sábado, fevereiro 26

Aumentar as seguranças para se ter uma vida mais equilibrada e sustentável


Antônio Roberto Mendes Pereira
Técnico, Permacultor e Pedagogo.


A água é essencial para todas as espécies. Não se consegue viver sem este liquido precioso.  Neste século o problema da água vem se tornando cada vez mais sentido.  Várias são as crises que os seres humanos vêm sofrendo causadas por nós mesmos.

 A mais grave atualmente é a crise energética. As reservas naturais de petróleo, de carvão e gás estão se esgotando. Estas reservas eram responsáveis por 80 % da energia consumida no mundo.  Por incrível que pareça os seres humanos estão conseguindo cada vez mais colocar muitos dos recursos naturais em cheque de manutenção. A superexploração é evidente em muitos recursos como, por exemplo, o corte de árvores é tão intenso e rápido que as plantas não conseguem acompanhar com o rebrote e nascimento espontâneo ou até cultivado. As necessidades ultrapassam a velocidade natural de atender a tal demanda. Estamos convertendo áreas de pastejo nativo em desertos por excesso da carga animal utilizada nas criações que se dizem racionais e tecnificadas.

Os aqüíferos estão sofrendo com a mesma forma irracional de uso nas irrigações, no consumo sem controle levando os rios e suas nascentes a diminuírem suas provisões até chegando a secar. Os solos pela forma errada de uso estão cada vez mais vem perdendo completamente sua fertilidade natural, causada principalmente pela erosão nas suas diferentes formas. Em relação à pesca o mesmo processo vem acontecendo, estamos pescando mais rápido do que a velocidade do repovoamento natural. O processo de reprodução esta muito aquém da velocidade do consumo e de exploração. As maquinas cada vez mais estão ficando mais potentes e velozes. E a capacidade de transformar uma paisagem é muito mais rápida. A natureza com certeza não acompanha este consumo desenfreado e irracional.  Com toda esta modernidade de maquinaria estamos lançando na atmosfera quantidades exorbitantes de CO2. Quantidades de CO2 que a natureza não consegue absorver, acentuando o efeito estufa e conseqüentemente as mudanças climáticas locais e globais. As mudanças dos ambientes nesta velocidade também vêm ajudando no desaparecimento de muitas espécies animais e vegetal. A biodiversidade dos ambientes vem sofrendo rápidas perdas, e a capacidade de adaptação a estes novos ecossistemas perturbados é lento, logo se percebe que estamos levando todos os ecossistemas à situação de extinção em massa. O planeta esta em cheque, e corre-se o risco de um cheque mate.

Precisamos fazer algo urgentemente. E que esta mudança seja feita nas mais diversas ações, nas mais diversas atividades profissionais. Precisamos envolver a todos independentemente da idade. Pois, todos nós, conscientes ou não somos responsáveis por estas crises de esgotamento geral.  Os agricultores grandes ou pequenos cada um tem uma parcela de responsabilidade nestes esgotamentos. E este artigo vem propondo um novo olhar sobre o uso da água, no âmbito da produção de alimentos.

Nas regiões de clima semi árido necessita-se cada vez mais produzir conhecimentos sobre este ecossistema. Já se percebe uma capacidade nas populações rurais de ajustar seus meios de vida aos ecossistemas em que vivem e produzem. Mas, mesmo diante dessa capacidade precisamos gerar novidades e percepções que levem cada vez mais a causar menos impactos ambientais ao mesmo tempo que se consegue uma melhor produtividade sem causar esgotamentos.

Os camponeses têm toda uma sapiência empírica nas criações dos animais, reconhece quais os animais que consome mais água e menos água. Sabe qual o momento de oferecer esta água. Identificam quais os melhores alimentos para alimentar estes animais. Reconhece quando estes animais adoecem ou estão passando por muitos desequilíbrios. A mudança do comportamento destes animais quando criados é perceptível por eles. Mas quando comparamos estes conhecimentos e experiência em relação aos vegetais cultivados a percepção não é tão evidente. Percebe-se certa falta dos mesmos conhecimentos e mecanismos reconhecidos nas criações dos animais. Que plantas cultivadas necessitam de mais água que outras, o quanto de água cada cultura precisa, de quanto em quanto tempo, estas e outras são informações que não são tão evidentes no dia dos camponeses. Elas podem até se sentidas, mas não são expressas nas falas e em quantidades.

