sexta-feira, maio 13

Agricultura de lugar


Antônio Roberto Mendes Pereira

O número de pessoas que produzem alimentos no mundo vem diminuindo. As luzes da cidade a cada dia vêm encantando e atraindo os moradores do campo. A saída do campo e a nova moradia na cidade causam grandes transtornos na vida destas pessoas. A cultura do produzir alimento vai sendo esquecida e trocada pela cultura do comprar. Na qualidade da alimentação dos camponeses migrados do campo, a uma perda irreparável, diminui muitas vezes em quantidade, qualidade e na facilidade do poder ter, ou melhor, do poder comprar. Na qualidade da vida também tem perdas irreparáveis, perdas estas que o espaço urbano não consegue atender, nem ofertar. Assim para alguns a troca já não foi ou é tão boa como se pensava. Outros indicadores de vida saudável são perdidos como: a qualidade do ar, da água, do espaço como um todo, além das paisagens que antes era natural, no quintal, logo a frente da casa, no campo, no jardim, mas não menos importante e belo, estava ali pertinho e podia-se contemplar apreciar, produzir, dividir, cuidar, ter prazer sem ter que pagar para ver, e sentir, o cheiro da chuva na terra molhada, o canto dos pássaros ao amanhecer e o 
perfume das plantas que faz bem a qualquer ser.


E muitos ex-agricultores quando se dão conta desta perda tentam retornar ao campo, mas, muitos por ter vendido o seu pedaço de terra tentam compensar estas perdas tornando-se agricultores urbanos que praticam a AGRICULTURA DE LUGAR, (este conceito mais adiante é explicado) como uma forma de compensar esta perda quase que irremediável.



A vontade de voltar a produzir torna muitos ex-agricultores em egressos da prática em agricultura, buscando aproveitar todo espaço livre que possa ter acesso para voltar a produzir alimento. Uns como hobbies, outros por necessidade de complementação alimentar, outro, como fonte de geração de renda para prover parte da dieta da família.

Um quintal, um terreno baldio, até em calçadas e praças, a cultura torna-se maior e imperiosa do que a falta de espaço. Até em latas, caixotes esta vontade é atendida, o pensamento é um só, voltar a produzir de forma constante e agora para atender principalmente a necessidade da família e em alguns momentos presentear os vizinhos com a intenção de criar vínculos e amizades.

o lado imagem da adaptação de uma calçada para a produção de alimento no Serta Glória do Goitá.



A terra precisa ser fabricada, pois neste espaço em sua maioria não existe solo e sim metralhas das construções deixando o solo empobrecido de suas camadas estruturais. A compactação deste solo estará presente, e este profissional que se aposentou volta à ativa com mais garra do que antes. Agora motivado pela vontade de novamente produzir, de novamente comer bem, de novamente ser dono do produzir e não do comprar e talvez agora quem sabe do poder também vender.


No momento do fabricar terra, este agricultor vai precisar produzir fertilidade através de insumos que em tempos atrás, muitas vezes quando residia no campo nunca valorizou, nunca deu valor. O mato, o lixo orgânico que antes era queimado agora vira insumo de primeira qualidade para dar vida a uma terra que estava infértil e em alguns casos até morta. Vai ter que aprender a fazer compostagem para poder produzir os fertilizantes necessários para compensar a baixa riqueza do solo.

A adubação é um dos grandes entraves para a prática da agricultura urbana, pois a cada pé de alface que se produz e se consome ou se vende, perde-se parte da fertilidade do espaço que o produziu, caso não se recicle o resíduo produzido por este alface, pós consumo (esterco).

A água que escorria lá no solo do roçado e do telhado da casa no campo, agora tem outro valor, necessita-se captar a mesma de todas as formas, pois utilizar água potável, tratada na cidade é proibido, existe legislação que coíbe. Numa situação desta as estruturas físicas da casa torna-se valorosa. Uma biqueira torna-se um poço onde se pode captar água para armazenar. A criatividade surge a partir da necessidade, tem um dito popular que diz na CRISE tire o “s” CRIE.


Esta mesma lógica aplica-se também ao tamanho do espaço que se tem, se é pequeno horizontalmente o que fazer para aumentar verticalmente? Daí surge à necessidade de se praticar com criatividade a AGRICULTURA DE LUGAR. Que é um jeito de fazer agricultura aproveitando-se ao máximo todos os espaços possíveis para se cultivar e criar. Neste instante que se toma esta decisão de fazer agricultura urbana e de lugar abre-se um espaço incrível para a criatividade.

Acontece uma aprendizagem fantástica, surge um novo profissional das ciências agrárias. O profissional especialista em produzir alimento em pequenos espaços, e em espaços pequenos, utilizando os recursos locais, e sendo mais atento as energias e benefícios oferecidos pela sabedoria da natureza. A professora que não só ensina ela demonstra e mostra o como fazer.

AS APRENDIZAGENS NECESSÁRIAS

·         Necessita-se aprender como produzir conduzindo a luz para determinados espaços, pois sem luz as plantas não conseguem fazer a fotossíntese. Planta que não recebe sol suficiente estiola, fica taluda, com um aspecto feio, e de baixo valor biológico, pois ela não conseguiu ter todas as suas necessidades atendidas. O jogo da luz faz-se imperioso, precisam-se conhecer as necessidades diárias de banho de sol das plantas.

