quinta-feira, janeiro 27

Sistemas Produtivos de pequena escala

ZONA 01
JARDINS COMESTÍVEIS
 Permanência de produtividade intensiva

Antônio Roberto Mendes Pereira

O mundo atual nos remete permanentemente ao stress. Em todos os espaços o tempo para relaxar é esporádico e limitado. É só nos finais de semanas ou nas férias que alguns conseguem um tempo para relaxar, descansar, parar para ver as coisas, para apreciar a natureza. Muitas tecnologias são criadas para sobrar tempo, levando as pessoas ao fazer rápido, para comer rápido, para dormir rápido, para pensar rápido. O fast (rápido) tomou e vem tomando a cada dia o lugar do slow (lento). Em muitas famílias não se tem nem tempo para cuidar dos filhos, se entrega a tarefa do educar para outro que às vezes nem é da família, em prol do ter, do ganhar, e o educar para SER é negligenciado. O produzir é trocado pelo comprar, e cada vez mais estamos nos tornando e montando espaços antinaturais. Chega-se ao ponto que a beleza natural é trocada pela artificial, como exemplo: troca-se um vaso com uma planta natural viva por uma de plástico morta, estática. O saber cuidar como diz Leonardo Boff (1999) esta cada vez mais esquecido, se paga alguém para cuidar. E toda esta sensibilidade vai sendo perdida, sem o toque, sem o cheirar, sem o provar, as emoções duradouras são trocadas por momentos rápidos, instantâneos, (sentisse? Não, já passou).

Como vemos o caminho que vem sendo seguido esta na rota errada,  estamos nos afastando de tudo que é natural e normal, Fukuoka (1995). Como ter tempo novamente para apreciar, para ver com detalhe, olhar as entranhas. O que fazer para poder criar espaços para que todas estas sensações e emoções possam voltar a acontecer?

A prática da Permacultura (1991) tenta nos colocar novamente na rota certa. Voltar a ser natural em um mundo que caminha para o antinatural é a pretensão desta forma de ver, de fazer, de sentir, de observar enfim de viver de forma mais simples e natural. Precisamos rever nossos comportamentos, hábitos e retro a justar, ou melhor, nos ECOLOGIZAR[1]. E para isto precisamos nos eco alfabetizar e a Permacultura é a operacionalização destas aprendizagens. É o por em prática, é o agir ambientalmente correto. A permacultura nos remete ao olhar com os olhos de ver. Ver a vida como diz a série do Fantástico “Ver á vida como você nunca viu”. No texto anterior que escrevi falei da necessidade de retro ajustar a nossa casa, independentemente de onde moramos, se no campo ou na cidade. Neste novo texto vou tentar sair de dentro de casa e ir observar e sugerir o que fazer no entorno desta casa.

A Permacultura pode nos ajudar a repensar e a planejar este espaço com a mesma preocupação da Zona zero em reduzir as necessidades de energia e água. Estas diretrizes precisam estar presentes no entorno da casa, que na Permacultura é chamada de Zona 01.

O entorno desta casa no nordeste do Brasil em especifico nas áreas rurais do sertão e agreste de Pernambuco é conhecido como o terreiro. Este terreiro normalmente é espaço feminino, onde quem decide o que vai se criar e se plantar é a mulher a dona da casa. São raras as vezes que este espaço é ocupado por outros elementos que não sejam os destacados a baixo:

  • ·     A criação das galinhas é que normalmente predomina neste espaço. A galinha de capoeira criada solta no terreiro é a garantia do reaproveitamento, dos desperdícios e das sobras alimentares da família, além de defender, espantar e proteger o terreiro contra alguns animais (cobras) e insetos (formigas, escorpiões, baratas entre outros). Consome praticamente a água que escorre da pia, não criando grandes tarefas para gerir o criatório. São altamente resistentes. Os animais se criam e não são criados praticamente. Vivem perambulando por toda área. Recebem vez por outra alguns punhados de milho como complemento alimentar. Estes animais garantem o ovo e carne, além de gerar progenitores para dar continuidade à criação. E pode ser manejado pelas crianças. Para consumir sua carne os agricultores predem a galinha durante certo tempo, alegam que é para limpar a carne.

    • ·         As hortaliças ou as verduras como são chamadas por aqui também compõe este espaço em muitos terreiros, e por conta das galinhas criadas soltas são produzidas em palanque (espécie de caixote com pés cumpridos de madeira, com certo volume de terra onde são plantadas as verduras no alto, dificultando o acesso as galinhas. Esta técnica facilita o manejo, além de reduzir o gasto com água na irrigação além de ser fácil a sua manutenção. Ou de outra forma são plantadas em bacias ou até depósitos feitos com pneus de caminhão colocadas em um local alto que não dê acesso as galinhas ou a outros animais.


