quarta-feira, maio 1

Eficiência gerencial e operacional da pequena propriedade rural através do uso da escala humana - O que juntos somos capazes de fazer e produzir

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Saber utilizar bem o tempo e a energia da família na gerência e operacionalização produtiva da propriedade é de fundamental importância, pois sem este conhecimento organizacional desperdiçaremos grande quantidade de energia e tempo no alcance dos rendimentos produtivos necessários para a manutenção da família. 




Conceituando escala humana – Diferente do conceito utilizado pela arquitetura e pelas artes, baseada no corpo humano. A escala humana aqui tratada: É a quantidade de trabalho que um ser humano é capaz de desenvolver normalmente durante um dia, usando a racionalidade do tempo e das energias necessárias para manter de forma produtiva a atividade sobre sua responsabilidade. 

Não podemos esquecer que a Permacultura é um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. 

A Permacultura, além de ser um método para planejar sistemas de escala humana, proporciona uma forma sistêmica de se visualizar o mundo e as correlações entre todos os seus componentes. Serve, portanto, como meta-modelo para a prática da visão sistêmica, podendo ser aplicada em todas as situações necessárias, desde como estruturar o habitat humano até como resolver questões complexas do mundo empresarial. 

Permacultura é a utilização de uma forma sistêmica de pensar e conceber princípios ecológicos que podem ser usados para projetar, criar, gerir e melhorar todos os esforços realizados por indivíduos, famílias e comunidades no sentido de um futuro sustentável. 

Conhecer o que se precisa fazer, onde vai ser feito e quantas pessoas são necessárias, pode fazer a diferença em qualquer planejamento. Quem sabe se este não é o segredo para a garantia do sucesso produtivo das atividades que a família desenvolve ou vai desenvolver na propriedade. 

O tamanho das propriedades não deveria ser um problema a ser enfrentado, talvez o problema devesse ser o tamanho real da área que vai ou já é trabalhada pela família. A determinação de forma precisa da quantidade de área que se vai utilizar é necessário saber com bastante antecedência. E para este cálculo é necessário conhecer as necessidades reais na dieta alimentar da família e da sua produção para o mercado. Estas informações são imperiosas para poder se fazer os cálculos necessários de cada atividade que precisa ser trabalhada. 

Porém, a primeira energia a ser trabalhada é a força de vontade para querer fazer e o gostar do que vai ser necessário fazer. Identificar em que cada componente da família a aptidão e o jeito para ser responsável pela atividade é um dos primeiros componentes para este planejamento. A idade também tem uma grande influência na gerência das atividades que lhe for entregue para a operacionalização. 

OUTRAS VARIÁVEIS QUE FAZEM A DIFERENÇA PARA O EQUILÍBRIO DO SISTEMA 

· A assembléia dos elementos – A família precisa elencar o que irá fazer parte da propriedade no campo produtivo, e a partir destas escolhas, criam-se as conexões necessárias para que todos os elementos possam se ajudar mutuamente. O desperdício ou resíduo de um deve ser alimento ou insumo para a vida, produção ou manutenção de outro (s). 

A estrutura deve formar uma teia de relações onde tudo tem uso e não se cria lixo ou desperdício. Se o sistema que está sendo montado possuir desperdício ou sobras sem conexão com outros elementos, este vai gerar lixo e conseqüentemente poluição. Algo precisa ser feito para reconectar este desperdício a outro elemento do sistema. Reposicione este elemento para que isso não venha ocorrer. 


Na imagem acima, pense como conectar todos os elementos que compõe esta propriedade. O que fazer para aumentar as relações entre os elementos com a intenção de diminuir gastos de tempo, energia e até recursos econômicos? 

Representação gráfica de teias de relações entre vários elementos 

· O Zoneamento e o seu dimensionamento – O gasto com energia para a prática da Permacultura sempre é uma preocupação permanente, buscar formas de se produzir o necessário com menos tempo e recursos é a pretensão que se pretende alcançar. E para que isto possa acontecer a Permacultura divide a propriedade em Zonas de intervenção, onde o que limita uma Zona da outra é a intensidade de uso dos elementos que irão compor este zoneamento. Logo, um elemento que recebe muitas visitas ou intervenções durante o dia, deve está o mais próximo possível da casa. Esta estratégia otimiza e aperfeiçoa o uso do tempo disponível, o uso de mão de obra e conseqüentemente reduz o gasto com energia para manter o elemento ativo e produtivo. 

A Permacultura trabalha com 06 Zonas de intervenção (Zona 0, 1, 2, 3, 4 e 5). Leia texto neste blog “Reduzindo a ocupação do solo”. 

O tamanho de cada Zona vai depender do número de pessoas que compõe a família e das suas necessidades produtivas para o consumo familiar e para atender as possíveis saídas vendas para o mercado, além de se ter duas zonas preocupadas na preservação e manutenção da paisagem natural da região. Devido a intensidade de uso de cada Zona a quantidade de vida conectada também é grande e está sempre sendo projetada para que este número aumente, melhorando e intensificando a biodiversidade do agroecossistema. Aumenta-se o número sem aumentar trabalho para a família, a estratégia são as conexões. Insista na procura das conexões, das relações entre os elementos, este é um dos grandes papéis da Permacultura, aumentar as conexões, criando novos designs de arrumação. 

Aumentar as relações entre os elementos garante a sustentabilidade do ambiente, além de aumentar as fontes de equilíbrio e segurança no âmbito alimentar, energético, hídrico e de nutrientes, de forma diversificada. 