Existe um grande número de plantas cultivadas adaptadas aos mais variados ecossistemas. Para o semi árido podemos listar várias culturas umas que consomem mais água outras que consome pouca e até outras de baixíssimo consumo. Até parecendo que não consome este liquido precioso. A medida utilizada para se medir a quantidade de água consumida pelas plantas é o milímetros de água. Na maioria dos livros técnicos direcionados aos principais cultivos encontram-se estas necessidades de consumo das plantas em mm. Se dividir-mos estes milímetros pela longevidade da planta teremos um volume aproximado de consumo por planta dia, semana ou até mensal. Se quisermos podemos ir mais além, conhecer quais os momentos de desenvolvimento da planta que mais necessita de água, dosando melhor esta distribuição. Esta racionalidade só é alcançada a partir do conhecimento mais profundo do ecossistema e da cultura em questão. As estações do ano também têm grandes influencia na bebida das plantas. E precisamos conhecer mais profundamente estas exigências.

Já em uma área onde a diversidade é aplicada e intensa, este controle se torna mais difícil ou até impraticável. A mistura de plantas com necessidades diferentes não permite estes cálculos de forma precisa. O meio que podemos utilizar nestes espaços biodiversos é procurar manter o solo úmido o mais tempo possível. E isto só acontece utilizando uma estratégia natural utilizado pelos ecossistemas. A bio estrutura do solo permitindo que toda a água de chuva que caia se infiltre é uma das grandes estratégias utilizadas pela natureza. Porém esta estratégia esta intimamente conectada com outras, onde tudo esta intimamente ligado a tudo. A cobertura do solo, a presença de microorganismos e umidade além da quantidade diversificada de raízes intricamente ligados cria um ambiente de riqueza onde a vida consegue se estruturar da melhor forma possível.

Conheça mais seu agroecossistema cultivado, conheça mais os elementos vivos que compõe seu espaço produtivo. Este conhecimento provocará colheitas mais fartas e garantidas.


sexta-feira, fevereiro 18

Área de captação e transformação de energias solares

Antônio Roberto Mendes Pereira
Resultado final do uso da energia solar

Atualmente o mundo vem sofrendo com a crise energética. Toda a matriz energética atual tem como base o petróleo, carvão mineral e a queima de madeira (carvão vegetal), e estes recursos estão chegando ao seu limite de exploração. São necessárias 3,3 kcal de petróleo para produzir 1 kcal de proteína vegetal a partir de cereal, 4,1 kcal de petróleo para produzir 1 kcal de carne de frango, 50 kcal de petróleo para produzir 1 kcal de carne de borrego e 54 kcal de petróleo para produzir 1 kcal de carne de vaca, como se percebe o uso desta fonte energética deixa déficit no meio ambiente.

Outras fontes energéticas estão sendo pesquisadas. A Permacultura tenta captar ao Maximo todas as energias que entram e estão presentes na propriedade familiar. A Setorização permacultural ajuda a perceber a localização e a intensidade destas energias provindas de fora da propriedade, e tenta descobrir formas de utilizar as mesmas direcionando estes fluxos energéticos para os locais onde a necessidade precisa ser atendida, ou de outra forma poder evitar ou diminuir sua entrada na propriedade.


Nos designes projetados pela permacultura tem-se a preocupação permanente de identificar, captar, canalizar e armazenar ao máximo toda esta energia que esta presente no nosso entorno em forma de fluxo e levá-la a fazer parte de vários ciclos dentro da propriedade projetada. O como aumentar a relação entre as energias e as necessidades humanas deve ser uma disciplina permanente em quem esta projetando e planejando os agroecossistemas.  As funcionalidades de gerar e sustentar e manter a vida devem ser uma busca permanente para a criação de sistemas vivos Permaculturais auto-suficientes, onde todas as necessidades básicas de sobrevivência sejam atendidas de forma amigável.

