O Ecodesign da Propriedade Rural Familiar Permacultural
Antônio Roberto Mendes Pereira
A resolução de problemas prediais é um problema complexo que requer a aplicação de um método. Não basta o conhecimento da tecnologia disponível nem de decisões baseadas em intuições para resolver os problemas que se apresentam nas propriedades rurais. A tecnologia disponível na atualidade permite resolver praticamente qualquer problema predial. Apesar no qual, numerosos problemas continuam sem resolver-se, pois não se trata de um problema de tecnologia se não que fundamentalmente de metodologia.
O objetivo do presente trabalho é, por tanto, apresentar uma metodologia que permita estudar e formular soluções para qualquer caso predial com um mínimo de esforço e com altas probabilidades de alcançar ótimos resultados.
Todas as explorações agrícolas tem um certo desenho, e que este é determinado pela racionalidade do agricultor e das opções que o meio físico oferece. Apesar de que o desenho predial determina em grande medida o êxito em qualquer sistema de produção, usualmente não se consideram neles os aspectos fundamentais: a planificação no tempo e do espaço e a noção do prédio como um sistema. Se o desenho está bem projetado, os elementos bem localizados e bem conectados se resolvem uma série de problemas, que de outra maneira, teria difícil solução.
As principais vantagens que apresenta se olhar o problema agropecuário tomando o prédio como uma unidade de trabalho e não como partes isoladas dele são:
1. Ordenamento global da arquitetura do ecossistema predial, organizando seus componentes individuais em um sistema. Levando em consideração os princípios naturais e racionais.
2. Ordenamento global do funcionamento do ecossistema predial (uma mudança na arquitetura necessariamente traz consigo mudanças no funcionamento). As atividades produtivas e as relações internas e externas devem ser canalizadas em direção ao que a família quer e natureza permite.
3. Geração de uma memória produtiva da unidade, dando-lhe maior estabilidade econômica e ecológica.
O desenho predial surgiu com uma preocupação ecológica de dar respostas globais a agricultura, onde o prédio cumpre um rol fundamental além de ser integrador de vários níveis:
1. Das partes ou componentes do prédio para o todo da propriedade. Durante o planejamento deve-se estar atento para aumentar as combinações, sair do simples para o complexo.
2. Ser integrador de muitas variáveis como, por exemplo: produtiva, tecnológicas, sociais, ambientais, infra estrutura físicas, entre outras.
3. Criar e respeitar as características da comunidade, microrregião, território contribuindo e aumentando as relações respeitando as individualidades.
Etapas para um planejamento de design

Planejar não é coisa muito fácil, porém, é de fundamental importância para se melhorar o desempenho produtivo, estético e de montagem de qualquer infra- estrutura. Precisamos pensar mais antes de executar tarefas principalmente se estas tarefas estão ligadas a montagens de infra-estrutura permanentes. É melhor errar no papel do que na realidade.
A proposta deste texto é orientar as pessoas para a projeção de um design arrojado, versátil e eficaz, trazendo o conceito de design como a relação entre desenho e planejamento. Ela tenta ser um facilitador dos momentos ou das etapas da construção de um planejamento com idéias sustentáveis.
Ouvir, ver, observar, sentir são os verbos de ação que devem ser utilizados por quem esta se propondo a escrever o projeto ou a proposta com esta dimensão.
Momentos ou Etapas para a operacionalização do Planejamento
1ª Momento ou etapa- IDENTIFICAÇÃO – EXAME PRELIMINAR
Identificar os desejos e as possibilidades reais para a projeção. É o momento das pessoas dizerem suas pretensões. Os porquês?
Representa o ponto de partida do processo do desenho. Nesta fase deve-se tratar de identificar com precisão quais são os motivos para realizar o design (desenho + planejamento). Iremos reconhecendo todos os dados possíveis sobre o tema a estudar e trataremos de compreender contextualizando o mesmo nos seguintes âmbitos: geográfico, socioeconômico, ideológico, cultural, político, social, ambiental, etc. Quanto mais informações se conseguir mais facilidade para se projetar o que se quer. Devemos ao máximo envolver toda a família, buscando entender os desejos e anseios de todos que compõe a família, ou melhor, os moradores que vão ocupar o espaço a ser projetado.
