terça-feira, março 5

Plano para evitar desastres na pequena propriedade rural

Antônio Roberto Mendes Pereira

Em todos os espaços de habitação podem acontecer fenômenos ou acontecimentos que são conhecidos como desastres. São situações que afetam comunidades quer sejam rurais ou urbanas, ocasionando problemas sérios a depender do grau de sua intensidade. E todos estes problemas demandam ações concretas e planejadas para evitar, minimizar e até reestruturar os ambientes e as estruturas depois de ocorridos estes eventos.


Desastres podem ter dimensões locais, regionais e agora os globais vem tomando proporções alarmantes (aquecimento global, declínio na quantidade e na qualidade da água em algumas regiões do planeta), e estes acontecimentos têm sempre como um dos causadores principal os seres humanos através de suas ações mal pensadas. Muitas vidas são perdidas pelas conseqüências destas ações, logo qualquer avaliação anterior de uma propriedade ou até de uma comunidade para montar planos de prevenção se faz necessário.

Na Permacultura este planejamento deve ser uma constante. Uma visão detalhada ou minuciosa das áreas que são propensas para eventos desta dimensão e natureza deve ser pensada devendo está planificada, e que todos os membros da família ou da comunidade precisam conhecer as áreas onde podem acontecer estes problemas, a possível intensidade e as estratégias de soluções. Ser pego de surpresa e sem planejamento, pode aumentar as conseqüências e as perdas. Estes planos precisam ser compreensivos por todos os membros que possivelmente poderão ser afetados. Todas as propriedades precisam desenhar suas estratégias para reduzir a extensão e o impacto dos desastres e para resistir ou evitar o pior destes desastres.

Nesta lista podemos citar vários tipos de eventos que podem se tornar desastres:

· Enchentes;
· Estiagens prolongadas;
· Inundações;
· Queimadas;
· Incêndios;
· Secas;
· Ventanias;
· Envenenamentos;
· Poluições;
· Geadas
· E em algumas regiões terremotos, furacões, tornados etc.

A aplicação dos princípios da Permacultura para reduzir os riscos é o que se pretende com as idéias deste texto. Conhecer as frequências  e os impactos que os fenômenos e ou catástrofes podem acontecer é a base para o desenho destes planos.




A reparação ou até a substituição das áreas utilizadas na propriedade, dos animais ou das instalações pode ser em muitos casos impossível ou até muito caro para muitas famílias, logo se faz necessário ter este plano planejado e conhecido por todos que vivem neste espaço ou ambiente.

Porém, existem alguns tipos de desastres que tem características diferenciadas e especificas são os ecológicos tendo funções de reparação da própria natureza.

FUNÇÕES ECOLÓGICAS DOS DESASTRES

Estes desastres também são destrutivos causando transtornos as pessoas aos animais e as estruturas, mas em muitas situações são necessários. Deixam as pessoas com medo, em pânico, mas são uma maneira frequente de redistribuição ou reciclagem de recursos e nutrientes na natureza. Vejamos alguns benefícios trazidos por este tipo de desastres:

· Secas podem controlar pragas e doenças;
· Inundações podem redistribuir e aumentar o nível de nutrientes em determinadas áreas;
· Incêndios podem fazer limpezas e regeneração de algumas espécies;
· Podem também ser formas de reequilibrar e colocar alguns ambientes e espécies em novos equilíbrios.

É bom saber também que muitos desastres estão relacionados ou interligados com outros. Por exemplo, a seca pode levar a escassez e calamidades. Entretanto, a escassez pode ser causada também por guerras e outras calamidades.

Todos estes acontecimentos precisam ser encarados ou entendidos como provocação para novas aprendizagens. As perturbações naturais sempre têm um propósito que pode ser para:

· Rearrumar;
· Redistribuir;
· Regenerar;
· Reagrupar;
· Refazer.

Porém, os desastres causados pelos homens, sempre trazem perturbações inesperadas e rápidas e muitas vezes de proporções avassaladora. Trazendo sempre muitos transtornos e poucas possibilidades de crescimento ou evolução deste ambiente. Um exemplo que podemos apresentar que é culturalmente entendido como uma boa forma de aumentar os nutrientes do solo são as queimadas feitas pelos agricultores ano após ano de forma cultural. Mas, elas quase sempre são desastres ou perturbações terríveis para todo o ecossistema, regride o ambiente, não permite a evolução do espaço. Percebe-se um crescimento vegetal instantâneo, porém passageiro e de muita insustentabilidade.

É claro que os incêndios espontâneos é um fenômeno natural, e que para acontecer muitas variáveis precisam estar interligadas e no limite, tem seu tempo próprio para acontecer. Diferente da queimada feita pelos homens, onde normalmente esta pratica só atende a necessidade humana não levando em consideração todo o ecossistema.

Outro exemplo que pode ser citado é o uso abusivo de agrotóxicos que normalmente não é para o controle de pragas, mas para a aniquilação total dos insetos de forma indiscriminada, além de deixar resíduos que vão permanecer por vários anos, contribuindo para a poluição do ambiente quase que permanente e dos seres vivos que neste espaço tira sua sobrevivência.

