sexta-feira, julho 29

Disseminação natural de sementes cultivadas - Imitando as estratégias naturais


Antônio Roberto Mendes Pereira

Quando olho para qualquer ecossistema natural sempre me pergunto, como as sementes das espécies que compõe este espaço natural foram plantadas? Como surgiram estas sementes? Quem as trouxe para aquele espaço? Como são transportadas de uma área para outra? Quanto tempo leva para que uma árvore de uma determinada área através da sua dispersam natural de sementes consiga ir produzindo descendentes até atingir áreas muito mais distantes, por exemplo, 10 km além da planta mãe?

Todas estas perguntas me incomodam e fico permanentemente buscando respostas observando sempre o espaço natural. Com certeza as respostas vão estar na natureza, e posso perceber e entender todas elas através da observação atenta e meticulosa destes espaços. Olhar, pegar, medir, fazer, testar, comparar, analisar e sintetizar são minhas ferramentas para compreender este espaço natural. E para complementar estas observações busquei através de conversas e pesquisas literárias cientificas, aprofundar mais ainda os conhecimentos adquiridos. Durante todo este processo, fui chegando a algumas conclusões. Logo, a proposta desse novo texto é expor estas idéias trazendo enfoques que talvez não sejam comuns, mas vale apena serem expostos para mais reflexões.

AS OBSERVAÇÕES PERCEBIDAS

Uma vez madura, as sementes precisam ser liberadas da planta-mãe e distribuídas de modo ágil e eficiente. O objetivo maior é atingir o máximo de área disseminada para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da espécie, evitando que haja acúmulo de descendentes nas proximidades da planta mãe, em uma área muito pequena. Esta estratégia evita a monocultura na área desta espécie, com exceção de algumas espécies.

Para que o sucesso desta dispersão venha a ocorrer, as sementes precisam chegar a locais favoráveis ao seu crescimento, em geral um pouco distante da planta mãe, pois nas proximidades desta, a competição pode ser intensa e o risco de morte por patógenos ou insetos herbívoros é bem maior. Pois, a fartura dessa fonte de alimento naquele momento pode atrair e causar um aumento momentâneo de outras espécies, de insetos e animais que se alimentam desta espécie. É o momento da seleção natural. A natureza através dos seus mecanismos escolhe quem fica e quem sai. E normalmente os mais bem desenvolvidos é que vão permanecer, garantindo a qualidade deste descendente.

Vale salientar, que no solo já se encontram muitas das sementes adequadas para cada ecossistema. A dispersão direta destas sementes acontece na sua maioria no entorno da planta matriz ou mãe com a queda dos frutos maduros. Já a dispersão para áreas mais distante acontece através do vento, dos animais e da água dependendo de espécie para espécie.


Na imagem acima vemos estratégias que a natureza utiliza para disseminar as sementes

Uma única árvore, para que ela consiga propagar suas sementes sem ajuda dos animais, da água e do vento levaria com certeza dezenas de anos para atingir uma distância linear de 5 km por exemplo. Pois, se esta árvore fosse uma jaqueira que para ficar adulta e iniciar seu processo de frutificação leva no mínimo 10 a 15 anos, pode-se imaginar o quanto seria lenta esta propagação.

Suas primeiras sementes cairiam a partir da queda dos frutos maduros embaixo ou no máximo no entorno mais próximo da sua copa. E daí até esta semente vir germinar e crescer levaria mais ou menos 10 a 15 anos. Podendo ainda acontecer que as excreções radiculares da planta mãe podem permitir ou não esta germinação. Projete agora quanto tempo levaria para alcançar uma distância de 10 km? Sem contar quanto tempo esta semente leva para germinar, e se não germinar quanto tempo ela consegue ficar em dormência ou armazenada no solo?

A dureza da casca da semente também diz ou revela para nós o tempo de dormência e sua necessidade de fatores ou condições ambientais para que a germinação venha  ocorrer. Diante do exposto trago mais alguns outros questionamentos. Como fazer para entender e copiar os procedimentos naturais para se ter:

·        As sementes cultivadas por nós já presentes no solo a espera das condições propícias para germinar ao invés de só nascerem plantas que não são do nosso cardápio.
·      Como dosar esta germinação para que o percentual de plantas comestíveis por nós possa aumentar neste mesmo espaço?
·      Qual o manejo que precisamos fazer para que as características e os processos naturais possam estar presentes de forma efetiva e ativa na minha área?
·         Qual o momento ideal para dispersar as sementes cultivadas nesta área?
·         Simplesmente, lança-se? Enterrasse? Ou que outras formas precisariam fazer?
·         Em que momento ou estação do ano deve dispersar as sementes pretendidas?
·         Qual a quantidade de sementes ideal para a dispersão?
·         Podem-se misturar várias sementes ao mesmo tempo para fazer a dispersão?
·         Como a natureza seleciona o que deve ou o que não deve nascer?

Em todos estes questionamentos podemos sugerir idéias, princípios básicos, mas a inteireza e completude do processo são de competência da natureza. Porém precisamos pesquisar e conhecer mais profundamente o local ou o ambiente que se vai agir ou intervir. Esta minha curiosidade permanente é que me faz ser um bom observador, e com toda certeza esta me permiti a cada dia entender ainda mais a natureza. Todo fazer de forma constante nos remete a uma prática de menos probabilidade de erros, porém, uma total segurança é impossível, pois o comando maior das ações produtivas no meio ambiente é da natureza.

O que fazer para que entre duas sementes, uma cultivada e outra nativa as duas germinem no mesmo espaço? A semente nativa por ter sido adaptada através da seleção natural, estará mais adequada à área e rapidamente irá germinar, desde que as condições climáticas e de fertilidade entre outras estejam propícias. Quanto à semente cultivada, quanto mais adaptada e mais próxima de ser nativa mais probabilidade de germinar e de sobreviver terá. Logo, quanto mais exótico aquele ambiente menos possibilidades de se desenvolver.