Existem muitas maneiras de se conseguir os dados que interessam para ajudar na construção do design:
Preparando um questionário para aplicar aos interessados em receber o desenho (família), onde se realizam perguntas sobre todos aqueles aspectos que se tem que ter em conta: estilo de vida, necessidades, hábito alimentícios, entorno, clima, economia, lazer, hobby, etc.
Realizando entrevistas individuais com as pessoas que vão ser “afetadas” pelo design, incluindo as crianças. Não se pode esquecer de envolver os mais idosos, pois eles conhecem com muito mais detalhes da realidade anterior, como era antes, o que se tinha o que se produzia o que se produzia bem e mal e mais ou menos, etc. Observação o termo afetado tem a lógica de que as pessoas vão ser mais um elemento que faz parte do design, é claro que no design busca-se atender TAMBÉM a necessidade dos demais elementos vivos do ambiente. A relação entre os elementos é o segredo do design e não o domínio de um sobre o outro. Busca-se a coexistência e não a competição.
Realizando um exercício de visão de futuro com todas as pessoas da família, para averiguar que elementos comuns e que aspirações devem cumprir o desenho desde o atual momento até 5 a 10 anos na frente, é projetar o cenário futuro da propriedade, tendo como base de design a natureza.
Pedindo uma lista dos resultados desejados e das coisas que se quer, com o máximo de detalhe, como por exemplo: quantidade, tamanho, espaço, de quanto em quanto tempo.
Passando um tempo no local do desenho (na propriedade) e observar os processos naturais ou não, que se estão acontecendo ali (por ex. atividades das águas pluviais sobre o terreno, ventos, rios, especialmente se contaminados, barulhos, etc.)
Propor visitas a outras propriedades onde o design permacultural já está implantado e desenvolvido para ajudar a clarear as idéias e as tomadas de decisões no como fazer.
2ª Momento ou etapa – PESQUISAR – EXAMINAR - DIAGNÓSTICAR
Investigar dados com entidades diversas. A pesquisa, o conhecer a realidade o objeto o local.
Nesta segunda fase do processo procuraremos conhecer todos os dados acerca do lugar onde a propriedade esta localizada e compreender suas potencialidades, oportunidades, forças e fraquezas. Quanto mais informação melhor, elas serão o suporte para as tomadas de decisões, possibilitando cometer menos erros e poder contar com o máximo da realidade local de forma ecologicamente correta.
Para isso precisaremos conseguir:
Conseguir mapas de várias escalas do lugar, fotos aéreas, dados metrológicos .Todos estes dados, gráficos, informações e documentos podem ser conseguidos no exército, na EBAPE, ITERPE, INCRA entre outras instituições.
Pesquisa na Internet em sites afins como, por exemplo, Google Earth, entre outros que trazem informações mais localizadas.
Fazer análise de solo da propriedade, este análise vai ajudar muito para se conhecer mais profundamente o tipo e a fertilidade do solo e ou suas carências.
Conhecer a legislação local. Esta informação pode se conseguir na prefeitura e outras instituições a fim;
O tipo de vegetação da propriedade também é uma informação preciosa para se conhecer as potencialidades produtivas do solo.
Conseguir informações sobre a história passada do lugar (uso do solo, tradições, geologia, clima, regimes de chuvas, etc.). Buscar informações com os mais idosos do lugar, eles são uma fonte da historia passada viva;
Realizar auditorias ambientais, sociais e energéticas na comunidade em busca de informações especiais e que tragam novas visões do local. Verificar quem tem fotos antigas da região ou até da propriedade.
Fazer medições dos espaços internos (do barreiro, do curral, da horta, da pocilga, do roçado, etc.), distância da sede do município ou da comunidade.
3ª Momento ou etapa – EVOLUÇÃO - TRATAMENTO
Evoluir para outro patamar, alargar o conhecimento
Uma vez que todos os dados estão disponíveis:
Reuni-los, compará-los e organizá-los em gráficos, tabelas, que facilitem a interpretação destes dados;
Preparar um informe detalhado, consolidando todas as informações recolhidas durante a etapa;
Preparar um mapa analítico da propriedade onde se indiquem possíveis problemas ou situações e possíveis intervenções de soluções;
Iniciar processo de tirar deduções, tirar conclusões a partir dos dados coletados e estudados;
Realizar uma análise de setores (das energias que vem de fora para dentro, fogo, ventos, barulho, sol, chuvas).
