sábado, junho 25

Adequação ambiental da propriedade rural - Conectando produção com conservação

 Antônio Roberto Mendes Pereira

A cada dia a preocupação com o meio ambiente vem tomando proporções e força. A quantidade de adeptos as causas ambientais vem aumentando e com muitas ações freqüentes de repúdio e protestos aos impactos causados ao meio ambiente de forma indiscriminada. A mídia quase toda semana, traz reportagens tendo como centro das atenções o que vem sendo feito com o meio ambiente. Vemos vários grupos defendendo suas ideologias ambientalistas, umas mais avançadas, outras mais retrógadas, e outras radicais, resistindo a qualquer proposta de mudança. Mas, diante de todo este cenário precisamos mudar determinados comportamentos, valores e procedimentos em relação ao meio ambiente. Precisamos adequar todos os espaços, iniciando este processo pela adequação mental (ecologização do pensamento) e depois alcançar mudanças na nossa forma de consumir, trabalhar, de produzir, vestir e até de se relacionar com todas as outras espécies. O processo educacional vai também exigir mudanças, iniciando também estas pela seleção de conteúdos ou conhecimentos que devem fazer parte de um novo currículo escolar.

Como diz David Orr em seu artigo “A educação para o século XXI” os jovens deverão saber como criar uma civilização que funcione com energia solar, conserve a biodiversidade, proteja  solos e florestas, que desenvolva empreendimentos locais sustentáveis e repare os estragos infligidos à Terra.

Para oferecermos essa educação ecológica, precisamos transformar nossas escolas e universidades, e eu complemento dizendo: é preciso também adequar as propriedades rurais e seus sistemas de produção para uma realidade mais agroecológica. Que estas aprendizagens cheguem a todos os jovens inclusive os do meio rural. Pois, as gerações futuras de agricultores precisam aprender a utilizar melhor  a energia e os materiais disponíveis do local. Precisam aprender a  usar a energia solar sob todas as suas formas. Precisam eliminar  a poluição e o desperdício. Precisam aprender  a administrar recursos renováveis. Precisam iniciar a imensa  tarefa de restaurar, da melhor forma, os danos causados a Terra nos últimos 200 anos de industrialização.

Em toda a história do homem ele sempre precisou do meio ambiente através do uso dos seus recursos naturais para garantir sua reprodução e sobrevivência.  Porém, a forma como ele vem explorando estes recursos vêm causando grandes problemas locais e até planetários. Por menor que seja a propriedade ou a ação desenvolvida, se ela não for pensada de forma ecologicamente correta, o agravamento dos problemas ambientais vão aumentar consideravelmente.

Muitas propriedades rurais atualmente já são enormemente dependentes de recursos provindos de outras áreas para poder conseguir produzir. Esta dependência mostra a que grau de exploração que estas propriedades já chegaram. Solo, água, ar estão em um nível de poluição que podemos classificar como irreversíveis em algumas delas. Muitas áreas do nordeste já estão em estado de desertificação, e pouco se está fazendo para mudar esta realidade. Cada vez mais, o uso de insumos químicos é o carro chefe do caminho da produção de alimento, pois toda a riqueza natural já foi terminantemente esgotada.

Antes de meados do século 20, a maioria dos produtos agrícolas era produzida sem o uso de produtos químicos. As pragas de insetos e ervas daninhas, eram controladas pela rotação de culturas, o plantio era sincronizado de modo a evitar períodos de alta população de pragas, o controle de ervas daninhas, era feito de forma manual, e eram aplicadas outras práticas agrícolas, testadas ao longo do tempo e específicas para cada região.

A escassez de terras produtivas vem aumentando com o aumento da população, onde deveria ser ao contrário. A diminuição da fertilidade do solo e sua esterilização é um processo constante e rápido. Este tipo de agricultura não é sustentável porque destrói os recursos naturais, levando toda a população a colapsos de falta de alimento e água.

O crescimento da safra como é divulgado é conseguido com a exploração de novas áreas ou fronteiras agrícolas, e para se ter estas novas áreas disponíveis, mais desmatamento são necessários. É um crescimento enganoso, aumenta mais destrói para produzir. O desenvolvimento sustentável não pode e nem deve ser alcançado a partir da destruição destes poucos recursos ainda existente. É necessário adequar e revitalizar estas áreas que hora já estão sendo utilizada, este é o desafio que se apresenta. O manejo correto dos recursos naturais podem nos levar tanto a ganhos ambientais quanto econômicos reduzindo os impactos da ação humana no ambiente e melhorando a qualidade de vida de todos os seres vivos.

Apesar de ainda ser a lógica predominante, esse processo selvagem de ocupação e apropriação de forma selvagem e irracional em alguns casos dos recursos naturais passa a ser fortemente questionado. A sociedade como um todo, começa a exigir mudanças nos modelos de desenvolvimento, e assim vamos percebendo importantes esforços de iniciativas mais amigáveis e respeitosas com a natureza. Esses esforços resultam na tentativa de adequar ambientalmente os empreendimentos, sejam eles públicos ou privados, rurais ou urbanos.

O PROBLEMA A SER ENFRENTADO É:

A humanidade depara-se agora com um desafio crítico diante do que foi exposto: desenvolver métodos agrícolas que capturem mais o carbono aumente a fertilidade do solo de forma mais natural, preservem o ecossistema onde dele tira seu sustento, usem menos água, mas simultaneamente consigam retê-la mais tempo na terra. Porém, Tudo precisa acontecer levando em conta e utilizando produtivamente a oferta constante e diversificada de trabalho humano disponível nas propriedades rurais (mão de obra).

Em resumo, necessitamos de uma agricultura sustentável, e por que não dizer propriedades adequadas ambientalmente, na tentativa de minimizar todos estes problemas anteriormente apresentados. Necessita-se aprender urgentemente formas de manejar as propriedades para que elas possam se assemelhar aos ecossistemas naturais. Este é o itinerário pedagógico que este texto tenta trazer. Os pontos estratégicos que devem fazer parte do processo para se alcançar esta adequação ambiental são os seguintes:

CAMINHO A SER TRILHADO PARA A ADEQUAÇÃO
DAS CABEÇAS E DA PROPRIEDADE

1 - Permaculturalmente deve-se iniciar este processo reeducando toda a família. O primeiro passo é mudar a forma de ver a propriedade e as suas formas de produzir, de consumir, entre outras. O comportamento humano deve ser o primeiro ponto a ser atacado. A lógica e o modelo a ser utilizado são: do berço a berço ou como é conhecido em inglês:



Fazer com que o ser humano, ou melhor, toda a sua família seja responsável pelo que produz pelo que consome e pelo que gera e excreta é verdadeiramente a meta que se quer alcançar, é esta racionalidade que esta adequação tem como intenção maior.

As formas de pensar, de comunicar e de agir menos agressivos ao ambiente devem permear todas as ações da adequação, por isso necessita-se iniciar este processo pelas mentes. O filosofo francês Edgar Morrin afirma que: Existe uma necessidade de ecologizar o pensamento, diante do fato de que nossa cultura e a nossa civilização baseiam-se em valores e visões de mundo dissociadas das leis da natureza.

A adoção de estilos sustentáveis é o caminho e a intenção pretendida. Os números gerados pelas propriedades necessitam ser também sustentáveis no tempo e no espaço. De nada adianta ter muito agora e nada depois. A riqueza ecológica deve ser a meta de toda a propriedade, com ela todos os demais ganhos podem ser gerados.