Para se ter uma semente adaptada ou crioula, ou melhor, mais nativa e que ambas as espécies de sementes (cultivadas ou não) possam germinar juntas precisamos seguir as  orientações técnicas e intuitivas. Orientações estas que quando executadas aumentam a sustentabilidade da área, pois quanto mais próximo das características da natureza, maior probabilidade de sucesso.

1.      Deixar de comprar sementes para o plantio. Deve-se iniciar a seleção das sementes que tem. Planta-se, maneja-se, colhe-se e seleciona-se, escolhendo os frutos mais bem desenvolvidos, desde que estes tenham sido produzidos nas condições que se tem, do local, da fertilidade e das condições de manejo daquele ambiente. Esta é uma condição necessária, pois trazer sementes que foram produzidas em áreas distantes, em outras condições de fertilidade, de bio estrutura de solo, em outras condições climáticas pode causar problemas para que esta semente se adéqüe ao novo ambiente.


Na imagem vemos uma seleção simples de sementes de milho, garantindo uma qualidade na produção. As sementes que vão ser armazenadas para o próximo plantio é a do centro da espiga como se vê na imagem acima. As sementes descartadas de ambos os lados da espiga é para evitar que as sementes com defeitos possam passar estas informações genéticas para as próximas gerações.

2.      Plantios em fila são formas e modelos humanos que vão de encontro às formas naturais. A natureza permite o nascimento quase todo aleatório, misturado e tudo junto. Estas condições de nascerem misturadas ajudam a garantir que suas necessidades possam ser atendidas, pois a concorrência pelas mesmas necessidades se todas da mesma espécie (monocultura) estiverem juntas irá ser maior. Outra vantagem também é que esta mistura ajuda a proteger as plântulas enquanto pequena e com pouca defesa de predadores, pois a não proximidade de outra da mesma espécie diminui o ataque dos predadores, os mesmos terão dificuldades de encontrar outro representante da mesma espécie no entorno mais próximo.


Nas imagens acima observe onde a possibilidade de ataque de pragas é maior? Onde o esgotamento do solo pode acontecer com mais facilidade? Onde tenho maiores garantias de que irei colher alimentos variados para atender a uma dieta variada? Imagem da direita SERTA Ibimirim.

3.      Tente ao máximo escolher cultivos que se combinem. Que a necessidade de um seja atendida pelo outro. E caso esta necessidade não venha a ser atendida, que pelo menos as relações entre uma espécie e outra sejam indiferentes, isto é não se prejudiquem. Existem plantas que são companheiras como também plantas que são antagonistas e indiferentes. Pesquise sobre elas!


Na imagem acima vemos um consorcio perfeito entre plantas companheiras. A parceria acontecendo de forma natural através das plantas. Imagens SERTA Ibimirim.

4.      Que a forma e a distância destes cultivos sejam de maneira que o solo não fique e nem permaneça descoberto, nu, desprotegido, exposto às intempéries naturais. A permanente cobertura do solo é também uma garantia de que vai  ter uma fonte permanente de fertilizantes em constante processo de ciclagem, podendo atender as necessidades dos cultivos e das plantas nativas de forma permanente.


Na imagem acima perceba que ambos os solos estão cobertos, protegidos. A única diferença é que um está protegido com uma cobertura verde e viva e a outra com uma cobertura morta. A melhor maneira é que ambas as coberturas possam estar juntas na mesma área e no mesmo plantio.

5.      Que algumas destas sementes permaneçam no solo de maneira natural. Que caiam e permaneça no solo esperando o próximo momento ideal para reiniciarem um novo processo de germinação, como exemplo: alface – que a semente caia no solo e se multiplique através da quantidade dispersada pela flor sem termos que plantá-las. Escolha alguns pés, os mais bem desenvolvidos e permitam que eles floresçam para que esta disseminação genética possa acontecer.


Pés de beterraba e alface crescendo naturalmente no meio de ervas nativas. Germinação espontânea. Imagem SERTA Ibimirim.

Quando a natureza permite que estas plantas germinem, é porque estas encontraram suas necessidades imediatas atendidas, logo vão poder se desenvolver muito bem. Como exemplo, podemos frisar pés de tomate que nascem nos quintais onde as sementes foram jogadas aleatoriamente.


Esteja atento, pois a natureza utiliza estratégias de perpetuação das espécies. As espécies de mais fácil multiplicação, a quantidade de sementes por fruto é menor. Já as espécies de mais difícil multiplicação e crescimento a natureza normalmente disponibiliza mais sementes, pois a germinação e permanência são mais difíceis de situar. Precisamos aumentar a quantidade de sementes cultivadas nas áreas. Este aumento precisa ser planejado, como sugestão ler o texto “A genética desperdiçada.

6.      O tamanho da espécie também é outro fator que influência na seleção natural dos espaços. Quanto maior, mais espaço ela vai necessitar. Ela é mais exigente, necessita de tudo mais, logo, este espaço precisa ter uma disponibilidade de nutrientes, água, luz que correspondam as suas necessidades. Não podemos esquecer-nos de facilitar ou criar estratégias para que não se precise trazer nada de fora. A retirada e a permanência da fertilidade devem ser garantidas.

7.      Precisamos facilitar e até ajudar para que a germinação possa acontecer ao ximo de forma espontânea e natural. Árvores e gramas liberam sementes que caem no chão, onde germinam e se transformam em novas plantas. As sementes plantadas pela natureza não são tão fracas a ponto de crescerem somente em campos arados. As plantas sempre se desenvolveram através da semeadura direta, sem aração. Poucas são as sementes que precisam ser enterradas para poderem germinar, a maioria germina sob a serrapilheira de matéria orgânica do solo.


Precisamos florestar e reflorestar nossos solos com sementes cultivadas, aumentando a diversificação e a quantidade de plantas cultivadas ou comestíveis por m² numa proporção que também não se reduza drasticamente as sementes de ervas e ou plantas nativas. Este equilíbrio precisa ser pensado e planejado, é tentar povoar sem excluir as nativas. Numa floresta natural apenas 7 a 8% são de alimentos comestíveis por nós. A permacultura nos ajuda a aumentar este percentual até a 60%.

