sexta-feira, agosto 2

Entendo padrões e design - Aprendendo a imitar os ecossistemas

Antônio Roberto Mendes Pereira

Imitar o design e padrões da natureza não é nada fácil. Às vezes olhamos, olhamos e não vemos nada ou olhamos e vemos tantas coisas, tantos elementos que acabamos sem saber o que olhar e por onde começar observar. O que tenho que olhar? Segundo David Holmgren em seu livro “Permacultura, princípios e caminhos além da sustentabilidade” ele nos diz:

“O mundo natural, e especialmente o biológico, nos fornece de longe a maior diversidade observável de padrões e detalhes sem o auxilio de tecnologias complexa ou cara. E justamente estes padrões e detalhes nos fornecem um grande repertório de modelos e possibilidades para o design de sistemas de baixa energia para o suporte humano.”

Precisamos aprender olhar com os olhos de quem quer vê. E para vê com este olhar, necessitamos aprender, ser treinado para observar os detalhes necessários. Quando se fala em imitar a natureza, não significa imitar tal qual a paisagem é. É entender quais os princípios e critérios que nortearam aquela organização da paisagem.

Este texto pretende clarear o que devemos observar para aumentar nossa capacidade de imitar os princípios de organização, de arrumação encontrada nos ecossistemas naturais. Entendê-los é um esforço que vai nos ajudar a melhorar os designs dos agroecossistemas cultivadas isto é das nossas propriedades ou espaços quer sejam rurais ou urbanos.

Cada elemento que se encontra localizado em um determinado espaço de uma paisagem natural, só cresceu ali porque determinados princípios lhe permitiram, é como se existisse uma lei invisível que autoriza ou desautoriza. O local que este se encontra lhe foi permitido pelo maior número de conexões que ali ele é capaz de manter. O imperativo desse local é a quantidade máxima de combinações de parcerias que aquele elemento consegue ter em relação aos demais elementos que compõe aquela paisagem. 

E não podemos esquecer que um bom design ( desenho + planejamento) depende exclusivamente de uma relação harmoniosa entre natureza e as pessoas, na qual a observação cuidadosa e a interação ponderada fornecem a inspiração os insights, o repertório e os padrões para a construção desse design. 

O design deve ser projetado para o declínio do uso de energias e a Permacultura nos oferece as condições para que conscientemente possamos planejar nosso caminho para este declínio de uso de energia a partir de um bom design, tendo a natureza como a inspiração. 


O homem ao transformar os ecossistemas naturais em ecossistemas de produção, a agricultura convencional altera drasticamente os fluxos e ciclos destes espaços. Para aumentar as colheitas, o agricultor faz duas coisas: primeiro, acrescenta o fluxo injetando energia fóssil ao sistema (fertilizantes, praguicidas, combustíveis, maquinarias) e segundo, o simplifica, eliminando componentes biológicos que geravam perdas de energia (ervas daninhas, insetos fitófagos, entre outros herbívoros – que competem com a produção e carnívoros predadores). Ao incorporar mais energia e extrair mais produto, se abre o ciclo mineral e se quebra sua natureza original de ciclo quase fechado, que reinventa a matéria dentro do próprio ecossistema. Este desbalanceio produz uma perda acumulativa de nutrientes que deve ser compensada mediante o uso de fertilizantes (VIGLIZZO, 2001, p.145). Como vemos precisamos aprender como imitar a natureza dos ecossistemas através do entendimento dos critérios da organização natural. Com estas aprendizagens podemos mudar nossa visão de que a ecologia estaria a serviço da ECONOMIA, na perspectiva da ECONOMIA ECOLÓGICA é a economia que deve está subordinada à ecologia dos ecossistemas.

A INFORMAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA O DESIGN DOS SISTEMAS PERMACULTURAIS

Na história da humanidade e em especial o da agricultura, as sociedades de caçadores e coletores onde a prática da agricultura era ainda inexistente os homens tinham todas as suas necessidades materiais e alimentares atendidas a partir dos recursos da natureza. A sua participação ativa como trabalho na produção de alimento era centrada meramente no momento da colheita e da caça. Já na época das sociedades pré-industriais onde o número da população era bem maior, a produção agrícola dependia de grandes aportes de trabalho humano através da sua mão de obra. A energia utilizada era a humana para poder se ter alimento suficiente para atender a demanda crescente. Quando chega a época da sociedade industrial os aportes humanos são trocados pelos aportes de energia provindas dos combustíveis fósseis. Estes agora são a base para o suprimento de alimentos e de outros bens e serviços inclusive até na distribuição destes alimentos nos locais mais distantes. E na atualidade os designers de Permacultura utilizam-se do poder da observação cuidadosa e da interação reflexiva para reduzir a necessidade não apenas de mão de obra repetitiva, mas também para reduzir o uso de energia renovável. Assim na atualidade diferente das sociedades anteriores que eram intensivas no primeiro momento em mão de obra e no segundo em energia a atualidade oferecida pela Permacultura deve ser intensiva em INFORMAÇÃO e DESING.

Podemos dizer que design é a ordenação ou organização arrumada dos padrões dos elementos da natureza. Pois cada espécie tem seu padrão de organização que lhe dá à forma e a aparência. É através deste padrão que podemos reconhecer e diferenciar uma vaca de uma formiga, uma jaqueira de uma mangueira. Uma vaca nada mais é que uma organização de certas substâncias que lhes dão a forma de uma vaca batizada por nós seres humanos. Certas relações devem estar presentes para que algo seja reconhecido como – digamos uma vaca e uma formiga. Essa configuração de relações que confere a um sistema suas características essenciais é o que entendemos por seu padrão de organização.


As substâncias podem de ter sido as mesmas, mas a quantidade e a forma de arrumar foram diferentes, logo temos padrões distintos. Não esqueça que com as mesmas substâncias a natureza é capaz de fazer uma infinidade de padrões, inclusive você. Toda vez que faz um grande elemento ela usa mais elementos e diminui a diversidade, logo, quanto menor o elemento mais sobra elementos para aumentar a diversidade, porém não podem deixar te ter também os grandes com muita diversidade.

Entender estas lógicas nos remete a entender mais profundamente o que é Substância, de que é feito? (estrutura, quantidade, matéria). E a forma, qual é o padrão? (padrão, ordem, qualidade). Estas duas perguntas nos levam a nos aprofundar se quisermos imitar a natureza. No estudo do primeiro medimos ou pesamos as coisas, já os padrões não podem ser medidos nem pesados, eles devem ser MAPEADOS. Pois, só vamos entender o padrão quando mapeamos sua configuração de relações. Mapear no sentido de entender as conexões, as relações, e isto se torna mais fácil entender através do desenho.

O pensamento sistêmico nos leva a outras compreensões. Leva-nos a ter uma nova visão entre as partes e o todo. A ciência cartesiana acreditava seguramente que em qualquer sistema complexo o comportamento do todo podia ser analisado e compreendido em termos das propriedades de suas partes. 

A ciência sistêmica mostra que os sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio de análise e sim através da síntese. As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior a exemplo em um ecossistema. O que denominamos de parte é apenas um padrão numa teia de relações. 

Com este entendimento quando vemos uma rede de relações entre folhas, ramos, galhos e tronco, chamamos de “árvore” ao desenhar a figura de uma árvore, a maioria de nós não fará as raízes. No entanto, as raízes de uma árvore são com freqüência, tão notórias quanto as partes que vemos. Além disso, numa floresta, as raízes de todas as árvores estão tão interligadas e formam uma densa rede subterrânea na qual não há fronteiras precisas entre uma árvore e outra. Em resumo, o que chamamos de árvore depende do observador humano e do processo de conhecimento que este tem. Quando uma árvore morre o que vai ser desmontado é o seu padrão, mas sua substância vai poder ser utilizada para criar um novo elemento vivo com um novo padrão. 

