segunda-feira, janeiro 17

A genética desperdiçada

AS SEMENTES E A GENÉTICA DESPERDIÇADA NAS PROPRIEDADES DA AGRICULTURA FAMILIAR


CONTEXTUALIZAÇÃO – Uma única fruta pequena de pinha pode conter em média 50 sementes férteis que podem gerar uma nova geração, perpetuando sua espécie. É um grande potencial que pouco é aproveitado dentro das propriedades. Imagine em um fruto de mamão quantas sementes pode conter? E quantos novos pés podem ser gerados? É pura dádiva da natureza.


É uma pena que não se dê atenção necessária a este grande recurso que é o aproveitamento de todas as sementes e caroços de tudo que se consome. Este potencial não é aproveitado, é desperdiçado, é visto como resíduo e é destinado ao lixo. Com esta atitude perdem-se a oportunidade de se ter espontaneamente várias espécies genéticas nascendo de forma natural, só bastando fazer os seguintes procedimentos: coletar e distribuí lançando estas sementes em locais propícios e pretendidos por nós para seu estabelecimento.

Imagine que toda manhã este recurso potencial é subutilizado, desprezado. No seu café da manhã quais as frutas que se consome? Melancia, mamão, melão? E no almoço quais as hortaliça? Tomate, pepino, pimentão? E na hora de se preparar o suco quais as frutas? Goiaba, maracujá, carambola, limão? Como podemos observar são sementes que poderiam está nascendo espontaneamente se atiradas ou jogadas em locais possíveis de crescimento. Não podemos esquecer e de observar que a maioria das plantas que nascem espontaneamente, isto é, sem serem plantadas crescem sadias, sem sofrerem ataques por pragas e doenças e na sua maioria produzem muitas frutas ou frutos.



Um belíssimo pé de tomate que nasceu e esta crescendo espontaneamente em um munturo no quintal tem uma grande possibilidade de produzir tomates grandes, bonitos e sadios, além de ser biologicamente completos e nutritivos.


Esta texto pretende abordar este assunto, alertando para este grande recurso disponível em todas as propriedades e por que não dizer em todas as cozinhas. Trazendo alternativas de uso para estas sementes marginalizadas e com grande potencial produtivo guardado, esperando para cumprir sua função na natureza.

 Sementes de tangerina e maracujá, melancia e abóbora lixo ou recurso produtivo em potencial?

O POTENCIAL GENÉTICO QUE EXISTE NATURALMENTE NOS SOLOS

Os solos são repletos de sementes que estão à espera de condições propícias para germinarem e expor seu potencial. Os solos são verdadeiros bancos de sementes de várias espécies e de todos os tamanhos esperando por sua vez para brotarem. Ao invés de chamarmos de bancos de sementes poderíamos utilizar um termo mais adequado “BANDOS DE SEMENTES”, pois as quantidades existentes são inimagináveis em um hectare de solo. Porque não incluímos as  sementes que pretendemos que nasçam de forma espontânea? Possa ser que elas demorem muito esperando sua vez para nascerem, mas, contudo poderemos ter este potencial guardado no solo e que mais cedo ou mais tarde poderá nos presentear com mais um ou com mais de uma espécie cultivada. 


Que com certeza por ter nascido de forma espontânea, encontrou todas as condições favoráveis para que isto aconteça. Logo esta planta(s) terá mais probabilidades de crescer, produzir e reproduzir de forma natural aproveitando todas as condições potenciais do local.


 ALTERANDO A COMPOSIÇÃO DO BANCO DE SEMENTES DOS SOLOS CULTIVADOS

O banco de sementes dos solos é uma reserva de sementes viáveis neste solo presente na superfície ou em profundidade. A variabilidade e densidade botânica de um povoamento de sementes no solo, em um dado momento, são o resultado do balanço entre entrada de novas sementes e perdas por germinação, deterioração, parasitismo, predação e transporte (Carmona, 1992).

