sexta-feira, abril 8

A prática constante é indispensável na Permacultura


Antônio Roberto Mendes Pereira

Aprender Permacultura sem praticar é uma equação de difícil resolução, o resultado não será satisfatório, logo, matematicamente, é impossível resolver uma equação como esta, e profissionalmente é desqualificante e pobre. Aprender lendo jamais será igual ao aprender fazendo.

Fazendo é que se aprende

Na antiguidade para se aprender uma profissão era necessário passar pelas mãos de um mestre artesão, ele era a referência, a experiência e a sabedoria naquele ofício. Os pais tinham a preocupação não unicamente de levar o seu filho para aprender, mas entregava seus filhos para estes artesões mestres durante certo período, onde toda sua experiência era transmitida através da operacionalização daquela arte, o jovem vivenciava no dia a dia do atelier as aprendizagens. Levava-se muito tempo para preparar um profissional com a qualidade igual ou superior a dos seus mestres.


O fazer predominava sobre o saber. Ter os ensinamentos na ponta da língua, ou como se diz, memorizado não bastava. Demonstrava-se que aprendera o conhecimento, fazendo, executando. É claro que o saber era importante, mas a única maneira de comprovar que sabia era assumindo o saber FAZENDO, este era o desafio da aprendizagem e da comprovação real.

A “aprendizagem profissional” da época precisava desenvolver muito bem os conteúdos procedimentais, e a incorporação destes saberes eram sentidas através das atitudes permanentes do fazer. A atitude do continuar fazendo com qualidade, com destreza, com cidadania era a comprovação de que o profissional se misturara ao educador, com o cidadão preocupado em fazer bem feito e que todos pudessem desfrutar deste serviço.

Não existia o livro para ensinar, a aprendizagem acontecia no treinar, fazer, no praticar, na oportunidade de exercitar. E este tipo de ensino e aprendizagem perdurou por várias centenas de anos. Muitos dos melhores artesões em vários ofícios são da antiguidade, não querendo descriminar ou menosprezar os atuais, mas os antigos são de uma estirpe diferente, foram mais detalhistas, sempre buscaram a perfeição no que estava fazendo e ensinando. Aprenderam executando, resolvendo dificuldades das realidades vividas na sua época.

Os saberes deste período eram perceptivos, motores, podia-se sentir e apreciar a aprendizagem na prática. O fazer era sempre motivado na época a partir de um contexto. É bom elucidar que nem sempre a teoria gera contexto prático. Quando aprendemos a partir do contexto, temos uma aprendizagem significativa e funcional. Reconheço para que realidade ou situação esteja executando meu ofício.

Com a invenção da imprensa o método da aprendizagem foi levado à mudança. A imprensa conseguiu transformar radicalmente esta aprendizagem centrada no aprender fazendo. Com a impressão dos livros os conhecimentos puderam ser escritos e todo mundo teve a oportunidade de ter acesso aquela aprendizagem especifica. Mesmo sem ir à escola, ou ao o mestre, posso ter acesso a um livro que me ensina o como fazer. O teórico simbólico entra em ação e o abstrato passa para ser imagem virtual. Esta aprendizagem não é praticada, entra em um estágio de simulação abstrata, é operacionalizada na mente, acho que sei por que li simulei e memorizei. A simulação passa por cima do fazer prático, da resolução real, de vera como normalmente falamos. Quantas pessoas se formam sem nunca ter feito, tocado, provado determinados conhecimentos.

A modernidade optou não pelo fazer, pelo praticar, mas pelo simular de forma virtual. Não sei até onde este tipo de aprendizagem pode formar profissionais competentes? Uma prova inconteste de que este sistema foi adotado, é que até a forma como são avaliados os alunos é através da explicitação do saber, e raras ou nunca são cobrados os procedimentos (faça para que eu veja). O próprio vestibular é inconteste em relação a isto, utiliza-se das mesmas ferramentas de comprovação.

Avaliar pelo saber prático pela experiência do vivenciar, do fazer é pouco valorizado, ou melhor, é pouco utilizado. Até parece que estamos treinando pessoas para parecer que sabe, coloco parecer, pois competência se consegue quando se sabe, quando sabe fazer e agi como tal.

A escola moderna é quase que totalmente simulação de aprendizagem. Muitas pessoas falam: “estudou tanto e não sabe faze nada”. É uma frase muito utilizada por muitos, querendo nos dizer de forma indireta que esta pessoa não sabe fazer o que diz que aprendeu. E ainda depois de tudo lhe dão um diploma que lhe dar um titulo de profissional naquele oficio, legitimando um fazer que ele não saiba fazer. Pode-se perceber que este método quando comparado com o anterior é de qualidade inferior, pois mesmo quem esta distante pode acessar este tipo de informação.

Não é a toa que as empresas ao necessitar contratar funcionários pedem anos de experiência, e as escolas de formação ainda não incorporaram que um profissional é formado através não só da teoria, mas da praticação constante. Posso errar quando estou aprendendo, mas errar prestando um serviço é complicado. Imagine um erro médico!