Aprenda com ela. Ajude a natureza. Faça você mesmo dispersão de sementes. Distribua. Lance, não desperdice esse grande capital genético. Quando você se alimenta de algumas plantas que possuem uma grande quantidade de sementes, utilize-as. Não permita que estas sementes sejam atiradas no lixo. Espalhe-as em algum solo que você acha que elas podem ter a chance de germinar e tornar-se uma planta que possa atender as mais diversas funções.

Tiago Valiensi nos alerta que:

“Quando uma semente não germina, há pouco que se possa fazer. Você pode regar, pode adubar você pode alimentá-la com os raios do sol. Não cabe a nós decidir se aquela pequena semente se tornará arvore, se dará frutos, se alimentará os seres vivos. A nós cabe apenas não atrapalhar, a nós cabe apenas fornecer o carinho que toda criança semente necessita. Quando uma semente não germina, a culpa está em uma série de fatores, conhecidos e desconhecidos, mas não na vontade humana. A vida é algo selvagem, governada por si mesma. O acaso é dono de todas as decisões. Bem aventurados os alvos da sincronicidade, que podem ver suas sementes germinar, suas árvores crescerem e frutificarem”

24 de julho de 2011

sexta-feira, julho 22

Os ecossistemas e as conexões necessárias - Padrões da natureza


Antônio Roberto Mendes Pereira

Entender a realidade não é coisa fácil, podemos ficar olhando, contemplando durante horas e horas, e o que nossa vista nos deixa ver não é o real, é uma pequena parte do real, a que chamamos de realidade. Os cientistas para melhor entender esta realidade usam de diversos métodos para descobrir de que se compõe esta realidade.

Se olharmos através de uma janela de uma casa na zona rural, vamos observar plantas diversas, morros, terra, animais diversos, flores, frutos, céu, nuvens, sol, rio etc. A este quadro que estamos vendo chamamos de realidade. Porém, para entender esta realidade precisa compreender, que não posso entender analisando simplesmente cada item desta paisagem. Necessito entender as relações que existem entre cada um destes itens.

Preciso compreender o que o rio tem haver com o sol, o sol o que tem haver com os frutos, os frutos o que tem haver com a terra, e assim sucessivamente, e por fim o que isto tudo tem haver comigo, com a minha casa, com a casa do meu vizinho, com minha cidade e assim sucessivamente. Nunca vou conseguir entender o todo estudando simplesmente as suas partes. Não é através meramente da análise que vou entender o todo, preciso também da síntese.


E este texto tem como finalidade tentar melhorar a compreensão deste novo jeito de ver a natureza.
Para melhorar nosso entendimento vamos buscar no contexto histórico respostas para o nosso comportamento antiecológico.

1º O ENTEDIMENTO CULTURAL
Antes de 1500, a visão do mundo dominante na Europa , assim como na maioria das outras civilizações, era ORGÂNICA. As pessoas viviam em pequenas comunidades e viam a natureza de forma respeitosa, buscava entender suas relações orgânicas e de complementaridade. Existia uma grande interdependência entre os fenômenos materiais e espirituais. O ser humano era visto como mais um na natureza. A terra era considerada como a mãe que sustenta tudo e todos por isso careciam de cuidado, respeito. Não se permitia o uso de fogo e muito menos qualquer tipo de agressão a mãe terra. A terra espiritualmente é dádiva de Deus. Pensamento este, que era vivenciado por todos neste período histórico.
Porém a partir do século XVI e XVII, esta visão mudou. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como uma MÁQUINA (pensamento mecanicista).

A ciência criou um novo método de investigação da natureza. Usava a descrição matemática da natureza, quer dizer procurava entender a natureza a partir de fórmulas matemáticas.  Diziam os cientistas da época (Descartes, Galileu Galilei, Francis Bacon, Newton, etc.) que a natureza é um livro aberto e para entendê-la temos que aprender primeiro a linguagem e os caracteres em que ela foi escrita. E essa linguagem é a matemática, e os caracteres são os triângulos, círculos e outras figuras geométricas. Esta época foi considerada como a idade da revolução científica.

Podemos nos perguntar: Porque pensamento mecanicista?
·         Tudo se explica matematicamente
·         O funcionamento é explicado através das leis da mecânica
·         Tudo se resolve matematicamente
·         Porque através da medição e de cálculos pode se construir outra igual.

Este pensamento mecanicista inicialmente foi dado ao mundo material, pois não havia propósito, vida ou espiritualidade na matéria. Depois em sua tentativa de construir uma ciência natural completa estendeu sua concepção mecanicista da matéria aos organismos vivos. Plantas e animais passaram a ser considerados simples máquinas. O exemplo mais usado na época foi a do relógio, que embora feito pelo homem, tem o poder de se mover por si mesmo. A postura de entender a vida a partir da máquina e dos seus mecanismos foi sendo postulado e aceito, e com certeza é de fácil compreensão para quem dela teve acesso.
Desde a antiguidade, os objetivos da ciência tinham sido a sabedoria, a compreensão da ordem natural e a vida em harmonia. A Ciência era realizada para a maior glória de Deus ou, como diziam os chineses, para “acompanhar a ordem natural”. Mas a partir de Bacon[1], o objetivo da ciência passou a ser aquele que pode ser usado para dominar e controlar a natureza e, hoje, ciência e tecnologia buscam, sobretudo fins profundamente antiecológicos. A natureza, na opinião dele, tinha que ser “obrigada a servir” e “ser escravizada”. Devia ser “reduzida à obediência”, e o objetivo do cientista era “extrair da natureza, sob tortura, todos os seus segredos”. E aquele antigo conceito de terra como mãe foi mudando radicalmente e transformado nos escritos de Bacon, desaparecendo por completo quando a revolução científica tratou de substituir a concepção orgânica da natureza pela metáfora do mundo como máquina. E hoje o conhecimento científico é usado para nos tornar-mos os senhores e dominadores da natureza.

