domingo, março 23

Dicas para criação de bovinos no sistema Permacultural - Uma visão mais ecológica da criação

Antônio Roberto Mendes Pereira

Os abusos da criação de animais estão recheados de tendências que surgem a cada dia. Cada tecnologia criada para facilitar ou apressar o crescimento da produção dos animais estão cada vez mais nos distanciando de um produto natural. A criação maciça de animais com todo um arsenal de instrumentos, instalações, rações e outros insumos facilita o processo produtivo de produtos quase que artificiais. Estes animais recebem alimentos com conservantes compostos de uma pequena quantidade de alimento natural e uma grande quantidade de remédios, vitaminas e nutrientes, todo ostensivamente destinado a proteger a saúde. Isso elimina a sobrecarga de atender a cada necessidade dos animais. O animal é eficientemente criado colocando-o num recinto estreito ou numa gaiola de tamanho suficiente para acomodá-lo, mas permitindo-lhe pouquíssimos movimentos. O objetivo é produzir o máximo possível no menor espaço, e a isto se considera uma criação moderna e tecnificada.

Ao considerar uma Permacultura como um ecossistema completo e conectado, os animais são essenciais. Seu papel no controle da vegetação e pragas, bem como no ciclo dos nutrientes, é básico. A presença dos animais nos agroecossistemas é muito importante, eles assumem serviços essenciais na sustentabilidade do ambiente. A sua ausência pode deixar o sistema mais lento nas respostas de manutenção. A reciclagem de boa parte da biomassa é assumida por algumas espécies, entre eles encontramos os bovinos. 

Através do consumo das forragens e das excreções acontece uma concentração intensa de muitos minerais essenciais ao desenvolvimento das plantas.

Este texto pretende elencar uma série de vantagens e desvantagens na criação dos bovinos nas pequenas propriedades rurais. Enunciando também as possíveis funções ambientais que esta espécie assume dentro dos ecossistemas e em especial nos agroecossistemas.

ALGUMAS DESVANTAGENS DA CRIAÇÃO DOS BOVINOS EM PEQUENAS PROPRIEDADES

· Os bovinos por serem animais domesticados e de grande porte em muitos casos nas pequenas propriedades não são muito adequados para serem criados. Vários motivos podem ir de encontro à decisão de criar estes animais. São animais exigentes em volume e na qualidade dos alimentos. São animais que por dia dependendo do porte chegam consumir 50 a 60 kg de matéria verde. E para se obter esta quantidade disponível diariamente vai exigir grandes espaços de áreas cultivadas com pasto para atender esta demanda, inviabilizando desta maneira sua criação em muitas pequenas propriedades rurais. 

Como a maioria das pequenas propriedades rurais precisa ter área suficiente que lhes permitam ter uma diversificação de alimentos, em muitos casos torna-se inviável a criação desta espécie de animal. Pois o mesmo termina por ocupar toda a área que seria repartida para várias outras espécies (animal e vegetal). Por exemplo, 01 boi equivale por 6 a 7 cabras em relação ao consumo de alimentos.

· Outra desvantagem dos bovinos quando comparados com galinhas e porcos é que exercem poucas funções nos ecossistemas cultivados.

· Por ter um grande porte bebem muita água diariamente quando comparados com outras espécies. E água quase sempre é problema nas pequenas propriedades em especial no sertão. Em algumas situações termina por competir por água até com a família.

· O investimento para a aquisição também é alto, podendo ser um limitante para a agricultura familiar.

· Na manipulação da carne depois de abatido, necessita-se de grandes equipamentos para o acondicionamento do volume total da carne.

· Depois de abatido para comercializar toda carne termina por exigir um grande número de compradores quando vendido em feiras livres.

· Exigem também instalações adequadas para a espécie. As estruturas são sempre grandes em toda sua cadeia produtiva, inclusive até para transportar morto ou vivo.

· Em época de escassez é difícil manter o rebanho nas pequenas propriedades. Os riscos e as perdas sempre são muito grandes. 

· A conversão alimentar é baixa, para se produzir 1 kg de carne necessita ingerir uns 9 kg de alimentos diversificados. Enquanto 1 galinha consome 2 kg de alimento para converter em 1 kg de carne.

