sexta-feira, julho 1

CONSUMO VERDE - Diminuindo o gasto dos recursos naturais e aumentando a saúde



Antônio Roberto Mendes Pereira

Que cultura é esta que afirma a seguinte frase: “Comer folha é para coelhos e lagarta”.  Inicio este texto com  esta reflexão e  alguns questionamentos.

Porque muitas pessoas pensam assim? O hábito de comer hortaliças cruas e outros alimentos em classes mais populares não faz parte do hábito cultural, ou é engano? Será que a quantidade de informação pesa neste comportamento? O que esta atitude pode influenciar no meio ambiente e em especial nos recursos naturais?

Na permacultura a preocupação com a diminuição do gasto de energia deve ser uma constante permanente, e para que isto aconteça se faz necessário repensar vários dos nossos hábitos do dia a dia. Precisamos estar consciente que em tudo que fazemos podemos economizar energia, só basta querer e criar estratégias e normas para serem seguidas no cotidiano familiar.

Uma das tarefas que aumentam consideravelmente o gasto de energia em todas as casas independentemente do nível econômico é o COZINHAR. A cada dia se cria novos pratos, são lançados novos cardápios, mas sempre todos seguem a mesma lógica do cozinhar quase todos os alimentos. Até algumas bebidas se usa o fogo (conhaque flambado) é claro que não é para cozinhar, mas o gasto de energia acontece. No cozimento dos alimentos é utilizado desde os fornos de lenha até os de microondas, mas esquecendo que muito das qualidades nutricionais dos alimentos vão ser perdidas, volatilizadas. Muitas das vitaminas e até alguns minerais sofrem transformações diminuindo sua ação nutricional durante o cozimento. Mas pela busca do sabor paga-se horrores. Em muitos casos a energia investida para preparar e cozinhar determinado alimento, às vezes não compensa, pois a energia contida neste alimento é menor do que a que vou gastar para cozinhá-lo.


UMA HISTÓRIA REAL

Retornando de uma viagem de trabalho com um amigo, fui convidado por ele para hospedar-me na sua casa por alguns dias na zona rural. Ao chegarmos à casa dele  verificamos que sua esposa por não saber que seu marido iria retornar alguns dias mais cedo, viajou com os filhos para casa de sua mãe. Esse acontecimento  não comum, deixou seu esposo aflito, sem ação, ele se perguntava quem vai cozinhar para nós, não era cultura dele cozinhar. E foi a partir desta acontecimento inesperado que ele teve que repensar muito dos seus hábitos alimentares e da sua forma de preparar os alimentos. Para diminuir sua preocupação na primeira manhã ao acordarmos pedi para que ele me apresenta-se sua propriedade e os plantios desenvolvidos por ele. Era um verdadeiro supermercado de produtos naturais, tinha de tudo, e me ocorria a seguinte pergunta “Porque toda aquela preocupação?”. Estava tudo ali e com uma grande vantagem, não precisaríamos cozinhar, sujando panelas e outros apetrechos, além de diminuir os gastos com água. E aos poucos fui acalmando meu amigo mostrando para ele o potencial alimentício in natura que sua propriedade tinha. Este exemplo, fez a mim também dá uma enorme guinada nos hábitos alimentares da minha família, que por incrível que possa parecer já eram bem naturais. Aumentei a quantidade de alimentos que para ser consumidos não precisam ser cozinhados. Posso comer a qualquer hora, sem ter muito trabalho, era só lavar e comer.

AS APRENDIZAGENS QUE PODEM SER INCORPORADAS PARA UMA ALIMENTAÇÃO MAIS
NATURAL -MENTE

Não estou querendo com este exemplo levar os leitores a deixar de comer alimentos cozinhados ou tornar-se vegetariano, mas a repensar as formas tradicionais de dietas que pouco alimenta e raramente nos nutrem equilibradamente, simplesmente são consideradas deliciosas. Não queremos negar que alguns dos alimentos depois de cozinhados são verdadeiras guloseimas impossíveis de se recusar comer.