Energias oriundas do vento, sol e biomassa são fontes energéticas aproveitadas pelos praticantes da Permacultura. Na tentativa de utilizar outras fontes energéticas na manutenção das tarefas dos agroecossistemas prediais ver-se a necessidade de estudar a situação predial de cada propriedade e montar uma estratégia onde a segurança energética seja atendida através da implantação de determinadas tecnologias que tenham como função a captação e a transformação das energias solares e eólicas.

Além dos espaços destinados a produção de alimentos da Zona 01, é necessário reservar um espaço livre e amplo sem arvores, sem sombras ou qualquer outro empecilho que possa atrapalhar ou até desviar os raios solares dos objetivos pretendidos. Este espaço é uma estratégia onde várias tecnologias que tenham a energia solar como seu principal ingrediente de funcionamento possam ser captadas, e transformadas com o máximo do seu potencial.

Não podemos esquecer que sem energia nenhum sistema sobrevive, a natureza caminha ao contrario da entropia, sempre tentando evitar a perda de calor para o ar, transferindo a energia para outros elementos que compõe o sistema vivo. Fazer com que a energia dissipada pelo sol seja aproveitada ao máximo é uma importante estratégia que os ecossistemas utilizam para se tornar duradouros e sustentáveis.

 Muitas tecnologias podem ser utilizadas e criadas além das que vão ser apresentadas neste artigo. O grande lance é não permitir, ou melhor, tentar impedir a perda permanente desta energia depois que ela foi agregada a um elemento vivo ou não. O isolamento térmico é a forma que se usa para impedir que ocorram estas perdas.
Precisamos também captar esta energia através da fotossíntese gerando maior quantidade de biomassa que facilita a transferência desta energia para outros corpos ou elementos não vivos.

Fogão e forno solares, desidratadores de frutas e cereais, aquecedores de água, relógios solares entre outras, são termotecnologias que podem e devem fazer parte deste espaço. A eficiência máxima destes equipamentos vai depender da quantidade de luz solar que estes possam captar transformando estas ondas energéticas em benefícios para toda a família. O tamanho da área vai depender das necessidades da família para suprir a segurança de energia demandada pelos indivíduos.

Este espaço deve ser localizado o mais próximo possível da habitação. E de preferência perto de onde vai ser utilizada ou consumida a energia captada, transformada e armazenada. Além das sugestões de equipamentos solares elucidadas podem-se acrescentar outras desde que todas tenham necessidades de energia solar para seu funcionamento.

É interessante que este espaço seja cercado para evitar a presença de animais e crianças, pois muitas destas tecnologias trabalham com alta temperatura, podendo causar acidentes. Outra medida que se torna fundamental é registrar as economias fazendo comparações entre o consumo e o gasto anterior, após a implantação das tecnologias solares.

Alguns exemplos de ecotecnologias solares aplicadas no SERTA:

Esquentador solar de água para banho
Fogão solar

Forno solar acessando um bolo
Aquecedor de água
Relógio solar
Estufa sinergética de calor solar
Módulo solar para esquentar água




sexta-feira, fevereiro 11

O que sou capaz de produzir em 1000 metros quadrados?


Comprovando as competências produtivas

Antônio Roberto Mendes Pereira

A agricultura familiar cada vez mais vem perdendo a lógica ancestral de primeiro produzir seu alimento, seu sustento. A lógica capitalista de transformar os sítios, as pequenas propriedades em agronegócios tendo como carro chefe a monocultura, fez e vem fazendo com que as famílias percam sua diversidade de plantas e animais levando a mesma a uma alimentação deficiente e de pouca variedade, além da perca da qualidade biológica e nutricional dos produtos. Com toda esta lógica sendo aceita pelas pequenas propriedades as famílias se tornam reféns dos mercados de venda e de compra. Precisa-se resgatar a LÓGICA do sitio onde se produzia quase tudo que a família consumia. A diversidade é sinal de segurança para o não faltar, para o “ter” sempre. É claro que esta garantia só se tem quando se planeja, quando se reflete o que realmente se precisa para ter uma mesa farta e diversificada o ano inteiro. Precisam-se remontar estas áreas de segurança alimentar com o seguinte slogan de pensamento “Na zona 01 e 02[1] tudo se planta, nada se vende tudo se consome”. A escala humana de fazer de planejar a agricultura no entorno da casa que possa trazer uma produção permanente de alimentos para a família é o enfoque principal deste trabalho de pesquisa e divulgação.