· Criar estes animais no semiárido é correr risco, pois a fenomenologia do ambiente não ajuda muito na manutenção destes animais. Com relação a esta espécie, dados, não publicados, do Centro de Pesquisa Agropecuário do Trópico Semi – Árido, mostram índices anuais de 40% de parturições, taxas de mortalidade de bezerros acima de 15% e peso vivo ao abate de 330-340 kg, aos 4-5 anos de idade (GUIMARÃES FILHO e SOARES, 1992).

Logo a decisão de criar esta espécie em pequenos espaços exige muita cautela e conhecimentos.

FUNÇÃO DOS BOVINOS NO MANEJO DO AGROECOSSISTEMA CULTIVADO

Estes animais são grandes recicladores de biomassa verde e seca. Conseguem converter essa matéria em carne e leite, além de concentrar minerais durante a digestão dos alimentos, enriquecendo desta forma suas feses, que poderão ser utilizadas como adubação na fertilização dos solos. Chega produzir em média 9,0 toneladas de esterco durante o ano, quantidade esta que pode adubar 01 hectare de terra.

Os bovinos também podem assumir funções dentro do manejo das propriedades. Uma destas funções é a de força motriz, podendo ser utilizado como animais de tração e de transporte. E para que isto aconteça é necessário que estes animais sejam treinados para poder executar estas atividades.


São animais exigentes em espaço e em manejo. Dependendo da raça podem ter temperamento dócil, tranqüilo ou até ser irritadiços e agressivos. Exigindo tratadores adultos e com muita experiência para lidar com eles.

A INTENÇÃO DO CRIAR OS BOVINOS NA PROPRIEDADE?

É muito importante antes de iniciar a criação ter decidido para qual atividade econômica irá se criar os bovinos, pois a partir desta decisão é que se pode saber qual a raça ideal que atenda estas demandas. E na tomada desta decisão se faz necessário conhecer bem as características de suporte alimentar da propriedade para atender tal demanda, observando o que se possui de pasto nativo, pasto cultivado e o tamanho destas áreas. Com este procedimento pode-se evitar erros de dimensionamento de espaço e erros na escolha da aptidão da raça.

Podem-se criar os bovinos para as seguintes funções econômicas:

· Mercado – Para o mercado poderemos pensar em atender a demanda de carne, leite e seus derivados, pele ou até mesmo criar touros para servirem de reprodutor em outras propriedades, para isto necessita-se de animais muito bem selecionados para as aptidões pleiteadas pelos criadores. Algumas raças são especializadas para a produção de leite, outras para carne e também existem raças que tem aptidões mistas (carne e leite).

· Consumo familiar – Esta deveria ser a estratégia mais aceitável para as pequenas propriedades rurais. É importante também saber que criar bovinos na zona urbana é quase que impossível. Para atender a demanda da família estes animais podem criados para atender a dieta alimentar da família em leite e seus derivados (coalhada, queijo, manteiga) ganhando ainda os subprodutos como exemplo, o soro para alimentar os suínos. 

· Produtor de adubo natural – Como frisado anteriormente o esterco destes animais é muito rico em nutrientes. É um esterco muito utilizado pela maioria dos produtores rurais, inclusive alguns utilizam parte desta produção de esterco para complementar a renda familiar, vendendo para serem utilizados em cultivos os mais diversos.

Algumas pequenas propriedades assumem meramente a criação de alguns bovinos machos para a engorda, comprando os garrotes para passarem poucos meses na propriedade sendo alimentados intensamente para ganhar peso o mais rápido possível. Estes animais são adquiridos magros, em estações de escassez de alimentos e por preços baixos. Estes ao ganharem o peso esperado são rapidamente vendidos e substituídos por outros desde que a estação permita esta reposição. É uma boa alternativa para as pequenas propriedades desde que existam alimentos suficientes para atender a demanda alimentar destes animais.