      Horta Palanque
      • A ornamentação do terreiro, muitas donas de casa tem este hábito de enfeitar o entorno da casa principalmente à frente com plantas ornamentais. Forma de demonstrar que é uma boa dona de casa e que sabe gerenciar muito bem o espaço e o tempo que tem.
      • O terreiro também é o laboratório para testar a novidade, de experimentar plantas novas, exóticas estranhas àquele ambiente. É plantado próximo da casa porque facilita a observação. É um espaço dedicado a pesquisa só que de nível mais simples.

      A imagem acima mostram a Zona 01 e sua diversidade, inclusive detalhe do pátio solar e algumas tecnologias. (Serta Ibimirim). 

      • A base intencional de todo o trabalho é a busca por 04 seguranças: a segurança alimentar, a hídrica, a energética e a de nutrientes. E o principal elemento para que possamos ter estas seguranças é o solo. A transformação de um material inerte, sem vida em um ser vivo e potencialmente produtivo é uma das metas a ser atingida e aprendida. Não podemos esquecer que para se produzir alimento de qualidade e em quantidade, precisa-se ter um solo equilibrado e sadio, com boa estrutura física, química e biológica. Observe como a natureza realiza esta proeza, ela sempre esta construindo solos. Ela transforma um solo pobre desprotegido em um solo que tudo tem e de forma equilibrado, nem muito nem pouco, na necessidade certa.
      • A ocupação deste espaço do entorno da casa (terreiro, quintal, muro) pode se iniciar da seguinte maneira: Inicie seu planejamento operativo em pequenos espaços e vá aumentando lentamente, levando em consideração a sua aprendizagem e domínio do que esta fazendo e ocupando. Este domínio passa pela observação e descoberta das necessidades dos elementos vivos que estão sendo introduzidos para serem criados naquele espaço e o seu pronto atendimento. A ocupação deste espaço pode ser iniciada por um vaso, um caixote ou até por um pequeno canteiro, o importante é começar com a busca intencional e planejada da segurança alimentar. Não aprenda sozinho, ensine para os demais membros da família, convide seus vizinhos para ver suas proezas produtivas tendo como parceiro a natureza. Mostre os resultados alcançados pela sua ação pro ativa com a natureza.
         Imagens do arquivo Serta Ibimirim 
       Otimização dos espaços
      • Aproveite ao Maximo os espaços, pense sempre em aperfeiçoar em otimizar estes espaços  ao invés de maximizar. Defina os caminhos, as trilhas deste espaço, planeje suas idas e vindas de forma eficiente e eficaz. Além de aproveitar e planejar o uso dos espaços horizontais veja e planeje também o uso dos espaços verticais, aproveite os espaços subindo, criando andares de uso, desde que o manejo não seja dificultoso. Utilize a matemática da necessidade da família. Calcule as necessidades da sua família e só plante o necessário de cada espécie, com esta atitude sobrará espaço para outras espécies aumentando a diversidade da dieta. Lembre-se o tamanho desta zona é mensurado pelo tamanho da família e sues hábitos alimentares. Plante o que gosta de comer, cheirar e ver. A lógica da Zona 0 é “na zona 01 tudo se planta, nada se vende tudo se consome”.
      •  Misture tudo ao máximo desde que permitido e tolerado por esta mistura. Isto é, crie comunidades de plantas, onde uma ajuda a outra. Identifique plantas que se suportam que se tolera que são companheiras, que se adéquam mutuamente. Que podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo com momentos de colheitas diferentes. A natureza não tolera espaços vazios, desocupados, descobertos, para ela é uma ferida que precisa ser cicatrizada e curada o mais rápido possível, antecipe-se antes dela, ajude-a a ela lhe ajudar, monte comunidades de plantas que em todo tempo o solo esteja protegido, resguardado das intempéries, da intensa luz solar direta, da gota de chuva direta no solo. Estes jardins intensivos comestíveis tornam o espaço e os seres que deles se alimentam mais sustentáveis.
      Imagens arquivo Serta Ibimirim
      Mistura de hortaliças em um mesmo espaço produtivo
      • As formas de vida renováveis neste espaço (Zona 01) devem ser perseguidas. A não renovabilidade dos espaços e dos elementos nos remete a insustentabilidade. Ter forma de estar sempre presente de geração em geração garante a perpetuidade e o aperfeiçoamento natural do elemento vivo. Este estar presente não é o estar sozinho, ser o único, mas presente na comunidade, no ecossistema cultivado que ora fora criado e estimulado. Faça uma lista dos elementos que podem ser renováveis de forma permanente na sua propriedade e em especifico no terreiro. 
      •  Imite os padrões da natureza, crie formas análogas dos padrões naturais. Utilize a biomimética[2] de forma permanente nestes espaços, repetindo as formas que a natureza utiliza para organizar os espaços, os elementos vivos e não vivos. O interessante não é estar junto mais conectado, interdependente, onde sei que este elemento precisa de mim e eu dele, e nós precisando dos outros e os outros precisando de todos e de cada um. É mais importante conhecer o como se melhora as relações entre um e outro e não conhecer individualmente cada um sem se conhecer com quem este pode se relacionar. Aprenda a aprender como conviver, como se combinar dentro de um pequeno espaço com o máximo de elementos permitido por este espaço, onde um ajuda o outro no desenvolvimento do todo. Os padrões da natureza quando percebidos, entendidos e imitados vão facilitar a sustentabilidade a beleza, a produtividade e o equilíbrio permanente do todo. As curvas, os caminhos sinuosos ou tortos oferecem diferentes visuais e paisagens que atraem olhares para a contemplação para a apreciação, provocando a multiplicação em outros espaços. Precisamos romper com linhas retas elas apressam, diminuem os espaços, e lembre-se nesta Zona preciso otimizar os espaços sem aumentar os espaços. Aromatize estes espaços com cheiros naturais de plantas, para atrair mais presença de vida, aumentando a diversidade do espaço. Espaços de caos e mistérios fazem parte dos padrões naturais, livre-se do simples, do mono, do único, estimule o complexo, o poli o diverso.
      •  Acrescente sempre o elemento água neste espaço. Como captar, armazenar e distribuir este elemento nesta Zona? Que esta captação e armazenamento possam acontecer de forma natural e artificial, isto é a natureza sabe como realizar este processo, mas nós podemos dar duas contribuições para aumentar este processo. Primeiramente estimulando e facilitando formas de manejo onde a natureza possa realizar suas tarefas de captação, armazenamento e distribuição de água e a segunda forma é instalando e consolidando estruturas físicas que possam também aumentar todo este processo.
      Imagens arquivo Serta Ibimirim
      • 01 elemento 03 funções, esta deve ser uma premissa básica para a inclusão e permanência dos elementos que vão compor esta Zona. Consegue-se operacionalizar esta premissa posicionando de forma relativa os elementos. Um elemento bem posicionado consegue desempenhar várias funções, além de se economizar energias e recursos econômicos e naturais. As estruturas físicas antes de serem instaladas precisam ser projetadas também levando em consideração estas premissas, como exemplo a projeção de um lago desde que bem localizado pode atender a várias funções:
      ·         Estimular formas de vida aquática;
      ·         Reserva de água para irrigação;
      ·         Reserva de água para incêndios naturais e provocados;
      ·         Criação de peixes;
      ·         Aumento da diversidade de plantas comestíveis aquáticas;
      ·         Diminuição da temperatura criando micro climas;