Daí para frente à ciência foi restringida ao estudo dos fenômenos que podem ser MEDIDOS, PESADOS E QUANTIFICADOS. Esta ciência ficou conhecida como POSITIVISTA.
Porém esta estratégia foi extremamente bem sucedida em toda a ciência moderna, mas também exigiu um pesado ônus. Perderam-se a visão, o som, o gosto, o tato e o olfato, e com eles foi-se também a sensibilidade estética e ética, os valores, a qualidade, a forma; todos os sentimentos, motivos, intenções, a alma, a consciência, o espírito. Segundo Laing[2], nada mudou mais o nosso mundo nos últimos quatrocentos anos do que a obsessão dos cientistas pela medição e pela quantificação. Esta estratégia ofereceu-nos um mundo morto e provido de números .
A percepção de entender o todo a partir das suas partes foi de René Descartes[3]. Onde ele criou o método do pensamento analítico, que consiste em quebrar os fenômenos complexos em partes a fim de compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das suas partes. Pensamento este que está culturalmente entranhado na nossa forma de ver e entender as coisas que nos cercam. Vejamos alguns exemplos cotidianos:
1.      Quando estamos com gripe e procuramos um médico, normalmente o médico não pergunta como é nossa alimentação, se gostamos de frutas e verduras, quais as condições da nossa moradia, se fazemos muito esforço físico no nosso trabalho, se vivemos em stress permanente, etc. Ele normalmente vai passar um antigripal e alguma vitamina c, porém se você se alimenta mal, com certeza dentro em breve irá adoecer novamente. Pois a visão do médico foi cartesianista, mecanicista ou reducionista, não viu o conjunto das coisas. Tentou resolver o sintoma e não as causas.
2.  O agrônomo que é procurado para resolver um problema de ataque de praga ou doença, normalmente irá tratar da seguinte forma: Vai passar ou um inseticida ou um fungicida, caso seja um ataque por fungo. Mas nunca pergunta pela:
3.       
  • Condição do solo?
  • Se esta forte ou fraco?
  • Seco ou duro?
  • Como se esta adubando o solo?
  • Qual a idade da planta?
  • De quanto em quanto tempo faz irrigação?
  • Quais os tratos culturais que está se usando?

4.      Quando nosso filho não passa de ano, normalmente buscamos a culpa em um único fator, visão esta meramente mecanicista ou cartesiana. Como maneiras sábias para descobrir quais as causas deveriam observar:
·        Será que a falha é do nosso filho?
·        Quem sabe se é um problema de visão despercebida?
·        Quem sabe se não é falta de competência profissional do professor (a)?
·        Que talvez a metodologia do ensino esteja tornando a aprendizagem mais difícil?
·        Pode até ser problema de relacionamento em casa entre pai e filho, ou quem sabe entre pai e mãe, interferindo psicologicamente no filho, diminuindo a aprendizagem escolar.

Poderíamos elencar inúmeros exemplos práticos que fazem parte do nosso dia a dia. Ver-se com estes exemplos, que normalmente temos e agimos de maneira reducionista, mecanicista. Identificamos os problemas por parte, e não conseguimos ver o todo.

Porque pensamento cartesiano? Porque foi o método criado e difundido por Descartes. Método da certeza matemática. Descartes acreditava piamente que a chave para compreensão do universo era a matemática.

Disse ele: “Não admito como verdadeiro o que não possa ser deduzido, com a clareza de uma demonstração matemática. Não podemos duvidar, pois matematicamente dois mais dois tem que ser quatro”.
Porque pensamento reducionista? Porque para se entender os fenômenos eram necessários reduzir os mesmos em pedaços ou partes. Esta grande ênfase ao método reducionista nos levou a pensar fragmentadamente.

·        As disciplinas acadêmicas também é o resultado do método reducionista.
·        Os profissionais especialistas também são resultados do mesmo.
·        Levou-nos a atribuir ao trabalho mental um valor superior ao trabalho manual.

2º A NOVA PERCEPÇÃO
Neste século podemos perceber que os problemas globais estão aumentando vertiginosamente. Estes problemas estão danificando a biosfera prejudicando a sobrevivência da humanidade. São graves e de proporção alarmantes, e se continuam a persistir vão ser irreversíveis. Não irão se encontrar soluções tão fáceis, e quem sabe não encontraremos soluções de tão irreversíveis.

Problemas como fome, falta de água, aumento da temperatura, devastação do meio ambiente, desigualdade social, poluição etc. São hoje comuns em qualquer parte do mundo inclusive nas áreas de exclusão. Quanto mais estudamos estes problemas, mais somos levados a perceber que não podem ser resolvidos de forma isolada. São problemas sistêmicos, quer dizer, são interligados, interdependentes, conectados. Não se resolve por parte. Necessita-se de uma visão conjunta, sistêmica. Por exemplo:


·    A escassez de água não se resolve simplesmente construindo-se açudes, ou barragens, é necessário se rever a forma como estamos tratando a natureza. Quer dizer, temos que parar com os desmatamentos, replantar árvores, deixar de fazer queimadas, evitar a monocultura, diminuir o uso de tecnologia de produto e incentivar o uso de tecnologia de processo, aumentar a diversificação, aumentar o uso de adubação orgânica para melhorar a bio-estrutura do solo, facilitando o ciclo da água, etc.

·   O problema da fome não se resolve com cesta básica, com frentes de emergência, com políticas compensatórias, com esmola, etc. E sim com redistribuição de terra, com capacitação para aproveitamento dos recursos internos, com trabalho produtivo e digno, com políticas sociais adequadas, com ecoalfabetização, etc.