Gôndola natural de tubérculos e hortaliças
                                   Gôndolas Naturais de frutas                                                 

Quando se fala em produção, produtividade vem logo nas cabeças de vários agricultores: tratores, adubos, monocultivo, caminhões entre outros insumos e maquinários. E todos estes insumos e maquinários invariavelmente demandam crédito, endividamentos. Normalmente sempre se busca ajudas de fora da propriedade para poder equipar-se para prover esta produção. E vale salientar que para se conseguir crédito não é tão fácil quanto os bancos costuma divulgar nos seus anúncios comerciais. Muitos produtores perdem muito tempo e dinheiro indo e vindo aos bancos para atender as demandas de documentações, comprovações, atestado negativos disso e daquilo. Como diminuir estas dependências é também mais um dos caminhos pedagógicos deste texto.

Com a finalidade de demonstrar que os agricultores realmente podem diminuir a sua dependência de ajudas externas é necessário primeiramente corrigir muitos erros que são cometidos e que muitas vezes são eles próprios os causadores de muito dos seus problemas internos produtivos. No mundo moderno para se conseguir êxito econômico depende muito mais de conhecimentos adequados do que de recursos financeiros abundantes, Polán Lacki ( 1996).

Em algumas propriedades percebem-se claramente que muitas delas não conseguem nem produzir suas necessidades alimentares. Para completar sua dieta é necessário se deslocar para os centros comerciais e comprar todo o complemento, quando se tem os recursos econômicos disponíveis é claro. É comum o pensamento de que aumentando a área plantada vai se conseguir a complementação tanto econômica como a alimentar. E as coisas não acontecem bem assim, o mercado não segue esta lógica e não esta preocupado em resolver estes tipos de problemas internos das propriedades. O mercado é ganancioso e autoritário, quer tudo para ele e para que isto ocorra passa por cima das pessoas, das dietas, do meio ambiente, etc. Ele dita as ordens de suas demandas e quem não se molda aos padrões esta fora, são excluídos do sistema e em muitos casos alguns vão parar na prisão, perdendo até seus bens e meios de produção.

Que direcionamentos e atitudes podemos assumir para reverter ou minimizar este quadro? A idéia é produzir e repassar conhecimento de como capacitar pessoas para a competência de ser fazendeiro de 1000 metros quadrados. Poder aprender a gerir um pequeno espaço e a partir dele ir aumentando o uso de outros espaços de forma competente e produtiva. A otimização dos espaços é mais importante do que o maximizar logo, a idéia central para reverter este quadro passa necessariamente por esta otimização.


PASSOS PARA A ADEQUAÇÃO DA OTIMIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PRODUTIVOS

1.      O conhecer bem suas necessidades deve ser um dos primeiros passos para iniciar o processo, pois é a partir deste levantamento que vamos conhecer as quantidades e a diversidade de tipos necessários para saciar nossas vontades e demandas. O passo um é conhecer a dieta o cardápio utilizado pela família. Operacionalize esta dieta tento como base de cálculo as necessidades de uma pessoa. Lembre-se que a demanda de kcal por pessoa é de aproximadamente de 2400 kcal/dia.

2.      Distinguir as sazonalidades de cada produto (meses que ocorrem as safras). Este conhecimento é de suma importância, pois é a partir deste levantamento é que vamos saber como compor um cardápio levando em consideração os ciclos produtivos de cada produto não indo de encontro aos períodos não propícios. Períodos em que a natureza não permite sua produção.