Precisamos querer erradicar o pensamento de que para poder viver necessita-se saber cozinhar. Podemos sim, viver com pouco uso desta pratica humana, o que tenho que reaprender é a comer bem, e se alimentar de forma saudável e equilibrada. Os nossos antepassados se alimentavam basicamente de alimentos crus.

Podemos iniciar este processo fazendo uma lista dos alimentos do cardápio seguido pela família. Verificar destes, quais podem ser ingeridos sem ter que passar pelo cozimento ou pelo o assar. Depois verificar como substituir alguns dos demais por outros que não necessitem também passar pelo cozimento. Se na nossa alimentação diária pelo menos 50 % dela fosse de alimentos que possam ser ingeridos in natura, seria maravilhoso para nosso corpo e para o meio ambiente. Não divulgo e nem defendo o não comer carne, mas com certeza com uma dieta onde metade do que vamos nos alimentar é consumido in natura, vai levar nossos corpos a outro grau de nutrição. O vegetarianismo é uma opção para algumas das nossas refeições ou pelo menos parte dela.

Não podemos esquecer que o único ser que cozinha para comer é o homem. Os hábitos alimentares que são seguidos de forma cultural demandam quase sempre gastos de muita energia.  Além do mais, muitos destes alimentos têm na sua composição de forma agregada, conservantes, antioxidantes, acidulantes e corantes que dão sabor e cheiro imitando o sabor e o aroma dos alimentos naturais.  Todos estes agregados na sua maioria são produtos artificiais que vão compor parte dos alimentos comercializados, além de ser na sua maioria, cancerígenos. Muitos temperos são colocados para poder trazer sabor como: doce, salgado, azedo, amargo, perdendo-se o sabor natural dos alimentos. No desenho animado Ratatouille um ratinho metido a cozinheiro busca incessantemente o sabor dos alimentos. As combinações são feitas em busca de acentuar o sabor. Mas, sempre as misturas de sabores com os condimentos são de praxe.

Este texto busca também incentivar a busca para sentir o verdadeiro sabor dos alimentos na sua forma mais natural possível, do jeito que a natureza produz. Se houver misturas foi ela quem fez, e vale salientar que tenho certeza que este tipo de alimento irá me alimentar, me nutrir, me enriquecer e não me permite engordar, me dá as energias necessárias e principalmente no período certo.

O trabalho e a economia doméstica com a utilização dos alimentos na sua forma natural vão ajudar a reduzir pela metade o tempo da manipulação e com isto ganhar horas de lazer adicionais e a economia gerada serão uma fonte de alegria para todos. Veremos mais pessoas com o corpo esbelto, o porte ereto, o andar flexível, a pele fresca, os dentes brancos e fortes, e os cabelos vigorosos e brilhantes. Com o corpo saudável, nossos pensamentos negativos se transformarão em pensamentos positivos e contribuirão para o grande progresso cultural que o mundo aguarda ansiosamente.

Os alimentos de estação são um presente espontâneo da natureza. Parece que ela sabe que vou necessitar e prontamente já esta me ofertando, de graça, basta ter um pequeno espaço de terra para que ela possa se prontificar nos presenteando com quantidade e qualidade. Imagino que o leitor já deve ter observado que normalmente nos resfriamos ou até gripamos nas mudanças repentinas do clima, entre o período seco e o período das águas (inverno) e rapidamente a natureza nos oferece uma proteção natural, a mais pura vitamina C dos limões, laranjas, repolhos, couves entre outros.

Em muitas casas, as frutas não são mais frutas são polpas, noutras a fruta foi substituída por misturas de pó com cor e sabor artificial. A fruteira na cozinha é de enfeite, todas de plásticos ou gesso.

O colher para comer deveria ser um exercício diário em todos os lares. Exercício este que pode nos colocar em permanente contato com a natureza. Esta conexão é necessária, precisamos voltar a pisar o solo, sujar as mãos e a boca quando chupamos uma manga, descascar uma laranja fazendo uma grande tira com sua casca e até guardando a mesma para um chá mais tarde. A procura pela fruta madura, ou outro alimento no pomar ou no entorno da casa é um exercício que faz bem ao espírito, a cabeça e ao corpo. Voltar em alguns momentos do dia a ser primata, a ser coletor e se alimentar como os passarinhos quando encontra uma fruta madura ainda no pé. Esta atitude não é perda de tempo como muitos podem até pensar, tente fazer e veja os benefícios. Isto sim “é ganhar tempo de vida”.