O RETORNO DA LOGICA DA FRUGALIDADE

Os anos 50 iniciam-se com a pujante idéia de incorporação prática dos valores da FRUGALIDADE (simplicidade de costumes, de vida). Não devíamos deixar alimentos no prato, porque havia muita gente passando fome, não devíamos sair do quarto e deixar a lâmpada acesa, deixar a torneira aberta só o suficiente para não desperdiçar água, as roupas dos irmãos mais velhos eram aproveitadas pelos mais novos, assim também acontecia com os livros escolares, durante vários anos este comportamento permeou os lares da época. Hortas, galinheiros e quintais produtivos complementavam o abastecimento alimentar das famílias. Idéias, energias, valores, atitudes ecologizadas deve nutrir a mente das famílias que pretendem adequar sua mente antes de adequar a propriedade.

Como diz Mauricio Andrés (2000) em seu livro “Ecologizar”, A ação física sobre o ambiente é somente uma das formas de agir. Palavras, sentimentos, pensamentos e imaginação são os veículos e os instrumentos da ação comunicativa. Clarear estes pressupostos se faz necessário para uma ação mais ecologicamente correta.

Não podemos esquecer que a ascensão e a queda das civilizações dependem, dentre outras condições, de sua capacidade de relacionar-se de forma sustentável com o meio onde vivem e convivem.

2 - O segundo processo ou etapa que necessita ser colocada em prática é em relação ao domicilio, a casa onde se habita. Ela precisa deixar de ser um espaço que produz poluição, que consome muita energia e que precisa estar mais ecologicamente correta. Que as entradas e saídas precisam ser repensadas e reutilizadas. Os “Rs” de reciclar, reduzir, reaproveitar, recusar, reinventar, devem fazer parte do dia a dia da família e de seus hábitos e comportamentos. A diminuição de produção de lixo deve prevalecer e acontecer de forma permanente e intensa. No Brasil, cada cidadão produz, em média, 600 gramas de resíduos por dia, cujo seu não uso (reciclagem) gera problemas ambientais desastrosos perto e longe dele. Muitas propriedades rurais não dão um destino adequado ao lixo nela produzida e trazido de fora através das compras e dos descartes.



Os hábitos alimentares devem ser mais saudáveis através de um planejamento da dieta que deve ser pretendido pela família. Produzir seu próprio alimento no entorno da casa (Zona01) precisa ser projetado. Tentar diminuir o consumo de alimentos cozinhados é outra forma sadia de economizar energia e se alimentar melhor. Como projetar jardins comestíveis onde me alimento de forma in natura, sem precisar processar e ou transformar o alimento?

·         Como usar menos ventilador e sim o vento?
·         Como aquecer mais sem ter que usar o fogo?
·         Como cozinhar sem desmatar? E sem poluir?
·         Como clarear mais sem ter que usar a energia elétrica?
·         Como comer sem ter que comprar?
·         Como naturalizar os espaços humanos?
·         Como construir com o que se tem disponível?
·         Como proteger sem ter que usar veneno?

As respostas a estas perguntas são trilhas e caminhos para se alcançar a adequação ambiental domiciliar que é o segundo passo na adequação do imóvel rural como um todo.

3 - O terceiro processo a ser pretendido alcançar é em relação à água. Como contribuir para que o ciclo da água possa acontecer da forma mais natural possível na área da sua propriedade? O caminho da água na propriedade deve ser acompanhado, seguido e perseguido, desenhado e entendido.


Entender quando e quanto cai? Por onde vai? Por onde passa e entra a água? Tudo isto deve ser postura de todos os agricultores que precisam conhecer e ter domínios sobre estas informações. Aumentar este conhecimento se faz necessário para melhor proceder, para que o ciclo da água aconteça de forma espontânea e fácil, sem interrupções causadas pelo manejo errado humano. 
Como estimular a implantação da bacia hidrográfica da sua propriedade, desconstruindo este conceito que só é bacia hidrográfica se tiver divisores de água (morros, montanhas, cordilheiras)?

Queremos estimular o conceito e criação de bacias onde não é a morfologia e ou a geografia externa da propriedade que determina se é ou não. Que a água seja captada e armazenada ao máximo no solo da sua propriedade, independente de ter pendente ou não.


Ciclo da água em uma propriedade rural

Fazer com que a água que entra na propriedade, passe o maior tempo possível antes de sair é um dos objetivos a serem alcançados. Utilizar a mesma água várias vezes não permitindo que ela entre e saia no mesmo fluxo direto sem ter passado por vários ciclos internamente. O objetivo é transformar este fluxo em ciclo, fazendo com que esta mesma água possa servir para várias tarefas produtivas dentro da propriedade. Da mesma forma que acontece com a energia podemos fazer com o fluxo da água transformando em ciclo (ver imagem abaixo).



Entender a microbacia como uma unidade de gestão dentro da propriedade seria de uma visão operacional perfeita. Pensar as águas que entram e saem dentro do imóvel rural é a intenção maior como uma grande proposta para a adequação ambiental.

Pode até ser mais fácil pensar e planejar a nível de propriedade individual, mas seremos obrigados a pensar de forma conjunta com as demais propriedades do entorno que fazem limites, as águas não obedecem as cercas e os limites impostos pelo homem a chuva quando vem é para todos.

A água deve estar em todas as partes da propriedade, a sua distribuição deve ser pensada e imitada como a circulação sanguinea dos corpos vivos que ao levamos um corte em qualquer parte do corpo o sangue jorra, em muita ou pouca quantidade. Como criarmos estas condições na nossa propriedade rural?


A ÁGUA É O SANGUE DA TERRA

4 – Os serviços ambientais prestados pelos ecossistemas - Entendemos por serviços ambientais todos os “benefícios” gerados e fornecidos pelos ecossistemas para a humanidade, ou seja, tudo o que fazemos uso, que é proveniente das funções desempenhadas pelos diferentes ambientes naturais.
São exemplos disso: a absorção de carbono e a liberação de oxigênio pelos vegetais; a regulação da vazão dos rios e nascentes; a fertilidade dos solos; a polinização de pomares; a conservação da biodiversidade, e a produção de alimentos.

Se observarmos bem esses benefícios é primordialmente fornecido por ambientes naturais não-urbanos, ou seja, a origem principal desses serviços está ligada ao grau de conservação dos ambientes, em sua maioria localizados em áreas rurais. Por esse motivo podemos dizer que fundamentalmente os serviços ambientais são gerados em ambientes protegidos, como em Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) ou em áreas pouco modificadas, como sítios, fazendas, assentamentos rurais onde ainda existem resquícios de vegetação nativa, em que os solos não são impermeabilizados como na cidade.

E é a partir deste ponto, do reconhecimento de mais uma função, a de provedora de serviços ambientais, que a propriedade rural passa a ganhar ainda mais importância quando consegue esta adequação ambiental. Uma vez que, os centros urbanos, com populações humanas cada vez maiores e mais aglomeradas, e com seus ambientes cada dia mais modificados, humanizados e poluídos, passam a demandar de forma crescente os serviços ambientais oriundos das zonas rurais, uma vez que os ambientes das próprias cidades já não são capazes de gerá-los ou ainda de fornecê-los na quantidade demandada pelo grande contingente de pessoas que vivem nestes centros urbanos. E não se pode esquecer que quando esta demanda não é atendida a poluição aumenta consideravelmente, os ambientes irão ficando espaços antinaturais onde a maioria dos insumos é criada artificialmente.