Nossos governantes precisam ver e entender que os problemas têm interdependência. E que às vezes as soluções por eles encontradas prejudicam as gerações futuras. O problema maior é o de percepção, estamos numa crise de percepção. Estamos com uma visão de mundo, de vida de natureza obsoleta. Estamos vendo a realidade de forma inadequada. E para resolver estes problemas necessitamos mudar esta percepção de nosso pensamento e dos nossos valores. Temos que perceber que as soluções viáveis são as SUSTENTÁVEIS. Sustentáveis em todas as suas dimensões:

·         Ambiental
·         Social
·         Econômica
·         Política
·         Educacional
·         Cultural

Temos que ter uma visão de mundo holística, que concebe um mundo como um todo integrado. Ver o mundo como um grande ser vivo. Onde tudo que o compõe esta interligado, interdependente. Devemos sempre nos lembrar que:
Tudo o que acontece com a terra,
Acontece com os filhos da terra.
O homem não tece a teia da vida;
Ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia, ele faz a si mesmo
Esta visão pode também ser denominada de ecológica, usando este termo no sentido muito mais amplo que o empregado por muitos. Estes dois termos holístico e ecológico diferem ligeiramente em seus significados. O termo holísmo é menos adequado para a compreensão deste novo paradigma. Vejamos o seguinte exemplo:

8Numa visão holística de uma bicicleta, significa ver a mesma como um todo funcional e compreender que existe interdependência entre todas as suas partes. Já numa visão ecológica da bicicleta inclui tudo isso, mas acrescentar-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social – de onde vem às matérias primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual é usada, e assim por diante.

3º COMO TENTAT ENTENDER O TODO
“O todo é mais que a soma de suas partes”

A este tipo de concepção chama-se de:

·         Pensamento sistêmico
·         Teoria da complexidade
·         Teoria de sistemas dinâmicos
·         Dinâmica de rede

Ou em outras palavras TEIA DA VIDA. De acordo com a visão sistêmica as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo são propriedades do todo, que nenhuma das suas partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre as partes. E estas propriedades são destruídas quando o sistema é dividido ou dissecado.
Como exemplo podemos falar sobre o sabor do açúcar que não está presente nos átomos (carbono, hidrogênio, oxigênio) que compõem a molécula do açúcar. Esta propriedade do sabor do açúcar só aparece quando estes átomos se relacionam.
Quando dizemos que o todo é mais que a soma de suas partes estamos afirmando também a grande interdependência das coisas para formar o todo. Vejamos o seguinte exemplo: vamos relacionar vários sistemas individuais que ao mesmo tempo em que se relacionam entre si e vão formando outros sistemas mais complexos. Desse modo, as células combinam para formar os tecidos, os tecidos para formar os órgãos e os órgãos para formar os organismos. Estes por sua vez não param de se inter-relacionar entre eles próprios e o ecossistema. Com isso concluímos que, encontramos sistemas vivos aninhados dentro de outros sistemas vivos.
Em outras palavras, a teia da vida consiste em redes dentro de redes. Em cada escala, sob estreito e minucioso exame, os nodos da rede se revelam como redes menores. Tendemos a arranjar esses sistemas, todos aninhados dentro de sistemas maiores, num sistema hierárquico colocando os maiores acima dos menores, à maneira de uma pirâmide. Mas isso é uma projeção humana. Na natureza, não há acima ou abaixo, e não há hierarquias. Há somente redes aninhadas dentro de outras redes. E com isso podemos dizer que entender ecologia é entender redes.

4º TENTANDO CLAREAR
Quando vemos uma rede de relações entre folha, ramos, galhos e tronco, chamamos de árvore. Ao desenhar a figura de uma árvore, a maioria de nós não fará as raízes. No entanto, as raízes de uma árvore são com freqüência tão importantes quanto as partes que vemos. Além disso, numa floresta, as raízes de todas as árvores estão interligadas e formam uma densa rede subterrânea na qual não há fronteiras precisas entre uma árvore e outra. Em resumo o que chamamos de árvore, depende de nossas percepções. Depende de como se diz em ciência, dos  métodos de observação e de medição. Se formos fazer uma reflexão no dito acima, veremos que normalmente as nossas percepções são incompletas, precisamos de mais teias para poder compreender melhor a realidade em que vivemos.
É muito pobre manter sistemicamente um relacionamento unilateral, devemos aumentar ao máximo nossas relações e inter-relações, pois só assim criamos uma flexibilidade e uma estabilidade duradoura. Devemos melhorar e incentivar os seguintes relacionamentos:
·        Relacionamento pessoa/pessoas
·        Relacionamento pessoa/plantas
·        Relacionamento pessoa/animais
·        Relacionamento pessoa/terra
·        Relacionamento pessoa/ecossistema

Não podemos esquecer que a ciência nunca pode nos fornecer uma compreensão completa e definitiva. Sempre o real nos esconde algo mais, outras interligações ainda despercebidas. Existe um grande entrelaçamento de sistemas vivos e não vivos ao longo de toda a biosfera plantas e rochas, animais e gases atmosféricos, microorganismos e oceanos. Outra forma de notarmos as conexões é quando entendemos que misturando água e sais minerais, vindo de baixo, com luz solar e CO², vindo de cima, as plantas verdes ligam a terra e o céu.
A natureza sempre tenta nos mostrar que tudo depende de tudo, porém culturalmente não fomos preparados para perceber estas conexões. Imagine o quanto de interligações que uma árvore pode ter e fazer. Vejamos algumas:
·        Planta/sol através da fotossíntese.
·        Planta/microorganismos através da decomposição da matéria orgânica.
·        Planta/solo a necessidade de nutrientes minerais.
·        Planta/frutos alimentação para os animais racionais e irracionais.
·        Planta/respiração através da liberação de oxigênio nas trocas metabólicas.
·        Planta/madeira para confecção de móveis e outros artefatos.
·        Planta/remédio através de princípios ativos.
·        Planta/chuva cria ambiente propício.
·        Planta/temperatura, aquecimento ameno.
·        Planta/estética, embelezamento do ambiente.
·        Planta/etc.