4ª Momento ou etapa- APRESENTAÇÃO
Opções, as alternativas a serem perseguidas.
Nesta fase, se apresentam aos receptores do desenho (família) todas as alternativas que emergiram da análise realizada na fase anterior, sem excluir nenhum aspecto observado, esperando que esta apresentação venha a ajudar e a individualizar exatamente o objetivo que se pretende alcançar com o projeto.
Esta apresentação deve ser muito bem construída para que não gere tantas dúvidas, ela tem que ser clara, eficiente e eficaz, isto é de fácil compreensão, facilitando a tomada de decisões para o design final.
Também se tenta agrupar, conectar os elementos que surgiram das análises realizadas, criando uma lógica de ligações entre os elementos. Criando um todo a partir das partes.
5ª Momento ou etapa – ANALISA - ESTRATÉGIAS
Estudar as alternativas levantadas da realidade
Nesta etapa deve- se comprovar a viabilidade das alternativas encontradas:
Pode-se realizar uma análise dos elementos de forma individual – suas necessidades, produtos e características.
Busca-se a comprovação de que as medidas propostas e aceitas sejam adequadas para o meio ambiente. Que não aumentem os impactos ambientais da porteira para dentro e da porteira para fora.
Busca-se a comprovação se as propostas vão consolidar e aderir a visão dos receptores – se responde as necessidades expressadas pela família.
Busca-se também comprovar a viabilidade econômica da proposta apresentada. Deve-se também verificar se o uso da mão de obra aumenta ou diminui. A dependência de recursos externos deve trilhar no caminho de diminuição ou do não uso.
Observar se a proposta está adequada ao entorno da propriedade e as condições socioeconômicas da família.
Um possível processo de desenho. Uma primeira proposta de design para operacionalizar o como fazer.
6ª Fase – DESENHAR - ESBOÇAR
Desenho conceitual
Nesta fase é onde realmente começamos a agrupar todos os elementos uma vez escolhidas as linhas diretrizes do nosso desenho, havendo comprovado sua viabilidade nas fases anteriores. Aqui se produz um documento que explicita todas as partes do desenho e se darão indicações para realizá-lo com uma planilha de custos e a planificação temporal das várias fases necessárias para colocá-lo a caminhar.
Também se incluirá uma lista de bibliografias de textos e materiais necessários que fundamentaram o design a ser projetado.
Utilizaremos várias técnicas para realizar tudo isto:
• Zoneamento das áreas.
• Diagramação das idéias através de mapas, gráficos, tabelas.
• Assembléia casual dos elementos que vão compor o espaço da propriedade.
• Escolha das tecnologias a ser aplicadas e relacionadas às seguranças.
• Diagramação de fluxos existentes e transformação dos mesmos em ciclos.
• Checar os princípios Permaculturais que precisam estar presentes no desenho.
• Localização e conexões entre elementos.
• Integração das estruturas físicas (construções).
• Realizar uma representação dos possíveis resultados produtivos a serem alcançados para cada área zoneada.
Precisa-se estar atentos que para realizar um projeto de desenho em todos os seus detalhes pode constituir um trabalho longo e laborioso. Neste projeto se deve explicar aos beneficiários como são abordados todos os temas, tratados em detalhes e porque esse desenho os ajudará a melhorar sua qualidade de vida, ajudar a solucionar os eventuais problemas existentes e melhorará o local onde está instalada a propriedade e seus arredores (a comunidade).
7ª Fase – IMPLANTAÇÃO
A ação real na realidade.
Finalmente chegamos ao momento tão esperado o da realização. Nesta fase temos que levar em conta os seguintes aspectos:
• Saber como gestar o projeto.
• Por em prática o desenho feito.
• Ter claro os fluxos de trabalho e de temporização.
• Estabelecer ações e responsabilidades.
• Ter acesso aos recursos necessários.
• Fazer com que o desenho evolua dentro do planejamento acertado.
8ª Fase – OBSERVAÇÃO - COMPROVAÇÃO
Observar para avaliar. A avaliação do que foi operacionalizado em busca de verificar os resultados.
