quinta-feira, janeiro 13

A cozinha zero km

 UMA ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR PARA A PEQUENA PRODUÇÃO FAMILIAR

Cada vez mais o nosso pão de cada dia vem sendo comprado e não produzido. Esta é a realidade sentida da maioria dos agricultores, independentemente da região. O caminho da feira no sábado torna-se obrigatório não para “vender”, mas para “comprar”. Os pequenos agricultores, pela alegação e convencimento explicativo tentam justificar a sua opção pela escolha do monocultivo. É mais fácil, menos trabalhoso, existe maquinário para facilitar a lida diária da produção, além de se ter um atravessador na porteira da propriedade, não tem nem o trabalho de procurar um comprador. E cada vez mais esta realidade vem dominando muitos dos espaços rurais onde ainda existem terras com fertilidade produtiva aparente, pois muitos dos insumos para alcançar os rendimentos pretendidos são comprados na tentativa de garantir esta tão procurada segurança econômica.
Como reverter este quadro e que alternativas se tem diante do sistema capitalista da produção agrícola e do mercado? A maioria das propostas do governo centra sua sinergia na área produtiva da família “O Roçado”. É a área ciumenta do produtor, pois é dali que ele tenta garantir a sobrevivência monetária e alimentar, para o atendimento as necessidades básicas da sua família. Logo, mexer, mudar, colocar ou tirar para colocar algo novo é correr risco, é colocar em cheque a sobrevivência da família, além também de colocar em cheque seus conhecimentos adquiridos culturalmente repassados de pai para filho.
A própria ATER (assistência técnica e extensão rural) foi concebida para executar este tipo de assistência produtiva centrada na compra e no uso de insumos externos a propriedade. A lógica atual é: comprar produtos para se equipar para produzir e vender produtos para poder comprar outros para atender as necessidades básicas da família.
Se os produtores produzem para vender é lógico que existe um interesse em comprar e porque não se ensina a fazer uma agricultura do nada comprar ou do comprar menos? Operacionalizar uma agricultura que primeiro deve buscar atender a dieta da família e só então se preocupar para produzir para “vender”.
A Permacultura tem como princípios básicos o atendimento a quatro seguranças, que se atendidas levam a propriedade a um estado de arte de sustentabilidade. Um espaço privilegiado e pouco explorado como espaço produtivo familiar é o terreiro da casa, ou o muro, como muitos sertanejos batizam. É o entorno da casa. Ele deve ser pensado, rabiscado, planejado com o objetivo de se tornar o supermercado da família. A meta é se preparar para atender 100% da alimentação interna da família. E além do mais, para atender a esta demanda da casa, não se precise andar tanto para cuidar e colher. Que esta produção possa ser produzida no quilometro zero, isto é o mais próximo de casa e da cozinha. Não ter que andar para colher e comer é a expectativa de divulgação deste texto. Operacionalizando estas tarefas se economiza energia de várias formas. A economia ou redução de energia é uma das grandes metas para diminuir os custos de produção de produtos centrados no uso de insumos oriundos de fora da propriedade, é renegar a entrada destes. É saber aproveitar sustentavelmente as forças da natureza para obter os produtos necessários para uma vida sadia.
Uma das forças da natureza é reciclar toda a biomassa que já cumpriu seu papel na natureza pelo menos no padrão que se encontrava quando viva. Muitos recursos são negligenciados seu uso, muitos até nem são reconhecidos como recursos produtivos, são vistos como lixo, entulho entre outras nomenclaturas utilizadas. As águas cinza são desperdiçadas escorrendo nos quintais não são percebidas como recurso que poderia ser reutilizada, é um recurso que ao invés de produzir polui um determinado espaço. 

Compostagem em pequena escala
Como encarar as sobras e os desperdícios da cozinha como outro recurso que deveria ser reaproveitado colocando em prática um dos princípios da natureza “o desperdício de um deve ser alimento para outro”. Enfim, muitas sobras e desperdícios poderiam fazer parte de uma lógica cíclica transformando tudo em outras formas de recursos orgânicos produtivos.

