sexta-feira, janeiro 27

O saneamento na pequena propriedade rural - Caminho dos resíduos líquidos, sólidos e energias

 Antônio Roberto Mendes Pereira 

Como criar nossos filhos em um ambiente menos contaminado, é uma preocupação de muitos Permacultores. Tornar-se sano e sanar o ambiente onde se vive é uma questão que precisa ser pensada com muito conhecimento ecológico. 

Nosso estilo de vida atual é insustentável e contaminante, em quase todos os seus aspectos, em tudo que tocamos, mexemos, sempre queremos nos apropriar, impor um estilo de vida, que quase sempre é destruidor. 

Como exemplo, para melhorar a compreensão basta saber que quase todas as nossas ações ligadas à produção, beneficiamento e consumo produzem resíduos, sobras, que quando mal manejados poluem o ambiente, contaminando os mais variados espaços de convivência. Onde o homem habita, tem-se produção de resíduos, logo precisamos encontrar formas ecológicas de sanear estes ambientes, não permitindo a contaminação da área e das pessoas que nele habitam. Normalmente os detritos de uma casa são frequentemente, vistos como problemas de descarte, e não como recursos, que poderiam ter uma lógica reversa de uso, e de reaproveitamento. 


Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social. De outra forma, pode-se dizer que saneamento caracteriza o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar Salubridade Ambiental. 

Neste texto quero apresentar a ideia de saneamento que não se restringe apenas ao: 

· Abastecimento de água às populações, com a qualidade compatível com a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de condições básicas de conforto; 

· Coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e agrícolas); 

· Acondicionamento, coleta, transporte e/ou destino final dos resíduos sólidos (incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de serviços, industrial e pública); e 

· Coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações. 

Mas, a ideia de um saneamento ligado ao curar, sanar, consertar, reparar, limpar, higienizar, retirar, tratar, reutilizar, recondicionar e prevenir. Idéias, onde a qualidade de vida seja o norte de todo o espaço de habitação. Irei me centrar na propriedade rural como espaço de foco, pois nestes espaços pouco se vem fazendo para divulgar formas de saneamento. E quando se dá atenção ela fica restrita ao saneamento básico, do básico, direcionando apenas as águas negras para uma fossa. E os demais âmbitos poucos são elucidados. E não podemos esquecer que sanear que dizer tornar são, sadio, saudável todo espaço humano de vivencia e convivência e de produção. Todo ser deve ser responsável por tudo que produz, que gera, que consome e que excreta. Logo, precisaríamos que todo ser humano fosse especialista em cuidar de todos seus desperdícios e resíduos. 

Estudos do Banco Mundial (1993) estimam que o ambiente doméstico inadequado, é responsável por quase 30% da ocorrência de doenças nos países em desenvolvimento. O quadro a seguir ilustra a situação. 


A LÓGICA DO SANEAMENTO ECOLÓGICO 

Divulga-se que o meio ambiente é capaz de absorver todos os dejetos resultantes do uso e abuso dos recursos naturais, mas é um grande equivoco neste pensamento. O não ter acesso ao saneamento básico pela maioria da população parece que lhes outorga o direito de não se preocupar nem pela geração e muito menos pelo seu descarte, despejando e destruindo estes em qualquer espaço sem um mínimo de responsabilidade ambiental. 



O saneamento ecológico (Esrey, 1999) representa uma mudança no modo como as pessoas pensam e agem com relação não somente as fezes humanas. Trata-se de uma abordagem baseada no ecossistema que reconhece a necessidade e o beneficio de se promover o bem estar a saúde da população ao mesmo tempo em que RECUPERA e RECICLA os nutrientes. Representa uma abordagem que valoriza o fechamento do ciclo de todos os nutrientes que foram utilizados na produção dos insumos por nós consumidos, evitando a abordagem linear de pretender “jogá-los fora”, mas, transformando-o em recurso. 