3.      Conhecer a longevidade dos produtos (tempo de vida mais longa que o comum de um vegetal ou animal) também é um dado importante, pois é partir desta informação que vamos fazer os cálculos da projeção temporal de cada produto no planejamento produtivo. Conhecendo-se as longevidades aproximadas dos produtos poderemos planejar um empilhamento de plantas e de tempo.

4.      Escolher as variedades adequadas e ambientadas para o clima local, não se esquecendo de observar nas escolhas qual a estação climatológica daquela variedade escolhida. Esta observação evita que não se plante variedades de estação diferentes, como exemplo, existe variedades de alface de verão e de inverno e assim sucessivamente com outras culturas. A escolha da variedade deve levar em consideração a estação, a situação de fertilidade do solo e a cultura alimentar da região.

5.  Conhecer a produtividade média de cada produto naquele ambiente, isto é na sua comunidade ou propriedade, para que não se faça projeções produtivas inalcançáveis. Ter números reais nos permite acertos nos resultados dos planejamentos. O quanto mais local for os números melhor. A unidade produtiva para ser utilizada deve ser kg por metro quadrado e não toneladas por hectare. É mais real e mais fácil fazer este levantamento na propriedade. Observe tabela com dados aproximados:


Indicadores Técnicos quantitativos para a ZONA 1 das principais culturas agrícolas por metro quadrado

Principais Culturas agrícolas
Rendimento estimado anual por hectare
Produção estimada por M2
Anual por safra
Consumo per capita por pessoa por ano
(52 semanas)
Quantidade em metros quadrados per capita por pessoa ano
NECESSIDADE DE ÁRÉA POR FAMÍLIA
05 PESSOAS
Feijão mulatinho
1.2 ton.
120 gramas
20 kg
170 metros
850 metros
Feijão de corda
722 kg
72 gramas
20 kg
277 metros
1.338 metros
Mandioca
15 ton.
1,5 kg
50 kg
33 metros
165 metros
Milho
2,2 ton.
400 gramas
19 kg
115 metros
575 metros
Arroz
3.7 ton.
500 gramas
45 kg
82 metros
410 metros
Batata doce
10 ton.
1,0 kg
50 kg
50 metros
250 metros
Inhame
15 ton.
1,5 kg
50 kg
33 metros
165 metros
Tomate
45 ton.
4,5 kg
5 kg
1.10 metros
  5.50 metros
Cenoura
15 ton.
1,5 kg
1,5 kg
1 metros
    5 metros
Beterraba
15 ton.
1,5 kg
1,0 kg
0,66 metros
  3.3 metros
Pepino
45 ton.
4,5 kg
18 kg
4 metros
20 metros
Batata inglesa
20 ton.
2,0 kg
10 kg
5 metros
25 metros
Cebola
20 ton.
2,0 kg
3.3 kg
1.65 metros
8.25 metros
Pimentão
20 ton.
2,0 kg
2.0 kg
1 metro
5 metros
Repolho
30 ton.
3,0 kg
13 kg
4.5 metros
22 metros
Mamão
30 ton.
3,0 kg
8,3 kg
2,80 metros
14 metros
Banana
40 ton.
4,0 kg
25 kg
6,25 metros
31 metros
Alface
100.000 pés
10 pés
2 kg
1.5 metros
7,5 metros
Quiabo
15 ton.
1,5 kg
0,25 gramas
0.50 metros
2.5 metros
Abóbora
30 ton.
3.0 kg
0.94 kg
3.19 metros
16 metros
NECESSIDADE APROXIMADA DE METROS QUADRADOS PARA ZONA 1 SUSTENTAR UMA FAMILIA DE 05 PESSOAS – 3.918 Metros Quadrados
Quadro adaptado por Roberto Mendes por pesquisas a vários sites, literaturas técnicas e sua experiência prática na montagem de propriedades Permaculturais.

