar, pois sem ela não acontece a fotossíntese. Mas também uma radiação exagerada pode prejudicar o desenvolvimento normal de muitas plantas. Recomenda-se que uns 30% de sombreamento é ideal para que a maioria das plantas possam se desenvolver normalmente, utilizando ao máximo a luz na fotossíntese. Logo, áreas muito sombreadas necessitara de uma intervenção humana para ajustar tal luminosidade, caso esta área vá ser cultivada. Este sombreamento deve ser espalhado e não concentrado. Aprenda com a natureza observada como ela ajusta esta quantidade de luz as espécies do local. Observe cuidadosamente como ela distribui estas plantas neste ambiente.


Vento excessivo – impede as plantas de fazerem fotossíntese adequadamente, pois parte do carbono, elemento essencial nesta tarefa trófica, é retirado da área pelo vento, diminuindo a presença do mesmo no local. 

Todos estes elementos precisam serem observados, pois eles irão nos orientar ou melhor direcionar o como operacionar nossa prática.

Os animais e insetos e seu comportamento no ambiente – Observe que tipo de vida animal se faz presente neste espaço, veja o que fazem, o que comem, se dão preferencia por folhas, frutos ou até cascas e flores. Qual tipo de árvores ou arbustos eles visitam com frequência (plantas forrageiras). Se passam muito tempo neste espaço, se constroem tocas ou já habitam este espaço. Se descanção ou até dormem em algum espaço especial. Todas estas informações irão nos ajudar a entender o espaço e as relações destes com os demais seres que também habitam ou convivem neste espaço. Algumas observações destas podem nos guiar a descobrir plantas forrageiras que podem servir de alimentos nativos sem serem plantadas para os nossos animais que irão ser criados.

Estes animais ou insetos estercam neste ambiente? É mais aves? Repteis? Tem presença de anfíbios? Estes são ótimos indicadores biológicos de áreas equilibradas.

Filtros naturais – Nesta área tem áreas alagadas, charcos, normalmente estas áreas executam uma função muito importante que é a de filtrar as impurezas das águas de escorrimento, sedimentando argilas, areia e até matéria orgânica para serem decompostas. São áreas que trabalham as águas para que elas estejam sempre em estado de pureza complementando a tarefa do ciclo da água do ambiente observado. Esteja atento.


Presença de pedras – Observe se existe afloramento de pedras no ambiente, se são pedras pequenas ou grandes lajedos, qual a cor destas pedras. Lembre-se quanto mais escuras forem mais ricas em minerais. Grande quantidade de pequenas pedras espalhadas em toda área podem nos dizer que estes solos são jovens. É bom saber também que grandes pedras também ajuda na formação de microclimas na área onde sua presença é marcante.


A temperatura do ambiente – Verifique se a temperatura do ambiente nas horas mais quente do dia se é confortável ou mais amena? O que você sente climaticamente falando? Se é confortável para os animais talvez também seja confortável para você, observe o comportamento dos animais em relação ao clima.

A forma e padrão das plantas – Qual o formato das plantas grandes? É em formato de taça, com copa espalhada ou densa? Folhas largas ou estreitas? Tem presença de plantas com muito espinho e acúleos? Esta caracteristica pode nos indicar como é o ambiente, se ele é hostil, se está se defedendo ou expulsando seres que só destroem. Tem muitos predadores? É mata fechada ou rala? Qual o bioma que esta área está presente? Busque mais informações sobre este bioma e compare se existe veracidade comparativa com suas observações, aprenda com o ambiente, ele te diz muita coisa.

Quanto mais se observa mais se aprende sobre este espaço, sobre seus elementos e suas relações. O entendimento destas relações, combinações ou ligações devem ser o objetivo maior da observação. Primeiro identifique o que tem e depois vá imediatamente para descobrir o que os une.


03 de novembro de 2014

segunda-feira, setembro 1

Planejando para colher todos os dias. Café, almoço e janta sendo colhidos todos os dias na pequena propriedade rural

Antônio Roberto Mendes Pereira

A necessidade de comer 03 refeições durante o dia faz parte da nossa cultura, mas nem sempre produzimos estes alimentos, temos normalmente que complementar estas refeições com alimentos comprados, vindo de fora da propriedade rural. A intenção da Permacultura na zona 01 e 02 é poder ter durante todos os dias do ano alimentos que possam atender a esta demanda ininterruptamente, atender a autossuficiência alimentar. O que devo plantar vai depender dos hábitos alimentares da família e de alguns fatores ambientais ligados ao clima, solo, disponibilidade de água, etc.. A disponibilidade desses alimentos também está diretamente ligada ao tamanho da família, logo se exige um planejamento, uma projeção do que se quer e o que o ambiente pode oferecer.

A intenção deste texto é trazer dicas e estratégias que possam ajudar na construção deste planejamento produtivo, tendo como orientação “O poder colher todos os dias” ininterruptamente alimentos limpos e sadios. Será mesmo isso possível? Se for possível o que fazer para ter esta fartura garantida permanentemente? Como fazer para ter sempre?