Normalmente as soluções oferecidas pelo saneamento convencional consideram que o meio ambiente, pode processar infinitamente os nossos resíduos, ou mais simplesmente ainda, transferem os problemas para as comunidades que vivem rio abaixo. O saneamento ecológico, ao contrário, minimiza a necessidade de recursos externos e reduz a liberação de resíduos do sistema para o meio ambiente. 

A lógica do não se livrar e sim reutilizar é a lógica pretendida. Numa propriedade rural que não pode se dá ao luxo de perder estes recursos energéticos de forma aleatória e muitas vezes irresponsável. Precisamos mudar nossa filosofia de relação com a natureza, antes que qualquer outra coisa mude! Vejamos algumas idéias de saneamento. 

SANEANDO ESPAÇOS, RESÍDUOS E ENERGIAS 

SANEAMENTO DO AR USADO, RESPIRADO - A casa é um ser vivo e como todo ser vivo, necessita respirar. Abra as janelas da casa e inspire um ar novo. A renovação do ar é fundamental para que ele esteja em ótimas condições e certamente você se sentirá melhor com novos ares. Um momento particularmente interessante de abrir as janelas da casa é logo de manhãzinha, antes de qualquer poluição começar a aumentar. Outro momento é logo depois das chuvas, pois o ar está mais limpo e mais carregado de partículas boas, os chamados íons negativos. 

Uma casa onde falta uma ventilação adequada sofre com a presença de um ar viciado, com pouco oxigênio e excesso de CO². E se além desta falta de renovação do ar, residem também muitas pessoas, o agravamento desta situação é verdadeiro. Para sanear esta habitação se faz necessário abrir janelas, ou qualquer outra abertura. Precisa permitir que o ar novo entre e o já utilizado saia, logo, não basta abrir apenas uma abertura tem que facilitar para que o ar possa circular, em alguns momentos entrando e em outros saindo, criando um ciclo de renovação permanente. 

Lembre-se, nosso corpo também renova seu ar, faz trocas, e este gás carbônico expelido, as plantas adoram, precisam muito dele para fazer suas trocas metabólicas. O gás carbônico ajuda muito no desenvolvimento das plantas, logo se este gás for direcionado para pergolados, ou qualquer outra área que tenha presença de plantas, você estará contribuindo no ciclo do carbono, principalmente nas trocas das plantas. O carbono é como se fosse uma moeda de troca da planta, ela nos dá oxigênio e em troca recebe carbono. 





SANEAMENTO DO EXCESSO DE LUZ – Tudo em excesso ou em falta causa problemas, sabemos que todos nós precisamos de luz. Com a casa, não pode ser diferente, ela também precisa de luz para clarear, para desinfetar, para diminuir umidade, para esquentar, todos estes serviços de forma natural podem ser feito pela luz e de preferência a solar. Mas, também precisamos notar que todos estes serviços quando feito em excesso causa irritabilidade, um ambiente claro demais para se tirar um cochilo é incomodo. Da mesma forma acontece com um ambiente quente demais, logo, em alguns casos o saneamento deste excesso de luz precisa ser acionado. O uso de cortinas, ou de plantios de arvores caducifólias, que no verão estão cobertas de folhas diminuindo a entrada em excesso da luz e no inverno estão sem folhas permitindo que a pouca luz deste período possa entrar para aquecer e clarear o ambiente. Outra forma também é o uso de varandas no lado de maior incidência do sol. Atualmente em muitas casas por não se poder mais mexer na estrutura está sendo utilizado Black out, um tipo de cortina de plástico que consegue bloquear a entrada do sol, podendo ser dosado esta entrada. 




Em alguns casos do excesso de luminosidade em criações de aves pode vir acontecer irritabilidade levando as aves ao canibalismo entre alguns. Como vemos o saneamento do excesso de luz se faz necessário em algumas situações. 

