sexta-feira, agosto 12

O cardápio da terra - Nada cresce do nada - Montando uma dieta equilibrada para as plantas


Antônio Roberto Mendes Pereira

A maioria dos agricultores está gastando o capital de giro que mantém a fertilidade de suas terras. Os sinais já são bastante evidentes quando vemos os resultados baixíssimos das colheitas. A fertilidade natural em muitas propriedades já não existe, todo capital passivo já foi consumido, perdido, dado de graça em troca de dinheiro. Para que estas propriedades possam continuar produzindo tem que está comprando insumos que possam fertilizar estas terras. 

Exportamos nutrientes e água quando vendemos nossos produtos. E a maioria das saídas são maiores que as entradas. E é lógico, que todo sistema agroecológico fica perturbado, e em desequilíbrio. E em muitas situações não respondendo mais aos estímulos humanos em busca de produção. Diante desta situação causada pelo manejo errado ou equivocado do ser humano apela-se para trazer insumos de fora que não vai recuperar o ambiente, vai apenas atender a demanda imediata, não do solo, mas da planta, utilizando produtos químicos que contribuem para aumentar ainda mais os desequilíbrios. 

A mídia permanentemente vem se encarregando de divulgar e vender a fórmula do sucesso. As propagandas massivas de adubos químicos estimulam a compra e o uso destas formulações, como se elas fossem à salvação da lavoura para se alcançar uma produção com aumento da produtividade real. E não se percebe que a pressa é inimiga da perfeição como diz o dito popular. Não conseguem enxergar que as baixas das colheitas não só vem acompanhada pela diminuição dos nutrientes do solo, mas também pela perda da bioestrutura do solo. O solo vai perdendo toda sua grumosidade e fofice, se tornando duro como tudo que morre. Todas estas perdas, na sua maioria, são causadas pela falta de matéria orgânica em seus vários estágios de decomposição. 

Como se não bastasse toda esta mídia do empurra produto, incluíram neste pacote de marketing as escolas das séries iniciais e principalmente as escolas de ciências agrárias, através dos livros didáticos legitimando e divulgando as informações que atendam as demandas e aos propósitos do capital através das vendas destes insumos. Os livros didáticos através de imagens e frases fazem parte de um currículo oculto, onde nas entre linhas e no uso destas imagens utilizadas de forma didática conseguem passar a idéia do uso de vários insumos químicos de forma direta e massiva, tendo como fonte legitimadora de maneira inocente os professores e como público alvo de ser alcançados, as crianças, os jovens e seus pais. Já inculcando e divulgando desde cedo que para se modernizar na agricultura é utilizar toda esta parafernália de insumos químicos entre outros.



Imagem acima é de um livro didático de 5º série, onde a divulgação dos adubos químicos é feita como se fosse uma propaganda de insumos. 

Chegasse ao cúmulo de alfabetizar crianças através de propagandas de vários insumos químicos incluídas nos livros didáticos que vão de encontro ao meio ambiente. As imagens são utilizadas como estratégia didática que tem um poder incrível de passar informações e mensagens de forma oculta. Imagens que para um bom entendedor, poucas palavras, ou melhor, “imagens” bastam. 

Com certeza, estes livros foram preparados para ensinar conhecimentos selecionados que privilegiam interesses não dos alunos, mas de quem manipulou sua edição e publicação. Estes livros passam informações e mensagens que não são neutras trazendo toda uma intenção de divulgar e vender produtos, legitimando e consolidando um sistema de produção do interesse do mercado, centrado nos princípios da revolução verde. 


Da mesma forma que os adubos químicos são divulgados os agrotóxicos a mecanização agrícola e a monocultura recebe o mesmo tratamento na mídia e nos livros didáticos. Parece que não se percebe as intenções que estão por trás deste currículo oculto, pois tudo é passado nas entre linhas. Toda esta estratégia é distribuída e repetida durante toda a seriação escolar. Inicia-se o marketing desde a educação infantil até as séries mais adiantadas. É como se utilizassem um lembrete com imagem. E não podemos esquecer que o uso da imagem pedagogicamente falando é uma ferramenta poderosíssima. Todos os momentos bons ou ruins da nossa vida são registrados na nossa mente não é através de escritas, mas através de imagens. 


Na imagem acima vemos um produtor utilizando agrotóxico, onde a escrita traz ensinamentos sobre sementes e germinação, e a imagem ensina que se deve utilizar agrotóxico e tem mais sem proteção como se vê na mesma. 

A imagem da direita passa a mensagem que roçado bem desenvolvido e produtivo é aquele que se utiliza a monocultura e que não pode ter mato algum nas entre linhas do plantio. 

