sexta-feira, agosto 5

A mimetização na natureza - Camuflando-se dos predadores


Antônio Roberto Mendes Pereira


A natureza tem características peculiares fantásticas para resolver seus problemas e necessidades, mas pouco sabemos sobre elas. Se conseguirmos entender estas características e tentarmos imitá-las nos nossos agroecossistemas cultivados poderemos fazer a diferença e resolver uma boa parte dos problemas que afligem nossos produtores rurais, além de contribuir com a recuperação do meio ambiente. Uma destas características vai ser elucidada neste texto, na expectativa de fazer você leitor, conhecer e poder utilizar esta poderosa ferramenta natural nos seus roçados, hortas ou quaisquer outros espaços produtivos.

 

A MIMETIZAÇÃO

 PODE PARECER, MAS NÃO É. PODE SER, MAS SERÁ QUE É?

 

A mimetização é uma estratégia utilizada por animais e vegetais como uma forma de se camuflar, de não ser percebido ou até parecer com algo que não é. Chegando até a mudar a aparência para demonstrar determinada característica que não possui. 

A cor, os sons emitidos, a aparência plástica são maneiras de manifestar a mimetização. Os seres vivos utilizadores desta estratégia tentam todo tempo estar despercebidos pelos seus predadores, ficando o tempo todo alerta, camuflando-se. 

Se confundir com a paisagem é outra forma de mimetização utilizada por muitos seres. Observando a imagem a baixo o que você é capaz de perceber? O que está mimetizado ou camuflado para não ser percebido?


As imagens acima são lagartas tentando se parecer com cobras, uma bela estratégia de persuasão.


Existem lagartas que imitam cobras, com 'olhos' falsos e tudo mais, sempre com objetivo de escaparem ilesas dos seus predadores. Este tipo de disfarce, o de imitar um animal perigoso ou tóxico aos predadores é o mimetismo aplicado nos ecossistemas naturais por alguns seres vivos. 

A este tipo de disfarce dar-se o nome de aposematismo. É uma forma de enganar, de iludir os predadores. Animais não-palatáveis, tóxicos ou venenosos freqüentemente anunciam sua não palatabilidade através de coloração de alerta, conhecida como coloração aposemática. Como exemplos de algumas espécies que possuem este display, podem incluir muitas rãs venenosas (Dendrobatidae), salamandras (Salamandridae), o venenoso de Monstro de Gila (Helodermatidae) e as serpentes coral e marinha (Elapidae).

Imagem esquerda acima Salamandra e a direita o Monstro de Gila

Várias combinações de cores são utilizadas para a mimetização aposemática, as principais são: vermelho e amarelo; vermelho e preto; vermelho, amarelo e preto; preto e branco ou simplesmente cores vibrantes uniformes por todo o corpo. 

As espécies aposemáticas podem também utilizar desta estratégia para iludir seus predadores: uma espécie palatável se disfarça com cores de animais não palatáveis. Esta similaridade com outras espécies afugentam seus predadores, procurando outra fonte de alimento.

Alguns animais que se utilizam desta técnica:
Outra forma de mimetização é apresentar um tamanho que não é o seu tamanho real. É uma forma de enganar o possível predador. Alguns anfíbios e peixes ao se sentirem ameaçados se incham de ar aumentando seu tamanho. Os sapos em situações de tentativa de predação incham intimidando assim seu predador. 


Da mesma maneira que alguns animais evoluíram e conseguem se mimetizar, alguns vegetais também utilizam deste mesmo mecanismo de defesa. 

Plantas dependem de fatores externos para se reproduzirem, como água, vento ou agentes polinizadores, como abelhas e borboletas. Acontece que as belas criaturinhas precisam ser atraídas e como quem comanda este processo é a Seleção Natural, as plantas que se adaptaram a esta situação conseguem atrair os insetos para executarem esta função, de modo que eles se servissem do néctar, se “sujassem” com o pólen e, ao ir para outra flor ou até na mesma, fecundavam-na, gerando mais descendentes e assim por diante. 