SANEANDO ENERGIAS DAS PESSOAS – A ociosidade gera acúmulo de energia em algumas situações, levando até ao excesso de peso. Como sanear esta ociosidade criando oportunidades para se gastar toda energia de forma que este trabalho gere produção? Esta é a preocupação para este tipo de saneamento. Esta lógica de saneamento pode levar a um fazer melhor com menos gasto de tempo e de recursos. A observação atenta e o planejamento são os melhores indicadores para esta constatação para uma ação eficaz. 

SANEAMENTO DE FUMAÇA DO FOGÃO A LENHA – A exposição permanente de pessoas a fumaça causa muitas mortes, principalmente nas zonas rurais de muitos países. Aproximadamente 3 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento cozinham suas refeições dentro de casa em fogões primitivos alimentados a lenha, carvão, restos de colheitas e excrementos animal. 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a fumaça desses fogões mata por ano 1,9 milhão de pessoas, principalmente mulheres e crianças, através de doenças pulmonares, doenças cardíaca e baixo neonatal. Um fogão mal projetado produz quantidade de fumaça poluindo muitas vezes as casas, contribuindo também para o aquecimento global, através da poluição da atmosfera e do desmatamento causado pelo corte de árvores para abastecê-los. 

O saneamento desta fumaça precisa ser levado a sério, através de algumas estratégias tecnológicas, que na maioria das vezes sem quase nenhum investimento. Uso de chaminés, ou a construção de outros tipos de fogões a lenha, podem ser algumas alternativas para o saneamento desta fumaça. 

Esta fumaça pode ter várias utilidades que poderiam perfeitamente ser utilizada. Entre estas utilidades está a defumação de carnes, queijos, como também a fabricação do ácido pirolenhoso, ótimo defensivo de pragas. A fumaça também em determinadas circunstâncias pode servir como espantador de pernilongos quando se permite que esta fumaça transite pelos compartimentos da casa, porém tem um incomodo de deixar roupas e outros utensílios com cheiro desagradável, muito persistente. O manejo também de aberturas de janelas pode diminuir este excesso, mas ainda a melhor maneira é utilizando chaminés desde que esta fumaça antes de ser lançada no ambiente possa ser aproveitada ao máximo, pense em outras formas que esta fumaça pode ser utilizada. 




Para construir seu fogão a lenha sem fumaça acesse o site de baixo custo. 
http://permacoletivo.files.wordpress.com/2008/fogao.pdf 

SANEAMENTO DE EXCESSOS DE TEMPERATURA – No nordeste do Brasil em especial no sertão, os desenhos das casas acumulam muito calor, motivado pela opção de uso de arquiteturas erradas para o clima da região. Em algumas situações no pique do meio dia, hora mais quente nas casas, torna-se insuportável permanecer internamente em alguns compartimentos da casa devido as grandes temperaturas. Como sanear este calor? O que fazer para não permitir que se crie e em outras situações como retira-las deste espaço criando ambientes confortáveis de permanência? No sertão normalmente as temperaturas no pico de meio dia chega a atingir 42 graus Celsius na sombra, é um desafio reajustar estes espaços. O uso de grandes janelas em áreas quentes e ou áridas não é muito recomendável, deve-se dar preferência por janelas menores do lado do nascer e do por sol, mas para ajudar nesta circulação de ar expulsando este ar quente deve-se também ter áreas centrais na casa com plantas para refrescar o ar que entra expulsando pelas janelas o ar quente dos ambientes. 



SANEAMENTO DAS ÁGUAS DO TELHADO – Você já calculou a quantidade de água da chuva que se perde na sua casa pelo escorrimento dos telhados? Tenha certeza que o volume é muito grande, e já existe com certeza um saneamento para toda esta quantidade de água, ela chega e é expulsa sem nenhum uso na maioria das casas. Algumas casas o sistema de saneamento da água de escorrimento é insuficiente e em muitos casos cria-se momentos de alagamentos, gerando transtornos para toda a família. Não podemos perder toda esta água, precisamos sanear sem misturar, sem perder, sem poluir, para melhor poder utilizar deste recurso tão precioso. Cisternas de ferro cimento, tanques ou qualquer outras estruturas que possam armazenar esta água se faz necessário, principalmente nas propriedades rurais. 