Apesar de estarmos mencionando a observação somente agora, o certo é que a observação é uma atividade cronológica, mas que começa desde o primeiro momento e nos acompanha ao longo de todo o processo do planejamento a execução e da execução a avaliação.
Desenvolver uma boa capacidade de observação é um propósito de qualquer desenhista em permacultura e uma busca de qualquer pessoa que pretende viver e interagir em um (eco) sistema modelado sobre o funcionamento dos ecossistemas naturais. Criar uma analogia dos ecossistemas é o caminho para uma boa projeção biomimética .Assim, nos perguntaremos a cada momento, e especialmente uma vez realizada ações em nosso sítio, como o sítio responde a essas atuações ao longo do tempo. O que a natureza esta propondo diferente. É preciso estar alerta e melhorar o nosso poder de observação nestes âmbitos.
Para perceber o sentido de nossas observações podemos:
• Manter um diário sempre atualizado com informações diárias, se possível.
• Fazer fotografias das mais diversas fases de desenvolvimento do projeto e dos resultados que estão sendo alcançados.
• Monitorar constantemente o estado do desenho.
9ª Fase – REFLEXÃO
Refletir para ajustar rotas e melhorar os resultados compreendendo e analisando o que a natureza quer corrigir.
As observações continuadas nos farão compreender quais coisas estão funcionando e quais não estão. Nem todas as nossas sugestões vão ser aceitas pela natureza, logo ela vai impor sua maneira, vai excluir aumentar, diminuir, misturar. Trataremos então de:
• Identificar os problemas e os êxitos alcançados.
• Compreender porque as coisas estão funcionando ou não.
• Perguntar as pessoas envolvidas ou afetadas o que ainda lhes afligem ou que não estão lhes agradando.
• Perguntar se há maneiras melhores de se fazer as coisas
• Chamar a todos os implicados a oferecer oportunidades de mudanças de novos direcionamentos desde que levando em consideração o que a natureza nos alertou.
• Também cabe perguntar se necessitamos mais informação
Uma boa avaliação nos ajuda a cada vez mais a melhorar o que estamos fazendo. O aperfeiçoamento das intenções é norteado pelas ações da natureza nos ecossistemas. Buscar analogias o mais semelhantes com os ecossistemas é o caminho a ser seguido.
10ª Fase – RETROALIMENTAR
Por último, retroalimentar o sistema reajustando as rotas à luz da reflexão e das observações.
Este é o momento em que refazemos as rotas das coisas. Para isso necessitamos:
• Provar outras opções
• Podemos redefinir as linhas de ações e as motivações
• Podemos chegar a repensar todo o projeto
• Podemos querer envolver outras pessoas
Mas o importante é que todo este processo se mantenha flexível e dinâmico, como os ecossistemas.
Análises de abundancias e limitações é a maneira de Identificar problemas, vantagens, abundâncias e soluções. É uma ferramenta muito útil tanto na fase de investigação como na fase de revisão.
Conclusões finais
Como se pode deduzir, um desenho de permacultura é um processo importante e não se pode improvisar, fazer de qualquer maneira. As etapas precisam ser operacionalizadas com detalhes, registrando ao máximo as intenções pretendidas e alcançadas.
Requer sem dúvida, que desenvolvemos toda uma série de habilidades que no curso natural de nossa educação estão fomentadas cada vez menos.
É notório, nos ambientes de permacultura, que quando queremos instalar em algum lugar, especialmente se este se encontra na natureza, é conveniente esperar pelo menos um ano antes de realizar algum desenho, justamente para que esse processo de observação e recolhimento de dados na possibilidade de surgir coisas novas e que nos ajude a compreender as interações que ali estão se dando, sem as quais, estaremos destinados a recair na maneira habitual de fazer as coisas que tanto danificam a nossa mãe Terra... Seremos capazes de esperar tanto? Bom Planejamento.
GASTO J. Metodologia Clinica para el desarrollo del ecosistema predial – Institutu Juan Ignacil Molina, comisión de investigación en agricultura alternativa-CIAL- Santiago, Chile 1987.
RICARDI, Juliano. Ecodesign – Permacultura. Planejamento Ecológico