6.      Iniciar o processo de posicionamento dos elementos no entorno da casa. Devem-se posicionar os elementos de forma que a interdependência entre eles sejam ao máximo. Quanto mais conexões criadas melhor para a sustentabilidade da propriedade. Arrume as plantas levando em consideração suas formas, necessidades por luz e nutrientes. Não permita espaços descobertos ou abertos sem vegetação, o solo precisa estar coberto e protegido durante todo o ano independentemente do clima.

7.      Utilize ao máximo o processo sucessional dos vegetais, imite esta lógica. Execute permanentemente em todos os metros quadrados do entorno da casa o empilhamento de tempo (varias plantas de longevidade diferente) e de plantas (plantas de alturas diferentes).

8.      Crie bordas ao máximo. Se formos bons observadores vamos notar que todo espaço que forma um canto consegue juntar mais coisas. Estas margens ou Bordas tornam-se mais ricas em diversidade. Uma diversidade de elementos se junta nestes ambientes naturalmente, ou através das forças da natureza como ventos, declives, etc. Os espaços onde a natureza cria borda são mais ricos em diversidade, pois conterá elementos de dois ambientes. Borda nesta colocação é percebida como limite entre espaços ou lugares e aumento de conexões e combinações entre componentes, logo devemos utilizar esta estratégia na natureza em nossos ecossistemas cultivados permitindo a criação de mais bordas, ou limites.

·         Entre a Terra e água                         
·         Entre a Floresta e campo
·         Entre a Plantação e pomar
·         Entre a Terra e mar
·         Entre o Seco e molhado
·         Entre o Urbano e rural
·         Entre o Alto e baixo
·         Entre o Longe e perto
·         Entre Em pé ou deitado
·         Entre o Claro e o escuro

No primeiro exemplo acima a interseção entre a terra e a água cria-se uma borda úmida que com certeza vai permitir a existência de elementos da água e da terra, enriquecendo o úmido. Através deste exemplo podemos ver que principio potencial fantástico temos ao nosso dispor. Precisamos então criar facilidades para que as bordas sejam uma tecnologia que esteja presente ao máximo em todos os espaços da propriedade. Quer seja criada pelos indivíduos ou pela própria natureza.

Todos estes dados podem levar o leitor a pensar: é complicado, de difícil operacionalização, mas a efetivação na prática é fácil. Todos estes dados são coletados uma única vez e não se precisa mais, eles vão servir de base real para o planejamento da área. 


Morando independentemente do local, se somos urbanos ou rurais devemos nos perguntar quantos kg de alimento posso produzir na minha casa? Na zona urbana caso não tenha um bom quintal posso tentar produzir em jardineiras, vasos, latas, caixotes ou até em garrafas pet. A idéia intencional é produzir. Comece aos poucos aumentando a área de plantio conhecendo, aprendendo e diminuindo o percentual de alimentos comprados.


Lembre-se de criar parcerias entre as plantas e com as plantas. A natureza também deve sugerir neste processo arregimentando plantas para fazer parte dos espaços como dinamizadora, cicatrizantes, criadeiras e adubadeiras.

Os números apresentados na tabela anteriormente são aproximações, pois de região para região a produtividade e ou os rendimentos das culturas podem sofrer alterações na produção. Com estes parâmetros acredita-se que os cálculos para o planejamento desta segurança possam ser facilitados e mais aproximados das condições reais. As escolhas de boas práticas antigas consagradas associadas as mais modernas tecnologias agrárias tendo como matriz principal a agroecologia e como forma de operacionalização a Permacultura deve ser a base para se alcançar a sustentabilidade destes espaços produtivos. A estabilidade produtiva é a busca permanente deste sistema de produção alternativo aos modelos modernos que tem como base o pacote tecnológico da revolução verde criado na década de 50/60. A sinergia entre o plantar e o criar é a base deste sistema que hora se apresenta em forma quantitativa.

A segurança alimentar na propriedade familiar deve ser um dos principais objetivos a ser alcançado pelas famílias. Este objetivo sendo alcançado traz uma grande tranqüilidade para a família, pois lhe permite pensar na comercialização da produção do seu roçado livre de entregar aos atravessadores por qualquer preço, lhe dá margem e segurança de barganhar por melhores cotações e rentabilidades, pois sua alimentação esta garantida. Percebemos que muitas famílias ao chegar na hora da colheita já tem grandes dividas assumidas para serem quitadas até às vezes nas lojas onde comprou os insumos para efetuar o plantio.