5º SÍNTETIZANDO
Reconectar-se a teia da vida significa construir, rever o elo existente entre os sistemas vivos e não vivos. É necessário nos reeducar, e criar comunidades sustentáveis. É satisfazer nossas necessidades, sem prejudicar as chances das gerações futuras de satisfazer também o seu.
Fritoj Capra nos alerta em seu livro Teia da vida, “Precisamos perceber que ninguém apenas existe, todos inter-existem e co-existem. Sabemos que existem muitas diferenças entre comunidades ecológicas ou ecossistemas e comunidades humanas. Nos ecossistemas não existe autopercepção, nem linguagem, nem consciência e nem cultura; portanto, neles não há justiça, nem democracia; mas também não há cobiça nem desonestidade. Não podemos aprender algo sobre valores e fraquezas humanas a partir de ecossistemas. Mas o que podemos, e devemos aprender com eles é como viver de maneira sustentável”.
Os princípios básicos da ecologia são:
1.      Interdependência
2.      Reciclagem
3.      Parceria
4.      Flexibilidade
5.      Diversidade e como conseqüência a SUSTENTABILIDADE. Siga-os.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix/Amaná Key, 1996.

CAPRA, F. C. et al. Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Editora Cultrix. 2006.


[1] Francis Bacon cientista renomado do século XVII
[2] R. D. Laing psiquiatra
[3] René Descartes cientista do século XVI

sexta-feira, julho 15

Necessidades variadas, exigem uma diversidade constante na propriedade rural


Antônio Roberto Mendes Pereira

Na agricultura de subsistência, as necessidades humanas determinam o que se vai produzir. E como nossas necessidades são sempre variadas, a produção precisa atender a esta demanda.
O ser humano é exigente na sua dieta e requer uma nutrição difícil de obter a partir de  poucos tipos de alimentos.

Os carboidratos são de mais fácil produção (macaxeira, milho, arroz, etc.). Sistemas simples conseguem facilmente atender as necessidades de uma família. Mas alimentos que dêem nutrientes mais complexos como as proteínas, podendo atender os níveis idéias de vitaminas, gorduras e sais minerais nem sempre são facilmente produzidos e atendidos em sistemas simples. Necessita-se de mais conhecimentos sobre as suas exigências para sua produção. Uma floresta em seu estado natural só consegue atender de 7 a 8% dos alimentos consumidos por nós humanos. Mas, hoje se utilizando as técnicas do sistema permacultural já se consegue introduzir vegetais cultivados nestes ambientes aumentando estes números percentuais para 60 a 70%. E Uma das grandes estratégias utilizada para se alcançar estes resultados é o correto manejo da luz solar.

Nas pequenas e médias propriedades rurais o suprimento destes alimentos mais complexos é atendido na sua maioria por uma rede de transporte, armazenamento e comercialização que transcende as porteiras de muitas propriedades, e em especial dos pequenos imóveis rurais. Às vezes estes alimentos viajam centenas de quilômetros para atender esta demanda crescente e exigente dos consumidores urbanos e rurais.


E de quanto mais distante vem este alimento, mais energia na forma de petróleo (combustível) é gasto, tornando estes alimentos caríssimos para sua aquisição. As técnicas de conservação destes alimentos também demandam grandes quantidades de insumos químicos que na sua maioria são oriundos e derivados do petróleo. Também contribuindo para os preços elevados destes produtos.

E  vale a pena salientar que só estamos dando ênfase às necessidades alimentícias, se formos explorar outras necessidades veremos que a lógica é mais ou menos essa, o ser humano não se contenta com o que tem, e quer sempre mais, e esta rede de necessidades vai sendo alimentadas por uma mídia desenfreada que prega e vende o consumismo. Imaginem que os aborígenes durante toda sua vida manipulavam mais ou menos 40 elementos, quase todos orgânicos. Já na sociedade moderna atual, o ser humano manipula durante sua vida mais de 10 mil objetos. E quase todos consumindo energia para ser produzidos e para ser utilizados.

O que fazer para que estas necessidades sejam atendidas localmente, na propriedade? Esta é a intenção deste texto, trazer idéias, estratégias e princípios que se aplicados podem minimizar esta dependência externa de compra de alimentos e outros insumos.

Não podemos esquecer que quando as necessidades de um sistema não são atendidas ou supridas dentro dele, nós pagamos o preço em consumo de energia e em poluição. Não podemos mais arcar com os custos verdadeiros de um modelo de agricultura que degrada o meio ambiente de forma arbitrária, sem nenhum sentimento ou responsabilidade pelo que se faz, pelo que gera, pelo que transforma, pelo que excreta. Este modelo está matando nosso mundo, e com certeza irá nos matar também, pois estamos e somos todos ligados, estamos numa mesma rede de relações e de vida.

A produtividade, na agricultura moderna, é usualmente medida por unidade de área plantada. Na Permacultura para qualquer espécie plantada de forma monocultural, a produção na sua maioria é quase sempre menor, quando comparada com o sistema moderno. Porém, a soma das produções onde os policultivos de sucessão permanentes são realizados, os resultados serão sempre maiores, simplesmente porque um sistema, de uma só espécie, nunca poderá usar toda a energia e os nutrientes que estão disponíveis naquele sistema. Por exemplo, um sistema de plantas de multinivéis (de alturas diferentes), usa ou tenta utilizar toda luz disponível para a fotossíntese naquele espaço, no monocultural toda essa energia não é utilizada e se perde.

Os sistemas radiculares destas plantas também por ser variados em tamanho, espessura e forma, exploram profundidade de solos diferentes, aproveitando ao máximo os minerais que estão disponíveis. Logo, numa área mista a probabilidade de uso completo e integral é maior. Um peixe que se alimenta de plâncton de modo algum vai competir com outro que tem como base alimentar as algas numa lagoa.

Logo, a primeira medida a ser seguida é praticar uma Permacultura complexa e diversa, para poder maximizar o uso de todos os recursos e energias disponíveis, e assim aumentar a produtividade local. Se tiver luz, como aproveitar melhor esta luz? Se tiver minerais como produzir ao máximo com o que se tem? Se tiver água como reaproveitar ao máximo a mesma água?