Dentre as variedades de serviços ambientais gerados pelas propriedades rurais podemos iniciar frisando a produção de alimentos, considerando que atualmente um em cada seis habitantes do Planeta não tem acesso a comida em quantidade suficiente, e que em países como o Brasil, onde 80% da população estão concentradas em zonas urbanas, torna-se indispensável à manutenção de áreas com solos férteis e sem ameaça de degradação para abastecimento desse contingente humano, uma vez que a produção de alimentos em áreas urbanas é praticamente nula.

Outros importantes serviços ambientais estão ligados a outra necessidade da humanidade. São aqueles referentes ao uso e conservação da água, os chamados serviços hidrológicos. Estes devem ser controlados pelo equilíbrio dos fatores: solo, vegetação e água necessários para a recarga dos aqüíferos e perenização do fluxo dos rios, passando pela manutenção da qualidade desta água, em grande parte realizada pela barreira natural formada pelas matas ciliares, até a diminuição de fenômenos extremos como enchentes e enxurradas.

Serviços ambientais não menos importantes, mas cujos benefícios para a sociedade são menos percebidos e que também estão presentes em propriedades rurais, são aqueles ligados à conservação da biodiversidade. É bom lembrar que atualmente já estamos vivenciando uma crise na produção de muitas culturas agrícolas pela falta de agentes polinizadores como as abelhas e outros insetos, o que é um caso claro de degradação de um serviço prestado pela natureza provocado pelo homem ao se implantar sistemas de produção que vão de encontro aos processos naturais.

Porém, para que se pense na propriedade rural como uma fornecedora de serviços ambientais, e posteriormente gerando compensações pela prestação destes serviços, deve-se buscar um modelo de produção sustentável, onde se respeite a capacidade suporte de cada ambiente e de cada ecossistema, o que significa rever o modelo de produção mais atual, que visando apenas o lucro, acaba levando à exaustão e poluição os agroecossistemas. Nesse sentido, um importante passo é a adequação ambiental das propriedades rurais, onde se procura conciliar a produção agrícola com a conservação ambiental, atendendo-se ao que determina a legislação ambiental, em especial o Código Florestal e as Resoluções do CONAMA, que mais do que simplesmente normatizações, são importantes instrumentos para a determinação de limites de uso dos recursos naturais que buscam, através de critérios cientificamente comprovados, a manutenção dos serviços ambientais e naturalmente a sustentabilidade da própria atividade produtiva em longo prazo.

Assim sendo, a manutenção dos serviços ambientais, através da adequação ambiental das propriedades rurais torna-se indispensável, tanto para o sistema de produção, garantida pelo uso adequado dos recursos naturais, como para a rentabilidade econômica, uma vez que esses serviços ambientais se tornam a cada dia  essenciais e valorizados pela população, podendo assim converter-se, no futuro, em mais uma fonte de renda para os proprietários dessas áreas. Muitos destes serviços já são remunerados em algumas cidades, como exemplo o seqüestro de carbono, e a conservação de nascentes de rios.

5 – Implantação de Reserva Legal e de Área de Preservação Permanente – Para que a propriedade tenha o mínimo equilíbrio ambiental é necessário que estas duas áreas possam verdadeiramente existir nas propriedades. É a garantia de um bom viver tanto no campo quanto na cidade que também vai se beneficiar com a conservação e implantação destas áreas especiais.  

Além desta vantagem agregamos mais uma de graça, que é a estética na paisagem saudável e que as existências destas áreas possam trazer para a população que ali vivem ambientes lindos de olhar e se admirar. Na prática a implantação destas áreas é a operacionalização real da conservação ambiental, além de prontamente poder atender a Legislação vigente com a implantação, recuperação ou a conservação exigida por lei.  A Lei nº 4.771/1965 criou as Reservas Legais (RLs) nas zonas rurais e as Áreas de Preservação Permanente (APPs) em todo território brasileiro, mas o controle social destas áreas é pouco eficiente e em alguns casos inexistentes.

A Reserva Legal é uma área localizada no interior da propriedade, com área mínima correspondente a 20% do total, que deve ser mantida para conservação da vegetação nativa, como abrigo da fauna e flora. Para nós Permacultores esta área é conhecida como Zona 05. Para alguns produtores é motivo de orgulho ter uma área desta na sua propriedade é como se fosse a garantia da reprodução de sua família, além de ser a reserva natural para muitas necessidades de coleta e caça. Muitas vezes se pensa que a Reserva Legal não tem serventia para o agricultor, além daquela de garantir a proteção da natureza. Mas já existe regulamentação do que a lei chama de “uso sustentável”. De acordo com a Instrução Normativa número 5/2009 do Ministério do Meio Ambiente, é possível colher sementes e frutos, apanharem lenha para uso doméstico e usar madeira para construir benfeitorias. É admissível até o manejo florestal sustentável, com corte de árvores alternadas, desde que exista um projeto de manejo aprovado pelo órgão ambiental.

Já as APPs são áreas cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de “preservar os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade, o solo e o bem estar das populações humanas”. Situam-se em topos de morros, grandes declividades, no entorno de nascentes e nas margens dos cursos de água.  Nessas, crescem as chamadas matas ciliares, que funcionam como cílios, protegendo os corpos de água, paradas ou correntes. De acordo com a legislação, nas margens dos cursos de água com até 10 metros de largura, a faixa de APP deve ser de no mínimo 30 metros.

Figura esquemática de uma propriedade rural adequando-se ambientalmente a legislação

6 – Conservação das nascentes – As nascentes dos rios devem ser preservadas através da implantação de matas ciliares, além de se evitar que animais criados possam ter acesso livres a estas áreas. O não acesso livre a estas áreas é uma boa prática conservacionista que pode ser usada. Outra prática conservacionista de proteção que pode ser utilizada destas nascentes são anéis de concreto e revestimento da área de captação, e até a colocação de tampas e outros equipamentos que aumentem a proteção do ambiente, evitando que esta água seja poluída, perdendo sua qualidade.

Não podemos esquecer que a primeira medida de conservação desta área é a conservação de uma boa estrutura de solo, facilitando e permitindo a infiltração das águas da chuva que irão alimentar os lençóis de água responsáveis pela manutenção destas nascentes. Outro detalhe importante é quanto ao uso desta água, é bom lembrar que a família presenteada com esta nascente não deve usar toda a água, pois de outra forma prejudicaria os demais vizinhos que desta água também necessita.

O resultado que se espera de uma propriedade rural adequada ambientalmente, é que ela exerça integralmente a sua função social. Ou seja, além de gerar qualidade de vida e atingir boa produtividade, deve respeitar a legislação ambiental. Isso significa que a propriedade rural cumpre de fato e de direito a sua função social.

É claro que este texto não esgota todas as idéias para que esta adequação aconteça, estes pontos levantados e abordados aqui é um itinerário para que possamos cada vez buscar mais informações e conhecimentos pertinentes a temática. O texto deu um foco, a adequação das propriedades rurais, mas podemos tentar adequar qualquer espaço onde ocorre a convivência humana. Em casa, na rua e no trabalho são espaços que podem e devem ser projetados planos e planejamento para uma qualidade de vida centrada nos princípios ambientais. Mude seu espaço, adéqüe sua mente as necessidades ecológicas.

