sexta-feira, dezembro 30

Analisando o solo sem laboratório - Aprendendo com a natureza

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A natureza nos oferece, muitas informações que podem nos ajudar diariamente a entender o como fazer. Informações que não nos custam absolutamente nada, basta unicamente ter sensibilidade, cautela, poder de comparação e observar como a natureza faz. Muitas dessas informações não precisam seguir para laboratórios, até com alguns testes podemos entender o que se passa. É claro que existem determinadas informações que para se obter são necessários os laboratórios de análise, eles podem nos subsidiar com mais detalhes, mas este texto tem a intenção de mostrar alguns testes que podem ser feitos sem ter que remeter estas amostras aos laboratórios, podendo ser realizadas em casa ou até mesmo no próprio campo. 


As distâncias dos centros urbanos impedem a realização de muitas análises laboratoriais, e esta população do campo precisa encontrar formas alternativas para resolver os problemas para muitas das situações que suas propriedades enfrentam cotidianamente. Muitas experiências e testes foram criados através de observações permanentes do comportamento da natureza. Este texto tenta trazer estas experiências de forma que cada vez mais outras pessoas possam conhecer e aplicar. 

O campo tem sua linguagem própria, o sítio é cheio de informações em cada elemento natural que se apresenta e devemos aprender a ler tudo isso muito bem. Em sistemas Permaculturais não podemos esquecer que a paisagem natural deve nos inspirar para criarmos estratégias de sustentabilidade. 

A produção que pode ser retirada de um sítio, não deve ser limitada pelo seu tamanho unicamente. O único limite ao número de usos de algum recurso possivelmente, está no limite de observação, informação e imaginação do projetista. Logo se faz necessário aprender a ser um bom observador, registrando o que vê o que pressente, e o que intuitivamente lhe inspira. 

Devemos prestar atenção aos fatos mais corriqueiros do nosso dia a dia, fazendo sempre a mesma pergunta: qual é a relação que estão acontecendo aqui? Este deve ser o primeiro comportamento que devemos ter diante do que se vê, e do que queremos entender. Os sistemas vivos são complexos, não no sentido de complicados, mas porque é o resultado de diversas conexões. Precisamos perceber o máximo de conexões que podem estar acontecendo em uma única ação da natureza. Esta deve ser a primeira análise a se aprender fazer. Observar, observar, observar... 


A observação pode ser realizada a olho nu ou com algum instrumento. Os instrumentos com certeza aumentam o poder de observar no detalhe, nas entranhas de determinados elementos. Por exemplo, uma lupa pode nos ajudar a ver detalhes que o nosso olho em muitas situações não conseguiria ver. Misturas de substâncias podem também nos indicar muitas informações pertinentes ao que queremos fazer. 

A NATUREZA RESPONDENDO 

Como já dissemos a natureza tem resposta para tudo, ela já encontrou saídas para todas as necessidades dos seus elementos vivos que compõe cada ecossistema. Tudo existe para atender as demandas destes elementos que compõe a natureza. Para cada necessidade vários elementos são dotados de serviços que resolvem facilmente estas demandas. Logo todas as respostas estão na natureza e não nos laboratórios. 

Aprender encontrar estas respostas é o que se quer. Muitas soluções detectadas para as necessidades tecnológicas estão sendo encontradas na natureza, já existe até uma área da ciência que está dedicando tempo para encontrar saídas através da imitação da natureza. 

A biomimética é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a Natureza (e não sobre ela) e utilizar esse conhecimento em diferentes domínios da ciência. A designação desta recente e promissora área de estudo científico, provém da combinação das palavras gregas bíos, que significa vida e mimeses que significa imitação. Dito de modo simples, a biomimética é a imitação da vida. 

Desde a ideia do velcro até ao modelo de carro com aerodinâmica copiada de estruturas de elementos vivos da natureza está sendo vivenciada na atualidade. A busca por estas ideias estão em ascensão no mundo atual. 