A interação entre espécies é necessária em sistemas Permaculturais. Quando bem projetada com certeza aumenta a produção e a produtividade local. Possa ser que animais e plantas não consigam coexistir totalmente sem competição, mas a simples presença de um, pode melhorar ou preparar o ambiente para o outro. Como exemplo, podemos frisar plantas altas e exigentes em sol, pode preparar o ambiente para plantas que não exigem grande quantidade de luz solar, como é o caso do café e muitas outras.

Para minimizar estas demandas sugiro a criação de um sistema evolutivo, que possa aproveitar e reaproveitar todas as energias e recursos, que possam estar presentes no ambiente da propriedade, ou vir de fora, além de criar situações onde os alimentos mais complexos possam fazer parte deste sistema de produção.

SEMPRE

SISTEMA EVOLUTIVO DE MONTAGEM PERMACULTURAL DE REUSO DE ENERGIAS.

Para que este sistema possa funcionar se faz necessário utilizar várias estratégias. Talvez o uso de uma só estratégia não se consiga alcançar os resultados na sua inteireza. Logo, é o conjunto de ações que facilitam e promovem o sucesso deste sistema.
·      
Não queimando a biomassa – Não pode perder este potencial nas propriedades. Toda esta biomassa para ser produzida necessitou retirar do solo e do ar os minerais para produzir crescimento vegetal. A decomposição desta biomassa devolve para o sistema gratuitamente parte destes minerais. Em muitos casos transfere nutrientes de camadas mais profundas, colocando a disposição nas camadas mais superficial, podendo ser alcançado pela maioria dos sistemas radiculares das plantas. O uso da cinza também devolve mineral para o solo, mas a capacidade da matéria orgânica de tornar o solo fofo, grumoso é perdida, só na decomposição desta matéria orgânica através dos microorganismos é que se alcança esta bio condição de solo (bioestrutura).

·    Aumentando a quantidade de matéria orgânica no solo por metro² - Até parece que é a mesma coisa da estratégia anterior, mas são diferentes. O primeiro nos remete a preocupação de não perder a matéria orgânica, e o segundo nos remete a preocupação de produzir e implantar estratégias de aumentar a produção de matéria orgânica, de forma que a retroalimentação do solo seja constante e com um cardápio adequado e variado.

Uma das grandes preocupações de quem pratica agroecologia é a realimentação dos solos, que estão sendo cultivados, já que os naturais, a própria natureza se encarrega de forma espontânea. Aumentar esta quantidade de matéria orgânica onde se pratica agricultura pode até parecer uma contradição, mas não podemos esquecer que ao se colher os frutos de um determinado cultivo para a venda, parte dos minerais e da água que fora utilizado para a sua produção é exportado para outros espaços. É claro que esta operacionalização irá provocar um empobrecimento do solo onde aconteceu e se praticou a agricultura.

Como diminuir estas saídas equilibrando esta prática? Sabemos também que todo ser vivo permite saídas e entradas para se manter vivo e ativo. Como fazer para que as nossas propriedades possam ter estratégias produtivas que levem em conta estes mecanismos? No texto “Transferência de fertilidade” tento trazer várias alternativas que podem resolver este problema.

·    Arrumando a distribuição das plantas em relação à posição do sol da estação – A posição das plantas em relação ao sol tem uma influência direta na fotossíntese e consequentemente no metabolismo da planta trazendo como resultado o equilíbrio de todo ciclo da planta. Ela com certeza irá cumprir todo seu ciclo produtivo e reprodutivo. O Permacultor observador tem necessidade de conhecer e ter uma relação das necessidades de cada cultivo que pretende incluir no seu agroecossistema. Tem plantas que necessitam de mais luz, outras de menos, mas com certeza todas necessitam de luz para fazer fotossíntese. Toda folha de uma planta foi projetada para fazer fotossíntese, toda ela precisa ter contato com o sol em algum momento do dia. Logo, entender e aprender o jogo de luz é uma necessidade primária. Dependendo da estação o sol pode ter uma influência maior ou menor no desenvolvimento das plantas. A altura e a inclinação do sol pode ser um diferencial no que se quer produzir.

Estude e anote estas inclinações. O aproveitamento ao máximo da energia solar deve ser um dos objetivos almejados. Esta energia  nos é dada de graça e precisa produzir biomassa ao máximo. É uma forma de armazenar toda esta energia que nos foi presenteada pelo sol através da fotossíntese. Esta biomassa é a base para fazer que toda esta matéria orgânica possa passar por todo sistema, ora sendo matéria orgânica viva, ora sendo matéria orgânica morta, ora sendo flor, ora sendo semente, ora sendo fruto. E assim passar e estar presente contribuindo de forma direta e indireta no ecossistema ou no agroecossistema.

·   Contribuindo para o aumento da fotossíntese, diminuindo as podas, desmatamento, plantando plantas de grandes portes com potencial de maior captura de carbono e de fotossíntese – O aumento da fotossíntese tem uma relação direta com energia, com captura de carbono, com mais oxigênio disponível, com mais produção, pois tenho toda uma usina de energia (folha) que consegue transformar luz em alimento, e vale apena dizer que o homem só deveria comer alimento produzido pelo sol. E podemos ainda afirmar que planta não consome minerais e sim açúcar, que é um dos resultados da fotossíntese. Precisamos fazer com que todas as folhas de uma planta consigam desempenhar seu maior papel, que é o de fazer fotossíntese.


Lembre-se que a Energia dos seres vivos é o sol transformado em alimento a serviço da vida.

·      Diminuindo a entropia – Todos os seres vivos produzem entropia, perda de energia, energia que se perde e não volta ao mesmo ser da mesma forma. Como exemplo, quando transpiramos estamos fazendo entropia, e este calor é perdido. Como diminuir esta entropia?  Já que ela acontece, como reaproveitar esta energia exalada pelos seres para outras tarefas no sistema? Para melhorar a compreensão pergunto: como aproveitar o ar quente da minha respiração, o que posso fazer com ele? Será que posso utilizar esta energia exalada para aquecer algum espaço? Imagine um espaço onde tenham muitas pessoas juntas, onde esta exalação é bem maior, o que posso fazer? Posso encarar como uma pequena usina de ar quente? Pense nisso e busque outros exemplos no dia a dia de sua propriedade.