O PRIMEIRO PASSO PARA ALCANÇAR ESTE CAMINHO

Vamos primeiro suprir a necessidade de ter mais informações sobre as culturas e os animais que vão compor o ambiente da zona 01 e 02 que são justamente as áreas dedicadas à segurança alimentar da família. Estas duas zonas deverão ser encarregadas de suprir estas colheitas diárias, pelo menos 03 vezes ao dia. O conhecimento de tempo, necessidades de luz, de água e de nutrientes, irá ser a base para a projeção deste calendário de plantio. Seria interessante fazer a assembléia das plantas e dos animais que poderão fazer parte do ambiente cultivado como uma colheita de informações para a tomada de decisões no planejamento. Vejamos um exemplo:

Assembléia dos elementos de uma propriedade é a tentativa de entender como criar relações entre os elementos que irão fazer parte do agroecossistema que se está tentando edificar. Identificar as necessidades destes elementos em questão, as funções que estes elementos irão desempenhar dentro do sistema e qual as produções esperadas por estes elementos é o que a assembléia de elementos tenta levantar e analisar através de relações premeditadas, isto é no papel do planejamento.

Identificar a necessidade do elemento que se está querendo introduzir no sistema deve fazer parte do planejamento, não esquecendo também de identificar qual a função que este elemento pode executar dentro do sistema e qual a sua produção prevista. Para entender esta lógica podemos apresentar o exemplo de um pé de alface como exemplo da aplicação desta lógica técnica de planejamento produtivo:

Para que a ALFACE possa se comportar naturalmente é necessário:


CARACTERÍSTICAS –                             Planta de pequeno porte
                                                            Exigente em temperatura adequada
                                                            Solo fofo e rico em matéria orgânica
                                                            Não tolera vento

NECESSIDADES –                                   Textura do solo areno-argiloso
                                                            Água de boa qualidade e em quantidade suficiente
                                                            CO² para realizar fotossíntese
                                                            Minerais os mais variados e disponíveis
                                                            Luz solar
                                                            PH entre 6,0 e 6,5
                                                            Solo úmido quase todo dia
                                                            Espaço suficiente para crescer e não estiolar
                                                            Boa bioestrutura

FUNÇÕES:                                            Alimentar seres humanos, animais e insetos polinizadores
                                                           Diversificar o ambiente
                                                           Captar energia para fotossíntese, liberando 0²
                                                           Captura de carbono
                                                           Embelezamento
                                                           Armazenar minerais e vitaminas

PRODUÇÃO:                                        Folhas comestíveis
                                                          Princípios ativos medicamentosos
                                                          Sementes
                                                          Matéria orgânica para compostagem


Precisamos saber o tempo que cada cultivo leva para proporcionar que seus produtos possam ser colhidos. E cada cultura tem seu tempo a depender também do clima de cada região. Estes dados nos ajudam a planejar o plantio para não faltar. Entre uma semeadura e outra se precisa atender a longevidade da planta e seu período de oferecer seus produtos prontos para serem colhidos.

Outros dados que precisamos saber é qual o espaço necessário para atender o crescimento das culturas. Identificar a quantidade de luz, para que a fotossíntese não pare de acontecer durante todos os momentos de presença de luz. Não podemos esquecer que 35% de sombra é um bom percentual para que as culturas possam se desenvolver naturalmente.

Seria ótimo se toda casa na zona rural ou urbana pudesse produzir parte de seu alimento de forma constante. Observe a imagem abaixo e imagine seu bairro ou comunidade rural dessa maneira. Com certeza a ida ao supermercado ou feira seria mais espaçada.



A garantia do atendimento da demanda de água é muito importante, pois todas as culturas bebem água todo o dia. Sem este liquido fica difícil a absorção dos minerais pelas raízes das plantas. A presença de água no solo facilita a formação de uma solução (mistura de água mais os minerais) que irá atender a demanda das plantas. Para melhorar o entendimento um pé de alface consome em média do dia que foi semeado até a colheita mais ou menos 12 litros de água no nordeste do Brasil. Faça agora uma comparação com outras plantas levando em conta o tamanho das demais quando comparado com um pé de alface. Lembre-se este dado é apenas um indicador aproximado de consumo, pois tudo depende do clima do manejo dado às plantas entre outros. 

Todas estas informações sobre a água é para não ocorrer surpresas de falta ou excesso durante o cultivo. A falta ou o excesso podem prejudicar todo o sistema que está sendo montado para se ter de forma quase que permanentes alimentos diários.

Todos os cálculos devem levar em conta a demanda da família em alimentos. Evite não fazer estes cálculos eles são a base para a projeção permanente.

As relações entre os elementos é outro grande segredo para ter sempre colheitas fartas e permanentes. As conexões facilitam este ter sempre. Encontrar ou identificar o que pode está junto ao mesmo tempo, ou como se diz no popular “Junto e misturado” ocupando o mesmo espaço, água, adubo e luz são estratégias fantásticas que enriquecem o planejamento. 

Outro recurso que pode ser utilizado é o de empilhamento de plantas e de tempo que nada mais é que uma das ferramentas ou estratégias para diminuir o uso do espaço e ter mais elementos neste mesmo espaço durante o mesmo uso do tempo.



Este planejamento não deve acontecer apenas na zona 01, mas também na zona 02 que é também zona de segurança alimentar para a família. Logo o pomar também deve passar por um planejamento de escolha das espécies, dos espaço disponivel e dos demais componentes produtivos que fazem parte de todo ciclo produtivo de cada espécie escolhida, além do consumo da família nestes alimentos.