20 de junho de 2011

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

RIBEIRO, Mauricio Andrés. Ecologizar: pensando o ambiente humano – Belo Horizonte : Rona, 2000
ORR, David - Escolas para o século XXI . In Revista da TAPS/ Associação Brasileira de Tecnologia Alternativas e Promoção da Saúde, nº 16. São Paulo, TAPS, 1995.
Guia para adequação ambiental em assentamentos rurais (Manual a partir da experiência em assentamentos rurais na Zona da Mata de Pernambuco) – Ricardo Augusto Pessoa, Carlos Eduardo Menezes, Carlos André Cavalcanti – dezembro de 2010.

sexta-feira, junho 17

Desequilíbrios dos sistemas - como proteger-se


Antônio Roberto Mendes Pereira

Um dos grandes problemas para que aconteça a predominância das agriculturas de base ecológica, é a não garantia do sucesso da lavoura, causada pelo ataque de pragas e enfermidades, diminuindo os resultados produtivos. Esta é uma das grandes alegações, servindo também de argumentos freqüentes das multinacionais e dos venenistas profissionais que só conseguem se sentir seguros na sua orientação, quando estimula a compra dos mais diversos insumos químicos na tentativa de garantir uma produção de alimento.


Em muitos momentos me pergunto como associar veneno e alimento? Não vejo nem de longe parceria, conexão ou qualquer outra forma onde possa acontecer tal combinação. Não consigo entender como os seres humanos com tanta racionalidade conseguem aceitar usar agrotóxicos no alimento que sua família vai comer. Mas, em defesa desta forma de fazer ou praticar agricultura, a mídia e muitas entidades de pesquisa dedicam tempo e dinheiro para descobrir formas de  defender os cultivos através de uso de insumos químicos. E pouco, ou quase nenhum tempo é dedicado para a pesquisa de encontrar formas naturais, sanas, sadias de produzir alimento sem ter que usar esta parafernália de insumos químicos, antinaturais que causam desequilíbrios e risco para quem desse alimento aplica e come.

O grande argumento de defesa do uso dos agrotóxicos é a presença dos insetos e das doenças nos cultivos. Mas da mesma forma que se vê as ervas e lhe taxam de ervas daninhas, usam-se a mesma lógica para os insetos, ao vê-los, taxam os insetos de pragas. Esquecendo que são os homens que elegem os mesmos a se tornar pragas, através dos desequilíbrios causados pelo sistema de produção utilizado. A natureza que podia nos dá tudo de graça e de forma permanente é transformada numa atividade quase que totalmente antinatural, que produz comida nutricionalmente pobre, e desequilibradas, porém de aparência bonita. O sistema capitalista já percebeu que boa parte dos humanos come, compra e vive de aparências. Logo, quanto mais fabrico elementos bonitos, mas tem gente querendo comprar, comer, ouvir, vestir e se acha que é moderno, atual e até em alguns casos sofisticado. Coloco a expressão “fabrico” como forma de elucidar a prepotência de querer ter todo o domínio sobre a natureza. É como se a natureza não fizesse nada, tudo quem decide e quem manda produzir são as ações interesseiras do ser humano.

No SERTA (Serviço de Tecnologia Alternativa), entidade que trabalho recebe-se anualmente uma grande quantidade de visitantes, sendo a maioria delas profissionais das ciências agrárias. Percebe-se que muitos sempre estão em busca “Do como fazer”, e poucos são os que se interessam em saber “O porquê fazer”. Para mim o porquê fazer, transcende o como fazer, pois sabendo os princípios filosóficos ligados a produção, torna-se mais fácil decidir o como fazer, e quais serão as tecnologias que irei criar adaptar ou até copiar.

Como fazer para mudar esta mentalidade para que possamos fazer uma agricultura centrada em princípios agroecológicos, onde a pesquisa dedica tempo para encontrar formas de imitar ao máximo a natureza? A intenção é chegar o mais próximo das formas naturais de produzir alimento, com o menos de impacto possível. A natureza alimenta todos e tudo, sem causar desequilíbrio, sem trazer nada de fora, já o homem é de um egoísmo profundo, que além de não pensar na sua espécie, repugna qualquer outro ser ou espécie que dispute com ele o mesmo espaço e a mesma comida.

Diante destes fatos este novo texto tenta trazer a tona, maneiras menos agressivas de produzir alimento. Criando espaços onde todos possam encontrar parte de seu alimento, sem tirar o espaço dos demais, de encontrar  seu alimento. A tentativa é a operacionalização da própria Permacultura onde a intenção maior é criar um espaço mais sustentável, para o homem e para todos os elementos vivos que compõe o agroecossistema.

No primeiro momento vou tentar pontuar quais são as causas mais normais que fazem com que muitos insetos sejam transformados em pragas, e porque muitas plantas chegam a adoecer.

CAUSAS PROVÁVEIS DO SURGIMENTO DE PRAGAS E ENFERMIDADES NOS CULTIVOS

O entendimento da teoria dos sistemas vai ser a base para a compreensão mais profunda do que precisa ser feito para que os insetos permaneçam sendo insetos, não sendo submetido a categoria de pragas. O desequilíbrio gerado nos agroecossistemas é com certeza uma das mais sérias causas dos desequilíbrios que tornam os espaços produtivos improdutivos para sustentar os seres que desse agroecossistema necessita se alimentar, ou melhor, sobreviver.

A NECESSIDADE DO PENSAMENTO SISTÊMICO

É uma forma de vê não só as partes, mas vê as partes a partir do todo. É buscar entender o que acontece ao todo, quando se mexe em uma das partes. Não podemos esquecer que os sistemas vivos são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser meramente reduzidas às partes menores. Não dá para monoculturar os espaços produtivos. Não dá para reduzir um agroecossistema a um amontoado de plantas da mesma espécie, de forma ordenada, em linhas, e alimentadas por fertilizantes inorgânicos a partir de analise das necessidades detectadas nos laboratórios da carência do mineral A ou B não do solo, mas da necessidade da cultura que se quer implantar. É trocar relações do todo para beneficiar um só. É reduzir o todo a uma parte, a um pedaço. O que faz um avião voar, não é suas partes separadas, isoladas, mas a relação sistêmica entre todas as partes para com o todo. As propriedades do todo, nenhuma parte por si só possui. Toda vez que se disseca, ou melhor, quando se separa as partes se perde as propriedades sistêmicas do todo, deixa-se de ter o todo e agora é pedaço, é parte.

Todo processo atual utilizado na agricultura moderna é mecanicista, isto é, observa e dão mais valor as partes do que ao todo. Precisamos fazer com que este pensamento mecanicista  mude para um pensamento sistêmico. É preciso fazer com que as pessoas ao escolher ou tomar qualquer decisão na propriedade, veja e entenda ela com este pensamento, pois um erro pode reduzir o todo a partes, a pedaço, comprometendo todo o resultado do sistema em prol de um resultado positivo na colheita de uma determinada cultura. Como diz Fritjof Capra, 1996 em seu livro a teia da vida, “O pensamento sistêmico é pensamento ambientalista”, e para um ambientalista as relações são fundamentais.

Para entendermos melhor, podemos utilizar a seguinte comparação: quando vemos uma rede de relações entre folhas, ramos, galhos, raízes e troncos, chamamos isto de árvore. Este arquétipo já esta consolidado no nosso subconsciente, logo, mesmo sem vermos as raízes sabemos que elas existem e que são fundamentais.

Os agricultores ao fazerem uma capina ou até mesmo um xaxo como é usualmente utilizado aqui no nordeste (fofar ao redor da planta), ele sempre está preocupado para não cortar nem danificar as raízes da cultura. Ao se pedir para alguém desenhar uma planta sempre se desenha sem se vê as raízes, mas quando indagado sobre as raízes, todos dizem que ela está dentro do solo. Não podemos esquecer também que em uma floresta as raízes diversas se conectam beneficiando todo o sistema.