· Os percursos lógicos das atividades diárias – Por onde início a execução das minhas obrigações? Qual logística que devo utilizar no percurso para a operacionalização da atividade? Estas respostas nos ajudam a montar uma estratégia para minimizar o gasto de tempo e energia, melhorando a eficiência e a eficácia do trabalho diário. 

Muitas vezes para executar nossas tarefas diárias andamos demasiadamente e por vezes não conseguimos executar todas as obrigações. Muitos desses casos estão ligados ao mau planejamento das nossas ações. Temos sempre que otimizar nossa passagem pelo itinerário ou percurso escolhido, ir fazendo algumas tarefas, voltar fazendo outras e até recolhendo o que for necessário trazer para a casa. É preciso decidir entre as coisas que vão ser feitas, quais as mais necessárias e urgentes executando-as primeiro, levando sempre em conta as distâncias e os trajetos que precisam ser feitos, para não ficar andando aleatoriamente. 



· O horário para a efetuação do manejo diário - O sol e o calor são desconfortos que podem atrapalhar desencadeando um fazer mal feito. Sempre procure as horas mais amenas do dia para realizar as tarefas. Diminua sua exposição ao sol. Outra estratégia é ter sempre áreas de sombra intercaladas nos acessos a todas as áreas de intervenção. Evite grandes espaços sem áreas de sombra. A eficiência também está ligada ao conforto térmico na execução das tarefas diárias. Até os animais buscam refúgios para escapar do excesso de luz e calor durante os dias quentes. 


· Priorização do que deve ser feito primeiro, depois e assim sucessivamente. Incluir neste planejamento também as atividades da ORNA, ERNA (Ocupação Rural Não Agrícola e Empreendimento Rural Não Agrícola) entre outras como o tempo da escola, do lazer e do descanso. 

· O uso das máquinas e equipamentos – Muitos produtores aderem a aquisição de máquinas para minimizar o uso de mão de obra e otimizar o tempo no manejo dos cultivos. Porém, muitas vezes o uso de maquinaria não compensa o uso e o custo benefício da mesma. Em muitas situações o uso da energia aplicada para seu funcionamento e operacionalização não compensa na produção da energia resgatada. Atualmente para no sistema moderno de produção gastasse 5 a 8 KCAL para produzir 1 KCAL, onde está a lógica racional deste modelo de produção? 

Logo se faz necessário conhecer como utilizar estas máquinas na racionalidade energética, econômica e principalmente na ambiental. 



· Use mais os recursos biológicos – Outra grande estratégia é saber utilizar os recursos biológicos para realizar uma série de trabalhos na propriedade. Muitos animais são considerados tratores vivos, como por exemplo: o porco, as galinhas as minhocas entre outros. Tarefas como revirar a terra, controlar insetos, controlar ervas, anunciar o amanhecer do dia, coalhar leite, decompor matéria orgânica, cobrir o solo, repelentes naturais, entre outros são funções que os animais e microrganismos podem desenvolver e produzir no agroecossistema, precisando apenas para isso que se criem as condições necessárias. Dê condição para que a natureza possa contribuir de forma exclusiva na realização das tarefas diárias que precisam acontecer, aceite a parceria. Inicie com pequenas tarefas e vá aumentando estas combinações. 

· Saber os resultados que se pode e deve alcançar – Uma das melhores coisas para execução de qualquer tarefa é saber com muita precisão o que se quer? Como se quer? Quantidade do que se quer? E onde se quer? Com estas informações podemos fazer o levantamento de todo material necessário, o tempo que vai ser necessário para a execução e a quantidade de mão de obra que se vai precisar. Com isto podemos ser eficientes e eficazes no que se quer operacionalizar. Os resultados a ser alcançados estão diretamente ligados as respostas destes questionamentos. 

· Repensem suas necessidades - Diminua seu consumo, adéqüe-se a uma dieta o mais local e natural possível. Importar insumos e alimentos de fora da sua propriedade normalmente gera gastos com energia, tempo e dinheiro. Atualmente o cardápio alimentar humano está cada vez mais centrado em alimentos beneficiados e muito deles com certeza viajam muito para chegar até sua mesa. Ir comprar estes alimentos exige da família tempo e energia, muitos agricultores viajam horas para chegar a estes mercados, onerando ainda mais o valor destes produtos. Uma dieta adequada e que leve em conta o ambiente que se tem, é imperativo. Comer o que se produz o mais perto possível da casa é a lógica para uma economia e equilíbrio local, seja um PROSSUMIDOR (produtor e consumidor). Tornar-se auto-suficiente em alguns insumos alimentares é uma boa decisão para tornar a propriedade mais sustentável. A racionalidade na produção de alimentos para a família é uma grande estratégia para se produzir apenas o necessário deixando o restante da área para que a natureza possa decidir o quer inovar, acrescentar e até repovoar em termos de biodiversidade. 

· O mutirão – É outra grande estratégia para melhorar a eficiência do trabalho que ser quer fazer. Aumentar a participação de mais pessoas na execução de um trabalho diminui tempo além de ficar menos pesado e cansativo para a maioria. Esta estratégia já é muito utilizada por várias comunidades rurais, e alcançam ótimos resultados, além de aumentar e fortalecer as relações da comunidade e entre as famílias. 


Faça mais calo na cabeça do que nas mãos. Essa é a maior mensagem deste texto. Faça sua parte e deixe que a natureza faça a dela. Aumente as: 

· Combinações 
· Conexões 
· Parcerias 
· Interdependência 

O uso destas estratégias irá proporcionar que as pessoas trabalhem menos, façam o necessário, de forma rápida e eficiente, sobrando tempo para apreciar a natureza.


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