Vou listar uma série de alimentos naturais que podem ser colhidos e ingeridos sem passar por nenhum processo de transformação a não ser a lavagem:

FRUTAS
FRUTOS
VERDURAS
GRÃOS
TUBERCULOS
MEL
PEIXES
Abacate, banana, laranja, jaca, manga, jambo, mamão, melancia
Tomate, pimentão, pepino, quiabo, pimenta
Alface coentro, repolho, couve, acelga, maxixe, couve flor, amarantos
Ervilha, milho verde, algumas variedades de feijões
Beterraba, cenoura, nabo, rabanete
Mel de melíponas, mel de abelha Apis
Sushi, sashimi


Este rol acima é só alguns, de uma lista que pode se estender a partir do paladar individual ou coletivo. É como se diz no dito popular “Gosto é uma questão que não se discute”, pode mudar de pessoa para pessoa, de família para família, de uma cultura para outra. Tenho certeza que com tempo e pesquisa encontrará outros alimentos que podem ser saborosos e comidos da forma mais natural, do jeito que a natureza nos oferece.

Existem no mundo cerca de 150.000 espécies de plantas comestíveis. O homem domesticou mais de 1.500 espécies, porém atualmente nos alimentamos com basicamente 30 espécies vegetais cultivadas. Tente fazer você uma lista dos alimentos que fazem parte da sua dieta diariamente e terás uma surpresa. Verás como é pouco nossa diversidade alimentar.

FAMÍLIAS E SUAS DIETAS

(observe a quantidade de alimentos in natura e compare, quem se alimenta melhor?)


Esse costume de não querer cozinhar pode até parecer estranho e não muito viável, porém, a verdade é que essa nova forma de se alimentar pode ser bastante vantajosa, seja para quem quer emagrecer ou aproveitar, da melhor maneira, os nutrientes dos alimentos.

Os alimentos frescos contêm o máximo valor nutritivo. Esquentar, secar, armazenar, fermentar e conservar reduz muitas vezes em 100%  esse valor". Um bom exemplo, a favor da teoria do comer cru é o do pimentão, rico em vitamina C, se for cozido, perde 100% da riqueza desse nutriente.

Chamo os alimentos crus de alimentos vivos, ao contrário dos alimentos cozidos, que considero alimentos mortos. Devemos cuidar para que os alimentos não contenham substâncias que contrariam a química do nosso organismo, para que os resíduos não fiquem retidos por muito tempo e apodreçam no intestino grosso. Portanto, o melhor alimento é totalmente natural — não passou por nenhum tipo de processamento. É preciso acrescentar ao nosso cardápio uma grande quantidade de alimento vivo ele é muito mais fácil de digerir.

É bom lembrar que quando optamos por incluir na nossa dieta muito mais alimentos crus, estes precisam ser produzidos organicamente. A não presença de substâncias tóxica é de fundamental importância. A natureza parece que nos convida para ser sempre mais natural. Uma atitude natural convida a outra, este é o grande trabalho da natureza sempre conectar, sempre combinar, sempre juntar. Saber de onde vem e como foi produzido o alimento que estamos comendo deve fazer parte da nossa cultura. O rastreamento deveria constar no rótulo de todos os alimentos que estão expostos a venda nos mercados, era o mínimo que deveria ter. Esta rastreabilidade nos deve trazer informações não só nutricionais, mas econômicas, sociais e ambientais. E quem sabe trazer também informações da melhor forma de conservar, e preparar o mais natural possível (receitas de preparo e consumo natural).

A defesa pelo meio ambiente passa necessariamente pela nossa forma de se alimentar. Repense sua alimentação, não precisa ser radical ou inflexível, mas adéque sua dieta a uma forma mais natural, mais branda, mas colorida naturalmente. Que seu espaço de armazenamento de alimento seja primeiro na própria planta e depois se tiver que conservar que este espaço seja assim e não a da imagem do lado direito.