 Este padrão sistêmico de planta todos nós entendemos, mas precisamos aumentar este conhecimento, precisamos aumentar esta visão para ambientes maiores como, por exemplo, a uma propriedade como um todo. Como vê as relações que acontecem em uma propriedade?
Não entender esse pensamento significa contribuir enormemente para o aparecimento das pragas e doenças nas plantas cultivadas ou não. Este surgimento é uma prova inconteste de que o sistema ou o manejo que estamos dando ao nosso agroecossistema está errado, estamos pecando, estamos dividindo o todo em muitas partes, que isoladas do todo ficam vulneráveis a estes acontecimentos inesperados e indesejáveis.

ENTENDENDO OS INSETOS

Como diz Francis Chaboussou, 1987 em seu livro Plantas Doentes Pelo Uso Dos Agrotóxicos (A teoria da Trofobiose), “de fato, se os organismos daninhos que em nossas lavouras e criações tanto nos incomodam fossem como nos são apresentados por aqueles que os querem erradicar ou nos oferecem venenos para seu combate, se realmente fossem inimigos arbitrários, capazes de acabar com populações inteiras de seus hospedeiros, se assim fossem, já não haveria vida neste planeta. Qual a planta  ou animal que não tem parasitas?”

Outro argumento que não procede em relação aos insetos é de que o problema está na monocultura, por mais que seja indesejável por razões sociais, econômicas e até ambientais. Insetos, fungos e bactérias têm uma fantástica capacidade de difusão e proliferação, quando precisam ou querem alcançam qualquer planta em qualquer lugar. Encontrando condições propícias multiplicam-se rapidamente e em quantidade.  É bom lembrar que existem monoculturas naturais, certos complexos de plantas aquáticas, como juncos, os próprios manguezais, etc. Estas monoculturas já sobrevivem a milhões de anos, e é raro algum ataque de pragas ou doenças. Outra pergunta que nos deixa curioso para saber a resposta é: Porque as formigas saúvas não atacam os bosques naturais? Mesmo estando ausentes seus inimigos naturais?

Todos aqueles que praticam uma agricultura limpa ou biológica sabem que a maneira mais factível de se prevenir de ataques de pragas e doenças é um bom manejo do solo, através de práticas que permitam que a planta encontre suas necessidades atendidas para se desenvolver naturalmente. Para estes, os insetos são indicadores biológicos de manejo errado. É um sinal amarelo de atenção e se insistirmos em continuar errando o sinal passa a vermelho, causando prejuízos inesperados. Sinais como solo sem vida, esgotado, adubações erradas e desbalanceadas, cultivares inadequadas para a região, problema de alopatia entre plantas, e até intoxicação por pesticidas, são normalmente indicadores ou causas do ataque destes insetos ou microorganismos indesejáveis.

A teoria apresentada por Chaboussou é conhecida como Teoria da Trofobiose, onde ela nos diz o seguinte: ela mostra que a sustentabilidade da planta ao ataque de pragas é uma questão de nutrição ou intoxicação. Uma planta equilibrada, que se encontra em pleno desenvolvimento vigoroso não é nutritiva para os parasitas. Este carece da capacidade de fazer proteólise (quebra das proteínas). Não tem condições de decompor proteínas estranhas. Necessita, portanto, encontrar na planta hospedeira alimento solúvel, em forma de aminoácidos insolúveis. Isto acontece quando a inibição na proteossíntese (formação de proteínas) ou quando há excesso de produção de aminoácidos. A inibição da proteossíntese pode ser conseqüência do uso de agrotóxicos ou de desequilíbrio nutricional da planta.



Em planta equilibrada a praga não têm vez, esta afirmação é muito coerente e sábia de se dizer, pois se percebe que em solos bem equilibrados a presença de pragas é remota, pode até existir insetos, mas que a quantidade existente não causa prejuízos que venham a comprometer os rendimentos da cultura. É muito comum em solos doentes, cansados de uso mesmo com aplicações maciças de adubos a presença de pragas é insistente, mesmo depois de aplicações repetidas de agrotóxicos, a praga ressurge sempre e em muitos casos mais forte e resistente.

LIÇÕES QUE PRECISAMOS ENTENDER E APLICAR
Para defender, Proteger e equilibrar.

Estudar o ambiente onde se encontra o problema faz parte da compreensão do que está ocorrendo. Analisando as possíveis causas que podem ter contribuído para o aparecimento dos parasitas, deve ser uma das primeiras medidas a ser tomada. Busque entender as relações que estão acontecendo, ou até a falta destas conexões, pois normalmente esta ausência de conexões leva ao aparecimento demasiado de problemas com insetos ou outros elementos.

Também não podemos esquecer que nem todos os insetos causam danos nas culturas. Os insetos fazem parte do ambiente e também precisam se alimentar. Somente uma visão simplista e desprovida de sensibilidade é que não entende este processo. Por incrível que possa parecer o comportamento humano age da seguinte maneira; ao ver o inseto rapidamente cria-se a necessidade de usar o veneno. É como se quisesse ter um ambiente estéril, sem qualquer outra espécie de vida além da sua. Durante nossa vida, vez em quando adoecemos, e nem sempre precisamos tomar medicamentos. O nosso corpo providencia uma resistência e em breve o restabelecimento acontece. Mas, parece que com as plantas o processo é diferente, imediatamente ao encontrar alguns insetos nas plantas cultivadas busca-se usar agrotóxicos os mais variados, nem espera para ver se as plantas conseguem por si só resolver o problema. Diante de todas estas argumentações precisam-se seguir algumas lições. Vejamos algumas:

1.       A primeira lição que precisamos colocar em prática é conectar ao máximo tudo e todos que compõe ou que vão compor o agroecossistema que vamos montar;

2.  Entender como os insetos e microorganismos alimentam-se é também crucial. Como vimos anteriormente os insetos só conseguem agir quando algo esta desequilibrado no manejo do solo. Na natureza tudo e todos estão sob o controle natural, inclusive os seres humanos também estão submetidos a este controle;

3.    A rotação de cultura é outra estratégia que podemos utilizar e que tem efeitos positivos em curto espaço de tempo. A rotação não permite que estes parasitas tornem-se repetitivos além de quebrar o ciclo da resistência, isto é, muitos parasitas tornam-se a cada geração mais resistente aos defensivos que se utilizam;

4.      A diversidade dos cultivos na mesma área é outra estratégia que pode ser utilizada e que só traz benefícios a quem utiliza. Na natureza por menor que seja a área procede a diversificação do espaço. Esta misturada de plantas diminui a ação dos insetos ao perceber que não existe uma quantidade grande daquela espécie que ele gosta de se alimentar;

5.    A camuflagem é mais uma estratégia que quando imitada pode também gerar grandes benefícios ao produtor. A natureza tenta permanentemente camuflar os elementos da predação. Logo, a mistura pode ser encarada como uma estratégia de camuflar as plantas cultivadas. A imagem ao lado mostra um pé de beterraba no meio de outras ervas;

Onde esta o pé de alface na imagem ao lado? A camuflagem pode e deve ser utilizada como estratégia de defesa das plantas que ser cultivar. Experimente praticar horticultura semi-selvagem e aprenda com a natureza como devemos proceder diante da necessidade de ter a alface como alimento diário. É fabulosa a experiência aplicada.