Alguns indicadores técnicos quantitativos estão disponibilizados na tabela abaixo para facilitar os cálculos e projeções do tamanho da área necessária para a produção de algumas especies cultivadas pela maioria dos agricultores da nossa região e que fazem parte de seu cardápio diário.


O escalonamento das plantas deve tentar seguir a lógica natural por exemplo que as bananeiras utilizam para que não falte bananas. De tempo em tempos o pé de bananeira emite um novo perfilhamento que irá futuramente assumir a produção do cacho seguinte, após a colheita do mais maduro. Logo a lógica a ser seguida no planejamento da área é ter da mesma espécie várias plantas porém de tamanhos diferenciados garantindo desta forma que não venha faltar produção. Cabe a você descobrir qual o período de tempo que irá precisar seguir entre um plantio de uma mesma cultura para que não quebre a lógica da produção sequenciada ou escalonada.

A observação e o registro são necessários para a construção deste escalonamento ou sequencia produtiva. Se a família consome um pé de alface toda semana, ela irá precisar ter toda semana mudas de alface no tamanho ideal para ser transplantada toda semana. Um pé de tomate que passa alguns meses produzindo tomates não irá necessitar ser plantado toda semana. Se minha família consome 2 kg de macaxeira toda semana irei precisar plantar anualmente 52 covas de macaxeira, pois na minha região uma cova de macaxeira chega produzir entre 2 kg a 3 kg. Logo, se minha família consome 2 kg e um ano tem 52 semanas irei precisar plantar 52 covas de macaxeira que irá produzir em média 104 kg. Porém nunca de uma única vez, seria prudente e lógico para que toda esta produção não aconteça de uma única vez escalonar a mesma plantando a cada 4 meses 20 covas de macaxeira que vão atender a demanda dos 2 kg semanal, permitindo ainda um percentual de sobra para qualquer inconvenientes, pois necessito de 52 covas e não de 60. 


Como percebemos não é difícil e nem impossível ter seu supermercado natural garantindo toda ou uma boa parte da alimentação da família. É necessário inicialmente um pouco de esforço, mas depois que encontrar os primeiros números de quantidade de tempo entre um plantio e outro e o tamanho das áreas necessárias você terá um calendário adequado a realidade do seu clima, da sua área e da demanda de consumo da sua família. Não permita não ter e nem deixe que falte, planeje-se.


domingo, julho 27

A natureza se encolhendo - O enxugamento natural da natureza na entrada do verão no semiárido nordestino

Antônio Roberto Mendes Pereira

No início do inverno no sertão, acontece uma explosão de vida. Em poucos dias o que estava seco e quase sem vida torna-se verde e com uma abundância de vida estupenda. Não falta comida para todos os seres que vivem no espaço que estava passando pelo período da seca. Muitos insetos chegam ao seu máximo de reprodução, carecendo agora da presença de predadores naturais para colocar estas espécies em níveis toleráveis no ambiente.


Momento este também, que os agricultores aproveitam desta explosão de fartura para fazer suas reservas alimentícias através dos seus cultivos. O solo úmido propicia o crescimento de várias espécies de cultivos que servirão de alimentação aos homens e aos animais criados pelas famílias.

Quanto mais se entender deste momento, mas se pode aproveitar deste presente pontual da natureza. A natureza neste momento esbanja vida e recursos ou providencias para sustentar mais vida. Neste momento deveríamos saber armazenar parte de toda esta riqueza natural para os momentos de escassez vindouros. 

Deviríamos ENTENDER que esta fase é passageira e que nem sempre acontece com tanta intensidade, logo deveríamos saber guardar, acumular, criar reserva para o depois. Mas parece que em alguns momentos esquecemos-nos das outras fases vindouras e passamos os pés pelas mãos, cometendo enganos ou erros diante destes fatos ou momentos de ofertas naturais. Achamos que de agora em diante pode ser ou vai ser diferente, que o verde e a umidade da fartura vão continuar até mais adiante no tempo. E ao invés de planejar a diminuição do que pretendemos ter e manter terminou por tomar a decisão de manter todos os elementos criados e plantados na mesma quantidade e da mesma forma. E com este procedimento terminamos comprometendo nossas pretensões.

Até parece que se está passando esta fase pela primeira vez, a confiança humana ultrapassa a capacidade da natureza de manter o ambiente. Vários são os exemplos que compravam tal comportamento, vejamos alguns que afirmam tal atitude.

· Uma determinada família cria 50 cabeças de gado. E que durante o período do inverno percebe-se que esta propriedade ou as partes da propriedade que estão dedicadas para alimentar toda esta quantidade de animais é suficiente, se faz capaz. Mas como dito anteriormente esta fase é uma fase privilegiada, é um momento que com certeza não irá permanecer de forma permanente. Mas, mesmo percebendo as mudanças no ambiente, insistisse em manter as mesmas quantidades. Muitos produtores durante esta última seca tentou manter a mesma quantidade de animais que tinha enquanto a natureza encolhia suas ofertas de alimento e água. Esta tomada de decisão levou muitos produtores a ter prejuízos financeiros e econômicos, pois perderam vários animais por morte ou por ter que vender por preços muito abaixo, porque os animais já não possuíam mais um potencial de carne para pegar bons preços, sua carcaça estava comprometida.