Agora entendo a frase da música da banda Plebe Rude “Não é nossa culpa, já nascemos com a versão, mas isto não é desculpa pela má distribuição”. E como complemento meu “e persuasão para não dizer imposição” marionetes do sistema. 

Como se vê é difícil enfrentar um modelo como este, onde a mídia consegue chegar até aos livros didáticos, legitimando e provocando o uso de A ou de B insumo ou de práticas tendenciosas. 

E toda uma cultura vai sendo criada desde cedo, legitimando toda esta lógica. O sistema de produção introduzido pela revolução verde já faz parte da cultura de quase todos os agricultores. E com toda esta lógica em funcionamento o solo responde, diminuindo sua fertilidade, oferecendo colheitas cada vez menores, mais fracas e biologicamente pobres. 

Precisamos fazer alguma coisa para mudar este quadro. Precisamos ter mais gente querendo fazer uma agricultura diferente, menos impactante ao meio ambiente e principalmente sana, sem causar tantos desequilíbrios. 

Dois fatores que acontecem nas propriedades que rapidamente os produtores percebem que esta acontecendo algo errado nos cultivos é o aparecimento de pragas e enfermidades, e o pouco desenvolvimento dos produtos. Estes dois fatores me parecem que são os únicos indicadores de resultados que demonstram se vão obter bons resultados ou não. Muitos não conseguem perceber que tudo esta ligado a tudo. Que um manejo errado, por simples que seja, pode ou vai influenciar o todo. E normalmente quando vamos analisar mais profundamente estes resultados percebemos que estes baixos resultados ou aparecimento de pragas e enfermidades estão ligados diretamente a saúde do solo. É no solo que quase todo este processo acontece. Um simples desequilíbrio em algum mineral pode desencadear problemas muito sérios em todo o sistema. 

Uma das formas primeiras e mais fáceis de precaver é através de um manejo adequado de solo. Incentivar a retirada de nutrientes através das colheitas e manter esta fertilidade é um dos segredos para se praticar uma agricultura sustentável. Este equilíbrio entre saídas e entradas é o “pulo do gato”, no dito popular. 

Da mesma forma que temos nossa dieta, o solo também tem a sua, necessita comer. Necessita receber matéria orgânica para sua proteção, manutenção e fertilização. E quanto mais variada for esta reposição de matéria orgânica, mais equilibrado, ou melhor, sustentável vai ficar este solo. Uma das formas que a natureza encontrou para atrair a diversidade de plantas é através da oferta de nutrientes e umidade. Quanto mais nutrientes diversificados têm o solo, mais plantas podem encontrar suas necessidades atendidas neste espaço. 

REPONDO OS MINERAIS PERDIDOS DO SOLO 

Como trazer e repor estes nutrientes que vão embora com as colheitas, com os escorrimentos, com as lixiviações? Como aumentar ou equilibrar as entradas no agroecossistema? De quanto em quanto tempo o solo precisa comer? 

A primeira aprendizagem ou informação que precisamos ter é: que o solo no clima tropical sofre uma rápida decomposição da matéria orgânica necessitando receber matéria orgânica a cada três meses para manter sua grumosidade, sua fertilidade, e sua capacidade de retenção de água através da facilidade da infiltração. 

O QUE UMA PLANTA GOSTA DE TER PARA PODER CRESCER? 

Solo fértil e que atenda suas necessidades de nutrientes, presença de água para realizar seu metabolismo, e solo fofo para que suas raízes possam crescer com facilidade podendo explorar espaços cada vez maiores, como também podendo escapar das altas temperaturas da superfície do solo. E não podemos esquecer-nos de facilitar um bom banho diário de sol, para que as plantas consigam realizar sua alquimia de transformar toda esta mistura em alimento. E não esqueça, agricultura é a arte de cultivar o sol. 

LIBERANDO A RIQUEZA DA MATÉRIA ORGÂNICA PARA AS PLANTAS 

A matéria orgânica para poder ficar no ponto ideal para que as plantas possam absorver os minerais agregados na sua composição, precisam de um grande número de cozinheiros (microorganismos), que furem, rasguem, piquem, amassem, diluíam toda a matéria orgânica que for disponibilizada na superfície do solo (restos de culturas, mato de capina e de poda). Sem a presença de toda esta vida microrgânica e umidade todo este processo fica parado, inerte, e as plantas só terão disponibilidade para se alimentarem dos minerais que estarão presentes naquele momento já mineralizados no solo. Não podendo aproveitar da reciclagem da matéria orgânica que esta compondo o agroecossistema. Colocar em ciclo toda a matéria orgânica é uma das principais funções de toda vida microrgânica do solo. 