INDICATIVOS NATURAIS PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PRODUTIVOS DA PROPRIEDADE RURAL 

Uns dos primeiros indicativos de causa e efeito de alguns problemas podem ser entendidos através da observação de vegetais através do seu surgimento e comportamento, vejamos alguns: 



Nome científico
Nome comum
Indicadora de que condição do solo:
Amaranthus ssp.
Algumas espécies são comestíveis e possuem propriedade medicinal; indica boa fertilidade e terra bem estruturada, com bom teor de matéria orgânica. Presença de Nitrogênio livre (matéria orgânica).
Típico de terras abandonadas e gastas, solos ácidos com baixo teor de Cálcio, impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade. Local que represa água. Pouca fertilidade.
Pastos queimados com frequência, falta de Fósforo, Cálcio e umidade. Solos de baixa fertilidade.
Pobreza do solo, compactação superficial, prefere solos com água estagnada na estação chuvosa.
Bastante afetada pelas secas e resiste a inundações prolongadas e ao encharcamento do solo. Invasora de terras cultivadas.
Terra de lavoura com laje superficial. Típico de solos constantemente arados, gradeados e com deficiência de Zinco; desaparece com o plantio de centeio, aveia preta e ervilhaca; diminui com a permanência da própria palhada sobre a superfície do solo; regride com a adubação corretiva de Fósforo e Cálcio e com a reestruturação do solo.
Terra muito compactada e pisoteada.
Equisetum sp.
Indica solo com nível de acidez de médio a elevado.
Galinsoga parviflora
Solo com excesso de Nitrogênio e deficiente em micronutrientes, principalmente Cobre.
Solos periodicamente queimados, muito ácidos, pobres em Fósforo e Cálcio e com regime hídrico alterado. Solos ácidos, adensados e temporariamente encharcados. Ocorre também em solos deficientes em Magnésio.
Azedinha
Solo argiloso, PH baixo, deficiência de Cálcio e de Molibdênio.
Colonião
Planta com boa resistência ao pastoreio e ao fogo. Bastante exigente em fertilidade do solo, preferindo terras profundas, friáveis e levemente arenosas. Se nas áreas baixas se encontra bem desenvolvido, cor verde forte, e nas partes altas pode aparecer baixo, fino e amarelado: demonstra migração de nutrientes neste solo.
Excesso de Cálcio no solo.
Solos com pouca aeração, compactados ou adensados.
Solo fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e é planta alimentícia com elevado teor de proteína.
Alto teor de alumínio. Sua presença reduz com a calagem. As queimadas fazem voltar o Alumínio absorvível no solo e proporcionam em retorno vigoroso da samambaia.
Terra arejada, deficiente em Potássio.
Excesso de Nitrogênio (estrume), terra fraca. Solos compactados e úmidos. Ocorre freqüentemente após lavouras mecanizadas e em solos muito expostos ao pisoteio do gado.
Maria-mole ou Berneira
Solo adensado, camada estagnante (40 a 120 cm). Regride com a aplicação de Potássio e em áreas subsoladas.
Guanxuma ou Malva ou Mata-pasto
Solo compactado e duro ou superficialmente erodido. Em solo fértil fica viçosa; em solo pobre fica pequena. Terras degradadas, compactadas, secas.
Excesso de Nitrogênio (matéria orgânica). Deficiência de Cobre. Exigente em matéria orgânica  e solos fofos. Indica boa fertilidade. Ação inseticida contra pulgões.


Para aumentar estes conhecimentos você pode fazer outras pesquisas na internet, onde inúmeras tabelas estão publicadas com livre acesso de uso. 

INDICATIVO DE SOLO ÁCIDO - Normalmente depois das chuvas se formam poças de água. E quando esta poça permanece durante muito tempo com a água turva, sem sedimentação da argila, está demonstrando que o solo é ácido. Se a argila sedimenta o solo não é acido. 





CONHECENDO O PH DO SOLO 

Criar o indicador de repolho (IR) 

Materiais necessários: 

Repolho roxo 
Liquidificador 
Água destilada 
Bacia e peneira 
Pequeno vidro com tampa 
Prato de louça branco 

· Encha a metade do copo do liquidificador com folhas de repolho, depois cubra com água destilada. 
· Bata bem e passe o suco de repolho na peneira, descartando o bagaço. 
· Guarde este suco no vidro, faça um rótulo e guarde no refrigerador. 