As rações concentradas devem ter um lugar no sistema de alimentação: períodos em que a forragem fica pobre, para engorda e manutenção da produção de leite e carne. A tendência para dar apenas ração concentrada para um aumento rápido de peso deve ser evitada, especialmente com os animais mais jovens. Os alimentos naturalmente concentrados devem vir de dentro do sistema, isto é produzidos localmente. Um pequeno moinho facilita a absorção dos minerais através da desintegração destes alimentos.

QUE OUTROS ANIMAIS OU PLANTAS PODERIAM SER CRIADOS CONSORCIADOS COM OS BOVINOS?
Interação e Associação entre Animais ou
Mutualismo entre planta e animal

A agricultura familiar vive numa permanente busca de encontrar equilíbrios entre a produção vegetal e os criatórios com o objetivo de atender às necessidades alimentares e econômicas das famílias que optaram por esta atividade como meio produtivo. E por incrível que pareça este ajuste acontece quando se encontra o equilíbrio entre a capacidade de suporte do meio natural e o tamanho dos roçados, e dos pastos dos rebanhos.

Tal como o resto do sistema, animais são capazes de interação benéfica e simbiótica, tão quanto se associações competitivas, e também negativas. Logo a montagem de um sistema que tire vantagens destas associações vem da experiência e das observações detalhadas do comportamento destes animais e sua relação com o ambiente onde estão situados.

Nas pequenas propriedades a otimização dos espaços e das áreas precisam ser assuntos levado a sério, já que por ser pequena necessita-se saber utilizar muito bem todos os espaços que se tem. Logo a criação consorciada é uma ótima estratégia que pode facilitar a obtenção de ótimos resultados produtivos, além de melhorar o aproveitamento da biomassa. Desta forma pergunta-se que outras espécies de animais poderiam ser criadas conjuntamente com os bovinos, dividindo a área de pasto e as habitações.

A Monotonia dos elementos de paisagem precisa ser evitada. Paisagem pobre em visual de vida não ajuda na sustentabilidade do ambiente, a diversidade deve ser sempre bem vinda. Logo o consórcio, a parceria a combinação precisa ser programada para o máximo dos espaços da pequena propriedade em especial com a intenção de aumentar seus resultados produtivos e econômicos. Logo a imagem de pastagem somente com gado precisa ser repensada e para que isto aconteça deve-se iniciar por identificar as igualdades no manejo dos animais. Por exemplo, onde existe semelhança na alimentação e no manejo entre o gado e galinha, os porcos e as cabras ou outras espécies?

· Gado come capim galinha, porco e cabra também 
· Gado come guandu galinha, porco e cabra também
· Gado come milho galinha, porco e cabra também
· Gado gosta de perambular as galinhas, porcos e cabras também

Será que podemos criar gado, porcos, cabras e galinhas juntas? Se sim, como fazer? Em que momento as espécies podem estar juntas e por quanto tempo? Como fazer com os limites da área do pasto isto é as cercas? Qual a quantidade ideal entre as espécies? São todas perguntas que precisam de respostas, corra a trás, descubra as respostas. Tente implantar, comece pequeno e vá montando seu consórcio e manejo escreva as descobertas, crie um manual de como fazer.

Quanto mais pontos semelhantes mais aumentam a possibilidade destes consórcios. Que outras espécies também poderiam entrar neste consórcio, utilize a mesma lógica e vá identificando qual ou quais seriam as mais adequadas.

· Gado com ovinos
· Gado com suínos
· Gado com avestruz
· Gado com ganso, patos, perus



Existe alguma doença que acomete os bovinos que também seja transmissível para as aves ou vice e versa? Fala-se que as galinhas podem passar tuberculose para o gado, e assim para os humanos, mas em quais situações e contextos isso pode acontecer?

O SISTEMA DE CRIAÇÃO SILVIPASTORIL E SOMBREAMENTO

A união lavoura, pecuária e floresta é uma tendência moderna na agropecuária, porque busca uma produção sustentável e com menos impacto na natureza.

A sombra de árvores é considerada uma das mais eficientes para conferir conforto térmico ao gado. Em pastagens com poucas árvores, é comum observar grandes aglomerações de animais sob a copa das árvores nas horas mais quentes do dia. Mesmo o gado nelore, bem adaptado ao clima tropical, procura a sombra das árvores para fugir do calor excessivo (PARANHOS DA COSTA & CROMBERG, 1997). 