Muitos profissionais quando saem da universidade sentem muita dificuldade, tem muita teoria, mas pode não saber bater um prego. Parece até que a escola atual é mais som que significado. É uma escola puramente narrativa e de pouca ação, de pouco fazer, de pouca transformação.

O computador é o triunfo do método simbólico, da simulação. Posso simular quase tudo. Existem programas onde se podem simular muitas situações de forma virtual. O erro não me custa nada, é pura simulação, posso errar quantas vezes quiser. Imagine agora uma aprendizagem onde o método seja educação a distancia, a abstração e o simbolismo são uma das grandes ferramentas para se dá a aprendizagem sem o fazer real. Não sou contra a EAD (educação à distância) ou qualquer outra forma onde a abstração e a simulação sejam as ferramentas da aprendizagem, mas, acho que se aprende muito mais fazendo, praticando, e resolvendo problemas reais das comunidades onde estamos convivendo.

O desafio deve ser a chave e a motivação para uma aprendizagem procedimental. Os problemas até parecem que existem para servirem de provocações permanentes para a aprendizagem, pois nunca se acabam, sempre surgem novos como uma nova oportunidade para se aprender o novo, o inovador, o inusitado. Será que é errado pensar que os problemas são dádivas pedagógicas, para uma nova aprendizagem?

Se são, o que devo fazer para que estes problemas sejam utilizados como ferramenta de aprendizagem?

Em vários momentos da minha vida percebi que os maiores problemas que enfrentei foram os momentos onde mais aprendi realmente. Pois estes problemas me tiraram até o sono, passando momentos em claro, pensando, refletindo, montando estratégias de resolução, e isto me fez aprender muito. Aprender a partir de, e não aprender por aprender, para meramente aumentar meus conhecimentos. Sei também que quanto mais informações se têm, mais condições de tomada de decisão vão ter, mas, se aprende melhor tomando decisões a partir de problemas reais, constantes e vivencias e não hipotéticos.

O ser humano tem mania de querer apressar as coisas, eles têm que impor seu tempo e não o tempo da natureza das coisas e dos elementos. Na educação o processo também acontece. Quer-se ensinar o máximo de conhecimento quanto mais cedo melhor. A criança é bombardeada de informações em um curto espaço de tempo se alegando que é o momento onde a criança mais aprende por que os neurônios estão aumentando suas conexões e não se pode perder esta oportunidade biológica. Além de se selecionar os conteúdos e sua quantidade ainda achamos por bem separar as aprendizagens em pedaços e momentos, não passando a idéia do todo. As disciplinas são sectárias e não passam para as crianças idéia de todo, só se vê as partes, mas depois lhe cobram tudo de uma vez.

Aprendizagem individual
Aprendizagem coletiva

Um filho de um agricultor quando vai aprender criar porco, o pai não separa em disciplinas, ele simplesmente ensina, praticando, fazendo assumindo tarefas das mais simples inicialmente, até as mais complicadas como, por exemplo: manejar toda a pocilga. É praticando que se aprende, mas parece que para a escola este tipo de aprendizagem é demorado, tem custos elevados, dá trabalho, e exige uma infraestrutura de espaço e equipamento para fazê-lo. Será que estes argumentos são fundamentais para negligenciar os procedimentos?

 No SERTA entidade na qual trabalho os procedimentos e as atitudes transcende o saber. Em todos os momentos somos desafiados a resolver problemas interno e externo, hora educacional, hora político, hora pessoal, hora tecnológico, mas sempre somos e vivemos para encontrar formas, saídas, sugestões de resolução. Esta forma de aprender transcende a uma única disciplina. São provocativos para a interdisciplinaridade e em alguns momentos interdimensionais. É outro viés pedagógico de se trabalhar, a partir das situações problemas. Ele nos remete a  novos âmbitos pedagógicos.

Como foi percebido não dá para unicamente ler sobre Permacultura é necessário praticar. Inicie a prática em pequenos espaços quer seja no campo, na cidade, no terraço ou até no jardim. Um pequeno jardim pode ser um espaço interessante para aprender a produzir parte do seu próprio alimento, economizar energia, reciclar materiais orgânicos ou até captar a água das chuvas.

Assim ti convido a não ficar parado! Levante-se! E faça algo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, do ambiente, e porque não dizer do planeta. E como diz Piaget “O erro é o caminho para o acerto”.

sexta-feira, abril 1

A dieta alimentar humana na visão da Permacultura


Antônio Roberto Mendes Pereira
A demanda de alimentos está entre os principais fatores que influenciam o uso do solo rural. Historicamente, no Brasil, florestas foram e são eliminadas para ceder lugar à agricultura e a pastagens.
A questão da fome no mundo é preocupante. Precisamos repensar este fato a partir também de outras reflexões como:
  • A fome, enquanto problema econômico é simples questão de distribuição, ou tem a ver com hábitos sociais de consumo?