Testando a acidez e a alcalenidade do solo 

· Pegue uma amostra de solo que se quer conhecer o ph; 
· Coloque em uma vasilha e coloque o dobro do volume de água destilada e deixe descansar por 2 horas; 
· Recolha parte da água; 
· Coloque um pouco do líquido em um prato de louça branco e coloque duas colheres do IR, e observe depois de alguns minutos se a cor da mistura muda; 
· Resultado- roxo para azul ou verde, indica alcalenidade. Se a cor muda do roxo para o vermelho, indica acidez. 


CONHECENDO A VIDA DO SOLO – Um dos grandes desafios é provar para os agricultores da existência benéfica da presença dos microorganismos do solo. Um teste de campo que pode ser feito é utilizar água oxigenada 30 volumes (peróxido de oxigênio). Coloca-se uma porção do solo (metade do copo) que se quer conhecer a intensidade ou não de microorganismos presente naquele solo, depois se coloca uma porção da água oxigenada, e verifica-se o efeito que acontece. No solo onde a presença de vida é grande a reação da mistura é de aumento do volume com a presença de bastante espuma, já em um solo muito pobre quase que não acontece reação alguma. A grande presença de vida no solo demonstra que existe matéria orgânica em decomposição e uma probabilidade deste solo ter bastante fertilidade. 


CONHECENDO A ESTABILIDADE DO SOLO – O primeiro passo é pegar um copo grande liso. Em seguida, deve-se encher o copo com água e depois soltar dentro dela um torrão da primeira camada do solo que se quer testar a estabilidade. Será interessante observar que o torrão não vai se desmanchar nem durante o afundamento e nem mesmo se a água do copo for agitada energicamente. O não desmonte do torrão é devido a quantidade de geléia bacteriana que foi criada pela decomposição da matéria orgânica que estava presente neste solo. Já ao pegar outro torrão agora da segunda camada do solo e repetir a experiência, todos vão poder verificar que ele se desmancha com muita facilidade. Isso demonstra a falta de estabilidade do solo da segunda camada, que não agüenta uma chuva muito forte, pois todos os seus agregados irão se desmontar criando uma camada impermeável no solo, caso esta camada esteja exposta às intempéries. Esta instabilidade é gerada como dito anteriormente pela falta de matéria orgânica não contribuindo para a formação de grumos estáveis a água. 




Agora imagine quando se realiza uma aração profunda e coloca-se parte da segunda camada do solo para a superfície, perde-se a estabilidade deste solo, criando uma crosta que não permite a entrada de ar e água, e toda a bioestrutura do solo fica comprometida. 

CONHECENDO A TEXTURA DO SOLO - Para descobrir se o solo é arenoso, argiloso ou limoso, faz-se o seguinte teste: pega uma porção de solo, molha e depois tenta fazer um filamento com este material. Se for possível fazer um “S” sem o mesmo se quebrar, o solo é argiloso. Se for possível fazer o filamento, e não se consiga dobrá-lo para fazer o “S”, o solo é limoso. Já quando a textura é arenosa não se consegue fazer filamento algum. Além disso, escuta-se um chiado, devido aos grãos de areia quando se esfrega um dedo no outro, enquanto nas demais se sente uma maciez incrível. 




CONHECENDO A POROSIDADE DO SOLO - Encha de água um vidro grande de boca larga e em seguida coloque um pequeno torrão dentro do recipiente da primeira camada do solo, soltando-o lentamente. Observe a quantidade de bolhas de ar que vão subir durante a descida do torrão. Quanto mais bolhas de ar subir mais porosidade têm-se neste solo, e com certeza este solo é mais fácil de trabalhar e a infiltração de água e ar serão mais fáceis. 

CONHECENDO AS CAMADAS DO SOLO – Cava-se uma trincheira com mais ou menos 1 metro³ de profundidade ou aproveita-se um barranco para este estudo. Coletam-se torrões da parte superficial conhecida como solo agrícola, até onde a cor é igual, isto é não muda de tonalidade, colocando-se este material sobre um papel branco, depois se faz este mesmo procedimento onde a camada do solo muda de cor, colocando-se da mesma forma sobre o mesmo papel, uma amostra ao lado da outra. E assim sucessivamente com as mudanças de cor na camada seguinte. As três cores mais intensas são normalmente as três principais camadas de solo (solo agrícola, subsolo e rocha mãe). As demais cores intermediárias são as camadas de transição entre uma camada e outra. 