· Esta mesma lógica se utiliza para quem vive de cultivos, que ao término do inverno deve-se preparar-se para acompanhar a lógica da natureza de ir encolhendo as áreas de produção, ou melhor, ir hibernando estas áreas para a próxima estação das águas ou da fartura. Se a propriedade tiver uma segurança hídrica a lógica é diferente, pode-se até manter, mas pense muito bem antes de planejar em aumentar. Qualquer aumento precisa ser muito bem pensado.

· Durante o início do verão a natureza vai encolhendo umas coisas e aumentando outras, vejamos algumas dessas afirmações:


Como se preparar para estas mudanças sem ter prejuízos inesperados ou repentinos? Tudo isto pode ser planejado, pensado, pois é quase como um padrão natural que ocorre quase sempre. É quase que repetitivo, logo pode ser mais bem planejado.

SUGESTÕES

1. Reduza sua área de atuação produtiva a partir da capacidade de suporte hídrico que possui na propriedade.

2. Tente manter a sua de segurança alimentar nas zonas 01 e 02.

3. Reduza o tamanho dos animais criando ou segurando outras espécies de pequeno porte, que consomem pouco alimento e água.

4. Com as plantas siga a mesma lógica, plantas maiores bebem mais água, logo as reservas irão diminuir mais rapidamente. Logo dê preferência para manter plantas de portes pequenos e quanto mais nativo melhor, pois estão adaptadas ao clima da região.


5. Proteja mais os animais da radiação solar direta, o não uso desta estratégia contribui para um consumo menor de água para manter o corpo em uma temperatura confortável.

6. Nos locais de plantios busque utilizar ao máximo uma cobertura para o solo, protegendo-o dos raios solares diretos e dos ventos. Imite o comportamento das plantas caducifólias que soltam suas folhas para diminuir a evaporação da água que esta retida no solo.

7. Planeje muito bem a reprodução dos animais, para não ter surpresas desagradáveis para manter todos os recém nascidos. Lembrem-se eles irão crescer e com este crescimento todo consumo também se elevam.

8. Se quiser manter os animais durante a época de escassez armazene forragem para este período, existem várias tecnologias que ajudam neste armazenamento para uso posterior.


9. Identifique a demanda de água de cada espécie animal diário e se puder descubra também o consumo das principais espécies de plantas que se irá manter durante a estação do verão. Os milímetros de chuva necessários destas culturas poderão ajudar nestes cálculos.


10. Descubra a taxa de evaporação do ambiente por dia.

11. Cubra ao máximo as fontes de água da radiação solar direta, este comportamento ajudará na diminuição da evaporação.

12. Se perceber que o inverno vai ser curto, invista não em cultivos para você, mas para alimentar o solo.

A forma de enfrentar o encolhimento da natureza é também aprendendo a encolher nossas atividades produtivas. Respeitando a sabedoria da natureza em dar um descanso para se refazer do desgaste produtivo da fase de abundância. Isto é saber utilizar a sabedoria da natureza em nosso favor, é aprender fazer tendo como mestra a natureza e todas suas relações de interdependência. Acompanhar os ritmos e ciclos da natureza é saber quando deve e quando não deve se exceder.



segunda-feira, junho 30

Jardim do Édem - Colecionando frutas, armazenando minerais e aumentando a saúde

Antônio Roberto Mendes Pereira

A necessidade básica não de comer, mas de se alimentar bem, deveria imperar na escolha do sistema de produção e do cardápio alimentar que se tem preferência. Mas, infelizmente, os critérios que são levados em conta na hora da escolha vão sempre de encontro a qualidade biológica e nutricional. Normalmente é considerado, o que se vende. O que dá dinheiro, ou o que gera dividendos financeiros que nem sempre são dividendos econômicos. E no final das contas terminamos por tomar decisões que comprometem a segurança alimentar da família em todos os aspectos. Deixa-se de produzir sabendo o que está sendo utilizado como insumo, para comprar um produto sem rastreabilidade, isto é, não sei quem o produziu, como produziu e com que insumos produziram. Produtos estes que não considero em alguns casos como alimentos e sim comida ou até enchimento de barriga, como conhecemos aqui no nordeste do Brasil.

Outro fator que precisa de atenção na hora da tomada de decisão do que plantar é conhecer quais são os alimentos vegetais mais completos em termos de qualidade biológica e nutricional. E como produzi-los sem muito gasto de energia humana e de insumos, e me deparo com situações que me direcionam para escolher as frutas, como alimentos mais completos em termos de nutrição mineral natural.



Elas nos presenteiam anualmente com uma safra e algumas outras com várias safras durante o ano. Se bem cuidada é uma fonte de saúde nos momentos mais críticos, pois normalmente a safra de algumas frutas acontece no momento de carência de alguns minerais na alimentação humana, até parece que a natureza já sabia que iria acontecer.

Elas quase que fazem tudo sozinhas depois que se encontram instaladas no ambiente. Se encontrar um ambiente que atenda suas necessidades básicas se desenvolve satisfatoriamente bem além de presentear todos os anos a depender da variedade com alimentos sanos, saborosos, bonitos e coloridos. 

São alimentos que além de alimentar são funcionais, atendendo determinadas necessidades em minerais que se sente falta em outros. 

Em muitas propriedades são esquecidas e não são plantadas novas gerações e espécies e nem substituídas as que já cumpriram suas atividades vitais. Isto normalmente acontece porque algumas variedades demoram vários anos para iniciar sua produção.