Todas as imagens abaixo são sempre uma parte de um todo bem maior, é uma rede dentro de outras redes. Um conjunto de átomos termina por formar uma célula, um conjunto de células forma um tecido e seu conjunto forma um ser, e este ser termina por estar inserido em uma rede de relações bem maior que o meio.


E nenhum ser consegue viver sem fazer parte desta rede de ligações, pois cada ser depende de uma infinidade de necessidades que são atendidas por esta rede de conexões. Com este pensamento percebemos que não existem partes, em absoluto. Aquilo que denominamos de parte é apenas um padrão numa teia inseparável de relações.

Depois de apreciar a importância do entendimento de Padrão para a compreensão da vida, podemos indagar: Há um padrão comum de organização que pode ser identificado em todos os organismos vivos? Uma das propriedades mais importante é a de que todos são e estão conectados a um padrão de rede. Todos seus componentes estão arrumados, arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos para qualquer ser vivo estamos olhando uma rede imbricada ou conectada com o todo.


Não permita que as propriedades sistêmicas sejam perdidas, isto acontece quando monoculturamos os nossos plantios, ou quando montamos estruturas de elementos isolados, uma criação apenas de galinha quebra, disseca a propriedade sistêmica.

As propriedades sistêmicas nenhuma parte sozinha a possui, pois é advinda somente do todo. Os sistemas vivos são totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às de parte menores. Elas surgem das “relações de organização” das partes. Logo, os problemas que surgem nas nossas propriedades são problemas sistêmicos, e não das partes, mas do todo. Precisamos resolver estes problemas observando o todo e nunca somente as partes isoladas. O aparecimento de uma praga é um problema de todo o sistema e não unicamente da planta atacada, esta planta faz parte de um todo. Então não se resolve um problema sistêmico meramente utilizando-se agrotóxico. Precisamos entender que o controle de pragas não é um problema químico, mas sim ecológico e que, portanto, exige conhecimentos diferenciados daqueles proporcionados pelo pacote da Revolução Verde.

A paisagem precisa ser entendida como um “LIVRO TEXTO”. Onde as informações, os insights e as observações cuidadosas surgem a partir desse olhar cauteloso.

Quanto mais diversidade se permite no ambiente, maior número de possibilidades se cria para o aumento de conexões, de combinações, melhorando a sustentabilidade do agroecossistema. Aumentando as possibilidades destas relações diminuem-se os riscos através:

· De não se ter produção;
· Do ataque de pragas;
· Do desgaste único dos mesmos nutrientes;
· De se ter uma monotonia de paisagem;
· De se ter um único produto em todo espaço;
· De não ter de forma permanente;
· De ter todo tempo;

Buscar conectar elementos que aparentemente não tem nada a ver um com o outro, aumenta a capacidade de resiliência e sustentabilidade do agroecossistema que estão sendo montado. Isto aumenta as possibilidades de combinações distantes e remotas, apressa e cria a criatividade.

O QUE PRECISAMOS APRENDER VER E IMITAR DOS ECOSSISTEMAS

ABUNDÂNCIA – A natureza sempre quer abundância em todos os espaços. Ela evolui sempre para aumentar a vida em representantes os mais diversos. Ela trilha o caminho do simples e do pouco, para o complexo e abundante. Quanto mais vida diversa entranhada em uma área mais equilibrado e sustentável torna-se este espaço. Logo, diante desta lógica natural, precisamos montar os agroecossistemas para que sejam abundantes em vida e em diversidade. Que os roçados, hortas e pomares possam ter mais consórcios de culturas integradas e dependentes do equilíbrio entre uma com as outras. Que as combinações ajudem todos no agroecossistema.