A capina total da área que esta sendo cultivada é uma forma de disponibilizar nutrientes que estão presentes na matéria orgânica, porém uma boa prática é dosar esta capina e consequentemente este retorno. Uma boa distribuição é de forma continua e não de uma única vez. Permita e não permita dosando sempre, evitando exageros repentinos. 

PRODUZINDO SOLO NOVO 
CONVERTENDO PEDRA EM ALIMENTO 


Sabemos que o solo é o resultado do esfarinhamento das rochas através do intemperismo, recebendo ajuda da chuva, do sol, das reações químicas e de alguns microorganismos (bactérias, liquens). E para que um centímetro de solo seja fabricado a natureza leva centenas de anos. Como utilizar a mesma estratégia da natureza para fabricar solo novo? Eis a questão! 

Podemos ajudar a natureza em parte neste processo, por exemplo: Ajudando no esfarinhamento das rochas, moendo determinados tipos de rocha que tenham na sua 

composição grande quantidade de minerais variados. Muitos micronutrientes estão presentes nestas rochas, e vão poder ajudar imensamente em uma nutrição muito mais equilibrada e completa para as plantas. Quanto mais bem moído melhor. 


A granulométria deste pó influencia na melhor e maior absorção dos nutrientes presentes. Identifique quais os tipos de rochas estão presentes na sua propriedade, pesquise, estude, conheça mais a composição mineral destas rochas. E a partir destas descobertas, invista no intemperismo feito pelo homem, ajudando a natureza nesta tarefa tão lenta e meticulosa. Lembre-se que só o trabalho de transformar rochas em pó, não significa produção de solo, ainda precisamos da presença constante e permanente da vida microbiana para dar seu toque de transformar algo morto em vivo. 

Da escolha adequada destas rochas podemos obter substâncias para rejuvenescer o velho e desgastado solo e conduzi-lo novamente ao estado virginal de sua fertilidade. 

Conhecer a importância de cada mineral que constituem uma planta é muito importante, pois a partir deste conhecimento poderemos facilitar a reabilitação do solo levando em conta o equilíbrio destes minerais. Diminuindo o risco de enriquecer um em prol de outro, provocando desequilíbrios. 

DICAS IMPORTANTES 

· As rochas mais escuras normalmente são mais ricas em minerais; 
· A planta só vai absorver o que necessita desde que estes minerais estejam presentes no solo; 
· Todos os fertilizantes vêm das pedras 
· Utilizar a matéria orgânica como adubo é dá retorno, é reciclar os minerais que já foram utilizados. É devolver ao solo o que dele saiu para constituir uma nova planta ou animal. 

ALGUNS BENEFÍCIOS DO USO DO PÓ DE PEDRA 

· Cria uma nova estratégia de entrada de minerais no solo; 
· Rejuvenesce o solo já cansado de uso; 
·Aumenta a oferta e a disponibilidade de minerais para as plantas. Monte estratégias e técnicas para esfarinhar pedras e utilize como base de uso três toneladas por hectare de pó de rocha; 
· Cria formas de ficar independente do sistema de compra de fertilizantes, bastando para isso conhecer mais as riquezas das rochas do seu lugar; 

· Quebra a lógica do uso de insumos vindo de fora através da compra; 
· Oferece oportunidades de evitar que os solos empobreçam; 
· Aumenta a capacidade de compensar as saídas dos minerais através das colheitas vendidas; 
· Descobri a vaca que dá o leite para nutrir de forma saudável o solo; 
· Renova conhecimento quebrando toda a lógica do capitalismo montada; 
· Aumenta a capacidade produtiva dos solos. 

E para concluir este texto vou colocar um verso rimado onde a rima conseguem dizer muito mais do que escrevi de forma leve e de fácil entendimento. 

Nutrição Mineral 
Sérgio Ricardo Matos Almeida 


Afirmou Artur Primavesi 
Que não há doença vegetal 
Sem prévia e determinada 
Deficiência mineral. 

Carência de boro gera 
Ataque de nematóide, 
Falta de cálcio produz 
Incidência de antracnose. 

Sem zinco, há ocorrência 
De oídio na seringueira, 
E o mal-do-panamá 
Castiga a bananeira. 

Falta de cobre e boro, 
Observe quando puder, 
Provoca a ferrugem 
No trigo e no café. 

E sem oxigênio no solo: 
Metabolismo vagaroso, 
A planta fica suscetível, 
Sofre ataque rigoroso. 

É essencial entender 
A relação existente 
Entre nutrição e saúde, 
Na planta, animal e gente. 


07 de agosto de 2011

Um comentário:

  1. muito importante as imformaçãoes acima citadas , pois nos dar uma cardápio excelente para a vida no solo e sob ele.

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