Devemos saber que ir a um pomar é ter um encontro com a saúde. É uma fábrica de saúde natural que pode nos atender por longos anos a depender da variedade que se plantou ou que se vai plantar. É uma dádiva da natureza grátis e gratuita. É a fotossíntese fazendo seu papel de produzir substâncias orgânicas para alimentar todos os demais seres a partir carboidratos primários (glicose), ou melhor, do trinômio C, H, O. Amido, proteínas, celulose, hemicelulose, ligninas são todas substâncias orgânicas produzidas a partir da realização da fotossíntese e da mistura principal dos trinômio C, H, O com os minerais extraídos do solo.

Quando você planta uma floresta de alimentos, existem alguns princípios básicos que devem ser seguidos:

PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS PARA A MONTAGEM DO ARMAZÉM VIVO DE VITAMINAS E MINERAIS

O POSICIONAMENTO DA FLORESTA DE ALIMENTOS – Ela é posicionada com o mesmo critério utilizado na zona 01. Ou seja, você deve considerar que algumas necessidades precisam ser atendidas, como por exemplo: necessidade de água, energia para a manutenção. As características ideais para a implantação de um pomar devem ser:

· DECLIVIDADE – Encostas suaves são muito boas para o plantio de fruteiras, pois facilita a drenagem. Outro detalhe a ser observado é para qual lado este declive deve está virado, isto em Permacultura chama-se de aspecto. Logo escolha aspecto onde o pomar possa receber sol o dia inteiro. As plantas de menor porte deverão ficar na frente direcionadas para o sol, na frente das plantas médias e altas, com este procedimento impedimos que as plantas de maior porte produzam sombra para as pequenas.

O espaço ideal para este armazém é a Zona 02, conhecida também como frutifloresta, ou floresta de alimentos. É considerado como zona de segurança alimentar e de saúde. Deve ter a multifuncionalidade de alimentar e suprir carências vitamínicas e minerais dos seres humanos e dos animais que fazem parte do agroecossistema familiar. 


Deve ser pensada sua projeção sabendo-se que todo o ano, naquela mesma época irá ter estes alimentos de forma permanente. E que a fruteira da mesa da casa, deve ser o espelho do pomar encontrado no campo. O meu contato com saúde pode ser em casa na fruteira ou indo ao pomar, que quer dizer PARAÍSO. Irei ter as vitaminas a minha disposição gratuitamente a qualquer momento das safras de cada espécie. Devo lembrar e estar atento que cada região tem seu tempero de natureza frutal, isto é tem suas frutas com sabores específicos que só encontro ali, diferente do milho e do feijão que podemos ter em quase todas as regiões do país.

No primeiro momento preciso conhecer e reunir a coleção de frutas daquela região na qual a minha propriedade está situada. Verificar quais as épocas das safras de cada espécie e variedade. Estes dados irão facilitar a projeção da frutifloresta que se quer instalar. Quanto mais frutas nativas fizerem parte da minha frutifloresta mais sustentável será a produção deste ambiente. Um detalhe bastante interessante que precisa ser pesquisado é da existência de frutas que a maioria dos animais nativos o consumam, isto é uma boa indicação da importância desta fruta para o ambiente, podendo esta ser considerada como um manjar dos Deuses.

Quanto mais frutas forem identificadas com época de produção diferenciada das demais, isto nos garantirá que durante todos os meses do ano poderemos ter safras de uma ou de algumas frutas. A meta é ter frutas todos os dias do ano, garantindo a diversidade de frutas e consequentemente à diversidade de vitaminas e minerais espalhados durante todos os dias do ano.

Quanto mais às frutas forem de cores diferentes mais minerais e vitaminas diferentes vou poder ter na minha mesa. As cores indicam a presença de alguns minerais e vitaminas.



Faça uma pesquisa em relação a estas cores.

A QUANTIDADE DE PLANTAS – Este número irá depender da necessidade alimentar e do tamanho da família que se está projetando o pomar. Planeje para que a diversidade de frutas seja sempre grande. Consulte os períodos de safras das espécies escolhidas, tentando montar um pomar onde você possa ter frutas durante todo o ano, distribuídos durante todos os meses. Leve em conta a necessidade de frutas semanal da família e a produção aproximada de cada espécie, evitando plantar fruteira demais ou de menos de uma mesma espécie. Este procedimento permite que a área selecionada para ser o pomar ou o jardim do Édem não desperdice espaço, água e principalmente mão de obra para manter o mesmo produtivo. Qualquer uma fruteira plantada em demasia estará tomando espaço de outra espécie além de estar utilizando água que poderia ser disponibilizada para outras espécies.


OS ESPAÇAMENTOS ENTRE PLANTAS E ENTRE AS RUAS – A distâncias que as fruteiras vão ser plantadas, deve ser aquela que garanta que depois de adulta, sua copa não irá se entrelaçar com as demais frutas, do ambiente projetado. Antes de marcar os espaçamentos tente observar estas plantas quando adulta e veja o diâmetro de sua copa, dando este espaçamento além de deixar espaços livres para que outros cultivos, que não seja frutas, possam fazer parte deste ambiente aumentando a diversidade de alimentos. 