6.  Estimular o controle biológico com certeza é outra grande medida. Este estímulo acontece quando o ambiente é diverso, e todos os outros componentes que fazem ou que vão fazer parte encontram suas necessidades atendidas. Necessidades como alimento, água e nutrientes precisam ser atendidas para que os elementos possam se desenvolver satisfatoriamente;


7.       A presença de plantas aromáticas em muitos casos consegue afastar algumas espécies de insetos das plantas cultivadas. Este tipo de procedimento se adéqua muito bem as hortas e jardins;

8.   O controle manual também pode ser uma maneira de controlar alguns parasitas das plantas cultivadas. Lembre-se a função é controlar e não exterminar todos os insetos. A presença de alguns insetos contribui para o aparecimento dos seus controladores naturais;

9.       Não force a natureza das plantas, isto é, querer produzir tomate durante todos os meses do ano é ir de encontro a natureza da planta. O tomate tem preferências por determinados período do ano, logo precisa ser respeitados estas tendências naturais. Muitos cultivos são de ciclos ou safras, como já conhecemos. A natureza é sábia quando nos presenteia durante certo momento do ano com suas dádivas alimentícias. O homem quando força plantar durante todas as estações do ano induz de forma direta o aparecimento de parasitas que vão se tornar pragas.

Lembre-se antes de tomar qualquer medida, primeiro tente identificar as possíveis causas daquele surto de pragas ou doenças. De outra forma, se tentamos corrigir os erros atacando meramente os sintomas vamos contribuir para outras infestações mais adiante. E com certeza esta re-infestação será mais violenta e de mais difícil controle.

“O grande erro da terapêutica moderna foi estudar a doença sem se preocupar com o terreno que ela evolui
Dr. Albert Leprince
Na Permacultura precisamos evitar tal erro.

Toda circunstância desfavorável ao pleno desenvolvimento da planta, tende a provocar o aparecimento de parasitas querendo se alimentar desta grande sopa solúvel de aminoácidos livres na circulação das plantas através da sua seiva. Esta circunstância desfavorável quebra a resistência da planta. Logo podemos afirmar que:

·         Solo compactado;
·         Excesso de umidade;
·         Escassez de umidade;
·         Altas temperaturas no solo;
·         Solo exposto e desprotegido;
·         Fertilização desbalanceada;
·         Plantas exóticas ao ambiente; e
·         Traumatismos nas plantas como poda, desgalhamento.

Todas estas circunstâncias desfavoráveis devem ser evitadas e corrigidas para que o equilíbrio retorne ao ambiente. O quadro abaixo tenta nos demonstrar o quanto um único fator pode influenciar em muitos outros, contribuindo de forma direta e indireta para o aparecimento de pragas e enfermidades.



E não se esqueça da seguinte frase:

“É através dos fenômenos de nutrição que podemos atingir os organismos vivos”
Claude Bernard


16 de junho de 2011

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Chaboussou, Francis – Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da trofobiose; tradução de Maria José Guazzelli. – Porto Alegre : L&PM,1987.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix/Amaná Key, 1996.
Primavesi, Ana. Manejo ecológico do solo : a agricultura em regiões tropicais – São Paulo : Nobel

sábado, junho 11

As variáveis dos resultados na agricultura


Antonio Roberto Mendes Pereira

Normalmente quando repetimos uma mesma ação várias vezes, achamos que já conhecemos bastante, que temos total domínio sobre esta ou aquela ação. Agora imagine se esta prática é realizada durante uma boa parte de sua vida? Na verdade, esta certeza que entende que já pode ensinar para os demais, aumenta consideravelmente. Este comportamento é normal e previsível nos seres humanos.

Um agricultor que pratica agricultura durante parte da sua vida, que aprendeu estes conhecimentos através de seus pais, da experiência do fazer no dia a dia, acha que todas estas tarefas relacionadas à produção agropecuária vão estar sob seu total controle e domínio. Mas, quando se observa detalhadamente pouquíssimas destas intervenções humanas estão sob seu controle total, proporcionando-lhe resultados satisfatórios. Para não ser assustador o controle humano nesta área é quase nenhum. A incerteza e o caos são princípios que regem a natureza e que estão impregnados em tudo que acontece. Tudo esta conectado a tudo, e tudo que acontece a um, interfere em todos os demais, não importando a distância que se está deste acontecimento, é claro que quanto mais próximo mais se sente a ação desta perturbação.

Não há limites para a complexidade e os detalhes com os quais a natureza interage, para que os efeitos e resultados possam acontecer. Na sociedade atual, o homem teve cortado sua relação e vínculo com a natureza. Para dar um exemplo, imagine que um cientista que para compreender a natureza, ele pode começar estudando uma folha, mas à medida que sua investigação chega às minúcias do nível de moléculas, átomos e partículas elementares, ele perde a folha original de vista, não enxergando mais o todo da folha. Ele pensa que a melhor maneira de aprender alguma coisa é coletar o maior numero de dados possíveis de forma compartimentada.

A agricultura cientifica surgiu quando o homem, observando as plantas e á medida que cresciam, veio a conhecê-las e, depois se convencera de que ele mesmo poderia cultivá-la. Ainda assim pergunta-se ele teria realmente conhecido a natureza?

E nesse esforço ele separou, compartimentou em pedaços a natureza. Com certeza ele tem aprendido muito com esta compartimentação, mas também podemos afirmar que o que ele tem examinado não tem sido a natureza propriamente dita.

As variáveis na prática da agricultura são enormes, este texto tenta elucidar algumas destas variáveis para perceber, que mesmo tendo uma vida dedicada àquela prática rotineira, quem tem o total controle destas variáveis e dos resultados provindos dela é a natureza. O nosso papel de ajudar pode acontecer, mas normalmente, nossa ação gera perturbação, e atrapalha em grande parte para que a natureza possa executar sua tarefa de ser natureza sustentável, de natureza diversa, de conexão, de combinação.

Talvez este texto seja até polêmico, nos remetendo a pensar que por não termos controle sobre muitos aspectos da produção não precisaríamos planejar, deixando a produção ao Deus dará. A intenção não é esta, o maior objetivo é trazer para os leitores que, para  praticar uma agricultura com mais bases ecológicas, precisamos cada vez mais estar antenado com as bases e princípios que a natureza usa para fazer acontecer diariamente a alquimia da produção. E como diz Fukuoka, 1995:

Falamos muito em “produzir alimentos”, mas os agricultores não produzem os alimentos da vida. Apenas a natureza tem a capacidade de produzir algo do nada. Os agricultores dão, meramente, assistência à natureza.

Não pretendo que pensem que a ciência agronômica perdeu seu valor, não é isto que estou querendo dizer ou transparecer. O que gostaria era que fosse levada em conta numa formação profissional para a intervenção no campo, é que antes de aprender, usar e achar que já está apto a ensinar, que primeiro busque entender como a natureza faz, tente trazer para o seu profissionalismo os princípios que a natureza utiliza para os espaços humanos produtivos. O currículo da formação nas ciências agrárias precisa ser revisto, repensado. O itinerário pedagógico deste currículo cada vez mais está direcionado para o total afastamento da natureza e de sua lógica natural de fazer as coisas.

As perturbações realizadas pelo homo sapiens são enormes em todos os espaços, é claro que não dá para ficar imóvel, estático, parado, precisamos nos locomover, trabalhar, produzir para comer e sobreviver. Mas para que estas ações possam ser muito mais de ajuda e não de perturbação precisaríamos aprender muito com os ensinamentos e ações permanentes desempenhadas pela natureza.

A especialização do conhecimento normalmente subdivide demasiadamente o todo, enquanto as generalizações na maioria das vezes ficam muitas na superficialidade dos conhecimentos complexos. Precisaríamos encontrar um meio termo ou usando a uma linguagem permacultural criar uma borda entre as duas ações do conhecimento. Um limite onde as duas posturas criem uma terceira, quem sabe híbrida da união das duas partes. Com certeza este conhecimento nem é meticuloso e metódico e nem singelo e nem desprovido de cientificidade.