O solo tem as seguintes camadas: 

Camada A ou solo Agrícola: é a primeira camada do solo, a que fica em cima, e é a de maior interesse para a agricultura. É onde encontramos a maior quantidade de matéria orgânica, de microorganismos, de raízes, é também a mais fofa (porosa), onde a água e o ar conseguem entrar com mais facilidade. No geral o solo agrícola de nossa região (nordeste) tem uma profundidade que varia de 20 a 30 cm. É bom saber que quanto mais escura for a cor desta camada mais nos demonstra a presença de matéria orgânica. 

Camada B ou sub-solo: como o próprio nome diz, é a camada logo abaixo do solo agrícola. É mais dura, socada, e raramente se encontra presença de matéria orgânica, tudo que se encontra no solo agrícola se encontra no sub-solo, só que em menor quantidade e qualidade. 

Camada C ou área de transição: é a terceira camada do solo. É assim chamada por esta próxima da rocha mãe. Ainda possui pedras esfareladas, em decomposição, ainda em transição. 

Rocha mãe: é a rocha que deu ou vai dar origem solo. Ainda pode ser rocha ou não. A rocha mãe é que define o tipo de solo. 

Obs.: As camadas do solo também são conhecidas como horizontes. 

Como podemos perceber neste texto muitos são os experimentos e testes que podemos realizar sem a presença dos laboratórios, não que eles sejam desnecessários, mas em determinadas circunstancias às vezes se tornam inviáveis por vários motivos. 

Os testes apresentados são fáceis e acessíveis a qualquer produtor. É claro que este texto não esgota outros tantos testes que existem. Este tem a intenção também de provocar a busca de outros testes e experimentos que podem ser resgatados e repassados para que outros tenham acesso. Durante este novo ano que se aproxima vou tentar pesquisar outros testes que possam ser facilmente utilizados no dia a dia das pequenas propriedades rurais, evitando pagar para se ter estas informações, além de aumentar os conhecimentos de cada um interessado no conhecer. 

29 de dezembro de 2011

sexta-feira, dezembro 23

As sementes crioulas na melhoria da genética local - Perpetuando o que se tem

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A perpetuação e melhoria do capital genético de uma propriedade rural são inteiramente responsabilizadas pela manipulação e seleção das sementes e da qualidade genética dos animais por ele criada. E com a expansão dos sistemas agrícolas, tendo como base o uso de insumos industriais, sendo caracterizadas pelo uso de sementes híbridas e transgênicas, as sementes nativas e ou crioulas vem perdendo seu espaço de cultivo. Os agricultores estão perdendo sua autonomia até na escolha do que vai plantar e criar, pois o mercado impõe padrões, variedades, formas, modelos através das mídias de TV, revistas, exposições agropecuárias, feiras etc. 


Em contrapartida a tudo isso, o nível de consciência vem aumentando, tem mais gente percebendo e entendo todo este processo de manipulação que está sendo utilizado pelo sistema capitalista, e em vários lugares do mundo surgem iniciativas para novas posturas de escolha e uso diante dos processos produtivos, e um deles é a busca pelo material genético nativo, crioulo como forma de aumentar a autonomia dos agricultores. Este penúltimo texto do ano pretende mostrar a importância deste capital genético como uma das formas de aumentar esta autonomia. 

Precisamos entender que as sementes ou variedades são um verdadeiro presente construído através das gerações, pois houve um tempo onde as plantas cultivadas e os animais eram selvagens e para que estas pudessem ser plantadas e criados e ter produção e colheitas cada vez maior e melhor, precisaram da intervenção do homem, através da domesticação. 


Domesticar significa ter domínio sobre a variedade vegetal ou animal, na intenção de transformar as características naturais em características que sejam interessantes para as necessidades humanas. E através da seleção repetitiva e insistente, escolhendo a cada geração sempre as características do interesse humano, estas vão sendo adequadas a estes interesses, ou melhor, vão sendo domesticadas. Até hoje em dia as variedades vão sendo domesticadas ao interesse humano, mas sempre tendo como limite a qualidade edafoclimática de onde está se implantando a cultura. 

Este parâmetro precisa ser levado em conta, pois de outra forma teríamos uma semente doméstica para determinada vontade, mas não adequada para o solo e ou para o clima de determinada região. A domestificação deve acontecer sempre levando em consideração os domínios do agroecossistema onde o cultivo em melhoramento vai ser cultivado. Com isto teremos uma semente adequada e domesticada para o interesse e o meio. 