Os animais, quando protegidos do calor, podem pastar por períodos mais longos, requerem menos água (20%) para beber, apresentam melhor eficiência de conversão de forragem, maior crescimento e produção de leite, atingem a puberdade mais precocemente e promovem maior regularidade do período fértil e uma maior vida reprodutiva. Nos trópicos, a redução da insolação e da temperatura ambiente proporcionada pela sombra das árvores são os benefícios microclimáticos mais importantes para os animais. (OLIVEIRA, 2008). 


Para Altieri (2002) as árvores reduzem as oscilações de temperatura, em comparação com áreas a pleno sol, resultando em máximas mais baixas e mínimas mais altas sob as copas. Afirma também que a taxa de evaporação é reduzida devido às copas das árvores, que proporcionam temperaturas mais baixas e uma menor movimentação do ar. Comparando-se com áreas a pleno sol pode-se, também, encontrar maior umidade relativa sob as árvores. 

Os sistemas silvipastoris exploram eficientemente os recursos naturais, controlam o processo erosivo, melhoram a estrutura do solo e equilibram a atividade dos microorganismos, além de promover a formação de pastagens de melhor qualidade (CASTRO et al., 2008). 

Alguns autores afirmam que os sistemas silvipastoris diminuem os impactos ambientais negativos, próprios dos sistemas tradicionais de criação animal, por meio do favorecimento à restauração ecológica de pastagens degradadas, diversificando a produção das propriedades pecuárias, gerando produtos e lucros adicionais (OLIVEIRA, 2008). 

Nos sistemas de produção, da zona semi-árida brasileira, a disponibilidade de sombra na sua forma natural é um dos grandes problemas ainda encontrados. Apesar de diversos trabalhos contemplarem os benefícios do uso de espécies como as leguminosas arbóreas, por exemplo, em solos tropicais, pode-se dizer que ainda são escassos os trabalhos, de longa duração, que demonstrem as interações dos diferentes componentes do sistema silvipastoril e, principalmente, os benefícios econômicos dessas interações, há carência de informações com relação às espécies arbóreas a serem recomendadas para fornecer sombra de qualidade (BALIERO et al., 2008). 

A FORMA PERMACULTURAL DE ALIMENTAR ESTES ANIMAIS

Os animais não devem ser introduzidos numa Permacultura durante o início do período de estabelecimento ou montagem. A situação de campo aberto permite que o animal escolha sempre a sua comida. Os animais soltos alimentando-se por si mesmos é o modo básico de alimentação para todas as espécies animais nos sistemas Permaculturais. Os animais ganham peso lentamente, mas a acumulação de gordura é menor, e a gordura é macia, insaturada, quando comparada a animais que se alimentam de concentrados em confinamento. Numa Permacultura, os alimentos no campo incluem pastagens e plantas aquáticas, folhagens de árvores e arbustos, raízes, tubérculos e rizomas, castanhas, sementes e vagens, frutos e frutas. A organização de um sistema de auto-alimentação para os bovinos necessita de alguns conhecimentos básicos.

Se a ideia é criar estes animais precisamos verificar antecipadamente se existe uma boa capacidade de suporte de pasto nativo e cultivado na propriedade. No nordeste do Brasil, para atender ao consumo diário de um boi, são necessário como média de 2 a 3 hectares de parto nativo e se for cultivado 1 a 2 hectares. A produção média anual da vegetação da Caatinga situa-se em torno de 4,0 t de MS/hectare. A biomassa produzida aumenta a partir do início das chuvas em janeiro, chegando ao máximo em junho e julho com a média de quase 4000 kg/ha, reduzindo-se até menos de 2.000 kg/ha ao final da estação seca.

Não podemos esquecer que são animais herbívoros estão no segundo nível de alimentação da teia alimentar, trazendo também vantagens quando comparados com animais carnívoros ou até onívoros. Os bovinos aceitam bem a alimentação com capins, porém são animais que gostam de alimentação verde bastante variada durante as estações do ano.

