quarta-feira, outubro 10

Aprendendo a ecologizar o consumo - Informação e conhecimento na hora da escolha

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A cada dia é necessário mais conhecimento para poder comprar qualquer coisa. Por trás de cada produto se esconde uma infinidade de produtos químicos para que o produto tenha uma aparência bonita, e se conserve sua perecividade por mais tempo para o consumo. A busca pelo lucro fácil, com menos gastos e com uma bela aparência é uma das lógicas econômicas que monopoliza o mercado. 

A qualidade natural dos produtos e dos alimentos vem sendo trocada meramente pela aparência. Cada vez mais se criam produtos com aparência artificial, aromas artificiais, sabor artificial, tudo parece de mentirinha, falsificado propositadamente, parece mais não é, e nem tem o que diz ter. São feitos para enganar o consumidor, que em busca de pagar menos por um produto termina por aceitar qualquer coisa, sem conhecer profundamente o que esta comprando. Esta forma de beneficiamento termina por gerar condições para a compra, porém de uma forma que o consumidor pensa que a qualidade daquele produto é boa, natural, e que não vai fazer mal a sua saúde. 


Muitos produtos químicos artificiais são manipulados para gerar estes artificialismos, conheça alguns: 

Butanoato de etila – éster responsável pelo aroma de abacaxi em refrescos artificiais. 
Metanoato de etila – confere o aroma artificial de groselha. 
Etonoato de butila – éster que dá o sabor de maçã verde. 
Acetato de pentila – é componente da essência de banana. 
Antranilato de metila – Flavorizante que dá sabor artificial de uva. 
Acetato de propila – confere sabor de pêra 

Todo alimento pós processamento passa a ter uma bula quando embalada. E quanto mais extenso é este rótulo, mais fragmentada é esta comida. Por exemplo: o milho passa por um processo horroroso para virar amido de milho, xarope de milho, frutose e outros derivados. São remontados justamente com outros alimentos fragmentado, com uma aparência legal e um bom marketing e pronto! Temos agora um novo produto alimentício que, pasmem, consegue ser mais barato que o milho inteiro. Ah sim, tem umas vitaminas e minerais pra compensar toda esta perda que teve no processo de fragmentação. Mas saibam, é tudo sintético também. 

Os rótulos dos produtos trazem muitas coisas escritas, com letras minúsculas justamente para que não consiga ler, e normalmente nem sempre as informações que preciso saber sobre aquele produto, como sua rastreabilidade e sua relação com o meio ambiente não fazem parte desta informação. Na maioria das vezes os rótulos trazem uma confusa lista de nomes de produtos químicos polissilábicos, ou mesmo números, que para se entender é necessário comprar um decodificador, para que possamos descobrir o que estamos verdadeiramente comendo. Como saber o que estou comendo se não sei ler e entender o que está escrito nas embalagens? Muitas das informações que estão nas embalagens são enganações, dizem o que compõe aquele produto, mas quando se manda analisar é pura enganação. Já se pode criar um rótulo de produto alimentar sem ter necessariamente que fazer análise dos componentes da mistura. São utilizadas tabelas aproximadas de análise. E o que incrível disso tudo é que a lei permite, existe até um site para realizar este tipo de trabalho. 


O nosso olho através da mídia televisiva foi preparado, treinado para comprar o que é belo e de marca, pouco se procura pela qualidade biológica. A falsificação de produtos vem crescendo a cada ano. A obsolescência programada é o carro chefe para voltar a comprar o mesmo produto novamente. A vida útil de uso dos produtos cada vez mais é diminuída de forma proposital e programada para que toda esta rede de consumo aumente e seja mais rápido o retorno as compras. Novas necessidades são criadas todos os dias e lançadas no mercado como se de agora em diante não se poderá viver sem aquele produto ou insumo. 


Dificilmente uma pessoa vai ao centro da cidade para passear, para andar, para se descontrair, sempre à intenção maior é comprar, comprar, comprar. Chega-se ao cúmulo de uma pessoa dizer quando é convidada para ir ao centro da cidade responder o seguinte “hoje não vou porque estou sem dinheiro”. O gastar dinheiro cada vez mais é realizado sem o uso de nenhum critério ecológico. Não há nada mais persuasivo que a maneira como se gasta o dinheiro atualmente. 

Atualmente ao sair de casa sou persuadido pela mídia e quase que obrigado a comprar a pagar, sempre tem uma seqüência de atos e coisas que tenho que usar o dinheiro. 