·         Ele agora vai ter que aprender selecionar as plantas pelo tamanho do espaço ou do recipiente que esta planta irá ser cultivada. Deverá aprender utilizar a água da melhor forma possível, não pode haver desperdício, têm que usar a mesma água várias vezes. As posturas de sustentabilidade precisam ser vivenciadas, pois de outra forma o insucesso da atividade ou até em alguns momentos hobby pode não ser bem sucedido.

·         Vai ter que aprender a utilizar um dos primeiros princípios da Permacultura “localização relativa”, onde melhor localizar seus recipientes para a prática da agricultura de lugar, levando em consideração a necessidade de cada planta por luz, por espaço, nutriente e água para se desenvolver.

·         Vai ter que aprender calcular o quanto de água as plantas bebem por dia. Quanto será que um pé de alface consome de água por dia, no verão e no inverno? Esta informação é preciosa para que se possa criar uma segurança no ter e no usar deste recurso tão valioso.
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A economia doméstica é a base para a prática desta modalidade de agricultura. A matemática do espaço deve estar em consonância com a matemática da necessidade familiar, atrelada com a capacidade dos cultivos escolhidos, e da criatividade produtiva da prática da agricultura de lugar. Se utilizar o espaço para mais um pé de alface tomou espaço de outra variedade de cultivo. A matemática do uso espacial vai ter que ser dominada para melhor ser praticada.

A agricultura urbana exige muito planejamento e distribuição dos elementos inicialmente, é uma atividade onde precisamos estar atento para que a energia recuperada seja igual ou maior do que a energia aplicada. A elaboração de um mapa do terreno se faz necessário para a melhor localização dos elementos que vão compor o sistema.

A área urbana é considerada um ecossistema altamente insustentável, logo os desequilíbrios neste espaço chamado cidade é grande. Muitos dos insetos que ali existem são pragas, em muitos casos sem a presença dos seus inimigos naturais ou controladores.

Desta forma, a prática da agricultura urbana e do lugar exige determinadas tecnologias para a proteção dos cultivos. A agricultura protegida deve ser levada em conta quando se operacionaliza esta modalidade de cultivo.


Uma espécie de mosquiteiros confeccionados com telas plásticas é muito utilizada para proteger as culturas destes insetos. O uso de defensivos químicos deve ser evitado a todo custo. Devem-se dar preferências por defensores botânicos feitos a partir de extratos de plantas, embora que a necessidade do uso destes é um indicador de desequilíbrios no ambiente, e a melhor forma de corrigir estes é buscando praticar uma agricultura onde os ensinamentos da natureza devem ser copiados ao extremo, leia o texto “A linguagem da natureza”

 A operacionalização da agricultura urbana vai exigir a criação de animais, pois eles são os grandes recicladores da matéria orgânica. Eles conseguem concentrar os nutrientes nas suas fezes. É de bom manejo nesta prática a criação de pequenos animais que possam ser consumidores dos restos de culturas e com suas fezes transformar as mesmas em composto que serviram para a fertilização dos cultivos, leia “A constante transferência de fertilidade na natureza”


Quanto mais junto e misturado estiver os cultivos mais proteção estará oferecendo as plantas cultivadas. Esta estratégia precisa ser operacionalizada independentemente do tamanho da área que se têm.


O custo de produção na agricultura urbana deve ser baixíssimo, pois a tentativa permanente é a de utilizar e reutilizar ao máximo os desperdícios, as sobras e as forças da natureza de forma sustentável.


O resultado mágico desta agricultura são os alimentos biologicamente ricos e saudáveis. Alimentos funcionais que resolvem as carências do nosso corpo em vitaminas e sais minerais, que fazem parte de toda alimentação biologicamente equilibrada.

 Além do prazer de produzir estes alimentos podemos ter um lazer que nos traz tranquilidade, paz e respeito à natureza, tendo ela como a mestra, a professora que ensina todos os dias e toda hora. Não espere, prove também desta alquimia de transformar solo, água, ar e luz em comida saudável, pura e de sabores que apuram o  nosso paladar, descobrindo verdadeiramente o gosto dos alimentos.


Saia do lixo da monotonia espiritual e visual para o luxo de um espaço saudável e belo. Transformando espaços abandonados, com lixo e sem vida, em áreas produtoras de prazer e de alimentos. A natureza e a humanização deste espaço precisam da sua intervenção produtiva. Plante e ganhe o presente de colher para comer como dádiva desta natureza. Você precisa dela para continuar a viver.

Precisamos criar a cultura do voltar a existir e do manter existindo, e você é capaz de fazer com que estas proposições possam acontecer, isto é SUSTENTABILIDADE aplicada ao seu dia a dia.

07 de maio de 2011

2 comentários:

  1. Parabens pelo BLOG!! Belo artigo sobre agricultura urbana, precisamos pensar nesta área....

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  2. Meu querido, a coisa é muito simples ao nosso ver. Antes viviamos dentro da natureza, vivendo dela, protegido por ela e orientado por ela.
    Hoje, com a degradação dos ecossistemas pelos homens, eles tentam compensar o mal causado pelas suas gerações levando uma plantinha para dentro de seu lar. Isso já é um grande passo, pois assim como no filme de WALL.E, sera´um vegetal a salvação de uma vida sem sentido de ter e ser. O texto retrata a vida claustrofóbica de apartamento, concreto,transito parado e mau humor.
    Jamais as cidades retrataram a vida do campo.
    Como diria o mestre Marcos Figueira: BOA!

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