SANEAMENTO DOS UTENSÍLIOS VELHOS, USADOS, SEM UTILIDADE PARA VOCÊ – A reutilização das coisas precisa acontecer, precisamos lembrar que coisas que não me servem mais podem servir para outra pessoa ou família. As feiras de trocas de coisas que não queremos mais, podem ser uma grande alternativa para resolver o problema do saneamento de utensílios, sem gerar lixo. A reutilização é um dos princípios básicos da natureza, nada se perde tudo pode e deve ser reutilizado. 

Um novo modelo social centrado na parceria, no não desperdício, na reutilização deve ser praticado. Mobilize a comunidade para que todos possam juntar e trazer todas as coisas que não lhe interessa ter mais, marque uma data para que aconteça a feira de troca, sem moeda, simplesmente trocar, não vai haver perda, pois você não queria mais aquele equipamento ou qualquer outro objeto, e vai retornar para casa com algo que vai ter utilidade para você ou para sua família. Não transforme em lixo algo que alguém ainda pode usar ou reutilizar, antes de se tornar lixo. 


SANEAMENTO DAS PERDAS DAS ENERGIAS – Muitas perdas de energia ocorrem dentro das casas, e quase todas estas perdas não são reaproveitadas, se perdem no espaço. Perdas de calor do ferro de passar roupa, do forno aquecido, da chapa quente do fogão, da força e do peso da água da chuva, são energias que na maioria das vezes são desperdiçadas. 

Como sanear estas energias para que elas não sejam perdidas, reaproveitadas em outros serviços internamente na propriedade rural? O que fazer com o ferro de passar aquecido quando se termina de passar a roupa, esta energia pode ser utilizada em que? Da mesma forma o que fazer com a chapa quente do fogão? Será que daria para esquentar o pão? Ou manter o café aquecido? Todas estas energias precisam ser pensadas e encontrar um saneamento adequado, sem contribuir para as perdas e sim seu uso. 

SANEAMENTO DE RESÍDUOS – Gorduras, óleos, feses, água de sabões e detergentes, restos de matéria orgânica e inorgânicos, são muitos dos resíduos que saem de uma casa. Resíduos estes que precisam ser saneados de forma correta, para que não venham poluir o ambiente. 


Muitos destes resíduos podem ser utilizados na produção de outros materiais ou como insumos para a produção de biomassa. Por exemplo, as gorduras e os óleos podem ser utilizados na fabricação de sabão. O lixo orgânico pode servir na preparação de fertilizantes, águas cinza e negras podem passar por processos biológicos podendo novamente voltar à natureza causando pouquíssima poluição. Um terço de toda água das nossas casas é utilizada diretamente no vaso sanitário. 




Para mais informações de como construir acesse http://econscientizacao.com/?page_id=257

Muitas destas lógicas de saneamento também devem e podem ser repensadas nas instalações rurais como pocilgas, galinheiros entre outros. Imagine também que nas áreas de cultivos a lógica do saneamento também precisa ser utilizada, podemos sanear a dureza do solo, o excesso de secura entre outros. E com certeza encontraremos uma infinidade de resíduos, desperdícios e energias que poderiam entrar em uma lógica de saneamento podendo ser transformadas, reutilizadas, de forma que se possa gerar produção e produtividade a mais para estes ambientes. 

27 de janeiro de 2012 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 
Esrey AS, Gough j, Rapaport D, ET AL. 1998. Ecological Sanitation. Stockholm: SIDA.

quinta-feira, janeiro 19

Preparando a horta no apartamento - Em busca da produção limpa de hortaliças


Antônio Roberto Mendes Pereira 

A necessidade de produzir alimentos limpos, sem a presença de insumos químicos vem aumentando cada vez mais. Esta necessidade também é crescente nas famílias que residem nos centros urbanos, onde a informação transita com mais intensidade. A mídia divulga que para se produzir hortaliças como tomate, alface entre outros, o uso de insumos químicos para defender a produção destes é cada vez maior, o desequilíbrio causado pelo não respeito ao meio ambiente é vertiginoso. A demanda foi criada e agora precisam criar formas técnicas de praticar a agricultura nos grandes centros urbanos na tentativa de minimizar estes problemas. 