  • É possível acabar com a fome no mundo ou no Brasil sem mudar dietas e hábitos alimentares?

  • De que maneira a Permacultura, ao fazer a ponte entre a dimensão energética e a dimensão social, pode ajudar a responder a essa questão?
·         Como será que a Permacultura vê os hábitos alimentares das pessoas? 
·         Como levar a Permacultura para a mesa?
·         Uma alimentação biologicamente rica tem tudo haver com solo sadio, com Bio diversidade, com equilíbrio, com ciclo, com propriedade sustentável? 
 As respostas a estas perguntas podem nos ajudar a repensar muita coisa em nossos hábitos de produção, consumo e muitos outros. A Permacultura tem uma forma própria de encarar e traz soluções ao alcance de todos. Formas que causam pouquíssimos impactos ambientais, além de levar a uma produção sustentável e equilibrada.
A demanda de alimentos que estão no topo da cadeia alimentar como as carnes, por exemplo, consome grande quantidade de energia e de recursos naturais para a sua produção, além de gastos com pesticidas. Mas este aumento permanente de consumo por estes tipos de alimentos atrai cada vez mais fazendeiros e até pequenos proprietários para transformar suas áreas diversificadas em monoculturas de capim para alimentar estes animais. Toda esta forma de produção termina colocando o solo destas propriedades em cheque permanente, diminuindo a fertilidade, diminuindo a infiltração de água pela compactação causada pelos animais nos pastos, além de um prejuízo maior que é a destruição de florestas para a implantação de pastos. Caso diminua o consumo de carne e de produtos animais, que se encontram no alto da cadeia alimentar, e sejam privilegiados os vegetais, frutas e grãos, menor pressão estará sendo exercida sobre os recursos naturais, sobre a água e sobre as fontes de energia.





Questionamento alimentar

Comer o milho ou a galinha que comeu o milho?
Eis a questão?

Para facilitar a compreensão

Para um agricultor alimentar as galinhas, planta ou compra mi­lho. As galinhas aproveitando o alimento que ingerem, crescem e produzem ovos e carne. As galinhas servem de alimento para o homem. Vamos imaginar uma situação hipotética na qual o agricultor tivesse apenas o milho e as galinhas. O que ele deveria comer primeiro? É melhor dar o milho para a galinha crescer e depois comê-la ou comer o milho?
Você pode achar mais gostoso comer uma galinha assada do que milho cozinhado, um cuscuz, ou então comer uma deliciosa pa­monha.
Mas não é de preferência gastronômica que estamos falando, vamos analisar esta questão do ponto de vista energético, isto é, qual alimento nos dá maior aproveitamento de energia.
Não podemos esquecer que os vegetais são os primeiros elos de todas as cadeias alimentares. Isso acontece porque, para ob­ter a energia que necessitam os vegetais eles não se alimentam de nenhum outro ser vivo. Eles mesmos produzem seu alimento, realizando um conjunto de reações que transformam a energia solar em energia química.
São os vegetais que garantem que os demais seres vivos tenham alimento para obter a energia necessária para a realização de todo o seu funcionamento, crescimento e reprodução.
 Biologicamente os animais estão classificados em uma pirâmi­de alimentar ou como normalmente se fala “cadeia alimentar”. Existe representante nesta cadeia alimentar, desde os decompo­sitores até os top de linha como os carnívoros. Esta classificação obedece à necessidade de energia que esses elementos necessi­tam para poder viver.
E não podemos esquecer que cadeias alimentares são transferências de energia alimentar desde os produtores básicos – as plantas – para os animais herbívoros – consumidores primários – até os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros. E nós estamos entre as espécies que absorvem energia de vários desses elos da cadeia alimentar. Como grande parte da energia é degradada a cada transferência de um nível para outro, quanto maior a cadeia alimentar, menor será a energia disponível.

Assim, os estudos de ecologia energética revelam a superioridade dos produtos de origem vegetal sobre os de origem animal em termos de produtividade energética.
Esse mesmo estudo da ONU enunciava a tese segundo a qual, se apenas os norte americanos reduzissem em 10% o consumo de carne, seriam poupadas 12 milhões de toneladas de grãos – capaz de alimentar toda a população da terra que sofre com a fome. As dietas alimentares vegetarianas são poupadoras de espaço e meio ambiente, conseguindo, com baixo uso de recursos naturais e alto rendimento energético, alimentar densas populações.

Como vemos a mudança da lógica produtiva e dos hábitos alimentares da família causa um grande impacto positivo ou negativo dependendo do sistema de produção utilizado. A Permacultura traz uma proposta de sistema de produção onde todas estas questões energéticas e ambientais são direcionadas para uma estabilidade. Comer bem não é comer alimentos altamente beneficiados e processados, quanto mais in natura nos alimentamos mais saúde teremos. Os vegetais, grãos, tubérculos, frutas e frutos devem ser a base da alimentação. Diversifique a propriedade e o prato.

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