ESTENDENDO O CICLO DE PRODUÇÃO FORRAGEIRA

· Manejo regenerativo da pastagem natural – Esta prática acontece quando subdividimos os pastos nativos em pequenas áreas e da implantação de rotação destas áreas de pastejo. Os animais passam pequenos períodos nestes pastos não permitindo que haja um super pastejo que possa comprometer o rebrotamento do mesmo. 

· Estabelecimentos de capineiras – Cultivos de capins como o elefante, sorgo e até gramão em áreas próximas a barragens ou qualquer outra área que possa garantir uma fonte de água para irrigação destas capineiras. Estas áreas precisam receber a cada corte uma reposição dos nutrientes através de adubação com estercos oriundos dos estábulos. Uma boa alternativa é o plantio em áreas de barragem subterrânea.


· Uso de cercas vivas – as divisões internas dos subsistemas devem ter uma bordadura feita com cercas vivas utilizando-se para isto o plantio de plantas tanto exóticas como nativas que garantam uma produção de biomassa para corte para a alimentação dos animais.

· Enriquecimento e reserva de uma capoeira – Esta estratégia contribuirá como uma área de salvamento caso aconteça períodos de escassez de forragens. Este enriquecimento também pode ser feito com plantas exóticas de alta resistência a seca, como exemplo leucaena (leucena), feijão brabo, etc.


· Reservas estratégicas de forragem – Esta reserva também assume o papel de socorro para períodos de estiagens prolongadas. As culturas sugeridas para estas áreas é a palma forrageira, o mandacaru sem espinho consorciado também com plantas nativas, aumentando a diversidade na oferta de alimento. Dê preferência por plantas nativas muito resistentes a seca.

· Implantação de um banco de proteína – Esta área pode ser constituída de Gliricídia. Depois de estabelecida esta área os animais podem passar determinados momentos do dia para complementar sua dieta principalmente em proteínas.

· Cultivos de espécies forrageiras associadas aos roçados – Dentre estas sugerimos o plantio de melancia forrageira (Citrullus lanatus cv. Citroides.)





TÉCNICAS DE APROVEITAMENTO DA BIOMASSA FORRAGEIRA PRODUZIDA

Várias são as técnicas que podem ser utilizadas para armazenamento de forragens para o uso em épocas de escassez. 

FENAÇÃO DE PLANTAS NATIVAS – Devem ser fenadas plantas que cresçam espontaneamente durante a estação das chuvas. Este momento é muito rico e precisa ser aproveitado ao máximo este crescimento.



Dicas para ajudar na preparação do feno

Para saber o ponto certo do feno, corte em pedaços pequenos um pouco do material que você fenou, coloque dento de um vidro de boca grande (pode ser de café solúvel ou de maionese) juntamente com sal. Em seguida agite o vidro e coloque de cabeça para baixo. Se o sal ficar preso nas paredes do vidro ainda não está no ponto ideal, pois isto indica que o material ainda tem certa quantidade de água (umidade). Se a forragem sair toda do recipiente é sinal que ela está no “ponto de feno”.

Não corte as plantas em dia nublado, pois vai aumentar o tempo de secagem. Quanto menor o tempo de secagem, menor a perda do valor nutritivo do feno.

SILAGEM – É chamada silagem a forragem verde, suculenta, conservada por meio de um processo de fermentação anaeróbica. As silagens são guardadas em silos. Chama-se ensilagem o processo de cortar a forragem, colocá-la no silo, compactá-la e protegê-la com a vedação do silo para que haja a fermentação. 

Quando bem feita, o valor nutritivo da silagem é semelhante ao da forragem verde. A ensilagem não melhora a qualidade das forragens, apenas conserva a qualidade original. Portanto, uma silagem feita a partir de uma lavoura ou capineira bem manejada vai ser bem melhor que uma silagem feita com uma cultura ou capineira "passada" ou mal cuidada. 



HIDROPONIA DE MILHO – É um jeito simples, rápido, fácil e barato de produzir forragem verde de qualidade para alimentar bovino e outros animais. É um alimento estratégico, que pode ser feito em épocas e lugares de grande dificuldade para produzir outras forragens para os bovinos.