COMO OCORRE O PROCESSO NORMAL DE DOMESTICAÇÃO DAS VARIEDADES CRIOULAS 

Tabela adaptada da cartilha do Centro Ecológico – Biodiversidade, passado, presente e futuro da humanidade. 

A domesticação de um elemento pode ser tão intensa e profunda, que pode fazer deste elemento melhorado um dependente da situação onde foi criado e das necessidades para que foram selecionadas. Cada seleção vai exigir uma qualidade do ambiente que vai ter que ser atendida, ou de outra forma a característica selecionada não vai acontecer na sua totalidade. 

Com os deslocamentos humanos, mudando de região em busca de melhores espaços e de comercio, as espécies domesticadas foram sendo disseminadas para outras regiões. E cada vez mais também se adequando a estes novos espaços. 

A batata, o tomate, o amendoim a macaxeira, pimentão, feijão, mamão, goiaba, caju, maracujá, entre outras, foram plantas domesticadas na America do sul, onde até hoje encontramos uma grande diversidade destas culturas e também dos seus parentes silvestres. 

ORIGEM E TEMPO DE UTILIZAÇÃO DE ALGUMAS CULTURAS 

Fonte – FAO 

Pela estimativa de tempo de utilização a maioria das plantas apresentadas no quadro, demonstra-nos que foram domesticadas mesmo antes do nascimento de Cristo. Todas até hoje fazem parte da dieta de muitas regiões. Se fizermos uma comparação com a utilização dos insumos químicos como agrotóxicos, adubos sintéticos entre outros que passaram a ser utilizados de forma generalizada nos sistemas agrícolas, somente depois de 1950 (revolução verde), e que a agricultura é praticada a mais de 10.000 anos, podemos chegar à conclusão de que, a maior parte do tempo, o ser humano não precisou destes insumos que ora são comercializados e divulgados de forma tão contundente pela mídia como forma única de se conseguir produzir. 

A agricultura familiar com certeza é responsável por boa parte da manutenção da existência destas variedades crioulas, pois a seleção, coleta e a repetição permanente de novos cultivos para que o poder germinativo das mesmas não se perca ou diminuam se faz necessário. Logo, o plantio todos os anos, é uma forma de manter viva a variedade, além do seu aperfeiçoamento. 




A evolução desta domesticação além das inúmeras nova variedades que vão sendo criadas a partir de um exemplar e da mistura entre eles se devem com certeza ao manejo destas sementes, feitas principalmente pelos pequenos agricultores. 

As trocas de sementes também são responsáveis pela disseminação e preservação destas variedades. Mas, vale apenas saber que a partir do momento em que a ação humana deixa de acontecer, elas permanecem na natureza por pouco tempo ou desaparecem através das competições que ocorrem com outras plantas silvestres. Este é um aspecto que diferencia as plantas domesticadas/cultivadas, das plantas silvestres, ou selvagens, e que mostra a estreita ligação entre as plantas cultivadas e o ser HUMANO. 

DIFERENÇA ENTRE PLANTAS SILVESTRES E PLANTAS DOMESTICADAS 

Quadro reproduzido da cartilha do Centro Ecológico – Biodiversidade 

Outra informação que precisamos entender é que as sementes silvestres conseguem sobreviver e permanecer no solo durante muitos anos, esperando as condições propicias para a sua germinação. Já no caso das sementes cultivadas, este processo não acontece, pois se não existirem as condições idéias para sua germinação (luz, água, e temperatura) e seu manejo durante todo seu período produtivo elas definham, muitas nem conseguem germinar, apodrecendo, sendo necessária uma nova semeadura. Mas, uma vez percebe-se que se não acontecer parceria homem/planta todo processo vai por água abaixo, não se consolida. A dependência é mutua, as plantas domesticadas dependem do cuidado humano e nós dependemos dessas plantas para nossa alimentação e sobrevivência. 


PRODUTIVIDADE DAS VARIEDADES CRIOULAS 

A produtividade das variedades crioulas é bastante satisfatória quando levadas em conta a observação das necessidades ecológicas de cada variedade. Estas variedades são menos exigentes quando comparadas com as sementes selecionadas, comercializadas em casas especializadas neste tipo de insumo. Quando estas recebem o mesmo tratamento que normalmente são dadas as sementes hibridas, por exemplo, sua produção não deixa a desejar, além de se fazer uma grande economia de insumos, pois as exigências são menores. 