Técnicas de revolvimento do solo podem influenciar na disponibilidade de sementes que antes estavam em profundidades mais abaixo. Esta forma é uma das maneiras de se alterar a flora natural do solo.

Já os métodos que não promovem a inversão de camadas permitem que a maioria das sementes permaneça próximo à superfície do solo. Essa proximidade da superfície do solo, segundo Ball (1992), proporciona maior germinação das sementes e estabelecimento de plantas daninhas, quando comparado com outros métodos de sistemas de cultivos.


Carmona (1995) estimou o banco de sementes natural em quatro agrossistemas distintos: área de rotação de culturas (soja, pousio e feijão), várzea, pomar de citros e pastagem de Brachiaria brizantha. A quantidade média de sementes por metro quadrado foi de 22.313 na várzea, 6.768 na área de rotação, 3.595 nas coroas do pomar e 529 na pastagem.

Diante destes dados o que poderemos fazer para incorporar mais sementes neste banco de sementes natural com plantas de nossas necessidades alimentícias¿ Este é o questionamento que queremos responder ajudando as nossas propriedades a se tornarem também um espaço de brotação permanente de cultivos marginais espontâneos. Com certeza uma maneira viável de modificar e aumentar a reserva deste banco é a introdução através da distribuição de sementes por nós coletadas neste solo principalmente nos primeiros centímetros da superfície dos solos.

A NATUREZA GARANTINDO A PRODUÇÃO DE FORMA ESPONTANEA

O espaço do entorno da casa normalmente não é aproveitado de forma produtiva. É um espaço livre e limpo, que poderia ser utilizado para a distribuição de determinadas espécies de sementes. Espécies de plantas horticolas e até sementes de pequenas fruteiras temporárias deveriam compor esta paisagem do entorno das casas. Um simples espremer de tomates em locais possíveis de germinação poderá garantir alguns quilos de tomates a mais na mesa além da sua qualidade biológica e nutricional inquestionável. Esta experiência vem sendo aplicada no SERTA (Serviço de Tecnologia Alternativa) obtendo resultados satisfatórios e surpreendentes. Feijões que foram excluídos do consumo foram jogados nestas áreas e chegaram a crescer e ter uma produção inesperada, quando comparado com feijões que foram plantados.

É uma estratégia muito interessante e que traz resultados em curto prazo muito bons. Devemos aumentar este banco de sementes espontâneas nos primeiros centímetros de nossos solos. Com certeza vamos nos surpreender com os resultados. Muitas sementes podem fazer parte desta estratégia, tudo vai depender dos hábitos alimentares da sua família. Não transforme um potencial genético vivo em matéria orgânica morta antes dele mostrar suas potencialidades reprodutivas .

Antônio Roberto Mendes Pereira

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

CARMONA, R. Banco de sementes e estabelecimento de plantas daninhas em agroecossistemas. Planta Daninha, v. 13, p. 3-9, 1995.

CARMONA, R. Problemática e manejo de bancos de sementes de invasoras em solos agrícolas. Planta Daninha, v. 10, p. 5-16, 1992.

BALL, D. A. Weed seedbank response to tillage, herbicides, and crop rotation sequence. Weed Sci., v. 14, p. 654-659, 1992.

2 comentários:

  1. Buenas Professor sou amigo de LILU nesta terra distante,sou do rio grande do sul e estive na III Jornada e admiro este povo nordestino é uma honro visitar seu blog ,parabens pelo seu trabalho tenha sertza que é de muita valia para esta juventude que quer permanesser no campo.
    Noeli Heiderich Cedejor RS
    Abraços

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  2. armazenar sementes pra dar continuidade e qualidade ao trabalho produtivo é uma cultura antiga e hoje pouco apreciada pelos produtores mais jovens é considerável trazer á tona esses valores permitindo que se avalie qual a técnica mais viável e vantajosa.....tanto para o homem como para o meio ambiente!!!!!! mandou bem roberto!!!!

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