A poda não deveria ser uma prática para este tipo de pomar a não ser quando muito necessária, como uma poda de limpeza. Pois o padrão estrutural de uma espécie é projetado não por nós, mas pelas condições de luz, água e nutrientes que a mesma encontra no ambiente. Cada planta foi projetada pela natureza para que cada folha em algum momento do dia possa fazer fotossíntese, esta é uma das principais funções de uma folha. Logo, todos os galhos e sua distância de projeção foram distribuídos levando em conta as características do ambiente, assim como a quantidade de folha e a sua disposição em todos os galhos. Masonubo Fukuoka em seu livro “Agricultura Natural” nos ensina que uma árvore tem sua capacidade máxima de produção para seu padrão e espécie. Logo, uma poda concorre para se ter frutas maiores, porém em menor quantidade. Uma planta em seu estado natural sem muita intervenção humana irá produzir mais frutos, porém, de variados tamanhos, para atender a uma diversidade de animais que dessa planta irá se alimentar. Animais pequenos irão dá preferência por frutos menores. Uma planta que seu padrão natural foi projetada para nos dá 100 frutos, poderá me dá 50, porém de tamanho maior que irá valer pelas mesmas 100, esta explicação é para facilitar o entendimento.

Sabe-se também que a poda também facilita para se ter uma altura de fácil coleta de frutos. Sabemos também que uma planta podada também facilita a entrada de luz e ar, impedindo a presença de algumas enfermidades, mas fica a seu critério podar ou não. Eu estou mais propenso a não realizar tais procedimentos, deixo a natureza realizar seu trabalho. Até porque, todos os frutos não foram produzidos todos para mim. Devo também garantir parte da alimentação de outros seres que de forma direta e indireta contribuíram para que estas fruteiras pudessem se desenvolver e produzir, contribuindo na polinização, na adubação e porque não dizer também no revolvimento do solo, deixando o mesmo mais fofo para a entrada de água e ar.

A CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO POMAR – O solo precisa está bem preparado para que toda a água de chuva possa se infiltrar com facilidade. Temos que preparar o solo para que o mesmo possa está com a boca aberta permanente para captar e beber água. Uma boa bioestrutura poderá realizar esta tarefa, desde que possamos está devolvendo de forma permanente matéria orgânica diversificada. Não permitir que a água escorra é uma das funções que precisa ser realizada de todas as formas. Deveremos sim, criar formas para que toda água que caia sobre este pomar possa passar o maior tempo possível neste solo. Muitas técnicas de conservação poderão ser utilizadas para tal fim, como por exemplo, Plantio em curva de nível, terraceamento, cobertura morta, plantio em faixas ou aléias, diversificação, etc. São todas técnicas que poderão ajudar nesta tarefa de retenção de água no solo. 

Captar, armazenar, distribuir, tratar e reutilizar deve ser tarefas de práticas permanentes. Depois da água está no solo, deveremos evitar que sua perda aconteça por evaporação. Se tiver que perder água que seja passando por dentro das plantas através da respiração e transpiração, pois toda vez que a planta absorve água ela também absorve misturada a esta água minerais contribuindo para seu desenvolvimento.

A NÃO ENTRADA DO VENTO NO AMBIENTE – Devemos lembrar que o excesso de vento além de ressecar o solo, contribui também a perda do CO² ao redor das plantas, contribuindo para diminuição da fotossíntese, durante a fase clara da mesma. Não podemos esquecer que todas as plantas durante a fase clara ou na presença da luz realizam fotossíntese, e para isto necessitam da presença de CO², água e luz. O CO² é um dos principais ingredientes na formação do alimento básico feito pela fotossíntese que é a glicose (C6H12O6). É importante que o lado do vento tenha quebra ventos, para impedir tanto a evaporação quanto o ressecamento do solo.

O CONSÓRCIO COM OS ANIMAIS – O consórcio com os animais é uma grande estratégia que pode a manter o pomar sempre fertilizado, pois as fezes destes poderão contribuir muito na manutenção e na reposição dos nutrientes que iram ser exportados via colheitas das frutas. Alguns insetos também são imprescindíveis, pois muitos destas espécies contribuem na polinização das flores contribuindo no aumento da produção de frutas. Entre eles podemos dar destaque para as abelhas ou melíponas, pois ambas as espécies fazem com muito afinco esta tarefa de garantir a polinização das flores das fruteiras. Outros animais também podem e devem fazer parte deste espaço produtivo, como os caprinos, ovinos e até os suínos e as galinhas, necessitando para que isto venha acontecer, é necessário verificar em que estágio estarão as fruteiras. O tamanho das fruteiras, poderão nos guiar na escolha e no momento da entrada destes animais no espaço. Uma grande contribuição destes animais é no pastejo das ervas que iram se desenvolver entre as fruteiras. Escolha animais que você tenha certeza que eles não iram molestar o tronco das fruteiras.



O CONTROLE DE PRAGAS E ENFERMIDADES – Planta bem nutrida dificilmente irá ter problemas com pragas e doenças. Mas, durante a vida destas poderá acontecer desequilíbrios nesta alimentação contribuindo para o surgimento destes problemas. Sempre parta do princípio que primeiro deveremos identificar as possíveis causas que provocaram o aparecimento destes problemas. Faça um esforço para identificar tais situações, pois se apenas resolvermos os sintomas e não identificarmos as possíveis causas, com certeza este problema irá reincidir mais na frente e com muito mais força. Lembre-se também que, têm determinadas estações do ano onde as plantas poderão estar mais propensas para ter estes problemas, aqui no nordeste e em especial no sertão estes problemas tomam vultos nos períodos de seca, onde a escassez de água e as temperaturas altas contribuem enormemente para o surgimento e até em alguns casos no agravamento destes. A teoria da TROFOBIOSE escrita por Francis Chaboussou poderá explicar nos detalhes as possíveis causas dos problemas no seu livro “PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS”. Ele parte do principio de que planta que consegue fazer muita ou até permanentemente proteossíntese dificilmente adoecerá ou sofrerá ataque de pragas. 