Podemos perceber neste exemplo do cotidiário: 
Indo ao centro da cidade: 

· Pago passagem do ônibus para meu deslocamento, se for de carro particular em algumas situações se paga pedágio, estacionamento, além de pagar pelo combustível do carro. 
· Se demorar muito, precisará comer pago novamente por este serviço; 
· Se tiver sede paga-se pela água mineral; 
· Se me interesso por qualquer objeto, gasto novamente; 
· Se precisar falar com alguém que esta distante, pago a ligação telefônica ou através de qualquer outro meio. 

E a situação criada é a seguinte: comprar – pagar – comprar – pagar – comprar – pagar... E termina no fim por se endividar. 

Como vemos, uma série de fatos e ocorrências acontece que nos leva a ação de decidir que tenho que comprar e gastar. Cada vez mais estas necessidades vão sendo criadas, divulgadas e impostas de forma convincente dessa necessidade. 

Todas as vezes que vou ao centro da cidade sou tentado para comprar, arrumou-se um jeito que para qualquer lado que se olha tem um apelo para se comprar alguma coisa. Cartazes por todos os lados, cada um mais bonito do que outro. Fotos com uma qualidade de imagem que lhe faz querer comer o que ela esta mostrando. A quantidade de outdoor utilizada gera uma verdadeira poluição visual. 




A psicologia e outras ciências já são utilizadas como uma grande ferramenta de mercado. Utiliza-se para conhecer as pessoas, suas necessidades e gostos, para gerar produto de venda. Vivemos em uma sociedade do consumo, onde existem pessoas que pouco produz, mas que consomem muito. É obvio que as pessoas não podem produzir tudo o que utilizam nessa sociedade complexa, portanto até certo ponto somos todos consumidores. Todos nós vamos ao supermercado, mas nem todos lêem o rótulo do produto antes de decidir comprar. Onde esta decisão necessitaria de uma grande quantidade de conhecimento e informação, por exemplo, na compra de tomates vejamos os seguintes questionamentos que precisaria acontecer para uma compra mais consciente: 

· Devemos comprá-lo frescos, enlatados, secos ou como molho? 
· Importados ou nacional? 
· Produzidos com exploração de mão de obra? 
· Produzidos organicamente ou não? 
· O que está envolvido em seu processamento, embalagem e transporte? 
· Quais os efeitos de tudo isso no ambiente, em nossa saúde, em nosso bolso? 
· Qual a rastreabilidade deste produto. 

Para decidir sobre qual papel higiênico comprar, temos que estudar clareamento com cloro, desperdício pós-consumo e a economia da indústria de reflorestamento. Como vemos o consumidor consciente ou VERDE, tem que ser extremamente bem informado para considerar os efeitos ambientais de cada compra, do berço ao túmulo, desde a matéria prima até seu destino final. 

O não ter dinheiro na hora da compra já foi resolvido pela economia, cria-se a compra a crédito, o conhecido fiado na cultura de alguns. O cartão de crédito é distribuído com tanta facilidade que induz o comprar sem ter dinheiro, e dificilmente às pessoas irão ter uma economia equilibrada, o sistema não deixa me leva ao endividamento com coisas fúteis que na maioria das vezes não se precisa daquilo. Dificilmente antes de tomar a decisão da compra não se pergunta: “Realmente preciso disso? Talvez eu pudesse ficar sem tudo isso” 

O estoque na prateleira do mercado e em casa é visto como uma economia. O ato do comprar para estocar é considerado para quem vende uma forma de aumentar os lucros, vendendo em época de escassez, e fora de estação da produção. 

O que fazer diante de todas estas armadilhas do sistema? 

ENFRENTANDO A SITUAÇÃO DE FORMA ECOLOGICAMENTE CORRETA 

· Deixar meramente de consumir e passar a produzir algumas de suas necessidades básicas alimentares - Uma simples horta é um grande passo para iniciar o processo de enfrentamento. Você já pensou se todas as famílias tivessem uma pequena horta em casa? O verde dos alimentos precisa voltar a ser produzidos nas áreas urbanas, independentemente de onde se mora. Transformar os jardins puramente ornamentais em jardins comestíveis. Conheço várias propriedades rurais que para a família comer um pé de alface tem comprar. Famílias que tem todos os meios de produção como: terra, água, adubo orgânico e um pouco de tempo livre, mas se dão ao luxo de não produzir e sim COMPRAR. Espaço não falta independentemente de onde se habita, qualquer lugar desde que a luz chegue neste espaço pode-se produzir um pouco de alimento, limpo, garantido, fresco e natural. Uma lata, um caixote, uma bacia velha, todos estes objetos podem se tornar sua micro fazenda. Que tal montar com os amigos uma horta comunitária urbana, utilizando um quintal, ou quem sabe um terreno baldio. Estes espaços conseguem unir famílias, trabalho e lazer, aumentando as possibilidades de participação e divertimento produtivo. 