      PENSE NISSO... Largar do trabalho e ir não para casa, mas para o seu ecossistema “privado”, onde você foi um dos mentores, coadjuvante deste pequeno espaço. Onde você contribuiu verdadeiramente com a natureza para gerar e dar sustentabilidade e continuidade a vida naquele espaço inclusive o da sua família. Poder se alimentar do que planta, do que nasce, poder colher todo este manjar natural é um momento repleto de magia e encanto. Além de ser fantástico ele traz harmonia, consciência ecológica, operacionalidade ambiental. Para uns Hobby, para outros trabalho, para alguns responsabilidade pedagógica, na intenção de ensinar para que os outros possam  projetar a continuidade do processo, formando novas gerações que acreditam, que fazem que sentem, que se alimentam. A projeção e a montagem deste espaço pode contribuir em tudo isto.

      O ver crescer uma planta, acompanhar seu desenvolvimento sabendo como esta sendo produzida e depois se desfrutar do seu sabor, do seu aroma, de sua beleza não tem preço que pague por esta tarefa, só você fazendo e vivendo todo este processo é que vai sentir o que digo. Relaxa, descansa, ativa a vontade de viver, de fazer, de aumentar, de plantar e criar mais, criar mais vida, mais tudo. Se com uma planta se sente tudo isto imagine com uma horta e com um ecossistema diverso, montado por você, se o aumento for exponencial e geométrico vai se entrar em êxtase. Pela beleza não deveria se pagar e sim se contemplar. Crie seus espaços de contemplação e de beleza natural. Viva os ciclos da natureza, as safras, as luas, o período das chuvas, do sol, dos equinócios e solstícios, volte a ter parte a ser parte e a fazer parte da natureza.