Mas, seria o caso de algumas plantas trocarem de cores, de modo que isso fosse uma vantagem atrativa para elas? A resposta é sim! Existem plantas que trocam de cor, indicando assim a que horas suas flores abrem.


Cores fortes atraem insetos. Aromas atraem insetos polinizadores em busca de alimentos. Garras, chifres, grandes olhos, pelos são sempre características que afastam predadores, ou pelo menos criam certa cautela. 

Tanto adultos como crianças ficam fascinados com a variedade e beleza das cores dos seres vivos. Sentimos-nos atraídos pelas cores das flores, das borboletas, dos peixes, das aves, dos corais, etc. No entanto, as cores da natureza não têm apenas um valor estético, de beleza, freqüentemente representam a diferença entre a vida e a morte. 

Podemos dizer que as cores dos seres vivos têm inúmeros significados e um valor evolutivo considerável. Constituem meios extremamente eficazes de camuflagem e de transmissão de informações importantes para a reprodução, defesa e cooperação. 

As cores das flores revelam a existência de néctar e pólen. Assim, vários seres vivos são atraídos por estas cores, obtendo alimento e facilitando a polinização das plantas (isto é, a transferência de pólen entre plantas da mesma espécie). Os colibris e outras espécies de animais que se alimentam de néctar são atraídos por flores de cor vermelha. 

As abelhas parecem preferir flores amarelas ou azuis. A cor vermelha intenso de muitos frutos constitui um inconveniente para os agricultores (que vêem as suas colheitas dizimadas), mas é um aliciante para as aves que se alimentam do fruto e das respectivas sementes que, posteriormente, são lançadas noutros locais juntamente com as fezes dos animais. Este processo facilita a dispersão das espécies vegetais.


Muitos animais mudam a cor do seu pêlo ou da sua plumagem consoante à época do ano. Esta mudança permite-lhes, por exemplo, adquirir cores semelhantes às dos locais onde vivem, tornando-os mais difíceis de ser detectado pelos predadores. 

A mudança de cores também é freqüente durante a Primavera. Os machos de várias espécies de aves adquirem plumagens exuberantes nesta época do ano com a finalidade de atraírem as fêmeas e de demarcarem o seu território relativamente a eventuais rivais. 

Por vezes, as cores vivas servem para assustar os predadores indicando carne com sabor desagradável ou mesmo venenosa. A cor intensa e viva das rãs tropicais, da cobra-coral indica venenos muito perigosos. 

Alguns animais inofensivos protegem-se apresentando padrões cromáticos idênticos aos de espécies venenosas ou de sabor desagradável. A borboleta vice-rei consegue enganar muitos predadores graças ao seu padrão colorido semelhante ao da borboleta-monarca cujo paladar é bastante desagradável devido às plantas que come.


Muitos animais terrestres e aquáticos apresentam cores semelhantes às dos locais onde vivem. Permanecem camuflados e imóveis longos períodos, escapando aos predadores e aguardando o momento oportuno para atacarem as presas.

Como vemos, tanto os animais na maioria das espécies, como também os vegetais se utilizam da mimetização. Percebe-se também essa camuflagem em alguns dos seres humanos, utilizando da mimetização, tentando o tempo todo não aparecer, são tímidos, tem medo, estão sempre evitando falar, não gostam de se expor. Tem alguns que adoram se mimetizar como forma de evitar fazer muito, ou até não fazer nada, principalmente quando estão em grupos de trabalho, só escuta, não participa, parece que fica se escondendo todo tempo. Chamamos estes de preguiçosos e até de enrolões. Já outros seres humanos adoram aparecer, e para isto utiliza-se de vários mecanismos, que vai desde o modelo de roupa, cor, até o falar. Falam alto, faz muito barulho, entram nos ambientes chamando sempre atenção. Existe até treinamento específico para mimetização humana como nas preparações militares. 