Vejamos algumas das possíveis variáveis que direcionam a produção para o sucesso ou insucesso na cultura do milho como exemplo:


·         Luz solar
·         Chuva
·         Umidade
·         Temperatura
·         Oxigênio
·         Dióxido de carbono
·         Capacidade fotossintética
·         Eficiência fotossintética
·         Respiração
·         Fatores fisiológicos
·         Textura do solo
·         Umidade do solo
·         Estrutura do solo
·         Manejo aplicado a cultura
·         Mecanização
·         Capina
·         Manejo aplicado ao solo
·         Ph do solo
·         Microorganismos
·         Fertilizantes
·         Nutrientes e suas relações
·         Fatores do solo
·         Fatores morfológicos
·         Assimilação
·         Doenças
·         Acidentes
·         Danos dos insetos
·         Variedade
·         Adubação pesada
·         Fatores fisiológicos


Estas só são algumas das variáveis, cada uma destas variáveis se subdivide em vários outros fatores, nos levando a uma infinidade de fatores de não controle.

Não podemos esquecer que por trás de uma causa tem inúmeras outras causas. Qualquer tentativa de rastrear o caminho inverso até a origem apenas conduz a um afastamento da compreensão sobre a verdadeira causa. Logo podemos concluir que o efeito pode levar à causa e a causa a uma causa anterior, numa corrente sem fim de causa e efeito.

Em qualquer discussão sobre aumento de produção e altos rendimentos, os seguintes fatores são geralmente apontados como afetando a produtividade:


Condições meteorológicas
Luz solar, temperatura, umidade, hidrogênio, força do vento, ar, oxigênio, dióxido de carbono, etc.

Condições do solo

Física: estrutura, umidade, ar
Química: inorgânica, orgânica, nutrientes

Condições biológicas

Animais, plantas, microorganismos

Condições artificiais
Criação, cultivo, aplicação de adubo, fertilizantes, controle de doenças e pragas
Imagens retiradas do livro – Agricultura Natural – Teoria e prática da filosofia verde (Masanubu Fukuoka)

A idéia de aumentar a produtividade fazendo melhorias parciais em vários desses fatores de produção é um engano terrível, pois cada fator deste, está atrelado a muitas outras variáveis.

Os especialistas em cultivo e semeadura acreditam que as melhorias nessas técnicas são decisivas para aumentar a produção. Eles vêem questões como – quando, onde e como semear, como arar um campo como ações diretas responsáveis pela garantia da safra pretendida. Um especialista em fertilizantes lhe dirá “mantenha a adubação de suas plantas e elas continuarão a crescer. Se o que você deseja é uma elevada produção você tem de proporcionar à sua plantação muito fertilizante.


E o especialista em controle de pragas lhe dirá “independentemente do cuidado com que você desenvolve sua função é perseguir uma produção maior”, se seus campos estiverem infestados por doenças ou pragas de insetos, você ficará sem nada. O controle eficaz da praga ou doença é indispensável para a obtenção de uma alta produção. E em nome deste controle pulverizam-se litros e mais litros de agrotóxicos em busca da garantia dos resultados, mas resolve um e descontrola outro. Os resultados são temporários não se percebe que a cada safra os problemas se agravam, não se consegue mais o mesmo resultado da cultura anterior. E para se alcançar o resultado anterior tem que aumentar as concentrações de insumos num ciclo não virtuoso mais vicioso.


Como vemos cada especialista afirma que suas descobertas fazem a diferença no resultado da produção. Como criar uma escala de importância para todos estes fatores? Será que temos todos estes controles quando cultivamos as culturas?

Se mexer em um fator para melhorá-lo coloca-se em risco todo o sistema além de desregular os demais e nunca vamos encontrar a quantidade na medida certa, só quem sabe dosar na necessidade exata é a natureza.

Os fatores envolvidos na produção são infinitos em número, e estão todos organicamente inter-relacionados. Ninguém exerce uma influência de controle sobre a produção. Além disso, eles não podem e não devem ser posicionados pela importância. Cada fator tem um sentido nessa rede intricada de inter-relações, mas deixa de ter qualquer significado quando isolado do todo (Fukuoka, 1995).

Vamos agora tentar fazer um levantamento das ações agrícolas na implantação de um roçado, onde o agricultor ou produtor, acha que tem total controle e sabedoria do que vai fazer, e dos resultados que quer alcançar com a operacionalização daquelas ações sabidas:

1.    A escolha da área, com certeza ele pode decidir onde quer plantar, é claro que para isto ele utiliza sua experiência que fora transmitida de pai para filho através das culturas dos ancestrais. Ou também, através dos conhecimentos científicos aprendidos através de um curso na área das ciências agrárias. É claro que a escolha da área tem tudo haver com o tipo de cultivo que irá  plantar e manejar. Logo, esta escolha pode ser no alto, no baixo, no úmido, no molhado, perto ou longe de casa, enfim nesta primeira decisão ele acha que isto esta sob o poder de sua decisão.

2.      O tamanho da área a ser cultivada também esta sob seu controle, pelo menos o poder final de decidir depois que avaliar uma série de variáveis (recurso econômico disponível, numero de familiares que vão se envolver), entre outros. E a partir destas variáveis, ele pode decidir vou plantar tantos metros quadrados ou hectares.

3.      A escolha da cultura ou das culturas que irão ser cultivadas. A escolha e seleção das sementes também fazem parte desta decisão. A variedade é outra variável que ele acha que está também sob seu controle.

4.   O momento, ou melhor, dizendo o dia de plantar é outra atividade de suma importância para o sucesso do cultivo. Às vezes propriedades vizinhas separadas apenas por uma cerca, um produtor consegue sucesso produtivos e o vizinho não, e a única diferença visual ou operacional entre uma prática e outra, foi o dia que foi plantado as sementes. O clima, ligado a temperatura e quantidade de umidade no ar e no solo devem  estar sendo percebido para melhor ocorrer às escolhas.

5.    As misturas ou não no mesmo cultivo é decisão única do produtor? Ou tem outras variáveis que ele não tem o total controle? Os consórcios perfeitos quem diz como deverá acontecer?

6.   A capina e o momento certo, o controle dos insetos, a quantidade de água, a quantidade de sol, o tamanho do dia, a fertilização adequada, qual o momento ideal para a colheita? Qual o ponto ou momento certo; é enquanto o fruto esta verde, de vez ou maduro? Qual resiste mais depois de colhido? Qual não perde o sabor e turgência? Será que a doçura dos frutos tem como controlar, tem-se certeza que todos os frutos que plantamos vão ter sabores adocicados?

Como percebe existe uma infinidade de variáveis que precisam ser atendidas e entendidas para que os resultados sejam satisfatórios no parecer humano. São todas estas e muito mais que não foram citadas que tem e que contribui de forma direta e indireta nos resultados produtivos das lavouras e criações. Por mais que se conheça, este conhecimento ainda é pouco para acharmos que temos controle sob estas tarefas.

