segunda-feira, junho 4

Criando microclimas - Melhorando o conforto dos espaços produtivos e de vivência

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Muitos cientistas e pesquisadores afirmam que o aquecimento global é um fenômeno irremediável, que não temos mais como reverter este fenômeno. Talvez uma das saídas para um conforto térmico possa ser feito com equipamentos ou tentando imitar os ensinamentos de áreas onde a natureza cria microclimas agradabilíssimo de viver. Durante milhares e milhares de séculos o clima da terra era razoavelmente estável e mais ou menos previsível, mas nos últimos dois séculos a atividade humana vem contribuindo enormemente para aumentar este desequilíbrio chegando desestabilizar climas em todas as partes do planeta, mesmo as menos habitadas. 


O efeito desta ação é um dos fatores mais fortes para que vários fenômenos sequenciados pelo aquecimento global possam ocorrer. A seca com certeza vai ser mais seca, a escassez de água vai aumentar vertiginosamente, muitas espécies vão deixar de existir, tempestades irão acontecer com mais frequência, o aumento do nível dos oceanos já vem acontecendo pelo desgelo. E pergunto, e nos permacultores o que iremos fazer e ou construir de conhecimento para minimizar estes efeitos nas propriedades rurais ou nas nossas residências urbanas? Precisamos urgentemente aprimorar nossos conhecimentos e os espaços onde atuamos. “A permacultura nos oferece o principio da PRECAUÇÃO que diz: Não fique ai parado, se prepare, anteceda-se aos efeitos”. 

Para muitas pessoas o aumento de alguns graus na temperatura é mera bobagem. Estes não conseguem fazer uma leitura mais científica com enfoque biológico. Meio grau de temperatura a mais pode criar situações extremas para várias espécies, que já viviam no limite de sua existência. Um grau a mais, por exemplo, pode retardar o florescimento de várias plantas que alimenta uma teia de espécies que muitas vezes não conhecemos a proporção. É bom saber que um grau a mais não derrete um litro, mas milhões de litros nas regiões polares que vão aumentar em vários metros o nível dos oceanos em todas as partes do mundo. As correntes marinhas que tem seus movimentos norteados pelas mudanças térmicas da água, irão ser afetadas, mexendo na vida de milhares de seres que dessa corrente se alimenta. Os resultados são catastróficos e ainda imprevisíveis. Pois tudo na natureza esta conectado, interligado, interdependente, logo o que acontece a um vai com certeza interferir para melhor ou para pior com os demais. Não podemos esquecer que “O todo é mais que a soma de suas partes”, é uma norma da natureza. 

Você já imaginou na sua propriedade o que este aquecimento pode causar, ou já está causando? 

· Regime de chuva alterado; 
· As previsibilidades de inverno alterado; 
· Solo mais quente e seco; 
· Plantas e suas frutas amadurecendo mais cedo e rápido; 
· Animais entrando cada vez mais cedo na reprodução; 
· Calor intenso; 
· Baixa umidade do ar; 
· Teia alimentar conturbada, aumentando a presença e a quantidade de certas espécies de insetos; 
· Muito mais radiação solar, aquecendo todos os espaços e criando desconforto térmico. 

Estes são alguns dos problemas que vamos enfrentar ou que já está enfrentando em muitas propriedades rurais ou também nos espaços urbanos. 

Este texto vai tentar mostrar algumas considerações utilizadas pela Permacultura para minimizar estes efeitos, montando sistemas onde o conforto térmico é trabalhado criando espaços adequados para a maioria das espécies, quer seja vegetal ou animal. A Permacultura não é tão pretensiosa em dizer que tem como solucionar o problema do aquecimento global, mas com certeza tem formas de diminuir seus efeitos a nível local e particular, e a chave principal destes conhecimentos é ensinada pela própria natureza, as respostas que queremos estão logo ai na sua frente, basta para isto ser mais atento como a natureza cria microclimas. 