Estas variedades se desenvolvem muito bem quando algumas práticas de manejo são utilizadas, vejamos algumas: 

Quadro copiado da cartilha do Centro Ecológico – Biodiversidade 

Atualmente um grande problema vem sendo gerado através do cruzamento que muitos agricultores vem fazendo das variedades crioulas com as variedades industriais. O resultado destes cruzamentos é que as variedades crioulas passaram a possuir determinadas características das variedades industriais, perdendo em muitos casos sua resistência. Este processo é conhecido como erosão genética, aonde determinada características interessantes vão sendo perdidas por causa destes cruzamentos, feitos muitas vezes de forma inconsciente. 

O QUE SE BUSCA NA SELEÇÃO DE VARIEDADES CRIOULAS? 

Várias características podem ser manipuladas através da seleção de uma determinada espécie e ou variedade. É preciso saber o que se quer melhorar e iniciar o processo da seleção, escolhendo uma variedade que mais tenha as características que se procura. E a cada plantio, observar detalhadamente quais as plantas que estão trazendo as características que se está procurando com ênfase. Marcam-se estas plantas e no momento da colheita suas sementes são separadas para que no próximo ano, estas possam ser plantadas e todo o processo se reinicia. É um trabalho que pode levar anos, até se conseguir as características que se quer. 

Tem muitos produtores que além de selecionar a planta, ainda selecionam as sementes desta mesma planta, buscando as sementes com a melhor aparência, sem defeitos, manchas, sinais de ataque de pragas e enfermidades. 

É um trabalho lento mais fascinante, pois imagine encontrar o que se esta procurando em uma área com mais de 5 hectares de milho, quantas plantas cabem em um hectare de milho? Agora se imaginem procurando e marcando as plantas que possuam as características que se está buscando selecionar. 



POSSIBILIDADES NA SELEÇÃO DO MILHO 

Quadro retirado da cartilha Biodiversidade do Centro Ecológico 

Como vemos a segurança alimentar passa também pela seleção das variedades crioulas, e quanto mais diversidade dentro da mesma espécie como também de espécies diferentes possamos ter na propriedade, mais segurança estamos tendo. A diversidade de espécies e variedades constitui uma das estratégias da agricultura familiar, possibilitando saúde, economia, e alimentação farta e diferente. 

Monte um banco de sementes na sua propriedade, troque sementes com vizinhos, aumente o potencial genético da sua propriedade através do armazenamento genético das mais diferentes variedades, principalmente das adaptadas ao seu ambiente. Resgate variedades que na antiguidade produzia sem necessitar de muito manejo, ou melhor, sem muita intervenção humana. 

A recuperação do hábito ou costume de plantar variedades crioulas, além de estimular a produção aumenta sua autonomia em relação a disponibilidade de sementes. Popularize estas idéias para que possamos voltar a encontrar as variedades crioulas com mais facilidade, e lembrem-se, cada lugar tem sua história, seu jeito de fazer agricultura e sua forma de perpetuar o que é bom, seja mais um nesta luta na contribuição de perpetuar as nossas sementes e variedades nativas, crioulas, natural, domestica, rústica ou como se queira chamar. 

Estamos chegando ao final de mais um ano, e novas expectativas e esperanças se renovam dentro de nós. Mas, antes do termino deste precisamos avaliar nossas conquistas e perdas, espero que este ano eu tenha contribuído um pouco com os textos que escrevo. Espero sinceramente que as idéias práticas e muitas delas teóricas e intuitivas tenham clareado para um aumento da relação homem/natureza. A disciplina de escrever um texto toda semana não foi fácil, mas consegui, graças principalmente pelos acessos e o número de seguidores que vem acompanhando o que escrevo semanalmente. Irei iniciar o ano com a mesma expectativa de escrita, porém sem o compromisso de escrever um texto semanalmente. 

Um feliz natal a todos e que este novo ano que se aproxima possamos cada vez mais engrossar este quadro de PERMACULTORES PRATICANTES E ATIVOS. 

22 de dezembro de 2011

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