No meu entender através dessas comparações percebo que algumas atitudes e comportamentos humanos são formas de se mimetizar. O predador na comparação humana é aquele que pode assumir o papel de repreender, de expulsar, de aniquilar, de prender, de acusar e de expor. Os mimetizados pela sua vez em determinados ambientes ficam muito vulneráveis aos preconceitos, descriminações e até injúrias, ou ao meu modo de ver deixam a vida passar sem deixar sua marca, pegada, legado. Será que você mimetiza-se diante de problemas, dificuldades? 

A MIMETIZAÇÃO PRECISA SER UTILIZADA COMO ESTRATÉGIA DE GARANTIA NAS PROPRIEDADES RURAIS
Como utilizar esta estratégia nos nossos ecossistemas cultivados? Como mimetizar os componentes do sistema de forma que possamos tirar vantagens desta estratégia? Esta é uma pergunta que precisa ser respondida por quem pratica a Permacultura ou outras agriculturas de base ecológica. Aprender usar as estratégias que a própria natureza utiliza como forma de se defender e ajudar a perpetuar todas as espécies é uma grande ferramenta. 

A permacultura vem aguçar sua capacidade de criatividade para criar espaços onde nenhum chame a atenção. Onde os cultivos passem por despercebidos, e possam ser mais um no sistema sem ser atacado, predado. Criar espaços onde todos sejam importantes para o todo. Criar espaços com esta qualidade só se consegue através do uso da diversidade, da mistura da combinação onde alguns estão para atender as necessidades dos outros. 

ALGUMAS ESTRATÉGIAS QUE PODEM SER UTILIZADAS

1.  Cultivar plantas que sirvam de alimento para alguns insetos, deixando nossos cultivos principais despercebidos e intactos. Oferecer outros alimentos para não ser predado é uma grande estratégia. Na horticultura orgânica esta pratica já vem sendo muito utilizada, com ótimos resultados; 

2. O plantio de plantas de várias espécies misturadas é uma forma de mimetização que podemos utilizar aumentando a proteção de todos que fazem parte do sistema ou até mesmo protegendo algumas em detrimento de outras. A mistura deve acontecer na sua maior intensidade, quanto mais diversificada for a área, mais disfarce e camuflagem acontece e logicamente mais proteção a alguns elementos do sistema dependendo da estratégia que foi planejada. Quem vai proteger quem, de que forma e quantos outros elementos podem gerar mais segurança? Estas são as perguntas que devemos fazer quando for montar uma estratégia de proteção e defesa de um cultivo ou criação; 

Como esconder as plantas que cultivamos dos seus predadores? É fazendo monocultura ou misturando tudo?


3.  Nunca plantar suas culturas fora da época, isto é, do seu ciclo produtivo, de sua estação. Essa operacionalização chama atenção dos predadores, atraindo os mesmos para eliminarem. É como se a natureza quisesse nos dizer, não é teu momento de existir, o período não é propício, espera o teu tempo; 

4. O se parecer com as culturas locais, nativas do período é outra vantagem. Quanto mais parecido menos ataque para a erradicação vai acontecer. Parecido em cor, tamanho, forma estas são as características que podem ajudar nossos cultivos. 

5. Outra estratégia que podemos utilizar é através do uso de plantas que exalem cheiros ativos, arruda (Ruta graveolens), algumas variedades de hortelãs. Muitos desses aromas afastam muitos insetos. Logo, estas plantas podem ser plantadas entre as cultivadas ou nas bordaduras dos canteiros de hortaliças. 

Mas, a melhor maneira é não precisar camuflar nossos cultivos. A camuflagem é uma forma de tentar enganar, iludir, ser o que não é, e precisamos que nossos cultivos desenvolvam-se da melhor forma possível sem precisar usar destes mecanismos. Uma planta que cresce em ambiente fértil, saudável, onde ela encontra suas necessidades atendidas com certeza ela não irá precisar usar estas estratégias. Solo saudável e equilibrado ainda é a melhor receita para o sucesso produtivo. 


05 de agosto de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar! Convide seus amigos para participarem também.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Thanks for commenting! Invite your friends to join too.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...