domingo, julho 27

A natureza se encolhendo - O enxugamento natural da natureza na entrada do verão no semiárido nordestino

Antônio Roberto Mendes Pereira

No início do inverno no sertão, acontece uma explosão de vida. Em poucos dias o que estava seco e quase sem vida torna-se verde e com uma abundância de vida estupenda. Não falta comida para todos os seres que vivem no espaço que estava passando pelo período da seca. Muitos insetos chegam ao seu máximo de reprodução, carecendo agora da presença de predadores naturais para colocar estas espécies em níveis toleráveis no ambiente.


Momento este também, que os agricultores aproveitam desta explosão de fartura para fazer suas reservas alimentícias através dos seus cultivos. O solo úmido propicia o crescimento de várias espécies de cultivos que servirão de alimentação aos homens e aos animais criados pelas famílias.

Quanto mais se entender deste momento, mas se pode aproveitar deste presente pontual da natureza. A natureza neste momento esbanja vida e recursos ou providencias para sustentar mais vida. Neste momento deveríamos saber armazenar parte de toda esta riqueza natural para os momentos de escassez vindouros. 

Deviríamos ENTENDER que esta fase é passageira e que nem sempre acontece com tanta intensidade, logo deveríamos saber guardar, acumular, criar reserva para o depois. Mas parece que em alguns momentos esquecemos-nos das outras fases vindouras e passamos os pés pelas mãos, cometendo enganos ou erros diante destes fatos ou momentos de ofertas naturais. Achamos que de agora em diante pode ser ou vai ser diferente, que o verde e a umidade da fartura vão continuar até mais adiante no tempo. E ao invés de planejar a diminuição do que pretendemos ter e manter terminou por tomar a decisão de manter todos os elementos criados e plantados na mesma quantidade e da mesma forma. E com este procedimento terminamos comprometendo nossas pretensões.

Até parece que se está passando esta fase pela primeira vez, a confiança humana ultrapassa a capacidade da natureza de manter o ambiente. Vários são os exemplos que compravam tal comportamento, vejamos alguns que afirmam tal atitude.

· Uma determinada família cria 50 cabeças de gado. E que durante o período do inverno percebe-se que esta propriedade ou as partes da propriedade que estão dedicadas para alimentar toda esta quantidade de animais é suficiente, se faz capaz. Mas como dito anteriormente esta fase é uma fase privilegiada, é um momento que com certeza não irá permanecer de forma permanente. Mas, mesmo percebendo as mudanças no ambiente, insistisse em manter as mesmas quantidades. Muitos produtores durante esta última seca tentou manter a mesma quantidade de animais que tinha enquanto a natureza encolhia suas ofertas de alimento e água. Esta tomada de decisão levou muitos produtores a ter prejuízos financeiros e econômicos, pois perderam vários animais por morte ou por ter que vender por preços muito abaixo, porque os animais já não possuíam mais um potencial de carne para pegar bons preços, sua carcaça estava comprometida.


· Esta mesma lógica se utiliza para quem vive de cultivos, que ao término do inverno deve-se preparar-se para acompanhar a lógica da natureza de ir encolhendo as áreas de produção, ou melhor, ir hibernando estas áreas para a próxima estação das águas ou da fartura. Se a propriedade tiver uma segurança hídrica a lógica é diferente, pode-se até manter, mas pense muito bem antes de planejar em aumentar. Qualquer aumento precisa ser muito bem pensado.

· Durante o início do verão a natureza vai encolhendo umas coisas e aumentando outras, vejamos algumas dessas afirmações:


Como se preparar para estas mudanças sem ter prejuízos inesperados ou repentinos? Tudo isto pode ser planejado, pensado, pois é quase como um padrão natural que ocorre quase sempre. É quase que repetitivo, logo pode ser mais bem planejado.

SUGESTÕES

1. Reduza sua área de atuação produtiva a partir da capacidade de suporte hídrico que possui na propriedade.

2. Tente manter a sua de segurança alimentar nas zonas 01 e 02.

3. Reduza o tamanho dos animais criando ou segurando outras espécies de pequeno porte, que consomem pouco alimento e água.

4. Com as plantas siga a mesma lógica, plantas maiores bebem mais água, logo as reservas irão diminuir mais rapidamente. Logo dê preferência para manter plantas de portes pequenos e quanto mais nativo melhor, pois estão adaptadas ao clima da região.


5. Proteja mais os animais da radiação solar direta, o não uso desta estratégia contribui para um consumo menor de água para manter o corpo em uma temperatura confortável.

6. Nos locais de plantios busque utilizar ao máximo uma cobertura para o solo, protegendo-o dos raios solares diretos e dos ventos. Imite o comportamento das plantas caducifólias que soltam suas folhas para diminuir a evaporação da água que esta retida no solo.

7. Planeje muito bem a reprodução dos animais, para não ter surpresas desagradáveis para manter todos os recém nascidos. Lembrem-se eles irão crescer e com este crescimento todo consumo também se elevam.

8. Se quiser manter os animais durante a época de escassez armazene forragem para este período, existem várias tecnologias que ajudam neste armazenamento para uso posterior.


9. Identifique a demanda de água de cada espécie animal diário e se puder descubra também o consumo das principais espécies de plantas que se irá manter durante a estação do verão. Os milímetros de chuva necessários destas culturas poderão ajudar nestes cálculos.


10. Descubra a taxa de evaporação do ambiente por dia.

11. Cubra ao máximo as fontes de água da radiação solar direta, este comportamento ajudará na diminuição da evaporação.

12. Se perceber que o inverno vai ser curto, invista não em cultivos para você, mas para alimentar o solo.

A forma de enfrentar o encolhimento da natureza é também aprendendo a encolher nossas atividades produtivas. Respeitando a sabedoria da natureza em dar um descanso para se refazer do desgaste produtivo da fase de abundância. Isto é saber utilizar a sabedoria da natureza em nosso favor, é aprender fazer tendo como mestra a natureza e todas suas relações de interdependência. Acompanhar os ritmos e ciclos da natureza é saber quando deve e quando não deve se exceder.



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