A casa como o centro das atividades decisórias e seu entorno como espaço de segurança alimentar, como o supermercado familiar deve nortear a lógica das muitas propriedades rurais familiares. O andar menos e otimizar as áreas produtivas devem fazer parte do design do zoneamento das propriedades. As gôndolas do supermercado devem ser a horta, o jardim, o pomar e a mistura de tudo. A intenção é ter tudo junto, porém misturado na terra, na cozinha e na mesa e no prato. Esta é uma das formas mais baratas de se produzir comida, gerando auto-suficiência alimentar, estimulando a intenção de se alcançar uma segurança alimentar plantada, produzida e consumida. É repensar este espaço utilizando como mote a frase de Lavoisier “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” e complementando este mote com outro: “No terreiro de casa tudo se planta, nada se vende, tudo se consome”. Esta deve ser a lógica deste espaço, estimulando a idéia da cozinha do ZERO QUILOMETRO.

As imagens abaixo mostram o supermercado no entorno da casa. Cada produto tem como distância de referencia, para ser plantado, a proximidade da CASA.





Comer o que se tem e o que se planta sem ter necessidade de comprar é outra idéia deste texto, e para que isto ocorra é preciso também repensar nossa dieta alimentar, repensar novos cardápios, provar novos sabores, reeducar nossos hábitos alimentares. Comer o que se tem naquele momento, naquele dia, naquela estação, exige novas posturas diante da natureza, é ser mais respeitoso e paciente com a natureza e com seus ciclos fenomenológicos. Encontrar o verdadeiro sabor de cada produto e não na mistura entre eles. Saborear verdadeiramente a cenoura, a macaxeira sem precisar colocar um molho de carne para poder suportar ou aceitar o sabor natural do tubérculo. É entender mais além, é descobrir a capacidade do nosso solo de produzir sem ter que trazer nada de fora, é a produção real e possível daquele pedaço de chão, naquelas condições de manejo que estou dando ou fazendo.

Quais as vantagens de se ter uma cozinha com zero KM de distância dos alimentos?

·         Ando menos;
·         Aproveito melhor meu tempo nas tarefas produtivas;
·         Facilita o olhar para ver se estar maduro, no ponto, pronto para colher;
·         Diminui os desperdícios, pois estou vendo o ponto de maturação;
·         Evito o comprar;
·         Conheço a procedência, é rastreado por mim mesmo;
·         Garantias da origem do alimento;
·         Reaproveitamento de água, restos de culturas entre outros insumos orgânicos da propriedade;
·         Mais fácil cuidar;
·         Embeleza o entorno da casa;
·         É um espaço de aprendizagem para meus filhos entender como produzir respeitando os princípios da natureza;
·         Aumenta meu relacionamento com meus vizinhos;
·         A geladeira fica menos cheia;
·         Apuro o meu paladar ao me alimentar de produtos in natura e fresco;
·         A qualquer hora tenho comida disponível;

Como vemos, a idéia do supermercado no entorno da casa pode ser uma grande saída para resolver parte do problema de segurança alimentar das famílias. O entorno da casa precisa voltar a ser um espaço de produção, onde qualidade, quantidade e diversidade sejam as dádivas da natureza para alimentar uma família que se preocupa com o que produz e come. Plante o que gosta de comer, de ver e de cheirar.

Antônio Roberto Mendes Pereira
Técnico, Pedagogo, Permacultor e especialista em metodologia da educação ambiental
15 de dezembro de 2010

2 comentários:

  1. se todos os entornos das casas brasileiras viécem sendo uns supermecados familiares, nunca teriarmos visto grandes indeces de mortalidade infantíl e de desnutrição,causados pela mau alimentação,devido nem todos terem condições de comprar todos os alimentos ncessarios e/ou nas quantidades que seus organismos necessitam. Esse mau a muito tempo vem alimentando o exôdo rural. Algo que também nunca teriarmos visto era o uso abusivo dos agrotoxicos o grande vilão para a saúde humana e ambiental,usado para garantir ficticiamente a grande produção comercial.
    autor: Damião Souza Melo

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  2. Se todos os entornos das casas brasileiras viesem sendo uns supermecados familiares, nunca teriarmos visto grandes indeces de mortalidade infantíl e desnutrição, causados pela mau alimentação,devido nem todosterm condições de comprarem todos alimentos necessarios e/ou nas quantidades que seus organismos necessitam. Esse mau está por muito tempo alimentou o exôdo rural. Algo que também nunca teriarmos visto era o uso abusivo de agrotóxicos o grande vilão para a saúde humana e ambiental, usado para fictiçiamente grarantir a grande produção comercial.
    Autor: Damião Souza Melo.

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