Este texto traz a intenção de transmitir conhecimentos práticos de como preparar pequenos espaços urbanos para a produção de alimentos sadios, limpos do uso desta parafernália de insumos químicos que hoje são usados abusivamente. Não consigo entender como se pode misturar veneno com alimento, um representa vida o outro representa morte, e a mídia consegue convencer agricultores e consumidores no uso e no consumo sem a mínima preocupação em rastrear de onde vem? Quem produziu? O que usou para produzir? Este texto vai estar direcionado para a criação de espaços de produção de hortaliças, temperos e ervas medicinal em pequenos espaços, e em especial nos apartamentos. O enfoque utilizado vai ser da Permacultura tendo como base a necessidade de trazer a produção de alimento de volta para as áreas urbanas, reprojetando e retroprojetando. 

NECESSIDADES SUBJETIVAS PARA MONTAGEM DA HORTA 

1. O querer – A vontade verdadeira, profunda de ter uma horta, de praticar agricultura de lugar e urbana, deve ser a primeira etapa para esta operacionalização. Sem esta decisão pessoal, fica difícil, pois para algumas pessoas praticar agricultura urbana pode se encarado como hobby, para outros é vista como um trabalho cansativo e escravizante, pois ocupa diariamente algum tempo a depender do tamanho do espaço produtivo que se instalou. 

2. Satisfação e prazer – Ter prazer em mexer com a terra e com o que ela pode proporcionar de produção vegetal. Imagine que prazer você plantar uma mudinha de alface, tratar, cuidar e depois de certa dedicação colher um belíssimo pé de alface e desfrutar do mesmo com outras plantas produzidas na sua horta em plena cidade grande, em um pequeno espaço dedicado a prática de agricultura urbana e de lugar. Poder admirar cada folhinha surgindo, crescendo, dependendo de você e da natureza, do sol, do carbono, de cada gota de água servida por você, é uma satisfação que não tem como ser explicada, só quem pratica é quem sente. 

3. A prática da intuição natural – Mesmo sem nunca ter cultivado hortaliças você é capaz de alcançar este estado de arte. A intuição lhe ajudará a cultivar, até parece que você foi projetado para saber cultivar estas plantas, você irá intuitivamente sentir as necessidades de cada planta. Irá entender o que cada uma vai te pedir, te ordenar e te responder com cada cor, com cada folha ou flor, e em muitos casos te agradecer e te retribuir com um fruto que pode servir de alimento, te saciando, nutrindo tuas necessidades mais básicas. 

4. A beleza natural bem pertinho, dentro do teu espaço – A beleza de uma planta comestível em muitos casos é mais bela que muitas outras, admirar o belo que vai me alimentar é uma mistura de beleza, prazer, e satisfação, todas juntas e misturadas ao mesmo tempo. Uma beleza natural, sem químicas inorgânicas manipuladas, sem ter que comprar, sem ter correr riscos de fazer mal, de intoxicação. É poder participar da proeza de ser autótrofo (produzir seu próprio alimento), é ser alquimista, contribuir na mistura de sol, gás carbônico, água e minerais em alimento. É participar do processo da criação de outra espécie. 