Produz em 15 dias, 30 kg de forragem verde por metro², utilizando somente 2 kg e meio de grãos de milho.

O QUE É PRECISO PARA FAZER 150 KG DE FORRAGEM HIDROPÔNICA DE MILHO

1. 12 kg e meio de grãos de milho de boa qualidade.

2. Água de boa qualidade para preparar a solução nutritiva.

3. Um canteiro de 5 metros de comprimento pro 1 metro de largura, forrado com lona plástica e protegido nos lados com tijolo ou madeira.

4. Em cima da lona plástica, colocar uma camada de 2 centímetros de altura de material seco, cortado em pequenos pedaços (capim, palha de cana ou bagaço de cana).

5. Deixar de molho os grãos de milho durante 48 horas.

6. Molhar com água o material seco, colocado sobre a lona plástica dentro do canteiro.

7. Colocar os grãos de milho depois de 48 horas, cobrindo com mais uma camada de 3 centímetros do material seco, que será também molhado.

8. Regar o Canteiro no primeiro dia só com água.

9. A partir da germinação dos grãos de milho, regar 3 a 4 vezes ao dia, usando a solução nutritiva.

10. Quando completar 15 dias, a forragem estará pronta para ser dada aos animais, pois a mesma estará com uma altura aproximada de 40 centímetros.

11. Antes de fornecer a forragem aos animais, fazer uma lavagem nas raízes, para retirar o excesso de sal que ficou da solução nutritiva.

12. Um bovino adulto pode comer até 30 kg por dia da forragem.


O QUE FAZER QUANDO AS RAÇÕES E CONCENTRADOS SÃO MUITO CAROS?

Muitos criadores não conseguem tornar economicamente viáveis as suas explorações pecuárias pelo fato de alimentar os seus animais com grandes quantidades de rações e concentrados industriais. Devido ao alto preço, este procedimento encarece muitas vezes desnecessariamente os custos de produção. Os agricultores poderiam reduzir os custos de alimentação de seus animais, se estivessem sensibilizados sobre a importância de algumas medidas mencionadas a seguir:

· Melhorar suas pastagens – através da introdução de gramíneas mais produtivas e nutritivas e sua associação com forrageiras leguminosas, manejando-as adequadamente para que produzam forragem em maior quantidade e de melhor qualidade. A base da alimentação dos poligástricos deveria se constituída por pastagens para reduzir os custos e para que eles não compitam com os seres humanos e com animais monogástricos. Para poligástrico, as rações e concentrados de origem industrial deveria apenas ser um complemento caso fosse necessário.

· Armazenar os excedentes em épocas de abundância – silagem e feno são técnicas de armazenamento essenciais nas pequenas propriedades que se dedicam a criação de poligástricos.

· Usar antiparasitários – para que sejamos animais e não os parasitos os que consomem os nutrientes das forragens e rações.

· Elaborar suas próprias rações – a partir de matérias primas que produzem ou que poderiam produzir em suas propriedades. 

ALGUMAS NECESSIDADES BÁSICAS DOS BOVINOS

· Área de pasto, de preferência que eles possam perambular livres para encontrar e montar sua dieta diária sem muita dificuldade.

· Alimentação diversificada, pois normalmente associam-se sempre os bovinos unicamente ao consumo de capim, galinhas a milho e porcos a lavagem, coelhos a cenoura. Precisamos saber que estes animais preferem uma alimentação diversificada diariamente. Nesta alimentação deve fazer parte as leguminosas, que são alimentos ricos em proteínas, enriquecendo o balanceamento da ração diária.

· São animais que gostam estar em grupos. Tem comportamentos de viver coletivamente com sua espécie. Este comportamento ajuda na sua defesa contra os predadores selvagens, diminuindo os riscos.


· Necessitam reproduzir-se para garantir a perpetuação da sua espécie. Logo, precisa-se de fêmeas ou machos dependendo da aptidão da criação. Porém sempre é mais barato incluir o macho para o melhoramento genético, além de outras vantagens.