·      Diminuindo as saídas do sistema – Produzir e consumir localmente ou equilibrando as saídas e entradas é outra alternativa que precisa ser repensada. Quanto menos compro e mais produzo para o meu consumo diminuo o gasto com energia. Evito o gasto com uma infinidade de ações que precisam ser realizadas para colher, selecionar, separar, embalar, transportar, expor e vender, quase todas estas ações pode ser minimizado a partir do momento que penso em primeiro produzir para o meu consumo. E caso seja necessário escoar o excesso ou a produção comercial posso buscar formas de fazer coletivamente, dividindo os custos com transportes com outros companheiros produtores.

·       Armazenando ao máxima as fontes de biomassa no período de maior produção (das águas) – Este tema já foi tratado mais ainda necessita de mais um complemento. O melhor momento para se produzir e armazenar biomassa é no período das chuvas, onde posso ter um maior número de plantas sendo cultivadas e também de forma natural. A natureza está me permitindo este beneficio bastando para isso fazer uma ação planejada. Com esta postura consigo fazer várias ações ao mesmo tempo:

1.      Aumento a captura de carbono;
2.      Posso ter o solo mais protegido por certo período;
3.      Aumento a capacidade de transferência de fertilidade na minha propriedade, entre outras.

·       Aumentando o consumo de alimentos crus – A partir do momento que aumento o consumo de alimentos crus, diminuo o gasto de energia para cozinhar. Vai aumentar a sobra para acontecer o armazenamento de energia que pode ser direcionada para outras atividades produtivas ou de consumo. O texto Consumo verde pode esclarecer e trazer mais subsídios para a prática desta atividade.

·         Utilizando ao máximo o principio de design de localização relativa dos elementos – Quanto mais distante um elemento do outro maior a possibilidade de haver aumento no gasto de energias. Logo a localização do elemento precisa ser vista com bastante atenção. Busque sempre aumentar as conexões entre os elementos além de aumentar as aproximações.

·     Transformando uma fonte de energia em outra(s) - Com uma fonte de Calor podemos: desidratar, ferver, aquecer, desinfetar, derreter, torrar, expurgar, etc. Esta com certeza pode ser outra estratégia para aumentar o reuso das energias.

·    Gerando tecnologias vivas - Esta é outra forma de melhorar a capacidade de reuso de energias. Várias tecnologias podem ser adaptadas e até criadas para atender a este reuso destas fontes energéticas. Como exemplo, podemos utilizar os animais como tratores biológicos dentro da propriedade, onde determinadas funções podem ser atendidas pela ação destes animais. Porcos podem arar, gansos podem capinar, galinha pode controlar alguns insetos, minhocas podem revirar o solo. Como vemos precisamos ver os animais com outros olhos, os olhos de parceiros que facilitam a vida do Permacultor.

·     Mínimo de mudança para o máximo de efeito – Este é um desafio permanente, como operacionalizar esta proposta? Quando bem pensada a nossa intervenção, podemos encontrar formas de  alcançar este objetivo. Como exemplo, para melhorar a compreensão: um ventilador numa determinada posição atende a necessidade de um elemento, apenas com a troca de lugar ou de direção ele pode atender a muito mais elementos utilizando-se a mesma energia. Dentro das propriedades durante minhas visitas percebo uma infinidade de elementos que com o mínimo poderia alcançar o máximo.


·       Aproveitar as rochas existentes no local transformando-as em farinha para aumentar o grau de disponibilidade de minerais para as plantas cultivadas. Ter rochas na propriedade é um presente da natureza e precisa ser visto como um privilégio “É ter uma fabrica de minerais para o solo a nossa disposição”, desde que possamos criar formas de desintegrar em pó estas rochas. Elas são fontes naturais e limpas de minerais para os solos. E muitas destas rochas já se conhecem suas riquezas minerais, pesquisem, perguntem. Com isto podemos também reutilizar todo este potencial minimizando a entrada de fora de minerais sintéticos.
Como podemos ver existe uma série de ações que podem fazer a diferença produtiva nas propriedades, é uma pena que a mídia não divulgue estratégias como as colocadas acima. Todas estas frisadas são tecnologias de processo que se pode fazer sem gerar gastos econômicos através de compras, unicamente necessitando decisões, planejamento e implantação.

Sabemos que toda interferência humana na natureza gera perturbação. Já que a interferência humana é necessária, como fazer para perturbar menos? Como fazer uma perturbação planejada? E não esqueça que o elemento colocado pelo homem, exemplo pés de milho, quem decide se o elemento fica ou não no sistema com toda certeza não é você é a natureza. Não tente comprar uma briga com a natureza, nesta briga sempre quem sai perdendo é o homem.

Não quero ser repetitivo em meus textos, mas se faz necessário que estas compreensões possam ser incorporadas não só no consciente, mas também no subconsciente. Uma mentira repetida permanentemente passa a ser conhecida como verdades logo precisarão repetir várias vezes a verdade para que ela seja aceita com verdade. Estamos cansados de ouvir tantas propagandas que tenta nos vender diariamente, elas são repetidas em alguns casos na TV a cada 5 a 10 minutos e nós aceitamos assistir e até divulgamos e compramos.

Estou tentando utilizar a mesma estratégia sendo até algumas vezes repetitivo em alguns trechos dos meus textos, mas é em prol de uma justa causa. Precisamos formar quadros de pessoas que façam diferentes e que sejam diferentes falando e defendendo formas de respeito ao meio ambiente, as formas de produção e estimulem um consumo muito mais consciente e saudável. Faça também parte desta luta não só lendo e divulgando. Pratique.

12 de julho de 2011

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