O desmatamento de forma indiscriminada também é outra perturbação causada na maioria das vezes pelos homens e que provocam também transtornos irreparáveis para os ecossistemas naturais e cultivados.

PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO

Os objetivos de design para as propriedades que vivem constantemente em risco de desastres são:

1. Desenhar paisagens e construções que possa suportar os sobreviver o pior desastre.
2. Preparar-se para diversos tipos de catástrofe.
3. Analisar as causas, frequências e duração dos mesmos.
4. Descobrir a freqüência e impacto dos desastres.
5. Aplicar o princípio da Permacultura para reduzir o risco.
6. Fazer plano.

Nossa tarefa ética deve ser:

· Salvar vidas primeiro e salvar as coisas e a propriedade por último.
· Criar planos compreensivos com toda sua família e comunidade local.
· Desenhar para reduzir a extensão e o impacto dos desastres e para resistir ou evitar o pior dos desastres.

Uma das primeiras providências para desenhar as propriedades é buscar informações de desastres em relatórios meteorológicos, artigos de jornais, moradores antigos e memória física ao longo de rios ou até arvores. A internet também pode ajudar com mais informações. Quanto mais informações podermos adquirir mais preciso pode ser o planejamento.

AS ENERGIAS VINDAS DE FORA

Muitas energias podem vir de fora da propriedade e precisam ser identificada para que se tenha um controle mínimo sobre ela. Permitir sua entrada ou seu direcionamento adequado é o que se deseja. Um controle que leva a aumentar a capacidade produtiva e de execução de tarefas com a energia que ora vai ser controlada. Na permacultura as áreas de onde vêm estas energias são chamadas de setores.

Estas energias em algumas situações se não estiver sobre determinado controle pode contribuir no agravamento dos desastres internos nas propriedades. 

Energias como, vento, chuva, fogo, entre outras precisam ser identificadas de que lado ocorre com maior freqüência, para que se possam montar estratégias de uso ou não das mesmas. Em alguns casos desvios ou diminuição da intensidade destas entradas de energias se faz necessário através do uso de técnicas.

O desenho abaixo representa a identificação dos setores por onde algumas energias entram na propriedade. Esta identificação contribui no ordenamento do planejamento de uso ou não destas energias. Não basta apenas saber que acontece a entrada destas energias, precisa-se identificar com muita clareza e precisão, setor e intensidade.


Exemplos de algumas técnicas que podem contribuir no controle destas energias setoriais:

· Quebra vento;
· Aceros;
· Faixas de retenção de incêndio;
· Armazenamento de água em locais prováveis de incêndios;
· Escolha do local para a construção da habitação.

 DESASTRES EM POTENCIAL

DESASTRES NATURAIS
DESASTRES CULTURAIS
DESASTRES SECUNDÁRIOS
Fogo
Economia global
Epidemias
Enchentes
Acidentes nucleares
Migração em massa
Secas
Guerras
Pragas
Ciclones, tempestades
Terrorismo
Colapso social
Terremotos
Mudança climática

Tsunamis
Vazamento de químicos

Vulcões
Desmatamento


CONHECENDO O PERFIL DE UM DESASTRE

DESASTRE
QUESTÕES
Causa
Desastre natural ou causado pela humanidade?
Freqüência
Com que freqüência ocorre?
Duração
Quanto tempo dura?
Rapidez da ocorrência
Existe um período de alerta prévio?
Amplitude do impacto
Dispersos ou concentrados em uma área?
Potencial destrutivo
Qual a densidade de habitantes?
Previsibilidade
Segue um padrão previsível?
Controle
Existe auxilio às áreas atingidas?

CONSIDERAÇÕES VITAIS PARA A SOBREVIVÊNCIA

Estruturas
·         Materiais para resistir desastres. Um refúgio seguro afastado do local atingido.
Rotas de fuga
·         Córregos, aceros/trilhas de fogo, estradas alternativas, nos morros.
Transporte
·         A pé, barco, bicicleta, carro, outro?
Planos de evacuação
·         Quem precisa ser evacuado, por quem, em que transporte e para onde.
Segurança alimentar
·         Armazene as sementes, comida e água o mais longe possível centro do desastre.
·         Armazene comida em uma caverna, quarto subterrâneo, pequena casa de barro, numa ilha ou numa barragem.
·         Estoque comida desidratada.
·         Tenha um jardim de emergência longe do centro de desastre e plante somente vegetais simples (batatas, cebolas e outras comidas fortes).
·         Tenha um mínimo de 3 litros de água por pessoa/dia.
Cozimento, calor e luz
·         Assegure alternativas para suprimento de energia, como lenha, baterias, pilhas, painéis solares, botijões de gás, velas, fósforo, querosene e isqueiros.
·         Para aquecimento tenha cobertores, bolsas de água quente, casacos e roupas a prova de chuva, ventos e fogo.
Primeiros socorros e remédios
·         Uma ou duas pessoas serão exclusivamente responsáveis.
·         Planeje como manejar os resíduos humanos.
Ferramentas
·         Barracas, pás, serrotes.
Comunicações
·         Rápida, clara e auxiliar (apitos, bandeiras e rádios).