· Adoram nas horas mais quentes do dia estar em uma boa sombra para descansar e fazer a ruminação, que quer dizer, remoer os alimentos que voltam do estômago à boca, ou seja, tornar a mastigar. E não podemos esquecer que nenhum animal deveria caminhar mais de 400 metros em qualquer direção para encontrar sombra e um pouco menos para ter acesso a uma fonte de água limpa para consumo. Os bovinos e ovinos normalmente dividem suas atividades em períodos alternados de pastejo, ruminação e descanso (ócio), destinando, em média, cerca de um terço do dia ou 8 horas para cada atividade (SILVA, 2006). E, estas têm sido as variáveis comportamentais mais estudadas, aliado a procura por água e sombra.

Os bovinos, dependendo da raça e do nível de produção, possuem uma zona térmica considerada ótima para seu desenvolvimento (zona de conforto). Para as raças leiteiras, a zona de conforto representa uma variação da temperatura ambiente entre 10 e 20 0C, na qual a temperatura do corpo mantém-se constante (homeotermia), com o mínimo de esforço do sistema termorregulador. O animal sente-se confortável e obtém eficiência máxima de produção e reprodução (PIRES et al., 1997). 

· Como todos os animais os bovinos também gostam de água potável e fresca, em grande quantidade, disponível permanentemente. Muitos bebedouros espalhados são melhor que um único grande.

· Habitação – Deve ser facilmente acessível, cômoda e que proteja bem das intempéries e que facilite a manipulação.

· Controle de parasitas – A maioria dos animais sofre com ataques de parasitas. Para quebrar o ciclo de consumo e excreção de vermes e ovos, as áreas de ocupação dos animais devem ser descansadas, isto é passar por descanso através da rotação de uso do pasto.

· Os animais precisam encontrar nos alimentos sais minerais, caso haja carência se faz necessário oferecer estes sais em saleiros distribuídos nos locais onde estes animais passam a maior parte do dia.


RAÇAS MAIS INDICADAS PARA A CRIAÇÃO EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS

Você pode usar a imaginação para escolher os animais e as raças que vai manter. Além da produção óbvia como carne e leite, os animais podem ser escolhidos para proverem controle de ervas invasoras, e produção de fertilizantes (esterco), e trabalho quando treinados.

As raças mais indicadas deve ser as que tenham um pequeno porte, pois todas suas necessidades são menores quando comparadas com as raças de grande porte. O consumo de alimento e água faz a diferença, outro detalhe que precisa ser levado em conta é a taxa de conversão alimentar, isto é, a capacidade de transformar alimento em carne e leite.

Dentro das aptidões existem raças mais adequadas do que outras. Lembre-se o ambiente natural influenciará na escolha dos animais. Animais de cascos duros irão compactar solos argilosos. Se você necessita destes animais, selecione uma raça de pequeno porte e utilize uma taxa de ocupação baixa.


Lembrem-se tudo começa por se ter animais que realmente sejam adequados ao ambiente e a finalidade desejada. Se você quer ser produtor de leite, tem que criar animais mais recomendados para esta aptidão.

As raças de vacas que mais produzem leite são as raças de origem europeias, como a holandesa, a Jersey e a Parda-Suiça. O problema é que essas raças não se adaptam bem ao clima do nordeste do Brasil, em decorrência do calor e das poucas chuvas. Além disso, essas raças são também muito exigentes em sua alimentação, necessitando de pastagens que devem ser complementadas com rações balanceadas. Outro problema é que o gado dessas raças é muito mais sensível aos parasitas, tais como carrapatos.

Já as raças do tipo zebu, como a Gir, Guzerá e Sindi, adaptam-se melhor às condições do Nordeste, mas produzem menos leite que as europeias. Sendo assim, surge a seguinte dúvida: se as raças europeias produzem mais leite, mas não se adaptam ao clima do Nordeste e as raças do tipo zebu, que se desenvolvem bem no Semiárido, não produzem tanto leite, qual a solução?

Nesse caso, sugere-se a criação de vacas mestiças de gado europeu com zebu. Essas vacas produzem mais leite do que as do tipo zebu e são mais resistentes do que as europeias. Quanto mais sangue da raça européia tiver a vaca, mais leite produzirá, porém exigirá maiores cuidados, mais pastagens e rações.