Percebe-se neste texto que a matemática é uma grande ferramenta de planejamento na agricultura. Os números são a tentativa de tornar real e verdadeiro o que pensamos, o que medimos, e o que calculamos. O entendimento apurado deste texto exige conhecimentos básicos matemáticos, sem eles ficará difícil a operacionalização quantitativa e qualitativa dos objetivos pretendidos (a segurança alimentar da família).


Promover o desenvolvimento de dentro para fora e de baixo para cima, estimulando e fomentando a auto-suficiência familiar deve ser a intencionalidade de qualquer planejamento onde a segurança alimentar seja a base prioritária do sistema. Basear o desenvolvimento nas potencialidades e oportunidades internas, isto é, naqueles recursos que os agricultores realmente possuem em seus sítios, em vez de insistir nas debilidades e restrições externas (no que eles não possuem). Uma estratégia realista e de bom senso deveria começar por incrementar a produtividade das zonas de segurança alimentar (01 e 02), começando pela capacitação da família para elevar sua própria produtividade e para desenvolver o potencial produtivo da terra. E esta por sua vez, ao melhorar a sua fertilidade e elevar a produtividade, produzirá maiores excedentes que alimentarão toda a família de forma permanente.

Uma área aproximadamente de 0,5 hectares seria um tamanho ideal para se buscar alcançar uma sustentabilidade alimentar para uma família de mais ou menos 05 pessoas. Podendo esta área ser manejada pelos jovens da família sem comprometer o tempo escolar de estudo. Nesta área deve-se aproveitar e reutilizar todas as águas usadas de forma a garantir um mínimo de irrigação para os cultivos já que o tamanho da área não é tão grande. Deve-se também captar toda água possível para garantir o beber das plantas e dos animais inclusive da família. A adubação desta área deverá ser feita com a reciclagem ao máximo dos restos das culturas além do aproveitamento dos restos de casa e do esterco dos animais que fazem parte destas zonas de produção de segurança alimentar.

Encontrar os números idéias de cada propriedade deve ser a tarefa de cada agricultor, estes números tem uma importância muito grande para a busca da auto-suficiência  alimentar, conduzindo toda a família a soberania alimentar onde o poder de decisão passa também pelo conhecimento destes números indicadores de segurança.

Para que este trabalho tenha sucesso é necessário o envolvimento de toda a família. Precisa-se de informações de todos os membros. Estas informações quanto mais reais forem mais o planejamento poderá trazer sucesso imediato. Estes números devem nos conduzir a fazer cálculos de relações entre os rendimentos das culturas da nossa região e a quantidade exigida pela família envolvida no planejamento.

Que este espaço no entorno da casa se torne uma área de produção intensiva e de forma permanente, além de ser espaço de aprendizagem para um atendimento a mercados mais formais e exigentes. A Zona 01 pode e deve ser área de experimento, de teste, de escolha e de produção de conhecimento sobre nossos gastos para atender as nossas necessidades em alimentos. 

Esperamos que esta texto desperte nos leitores a vontade de conhecer mais profundamente as suas capacidades, do fazer produzir no entorno da casa diminuindo os gastos, economizando recurso evitando o não comprar, aumentando a diversidade da propriedade e da mesa, além de uma produção limpa e nutricionalmente mais saudável e equilibrada. 

Antônio Roberto Mendes Pereira
Técnico, Permacultor, Pedagogo e Especialista em metodologia da educação ambiental
11 de fevereiro de 2011


[1] Zoneamento é uma estratégia utilizada pela Permacultura onde na distribuição dos elementos e o gasto de energia para introduzir e mantê-los produtivamente é pensada de forma econômica. Quanto mais os elementos precisam ser visitados durante o dia mais próximo da casa eles devem estar localizados. A zona 1 é o entorno da casa ou o terreiro e a zona 2 é o pomar diversificado.

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