PLANO PARA DESASTRES NATURAIS

DESASTRE
AÇÃO A SER REALIZADA
Enchentes – podem durar dias ou meses
           Planejamento a implementação:

·         Todas as estruturas acima da linha de enchentes 1:100 podem estar em perigo.
·         Plante densamente ao longo das margens dos rios para reduzir a energia do fluxo e captar nutrientes.
·         Plante árvores e arbustos em encostas íngremes para reduzir enxurradas.

Quando o desastre vier:

·         Não entre nas enchentes descalço.
·         Não beba a água das enchentes, elas estarão contaminadas com esgoto.
·         Não use carros. Espere ou use barcos e carregue água potável.

Secas – planeje para anos

Planejamento e implementação:

·         Desenhe estratégias e técnicas à prova de secas para que pessoas e ecossistemas possam sobreviver longos períodos.
·         A água deve ser mantida limpa.
·         Se a seca é parte do ciclo normal do clima, pastos e ração podem ser poupados.

        Quando o desastre vier:

·         Nunca perca as fontes de sementes ou animais por avareza ou falta de cuidado.
·         Realize captação de água e à prova de secas durante o período seco.


PLANEJAMENTO CONTRA INCÊNDIOS

ZONA DE OCORRÊNCIA
PREPARATIVOS ANTECIPADOS
Jardim da Zona I
Ao redor da casa, mulch molhado, mulch verde e irrigados.
Pomar da Zona II
Pomares são excelentes preventores de incêndio.
Água
Armazenamento em lagoas de irrigação/aqüicultura e tanques de armazenamento ao redor de casa. Tampe e encha canais, pias e banheiras. Tenha mangueiras nos interiores.
Caminhos e estradas
Direcionadas para fora do sentido que o fogo vem. Mantenha desobstruídos.
As portas dos viveiros de animais
Devem abrir para a área mais fresca.
Barreiras de calor radiantes
Muros/paredes de pedra; parede de barro; concretos; tijolos; cercas-vivas grossas e baixas; paredes brancas e telas para mosquito na casa.
Plantas resistentes à fogo
Eucalipto, cacau, amora, figo, banana, agave que se regenera.
Abrigos de fogo
Um lugar que as pessoas podem escapar caso sua casa se queime. Deve ser construída de barro, pedras ou dentro de um morro.

Como podemos perceber muita coisa pode ser prevenida, quando se planeja a partir da realidade. Quanto mais se conhece a realidade mais real será o planejamento e a segurança que o mesmo pode trazer para a família e para toda a comunidade. Mais uma vez a Permacultura quer antecipação para a prevenção de desastres. 

Nossas comunidades na sua maioria são desprovidas de planejamento para este tipo de ocorrências. Sabemos que quase todo o ano pode acontecer e não nos preparamos, espero que este texto possa contribuir para que este tipo de planejamento possa fazer parte das agendas das propriedades rurais, embora que este tipo de conhecimento pode contribuir em qualquer espaço quer seja urbano ou rural.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Morrow, Rosemary. Permacultura Passo a Passo – Pirenópolis, GO : Mais Calango Editora, 2010.

2 comentários:

  1. Olá Roberto!

    Tudo bem?

    Gostei muito do seu trabalho, pois tem várias informações sobre ecologia. Eu sou bióloga e me preocupo muito com o planeta. Tenho um blog também e gostaria de divulgá-lo para você! Ele ainda é bem novinho e é por isso que faço divulgação para outros projetos que parecem pensar como eu! Se puderem visitar e até seguir, caso gostem, eu ficaria bem feliz! Minha ideia é espalhar o conhecimento para o maior número de pessoas!

    Minha preocupação, ao fazer o blog, foi de dar dicas para as pessoas poderem fazer algo pelo mundo, nem que seja algo simples. Assim, eu dou dicas de ecologia, livros, filmes, reflexões etc.

    Também tenho um projeto que se chama “História ao contrário”, que visa contar a história das ciências, filosofia, música etc, do ponto de vista de muitas mulheres que foram apagadas da história.

    Minha página no Facebook:

    https://www.facebook.com/PensandoAoContrario

    O link do blog segue abaixo.

    http://pensandoaocontrario.blogspot.com.br/

    Bem, peço desculpas se este e-mail incomodou de alguma maneira! Tentei achar seu contato, mas não achei e acabei mandando nos comentários!

    Muito obrigada e um ótimo dia para vocês!

    Abs, Camila.

    ResponderExcluir
  2. Você blogueiro, já pensou em neutralizar a emissão de carbono do seu blog é Grátis!

    Sabia que um blog produz quase 3,6 kg de dióxido de carbono por ano? A maioria dos blogueiros não sabe.

    Nosso objetivo é plantar 500 árvores nativas no Brasil, e para isso precisamos da participação de 500 blogueiros. Participe agora, e garanta o plantio de uma árvore para que seu blog seja neutro em CO2.

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