NECESSIDADES OBJETIVAS PARA PRATICAR HORTICULTURA URBANA 
Pequenos espaços de cultivo de alimentos 

1. Identificar ambientes favoráveis para as plantas – Precisa-se identificar no apartamento, ambientes onde as hortaliças possam se desenvolver, este espaço precisa ter a presença essencial do sol na maior parte do dia, pois as hortaliças exigem muito sol para se desenvolver bem. Quanto ao tamanho do espaço, a criatividade pode ajudar em parte este problema. Se não tiver lugar que receba sol fica difícil a pratica da horticultura, mas mesmo assim poderemos criar determinadas estratégias técnicas para levar a luz solar até elas. Espelhos ou até aberturas em paredes ou tetos podem ser maneiras que permitem que as plantas possam ter esta energia básica para a realização da fotossíntese. Janelas, varandas, percolados, muros todos estes espaços podem servir de ambientes para o cultivo de hortaliças, plantas medicinais e temperos. 

Caso no apartamento não tenha espaço adequado para a prática do cultivo de hortaliças pela ausência do sol, pode-se também utilizar a estratégia de cultivar as plantas em vasos, pequenos caixotes que possam ser transportados para janelas ou paredes, que recebam sol. Lembre-se de acompanhar a luz solar, pois o sol se desloca durante o dia. As plantas hortícolas necessitam de 6 horas no mínimo de luz solar dia. 


2. Aquisição e escolha dos recipientes – Vai necessitar de vasos de preferência que possam ter uma profundidade de pelo menos 20 centímetros, pois muitos sistemas radiculares são pivotantes. 

Evite comprar recipientes, tente ao máximo reciclar, utilizando panelas velhas, caixotes, bacias, latas, garrafas peti, etc. Cada recipiente precisa ter furos para o escorrimento do excesso de água, é bom colocar no fundo de cada recipiente, pedrinhas, pedaços de telha para facilitar a saída da água, evitando possíveis entupimentos. Lembrem-se, as culturas tem tamanhos diferentes, logo exige vasos diferentes. Use a criatividade, use e abuse, faça decorações a partir da localização destes vasos com hortaliças. 





3. Aquisição do solo e preparo do substrato – A riqueza do solo é determinante no desenvolvimento das plantas, logo quanto mais fértil melhor. A aquisição de solo para encher os recipientes deve-se dar preferência por solos escuros onde a probabilidade de fertilidade é maior que a dos solos claros. Para manter a fertilidade desse solo, vai ser necessário o uso de compostos orgânicos, e na dificuldade de se fazer este composto no apartamento, existem lojas especializadas que vendem este material orgânico já preparado para o uso. 


Na imagem acima à direita, caixa plástica para o preparo de compostagem com desperdícios da cozinha, em escala de programação para não haver períodos de falta. 

Para aprender como fazer uma boa composteira caseira você pode acessar o seguinte endereço abaixo. Lá, você vai encontrar informações muito interessantes que vão poder lhe ajudar em todo processo de operacionalização de uma compostagem. 

Grande parte dos materiais biodegradáveis pode ser utilizada para a produção de adubo e, quanto maior a variedade dos ingredientes, melhor será a qualidade dele. Podem ser usadas cascas de ovos, restos de frutas ou legumes, sobras de alimentos que foram cozidos, pão velho, café moído, folhas, grama e até papelão picado. 



A eletrônica já chegou também a contribuir na transformação dos resíduos orgânicos da cozinha, já existem composteira eletrônica, onde dispositivos de temperatura e umidade é controlado apressando a transformação dos resíduos em adubos orgânicos para o uso. 


A calda que escorre (chorume) da compostagem pode ser utilizada também como fertilizante, podendo ser aplicado nas folhas ou nas irrigações, a este processo muitos chamam de fertirrigação (irrigação que leva fertilizante). Normalmente utiliza-se 1 litro do chorume para 5 litros de água. 

4. O melhor lugar para cada cultura – Dependendo do ambiente que se tem precisamos selecionar os tipos de hortaliças e os melhores locais para o seu plantio. Tem espécies de plantas que requer mais sol, outras menos, umas exigem solos profundos, outras plantas poucos centímetros são suficientes. Umas, até toleram pouca presença de raios solares, logo para isto precisa-se conhecer mais profundamente as variedades, suas características e necessidades. 