As vacas mestiças irão ser muito mais adequadas ao ambiente e com certeza poderão responder bem melhor ao manejo com as forragens disponíveis no ambiente de forma natural e cultivada. lembre-se toda vez que se aumenta o grau de sangue europeu as exigências de alimentação, sanidade, reprodução e habitação vão também aumentando, busque sempre uma média que corresponda com a disponibilidade real, minimizando comprar produtos para manter o rebanho produtivo. Tente ao máximo produzir os produtos necessários para manter o plantel bem nutrido durante todo o ano e em especial no período do verão, onde as condições climáticas são adversas.



Como construir uma habitação que atenda a ambas as espécies ou até a outras. Visitando uma pequena propriedade no México, conheci uma habitação coletiva onde o mesmo espaço coberto era dividido entre vacas, cabras, porcos e galinhas. A planta baixa deste estábulo coletivo era o seguinte:


Esta proposta de planta baixa é a parte coberta, cada baia deve ter acesso a uma área solário com pasto nativo ou cultivado.

A LOCALIZAÇÃO MAIS ADEQUADA PARA AS HABITAÇÕES DOS BOVINOS

Um dos princípios da Permacultura é “Localização Relativa”, este reza que o local ideal para um elemento é aquele onde faz o máximo de conexões com outros elementos do sistema. Logo, quanto mais conexões mais bem localizado ele estará. Outro detalhe deste princípio é que quanto mais bem localizado ele está, menos energia se gasta para manter o mesmo produtivo.

Diminua as distâncias entre os elementos, pois a perda de tempo e energia aumentam consideravelmente. Exemplo:

Se o estábulo estiver a 100 metros da capineira e você tenha que ir 02 vezes tirar capim para ministrar aos animais por dia caminha-se 400 metros, vezes uma semana 2.800 metros, por mês 11.200 metros e anualmente 134.400 metros simplesmente para alimentar com capim da capineira. Lembre-se que esta não é a única atividade ligada aos animais durante um dia, logo estas distancias irão ser muito maiores serão muitos km durante o ano para manejar com estes animais e as outras atividades?

Agora perguntamos onde será o melhor local para a construção do estábulo para uma única espécie ou para um coletivo? Busque localizar levando em conta os seguintes aspectos:

· Acesso a fonte de água fresca e limpa
· O mais próximo dos ambientes de pastagem
· De fácil acesso para veículos 
· Local de fácil proteção contra roubos
· Que facilite o saneamento dos efluentes

Este texto não tem a intenção de ser uma cartilha ou um manual sobre criações de bovinos, a intenção é trazer alguns detalhes que se utilizados na criação destes animais estaremos criando menos impacto ambiental. Com certeza a criação mais natural dos animais é a forma mais coerente de criar sem muita coerção. Os animais são perfeitamente capazes de nascer e viver na natureza. Precisamos estar cientes deste detalhe e contribuir nesta forma de viver em harmonia com a natureza. A natureza agradecerá muito, pois os animais na natureza não destroem indiscriminadamente qualquer coisa que não esteja relacionada com o que eles comem.

O como vive os bovinos é mais importante do que saber o que ela gosta de comer, o que lhe faz crescer mais rápido ou o que lhe permite produzir mais. É necessário mais do que comida para sustentar a vida. Preste mais atenção como os animais vivem e não unicamente o que eles comem. O problema de subsistência não é resolvido apenas por alimentos. Muitos outros fatores se relacionam com a vida: clima, tempo, ambiente de vida, exercícios, sono, e muito mais. Não restrinja, crie condições para a liberdade monitorada destes animais.

Lembre-se “Atualmente podem-se criar dezenas e centenas de cabeças eficientemente com produções técnicas maciças. Mas, é o capital, não o homem, que cria os animais hoje. A maioria das criações não é domínio mais do agricultor, mas das empresas que criam animais em operações industriais de larga escala.” (FUKUOKA, 1995). 

Repense esta forma de criar os animais e adote o máximo de medidas ecológicas na criação destes animais.


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