      Miguel Grinberg, ambientalista argentino, editor e autor no campo da ecologia social, define a difusão de valores ecológicos como um processo de contágio que pressupõe contato, transmissão por proximidade. Tanto a alegria pode ser contagiante, como também as doenças. No caso da ecologização, trata-se de contagiar a vida pessoal, a familia, o município, a sociedade, o planeta, com o anticorpo da consciência ecológica, combatendo o vírus da poluição e da degradação do ambiente.

      Diz a mitologia grega que o rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava. Na peça intitulada "O menino do dedo verde", o autor francês maurice Druon retrata um menino que tinha a capacidade de melhorar o ambiente, limpá-lo e depoluí-lo a partir de seu toque. Cada individuo, tendo vontade, disposição e lucidez, pode atuar como um menino do dedo verde, colaborando para o processo de ecologização da sociedade, a partir de sua ação local.Tal ação pode referir-se a temas ligados à realidade local, como a outros de ampla abrangência e alcance global. Não espere inicie sua tarefa de ser mais um menino do dedo verde e saia contagiando as pessoas e os espaços com o bom vírus da ecologização.

      Roberto Mendes
      Técnico, Pedagogo e Permacultor ativista
      25 de janeiro de 2011


      [1] Ecologizar – Palavra cunhada por Mauricio Andrés Ribeiro qu e significa adotar uma ação de introduzir a dimensão ecológica nos vários campos da vida e da sociedade.

      [2] Biomimética - é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a Natureza. A biomimética é a imitação da vida.

      3 comentários:

      1. É verdade sim que hoje estamos nos afastando de tudo que é natural trocando o nosso bem estar por coisas artificiais,seria interessante se todas as pessoas pudessem ver todo o desenvolvimento de uma flor acompanhar todo o processo quem sabe nao aprenderia a dar mais valor as coisas que existem na vida,muita das veses donas de casa tem uma area boa para cultivar canteiros hortas mas se acomodam tendo que ir para a cidade comprar,sao muitas praticas que acabam sendo esquecidos quando falamos em bem estar e vida de qualidade tudo oque fazemos é pouco para melhorar a nossa vida pois sempre vai faltar algo mais a fazer.....

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      2. O ser humano com suas criações que se moderniza a cada dia, tornando as coisas a cada dia mais rápida, o trabalho a cada dia tende-se a tomar o tempo das pessoas, as crianças de hoje perde seu tempo em fazer amizades e jogos virtuais, a natureza está sendo ignorada, as plantas estão sendo substituída por plásticos estéticos, as frutas e verduras estão perdendo sua originalidade sendo transformada em coisas envenenadas, a beleza da natureza está sendo maquiada, as pessoas estão perdendo o contato com a terra nua, o quintal de hoje para ser bom tem que ser de concreto, más concreto mesmo é que não existe o amor pela a dádiva mais importante de todas as nossas vidas, a TERRA, o egoísmo de buscar estabilidade financeira está atropelando o equilíbrio ambiental. Sendo assim a terra com seus sinais que a cada dia vem mostrando é apenas uma resposta a tudo esse egoísmo citado. A monocultura está acabando com nosso planeta de tal forma, que não existe mais mata nativa, ou apenas para atender uma lei governamental, mais que não atende de forma sustentável a quem ela realmente pertence, temos que a cada dia buscar a originalidade da criação de animais, cultivos diversos em um espaço mínimo produzidos por muitos e não muitos para apenas poucos, garantir que água não seja envenenada, ao pessoas busque cada vez mais a respeitarem o solo evitando queimadas desordenadas, evitando aplicações de produtos desconhecidos e industrializados, pois a natureza é perfeita, ou seja, ela auto se medica e auto de sustenta que assim o seu espaço não seja alterado.

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      3. Para perseguimos o ideal da nossa vida cheia de multipla atividade necessitamos possuir uma boa saúde, se o êxito da nossa vida depende dela por sua vez depende da alimentação como hortaliças, frutas, verduras e tuberculos. a intemperança no comer e beber não foge a observação de ninguem o fato de que uma criança bem alimentada cresce com a maior facilidade do que a quelas cuja alimentação seja deficiente. o sucesso do agricultor também depende da alimentação correta e esse principio aplica-se ao desenvolvimento da permacultura.

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