CRIATIVIDADE NO APROVEITAMENTO DOS ESPAÇOS, OBJETOS E DO SOL 










Normalmente os tubérculos (cenouras, beterrabas, rabanetes, nabos, etc.) exigem uma profundidade de solo maior, pois o seu fruto é produzido dentro do solo. 

Pinte ou forre (com papel, cartão, tecido...) os recipientes de lata, de plásticos para que o sol não sobre aqueça o recipiente, aquecendo o solo e venha a criar transtornos nas raízes dos cultivos. Para melhor adaptar as plantas aperfeiçoe a utilização dos vasos através da consorciação de plantas de alturas diferentes no mesmo recipiente. 


Algumas plantas gostam de crescer agarradas, possuem gavinhas, logo precisamos oferecer este apetrecho para elas. Pode ser utilizada treliça de madeira, que além de oferecer este serviço, são bonitas, atuando também de decoração, além de aumentar a disponibilização de espaço para os cultivos. Outra forma também que pode ser utilizado são os tipís, uma ótima alternativa para atender esta necessidade das plantas trepadeiras, como pepinos, ervilhas, feijão vagem, entre outras. 


5. Conhecendo as famílias das hortaliças – Da mesma maneira que nós seres humanos temos nossas famílias, as plantas também foram classificadas em famílias. Esta classificação foi feita levando em consideração alguns itens, como por exemplo, aparência externa (folhas), tipo de raiz, preferências pelos mesmos nutrientes, tipos de inflorescência, formato dos frutos, serem atacadas pelas mesmas doenças e pragas, etc. E para nos é de suma importância conhecer as famílias e os seus familiares, para que possamos planejar a rotação de culturas evitando replantar na mesma área plantas da mesma família, pois já que tem as mesmas preferências como também os mesmos problemas fitossanitários, evitar que estes fatores venham a prejudicar o próximo cultivo. Logo não esqueça, não podemos fazer um novo plantio na mesma área com plantas da mesma família, estaremos induzindo a nova cultura a ser atacada por pragas e doenças ou sofre por carências de minerais consumidos pela cultura anterior. 

Você já imaginou que na família da cenoura que é chamada famílias das Apiáceas os irmãos da cenoura são o coentro, a salsa e a cebolinha. E na família das Crucíferas os irmãos são os seguintes: repolho, e todas as couves (Bruxelas, flor, folha), que a família da beterraba é Quenopodiácea e o nabo é um dos seus irmãos, que a Família do tomate é chamada de Solanácea e que os seus irmãos são: o pimentão, jiló, berinjela. Tenho certeza que você ficou muito curioso em querer saber mais sobre as famílias das hortaliças e de forma geral das plantas como um todo, seja curioso pesquise, tente descobrir qual é o nome da família das seguintes famílias ou irmãos: alface, almeirão, chicória, acelga, pepino. 

Da semeadura ao transplante – Algumas culturas hortícolas são de plantio direto, isto é, são semeadas diretamente em local definitivo, outras necessitam de sementeira, uma espécie de berçário, onde as sementes são semeadas e ficam recebendo um tratamento especial até alcançarem o tamanho ideal para o transplante, 10 a 15 centímetros ou 5 a 6 folhas definitivas, ou ainda quando o seu talo esteja mais ou menos da espessura de uma caneta. A profundidade para se colocar as sementes no semeio não deve ultrapassar a 6 vezes o tamanho desta semente, pois de outra forma a germinação pode ficar comprometida, o peso da terra seria muito grande para que a nova plantinha conseguisse afastar para que ela emergisse fora do solo. O leito destas sementes precisa estar bem preparado, isto é destorroado, fertilizado com uma quantidade ideal de composto orgânico (1 kg por metro²), seria uma boa quantidade de composto, porém esta quantidade deveria ser mensurada a partir da descoberta da analise da riqueza deste material. 