A modernidade alimentar já vem ultrapassando os limites do cozinhar, e agora vem nos remetendo à comida pré-pronta, só para aquecer, como se não bastasse os fast food. Todas as facilidades são criadas em prol do aumento do consumo e da rapidez.

E não esqueça, que toda facilidade aumenta o consumo, isto é, o mercado nos oferece facilidades para encontrar tudo em vários lugares, onde o único empecilho para não ter é a falta de dinheiro. Toda facilidade do sistema nos remete ao não fazer e sim ao comprar. Comprar para vestir, comprar para comer, comprar para ter... Sempre comprar, comprar, e cada vez mais facilidades são criadas, chegando a propostas de não plante eu lhe vendo, não cozinhe lhe servimos pronto é só esquentar.

A decisão de ter e não comprar é uma lógica que vai de encontro à lógica do mercado. A partir do momento que planto uma fruteira e inicia-se a colheita não preciso ir ao mercado para comprar esta fruta, esse não ir evita também a compra de muitas outras coisas. Pois, a ida ao mercado provoca a compra de outros produtos compulsoriamente, somos induzidos, a oferta e a facilidade se encarregam de nos convencer a efetivar a compra.

E a partir deste comportamento de diminuir ou até evitar ir às compras, percebo que muitas coisas que antes se comprava, eram insumos totalmente desnecessários, consegue-se viver sem eles. Reduzindo as necessidades reduzo o consumo. Estas três atitudes de:

1.      Produzir o mais natural possível;
2.      Aumentar o consumo de alimentos crus;
3.      Diminuição da ida ao mercado.


São atitudes de um grande potencial de mudança na cabeça, na alimentação e na economia de uma família.
Não torne toda e qualquer coisa uma necessidade, pois de outra forma o teu consumo irá ser cada vez maior. Pense sempre no valor real de uso das coisas e não no valor do status, do ter por ter. A sustentabilidade é um estado pretendido por todos, mas mesmo que você não tenha conseguido ainda alcançar a tão pretendida sustentabilidade não se desespere o que importa é estar no caminho. Pense nisso!

E se for verdadeiramente necessário comprar que nesta compra os fluxos econômicos possam ser redirecionados, evitando alimentar o sistema e sim a quem luta contra este, buscando saber a quem compramos como é a cara de quem produziu este alimento ou produto? O que será que estamos alimentando quando compramos no shopping, o meu dinheiro vai ser direcionado para quem? A que sistema ele vai alimentar? Quem esta ganhando quando efetivo esta compra? Pratique o consumo consciente, esta atitude com certeza irá provocar mudanças estruturais em muitos ambientes e cabeças.

Uma dica ou sugestão que pode ser testada por você é produzir brotos.

No processo de germinação as sementes sofrem mudanças importantes que facilitam sua assimilação em nossos organismos. As proteínas são quebradas em aminoácidos, os amidos são reduzidos a açúcares mais simples, as gorduras são transformadas em ácidos graxos, os teores de vitaminas A, C e complexo B é multiplicado e os minerais tornam-se mais biodisponíveis.

Como fazer brotos:

1. Coloque de uma a três colheres de sopa de grãos – feijão, alfafa, soja, trigo, girassol, amendoim, agrião, etc. – em um vidro e cubra com água pura, sem cloro.

2. Deixe de molho por uma noite para despertar o germe, que está adormecido.

3. Cubra o vidro com um pedaço de filó, prendendo com um elástico. Despeje a água e enxágüe bem sob a torneira.

4. Coloque o vidro inclinado num escorredor com a boca para baixo.

5. Enxágüe duas vezes ao dia. Os brotos estarão prontos para comer após três a oito dias. Acrescentem em saladas, sucos, sanduíches, use sua criatividade!

Obs.: O broto de trigo pode ser deixado por mais tempo até virar grama e aí ser acrescentado ao suco como fonte de clorofila.

E jamais esqueça: O fato de estar ingerindo uma dieta rica em nutrientes não significa que a nutrição esteja ocorrendo de forma adequada. O organismo se nutre daquilo que digere e absorve e não daquilo que comemos.

29 de junho de 2011

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