· Faça sua feira onde se ofereçam produtos orgânicos - Hoje cada vez mais vem aumentando o número de espaços que oferecem produtos cultivados ecologicamente corretos, reconhecidos e certificados como produtos limpos, desprovidos de substâncias maléficas a saúde. Lembre-se não basta dizer que é orgânico, exija a certificação e se possível a RASTREABILIDADE destes alimentos. Saber quem produziu? Onde produziu? Como produziu? O que utilizou nesta produção? E até com qual mão de obra? São perguntas que deve fazer da rastreabilidade dos produtos, principalmente os alimentos, que sejam vegetais ou animal. 


Esta rastreabilidade deve fazer parte da rotulação dos produtos. Estas informações são muito importantes para que elas não estejam escritas. Precisamos de pressão maciça sobre os governos e a indústria para fazer os rótulos nos dizerem o que precisamos saber de um jeito que possamos entender, e precisamos educar as comunidades para motivar as pessoas a exigirem e usarem estas informações. Comece este processo por sua casa, educando seus filhos. 

· Conexão direta com o produtor - Este tipo de organização é conhecido como AAC, agricultura apoiada pela comunidade. É uma estratégia produtiva que envolve consumidores-produtores em que um número famílias contrata os serviços de agricultor para produzir alimentos e alguns derivados para atender suas necessidades. Estas famílias se juntam em determinados períodos e apresentam suas necessidades de produtos e o agricultor também apresenta sua capacidade produtiva familiar para atender a demanda. Chegam a um acordo e se planeja as estações, os produtos, as quantidades e acima de tudo o sistema de produção utilizado que deve ser agro ecologicamente correto. Este é um tipo de produção deve ser justa e solidária para ambos os lados. 

· Menos processamento e mais consumo in natura – todo processamento, beneficiamento contribui para que os alimentos percam parte da sua naturalidade, da sua qualidade biológica e nutricional. A melhor maneira de evitar todas estas perdas é comer os produtos com o mínimo de processamento, quanto mais cru, como se diz melhor, principalmente os vegetais. Esta forma de se alimentar além de ser mais saudável ainda contribui para a diminuição do gasto de energia, pois não tem necessidade de processamento. A única exigência é uma boa lavagem e uma boa mastigação que facilita uma boa digestão e, por conseguinte uma ótima absorção pelo corpo. 


· Leia o rótulo antes de decidir comprar – Como frisado anteriormente no inicio deste texto, devemos querer saber sobre o que estamos comprando principalmente quando este produto é alimento. Diminuem-se muitos os riscos simplesmente quando lemos o que contém neste rótulo, quando verificar muitos nomes que você não consegue entender, desconfie, escolha outros produtos similares que você conhece o é, e o que tem. 

· Crie ou participe de redes de trocas solidárias – As trocas solidárias sempre existiram desde os tempos mais primitivos entre os homens e mulheres. Quem nunca trocou alguma coisa? O cerne da questão colocada é que a moeda foi recriada nestes espaços. Espaços estes que incorporam uma função social a moeda que transcende o pagar. As trocas de produtos e serviços podem e devem acontecer sem que necessariamente precise existir uma moeda. Troca-se o que não se precisa ou quando se tem em excesso. Troco quando necessário e conveniente. Atualmente muita gente deixa de ter um produto por não ter uma moeda para a troca. A economia solidária estimula este tipo de mercado, leia mais sobre o assunto. Nesta inovadora experiência econômica precisa ser praticada por mais famílias. 

Entender e compreender o dinheiro, como é usado e para onde vai é fundamental para boas práticas de Permacultura. O uso deste dinheiro tem tudo haver com a preservação dos recursos naturais não renováveis do ambiente. O comprar, o adquiri já são comportamentos que precisam ser muito bem pensado, para evitar ter simplesmente por ter, ter e não usar, ter só para acumular, ter para privar o outro de também poder ter. Pense nisso. 

10 de outubro de 2012


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