Cuidado também para não colocar sementes demais durante o semeio, uma quantidade exagerada irá provocar disputa entre as plantas por luz, fertilizantes e espaço, comprometendo a qualidade destas. Uma boa maneira para fazer uma sementeira é reaproveitar os copinhos descartáveis. Prepara-se um bom substrato para enchimento destes copinhos, não esquecendo de furar o fundo destes, para que aconteça a drenagem do excesso de água. 

Durante o transplante é preciso ter cuidado para não mexer, nem cortar muitas raízes, pois as plantinhas podem sentir, danificando sua raiz, comprometendo seu pegamento, ou até atrasando o desenvolvimento destas. É bom sempre fazer este transplante transportando parte do solo de onde a plantinha estava se desenvolvendo, este procedimento garante o pegamento e evita à entrada de doenças pelos ferimentos da raiz durante o transplante. Sempre após o transplante é bom fazer uma irrigação, para que a plantinha possa aumentar seu contato com o solo, e criar um ambiente mais confortável, para o seu pegamento. Siga esta lógica: plante o que gosta de comer, o que gosta de cheirar e o que gosta de vê. 






Saciando a sede das plantas – As hortaliças são muito exigentes na freqüência da rega, nem tanto em quantidade, esta vai depender da espécie que se está cultivando. Para entendermos melhor observe o seguinte exemplo, o período de vida de um pé de alface é muito curto, logo uma falta de água em um dia pode acarretar sensivelmente sua produção, criando problemas às vezes irremediáveis. O excesso de água também pode comprometer o desenvolvimento da planta, pois todos os poros do solo podem ficar encharcados de água, ocupando o espaço do ar, comprometendo a metabolização dos nutrientes pela planta. Criar sistemas autônomos de irrigação pode ser interessante para a manutenção desta irrigação. Na internet existem várias tecnologias que podem ser utilizadas para operacionalizar esta autonomia. Uma boa cobertura morta no solo dos vasos pode diminuir a frequência da rega, além de diminuir a evaporação da água do solo. Com o uso da cobertura evitam-se também problemas com a salinização do solo dos vasos. 


As ferramentas de manejo – Na manipulação dos espaços de cultivo vai necessitar de algumas ferramentas para facilitar o manejo. A compra não é necessária, pois garfo, colher de sopa e faca podem facilmente substituir estas ferramentas. Mas existem no mercado ferramentas adequadas para a compra como as mostradas nas imagens abaixo. Uma boa escarificação permite um bom arejamento do solo, porém para manter um solo fofo se faz necessário o uso de matéria orgânica não ainda decomposta, pois é durante a decomposição que se forma substancias que permitem a formação dos grumos, dando ao solo uma boa bioestrutura. A fofice causada pela aplicação de matéria orgânica já decomposta tem um curto período de ação. 


As doenças e pragas – A primeira medida básica para evitar plantas doentes e praguejadas é uma boa fertilização do solo. A base da saúde das plantas está estritamente ligada ao seu metabolismo de absorção e processamento destes minerais. Evite também criar climas onde existam muita umidade e alta temperatura, estes climas ajudam no aparecimento de doenças. Lembre-se, o aparecimento de pragas e doenças é um indicador de manejo errado, tente descobrir o mais rápido possível o erro que possa ter acontecido, e enquanto não descobre a catação manual pode ser uma alternativa de controle. Evite utilizar agrotóxicos, existem muitas fórmulas botânicas que podem ser utilizadas como paliativo contra estes insetos, porém a maneira correta é descobrindo as causas para sanar os verdadeiros sintomas. 


Como vemos a implantação de uma pequena horta no apartamento não é tão complicado, basta ter o espaço e a vontade, o restante se aprende, cuidando, manejando, errando. Mas, o maior prêmio que podemos ganhar é o lazer e a hora da colheita, é um momento mágico, prazeroso, e acima de tudo nutritivo. Saber que foi você que plantou que cuidou, e que é um produto limpo, saudável, não tem dinheiro que pague esta satisfação e nutrição. Estimule-se! faça a sua e desfrute de todos estes benefícios e alegrias. O que está esperando? 

18 de janeiro de 2012

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