CRIANDO CONFORTO TÉRMICO ATRAVÉS DE MICRO CLIMAS 

Quase sempre estamos trabalhando o conforto térmico das nossas casas. Basta dizer que durante o planejamento ou o projeto, foi pensado de alguma maneira nem que seja de forma mínima a criação de micro climas. A escolha do tamanho dos cômodos, localização, local das portas e janelas tem tudo a haver com o manejo do clima no interior da casa. E depois de construída o manejo do controle aumenta através do abre e fecha das portas e janelas, cobre e descobre, alarga ou estreita, coloca equipamentos como ventiladores, ar condicionado, umidificadores entre outros, todos estes apetrechos é a tentativa de criar um microclima adequado para o conforto térmico das nossas habitações. 


Em algumas criações utilizam-se muitos equipamentos para minimizar os efeitos do clima, por exemplo, na criação de frangos de corte o uso do manejo de cortinas, ventiladores, umidificadores, em alguns casos até ar condicionado é utilizado na tentativa de criar conforto térmico para as aves. Muitas outras espécies animais esta preocupação vem sendo levada em conta. 


Agora questiono! E nos demais espaços da propriedade, como por exemplo: no pomar, no roçado, na horta, este conforto térmico é levado em conta. Cria-se microclimas adequados para que estas plantas possam realizar muito mais horas de fotossíntese? Ou as colocamos em locais não adequados suportando altas temperaturas que as fazem parar de fotossintetizar e depois queremos altas produções. Muito manejo errado é dado logo no início do preparo do terreno e do solo. Muitas tarefas ao invés de ajudarem no conforto térmico contribuem para o contrário, aumentando o desconforto. Vejamos algumas imagens deste manejo errado. 




Como vemos muitas das ações realizadas contribuem para o aumento do aquecimento primeiro local influenciando também o aquecimento global. 

Diante destas constatações vou apresentar algumas medidas que podem ajudar no manejo térmico das pequenas propriedades rurais. Para que este manejo aconteça é preciso ter mais algumas informações que vão ajudar imensamente na adequação o que se esta fazendo. 

Trabalhar com os elementos do clima nas construções e nas zonas de plantio é preciso antes ser definidas estratégias para a montagem dos sistemas produtivos. Precisamos conhecer os setores da nossa propriedade, identificar quais as energias, que vêm de fora da propriedade e que entram sem nenhum controle. Na Permacultura setorização é justamente esta tentativa de identificar ao máximo de qual lado ou setor da propriedade estão vindos os mais variados tipos de energia, como por exemplo: de onde vêm os ventos, a chuva, o barulho e até o lado que vem o fogo, quando se têm vizinhos que utilizam esta prática antiambiental no preparo da área para o plantio. 


Não podemos esquecer que o clima é o fator primordial, primário e determinante da vegetação local. O clima é afetado diretamente pela ação dos ventos, da precipitação (água) e pela radiação solar (raios do sol). A interação entre estes três componentes criam as diversidades dos climas. Cada um desses componentes de clima interage um com o outro o tempo todo e muda em impacto e intensidade de força. Em determinadas circunstâncias um pode ser mais destrutivo que outro. O clima segue padrões cíclicos sempre se repetindo, precisam-se conhecer estes padrões e a partir deles podemos mudar o local onde se pretende criar um design. O manejo da radiação, em energia de luz e outras formas possíveis, podem ajudar a modificar alguns extremos de calor e frio. 

A tarefa ética Permacultural que precisamos assumir diante de situações climáticas deve ser a seguinte: 

· Assegurar a estabilidade climática; 
· Reduzir a poluição da atmosfera. 