Para iniciar este estudo precisamos saber quer: Quem mais conduz os cultivos é a natureza e não o homem. Logo a primeira medida que precisamos compreender e alcançar é chegar mais próximo da natureza na montagem e operacionalização dos nossos cultivos. Como diz Fukuoka, 1995 à lógica produtiva utilizada pela agricultura moderna é de uma lógica centrífuga, sempre estamos ficando mais distante da natureza, a artificialidade dos nossos cultivos é facilmente percebida. Os nossos campos estão cada vez mais se tornando espaços antinaturais que produzem frutos artificiais que se diz que é completo biologicamente falando, mas na verdade é um doce engano, são produtos incompletos, pois muitas das variáveis que precisavam acontecer não foram atendidas. É como se analogamente comparando com uma indústria de montar automóveis onde a esteira da montagem dos mesmos estivesse funcionando e que cada peça vai sendo incorporada durante a locomoção da esteira, em um determinado momento acopla-se a lataria, depois as portas, o motor, o pára-brisa, mas em determinado setor que era para entrar algum acessório esta peça faltou, o carro vai ser montado, mas é um carro incompleto, esta mesma lógica acontece com a prática da agricultura moderna, na sua maioria os frutos são produzidos, porém de forma incompleta, alguns sem cheiro, outros sem a doçura esperada, outros bem grandes e volumosos, mas ácidos demais, hoje já temos até frutas sem sementes.

A lógica Fukuokana que devia ser praticada é a da lógica CENTRÍPEDA, onde o centro é a natureza. É contrária a expansão e ambição do ser humano. Precisamos chegar mais perto da essência da natureza. E para que isto ocorra é preciso deixar que ela haja, que ela aconteça, que ela nos ensine. Precisamos ser assistentes da natureza ou até mesmo serviçais, permitindo que ela seja nossa mestra e ama.

Vamos analisar cada ponto que fora levantado anteriormente para percebermos o quanto estamos distante de ter o controle, pode-se até ter o poder de decisão de fazer ou não, mas os resultados a serem alcançados estão todos no poder da natureza.

1º Escolher a área não é coisa muito fácil, um engano pode levar o cultivo a não produção. A escolha jamais deveria ser para a comodidade humana e sim para a comodidade do cultivo. Quanto mais imitarmos a realidade natural ou local daquela cultura (local de origem), mais acertos alcançamos, quanto mais combinações fizerem entre as variáveis, mais pontos poderão está marcando para o alcance dos melhores resultados. Logo a escolha da área é importante, mas não é o limitante. Podemos até escolher um local úmido para determinada espécie de cultivo, mas se chover demais? Fenômenos este que não temos o controle sobre ele podem até saber se pode ou vai chover, mas não tenho como evitar que chova, esta área escolhida poderá ficar alagada, encharcada e parte do nosso controle foi embora. As variáveis são muitas e a inter-relações entre elas é o segredo.

2º Quanto ao tamanho da área pode-se ter até o poder de decidir, mas se esta área vai produzir da forma planejada, pensada e esperada é outros quinhentos. O tamanho está diretamente conectado, ligado a outros fatores ou variáveis como: quantidade de mão de obra, qualidade da mão da obra e sua eficiência e eficácia, tempo disponível por esta mão de obra, para no tempo hábil operacionalizar o manejo adequado e requerido pela cultura. E não podemos esquecer quanto maior a área mais gerenciamento é exigido, pelo menos no modelo moderno de praticar agricultura. Uma prova é, que para  produzir uma kcal gastasse mais de 5 kcal, é que cada vez mais a exigência da presença e intervenção humana ou mecânica/maquinaria ( maior animal doméstico de todos) é quase que diária, de domingo a domingo. A cada cuidado a mais, mais energia e insumos são gastos para proteger em busca da pretendida garantia pretendida. A energia aplicada raramente é recuperada, a entropia é intensa. Ler texto: Energias disponíveis na propriedade rural.

3º A escolha da variedade e das sementes são fatores de difícil escolha, é como em uma corrida de fórmula 1, não se sabe com que tipo de pneu devo entrar na competição, e se chover? Se chover demais?  Se precisar exigir muito dos freios? Sei que toda comparação é manca, mas o uso da comparação é meramente didático. Para se ter idéia até a quantidade de luz e a estação influi na escolha da semente. Uma coisa é certa quanto mais esta semente não vier de fora e for produzida na propriedade, mas adequada, mais adaptada ela estará para o ambiente.

4º O momento de plantar é de inteira decisão do agricultor, não é o dia que vai interferir no resultado positivo ou negativo do ponto de vista humano. O faz a diferença é o conjunto destes fatores naquele dia que foi escolhido para realizar o plantio. Este conjunto de fatores tem ação direta na germinação, temperatura e umidade são fatores primordiais que precisam ser observadas com mais detalhe na hora do plantio. Como diz os agricultores não podemos deixar a terra esfriar por completo, pois se isto ocorre, significa que as sementes só irão encontrar umidade e frieza, e para que as sementes possam germinar precisam também encontrar calor no solo. Conhecer este momento certo é crucial, imagine a seguinte situação “Ontem  e hoje choveu, o solo está no momento apto para receber as sementes, mas no dia seguinte outra chuva e o solo em relação à umidade passou do ponto, pergunta-se devo plantar ou esperar para que a umidade baixe e fique no ponto de plantio? É claro que devemos esperar para que o solo venha a ficar com o grau de umidade ideal, mas deve-se estar também atento para que a temperatura do solo, não esfrie em demasia, pois de outra forma poderemos provocar um apodrecimento das sementes, ou até falta de oxigênio no solo, por que todos os poros vão estar repletos com água. Como vemos mais uma vez, existem muitas variáveis que podem e vão interferir neste processo. Com conhecimento já é difícil acertar imagine com pouquíssima informação e observação da natureza, ai é que fica mais difícil.

5º As misturas de plantas ideais, as distâncias entre uma e outra, as espécies que se dão bem uma ao lado da outra, todas estas decisões precisam ser tomadas com certa antecedência para que no momento oportuno possa-se agir com rapidez e agilidade necessária. Já existem tabelas que vem sendo criadas por pessoas que tiveram a dedicação de buscar observar quais misturas podem dar certo. Estas tabelas são conhecidas como plantas companheiras e plantas antagonistas, que podem ser encontradas pesquisando-se na internet. É claro que não vamos encontrar uma tabela que seja universal e ideal para todas as propriedades, sempre é bom criar sua tabela de observação local, anotando o que acontece com a mistura A com B ou até com C. Quanto mais local esta tabela for criada mais adequada ela estará para ajudar no processo de decisão das escolhas e nos possíveis resultados.

Como vemos praticar agricultura é uma ARTE que necessita de muita informação e conhecimento e a grande ferramenta para facilitar todo este processo é o poder da observação da natureza e dos espaços da propriedade. Preciso conhecer, observar e entender cada metro quadrado da área que irei utilizar para fazer as intervenções humanas produtivas necessárias. Pelo menos se percebe que até agora o jeito de fazer agricultura utilizada por muitos agricultores deixa muito a desejar, compromete o trabalho fantástico realizado pela natureza, torne-se parceiro da mesma que com certeza só teremos a ganhar e economizar tempo e insumos além de diminuir os impactos ambientais. Inicie esta aprendizagem em pequenos espaços e vá aumentando gradativamente a partir das suas observações. Aprenda a aprender com os erros e com os acertos dos pequenos espaços.

Não esqueça que a natureza produz sem exigir suprimentos ou remuneração, mas o esforço humano sempre exige pagamento em retorno e às vezes até antecipado.

O que a ciência agronômica busca o tempo todo através dos órgãos de pesquisa é criar formas para garantir esta produção desejada, mas nesta busca muitos desencontros acontecem na relação homem/natureza. Sabemos também que precisamos aumentar nossas certezas, mas a melhor maneira para aumentar nossas certezas é tendo a natureza como aliada e não como inimiga.

10 de junho de 2011

Bibliografia consultada:
Fukuoka, Manosubu. Agricultura natural: teoria e prática da filosofia verde, tradução de Hiroshi Seó e Ivana Winderley Maia – São Paulo: Nobel, 1995

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