Mas caso estes problemas surjam poderemos utilizar defensivos botânicos não para matar todos os insetos, mas para controlar tal surto desenfreado. Leia o texto: “Defendendo-se dos desequilíbrios dos cultivos” e “Criando obstáculos para os insetos” estes dois textos irão trazer informações que poderão ajudar muito no manejo destes problemas.

AS ADUBAÇÕES ANUAIS NECESSÁRIAS E SEUS TIPOS – para que uma fruteira possa crescer e se desenvolver satisfatoriamente bem se faz necessário que o solo onde a mesma está se desenvolvendo contenha todos os minerais necessários para o seu bom crescimento. Logo se faz necessário uma boa adubação deste espaço caso alguns destes minerais não estejam presente na proporção e na quantidade ideal. 

Imediatamente procure saber qual o nível do PH do solo, se a carência ou a indisponibilidade de cálcio existir as plantas terão problemas para absorver os demais minerais para sua nutrição. Caso esta carência seja confirmada através da análise que poderá ser feita com o uso de repolho roxo, ler “Analisando o solo sem laboratório” ou através de laboratório de solos, deverá ser corrigido através do uso de calcário dolomítico que é rico em cálcio e magnésio. Outra forma que poderá ser utilizada, porém de processo mais lento é o uso de matéria orgânica de forma constante. Muito cuidado quando for utilizar o calcário, pois a utilização de grandes quantidades de uma única vez pode sanar o problema, mas poderá disponibilizar os demais minerais de forma muito intensa contribuindo para perdas por lixiviação. Logo, indicamos para grandes quantidades por hectare dividir a aplicação em duas vezes.

A primeira adubação deverá acontecer antes do plantio das fruteiras, é conhecido como adubação de fundação. Esta adubação deverá seguir a orientação de uma análise do solo, para que se possa identificar os tipos e quantidade presente destes minerais no solo. Sempre recomendamos depois de posse destes analises, fazer o preparo e uso de insumos orgânicos para suprir tais necessidades. Poderão ser utilizados compostos preparados exclusivamente para atender estas demandas. Diversos tipos de matéria orgânica são ricas em muitos minerais podendo ser selecionadas ou até adquiridas para a confecção dos compostos que iram ser utilizados. As demais adubações durante a vida das fruteiras são chamadas de adubação em cobertura e são utilizadas para suprir determinadas necessidades especiais para cada fase de crescimento das fruteiras. Esta adubação em cobertura deverá ser feita sempre com a presença de umidade suficiente no solo e respeitando as fases de crescimento principalmente a fase de florada e frutificação. Um dos principais minerais que não poderá deixar de está presente e que normalmente não estão é o fósforo. Tente encontrar uma fonte de preferência de origem orgânica para repor ou elevar a sua oferta no solo. Uma adubação sempre responde melhor quando a estrutura do solo também estiver boa. Um solo compactado que não permite a entrada de ar e água com certeza também não permitira que as raízes das plantas possam crescer em busca dos minerais e muito menos na absorção dos mesmos depois de encontrados.

A adubação verde feita com o uso de leguminosas poderá contribuir muito no aumento do nitrogênio no solo, já que este mineral é um dos mais exigidos e de muito oneroso sua compra. Poderá ser feito plantio entre as ruas com algumas variedades de leguminosas para tal função. Lembre-se que entre as linhas de cultivo deverá ter permanentemente uma boa cobertura morta, quer feita pelas ervas ou pelo plantio de leguminosas.

A necessidade de um retorno de matéria orgânica de forma constante é um dos grandes segredos para a manutenção de uma boa fertilidade e uma boa estrutura do solo.

O CONTROLE DE ERVAS INDICADORAS – Como dito anteriormente a entrada de algumas espécies de animais no pomar e seu manejo poderão contribuir muito nesta tarefa. Caso estes animais não consigam realizar toda a tarefa se faz necessário a capina manual feita com enxada ou qualquer outro equipamento desde que se esteja atento durante a capina ou limpeza para não agredir as raízes das fruteiras, principalmente as que estão próximo ao final da copa das mesmas. Pois, são justamente estas raízes que são responsáveis pela absorção de água e minerais do solo. Na ponta destas raízes vamos encontrar a coifa e logo após os pelos absorventes que são os grandes responsáveis pela absorção da solução do solo (água mais mineral dissolvido). Nada de utilizar meios químicos nesta ação de limpeza ou desafogamento das fruteiras. Outra medida que pode ser utilizada é o uso de lança chamas para controlar as ervas. O uso de uma boa cobertura morta evitará a germinação dessas ervas além de conservar a umidade e a baixa temperatura do solo e do ambiente contribuindo de forma indireta no aumento da fotossíntese. Pois temperaturas acima de 25º contribui para que muitas plantas diminuam ou até parem de fazer esta tarefa tão importante que é a fotossíntese.