O DINAMISMO QUE PERMITE QUE O SISTEMA MODIFIQUE-SE AO LONGO DO TEMPO – O ecossistema sempre está em evolução permanente, sempre vamos encontrar novos elementos se instalando, entrando para fazer parte deste sistema. Ele evolui em número, tipo e tamanho, e com esta evolução de forma permanente sempre a sustentabilidade acontece. Estabilidade esta que é instável, pois como sempre tem elementos vivos entrando e outros morrendo a natureza sempre está criando novas situações e relações para novos equilíbrios dinâmicos. Nesta lógica os nossos agroecossistema (roçados, hortas, pomares) precisam ser montados para que a evolução esteja sempre acontecendo. Neste espaço cultivado precisamos ter uma mistura de culturas onde todas estejam juntas e misturadas e com longevidades as mais diferentes possíveis. Que o empilhamento de plantas e de tempo possa fazer parte do planejamento na montagem do agroecossistema.



Será que sabemos montar um roçado com estas características? De sempre está produzindo estação após estação, ano após ano ininterruptamente de forma sustentável? Só com mistura as mais diversas e que podemos alcançar este estado de equilíbrio produtivo, onde todos os espaços estarão ocupados de maneira coerente sem que nenhuma planta iniba o desenvolvimento ou a oportunidade da outra de crescer e chegar a produzir. Cumpriu sua função produtiva, contribua com as demais cedendo espaço, adubo, umidade para que as outras possam fazer o mesmo.

RECICLAR TODOS OS SUBPRODUTOS – Tudo que é produzido e não consumido é novamente reaproveitado pelo sistema. Um resíduo de um elemento deve servir de insumo para o desenvolvimento de outros, não se perdendo absolutamente nada. A reciclagem permanente é uma maneira de transformar o que morreu em um novo ser para que haja a continuidade do processo da vida de todo o sistema. Esta estratégia também precisa ser imitada nos nossos agroecossistemas, não basta que os elementos façam parte do sistema tem ser parte e ter parte, servindo e sendo servido. Que a morte e os resíduos de um sirvam de substâncias básicas para que outros possam se desenvolver a partir do que foi usado e agora estão devolvendo para o sistema. Como exemplo, podemos afirmar que a palhada do milho possa retornar para o solo, devolvendo parte dos minerais que utilizou. Que o esterco dos animais possa retornar para o sistema fertilizando-o novamente.

O ECOSSISTEMA É FLEXÍVEL, CONTÉM ELEMENTOS PARA SITUAÇÕES DIVERSAS – Não basta ter apenas elementos que apreciam muita água, precisamos ter elementos que também vivam com pouca água. Precisamos também ter elementos que necessitam de muito sol e também representantes que carece de pouca luz, elementos que precisam de muito espaço, mas também precisamos daqueles que quase não ocupa espaço. Esta variedade de características torna o sistema mais equilibrado e permitindo que este sistema possa responder em produção em qualquer extremo fenomenológico. Esta representatividade diversa ajuda que o sistema possa se adequar a muitas situações aumentando sua resiliência e ou resistência. É como se o sistema tivesse pau para qualquer obra, isto é uma bela estratégia de perpetuar a presença da vida.

É RICO EM BIODIVERSIDADE – A riqueza dos ecossistemas pode ser medida pela quantidade de diversidade e das relações que são mantidas entre eles. Quanto mais vida mais possibilidade de se ter e fazer mais conexões, criando um emaranhado de relações de difícil desmontagem. Nesta diversidade os ecossistemas buscam ter:

• Árvores altas
• Médias 
• Baixas
• Plantas exigentes em luz (por cima)
• Plantas tolerantes a sombra(por baixo)
• Plantas trepadeiras
• Plantas rasteiras
• Além de uma infinidade de animais e microorganismos

Com esta lógica precisamos nos nossos agroecossistemas usar o espaço de uma forma extremamente eficiente. Trabalhando o espaço vertical ao máximo.

Diante de todas estas características podemos afirmar que se queremos fazer uma agricultura muito mais Permacutural necessita-se adequar e imitar ao máximo todas estas características nas propriedades. Precisamos ter uma agricultura abundante, com plantações densas, com uma grande variedade de espécies de vários tamanhos, plantando espécies com longevidades diferentes, aproveitando todos os resíduos deixados pelos cultivos. Torne seu espaço mais abundante, rico e cheio de equilíbrios.



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