sexta-feira, maio 30

Criando e aumentando bordas nos espaços - Aproveitando o entorno da umidade - Nem alagado, nem seco, úmido, isto é borda

Antônio Roberto Mendes Pereira

Na história da humanidade sempre as civilizações buscaram instalar suas habitações o mais próximo de fontes e córregos de água. A conexão com este recurso fez e faz a diferença para a permanência de uma população quer seja humana, animal ou vegetal em uma determinada região e ou ambiente. Sem água nenhum ser consegue sobreviver. Pode-se viver com pouca ou até com pouquíssima água, mas sem nenhuma é impossível. E a natureza sempre cria, adéqua e acomoda os seres vivos para viver nos ambientes com o que se tem disponível no ambiente. Se tiver muito os seres tem determinadas características, se tem pouca são outras e se tiver pouquíssimo serão outras completamente diferentes das anteriores.


Logo, quanto mais próximo da água se instala, mais possibilidades, mais alternativas e potencialidades surgem. Entre o entorno molhado e o seco existe uma borda, o úmido, e estes espaços são riquíssimos, e precisam ser montados e aproveitados ao máximo.

A vida é atraída pelo entorno da água, isto se percebe em qualquer ambiente úmido. A simples presença de água provoca o surgimento de uma infinidade de seres que logo se instalam, ou melhor, se alojam no entorno desta. É a partir dali que suas fontes de alimento também irão se desenvolver. Não podemos esquecer que na cadeia alimentar ou energética os primeiros seres que surgem são os produtores que são os vegetais. Pois dele depende a sobrevivência dos demais seres, os consumidores primários, que são os herbívoros na primeira linha e logo em seguida os secundários os carnívoros. Logo está lógica trófica inicia seu processo tão logo os vegetais tenham condições de surgirem e se instalarem, e a água é essencial para este surgimento e instalação.

Se este espaço não for aproveitado pelo homem à natureza rapidamente se encarrega de utilizá-lo, facilitando o surgimento da flora e da fauna.

Na Permacultura Borda é utilizado como limite, transição entre um lugar e outro, entre um sistema e outro. E normalmente estas bordas são ambientes muito ricos em diversidade de vida e de elementos. Nesta área de interseção se assim podemos chamar, vamos encontrar elementos comuns aos dois meios que o formaram além de encontrar indivíduos exclusivos desta área criada. Nas bordas se criam microclimas diferenciados dando condições para o aumento da biodiversidade que eleva a qualidade de vida dos que neste ambiente irão se desenvolver.


Em qualquer lugar onde espécies, clima, solos, encostas ou quaisquer condições naturais ou limites artificiais se encontrem, existirão BORDAS.

A interface entre as coisas é onde os eventos mais importantes acontecem, estes são geralmente os mais válidos, diversos e produtivos elementos do sistema.

A área úmida surge assim que acontece um acúmulo de água em qualquer espaço. Quanto mais inclinado e profundo for o declive, onde esta água acumulou-se menor é a área úmida criada. E quanto mais suave e raso for o declive maior será esta área úmida, permitindo um maior uso da mesma.


Muitos agricultores já descobriram a riqueza desta área úmida e instalam parte de seus plantios. São os cultivos de vazante como assim são chamados. Estas áreas são muito bem aproveitadas no período de secas como forma de garantir a colheita.




Não basta apenas plantar esta área úmida, é preciso saber aproveitar ao máximo este presente, isto pode acontecer quando aumentamos a biodiversidade desta área através da seleção de várias espécies de vegetais de forma que tudo esteja junto e misturado.



Dependendo do elemento que acumulou esta água e criou a área úmida, temos que saber escolher bem as plantas para este consórcio. Evitando, por exemplo, que ao redor de uma cisterna plantar uma grande planta que poderá depois de adulta danificar a estrutura através do crescimento de suas raízes.


Um detalhe interessante é que a riqueza das bordas não é simplesmente pela presença da água, mas também pela facilidade do acúmulo de matéria orgânica, que de forma direta irá ajudar na alimentação das plantas que irão compor este espaço de cultivo de alimentos. Sempre nas bordas acontece a deposição de matéria orgânica.

Várias são as tecnologias que tentam ou poderiam ser aproveitadas no uso de áreas úmidas, a seguir vou tratar de expor algumas delas:

TECNOLOGIAS QUE PROPICIAM ÁREAS ÚMIDAS OU PROXIMIDADE DO ELEMENTO ÁGUA

LAGO DE PNEU 



LAGUINHOS


Barreiro de salvação – São áreas de captação de água de chuva e de escorrimento que são utilizadas para irrigação através de condução mecânica e por infiltração.


IRRIGAÇÃO IN SITU


SISTEMA MANDALA 


BARRAGEM SUBTERRÂNEA - 


SWELES DE IRRIGAÇÃO OU VALETAS DE CAPTAÇÃO E INFILTRAÇÃO




Toda borda de umidade aumenta a segurança hídrica que por sua vez, aumenta a segurança alimentar, diminuindo o gasto com energia e consequentemente aumentando a segurança energética. E por ser borda sempre atrai a deposição de matéria orgânica aumentando também a segurança em nutrientes. Como se percebe são ganhos e mais ganhos quando se cria ou se utiliza estes espaços limites.



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