E como tarefa operacional quando desenhamos nossos agroecossistemas: 

1. Planejar a modificação dos extremos de temperatura dos ambientes onde convivemos e atuamos; 
2. Criar estratégias de reduzir o risco de uma baixa na safra dos animais e dos cultivos; 
3. Identificar animais e plantas e formas de construção apropriadas às regiões climáticas onde estamos e atuamos; 
4. Selecionar quais os elementos do clima que vamos trabalhar, para fazer as mudanças necessárias; 
5. Evitar ou saber conviver com secas, enchentes e outros desastres ambientais que possam ocorrer. 
6. Ser mais eficientes no uso das energias que existem nos ambientes que estamos atuando. 

Outros fatores locais também influenciam muito nas diversidades climáticas: 

· A Topografia local; 
· Os tipos de Solos; 
· A presença de corpos d água; 
· Estruturas artificiais, como paredes, casas, ou qualquer outra estrutura; 
· Tipo da vegetação. 

A compreensão da função destes elementos e dos elementos climáticos e seu manejo vão ser as ferramentas primordiais para a criação dos microclimas necessários para os ambientes que precisamos montar. 

CONHECENDO MAIS OS ELEMENTOS DO CLIMA 

PRECIPITAÇÃO – Fazem parte deste elemento a chuva, a neve, a neblina, o granizo, o orvalho e a geada. 


Estas formas de precipitação passam normalmente por dois processos que são muito utilizados por nós permacultores na projeção de benefícios estratégicos para nossos designs que são a CONDENSAÇÃO e a EVAPORAÇÃO. Com o conhecimento e o controle destes processos naturais podemos usar na: 

· Projeção de estruturas que controlam a temperatura; 
· Selecionar tecnologias apropriadas para aquecimento e não aquecimento (refrigeração); 
· Reter água nos solos e nos açudes, barreiros, barragens, etc. 

Identificar os padrões e os momentos e as condições favoráveis da precipitação nos ajudam a projetar e planejar nossas produções e os espaços onde elas vão ser cultivadas. 

VENTO 

Estão sempre presentes momentaneamente em todos os espaços, desde que as estruturas e as condições sejam favoráveis. A maioria tem padrões razoavelmente previsíveis, embora que atualmente com o aquecimento global estes estão sendo alterados. É uma energia que precisa ser mais compreendida e utilizada, pois tem capacidade de fazer grandes alterações climáticas nos ambientes projetados. Sua presença e intensidade podem fazer a diferença dos ambientes. O entendimento destes padrões lhes ajudará a: 

· Capturar a energia do vento para gerar eletricidade. 
· Projetar casas e ambientes que aproveitem ou reduzam o impacto do vento. 
· Plantar quebras-ventos para proteger outras plantas e os animais. 

Não podemos esquecer que o homem é capaz de alterar rapidamente a paisagem, logo também somos capazes de alterar o clima criando espaços mais confortáveis para as plantas, os seres humanos e animais. 


RADIAÇÃO 

A grande maioria da radiação é projetada pelo astro rei o sol. Parte de toda energia provinda deste astro pode ser absorvida pelas plantas, pelo solo, pela água e pelos animais. Energia esta necessária para a sobrevivência destes seres. Porém sua intensidade sem um controle necessário pode criar problemas, como também sua falta ou escassez. 

Quando esta energia é captada pode ser de grande ajuda para aquecer elementos, água, entre outros corpos e ambientes. Esta energia precisa ser mais entendida, captada, absorvida, armazenada e utilizada, para criar conforto térmico, atendendo as necessidades projetadas. 

Parte desta energia distribuída pelo sol é absorvida pelas plantas para a realização da fotossíntese. A realização da fotossíntese é responsável pelo resultado produtivos das plantas. Planta que não consegue fotossintetizar bem não responde satisfatoriamente bem em produção. Tanto o excesso quanto a escassez pode comprometer na fotossíntese. 

A luz absorvida pelas plantas tem efeito resfriador do ambiente, logo a retirada da vegetação dos ambientes é responsável pelo aumento da temperatura. Logo o desmatamento é um dos grandes vilões para o aumento do aquecimento local e global. 

Nas regiões tropicais a grande presença das folhas verdes escuro é responsável pela grande parte da absorção do total da radiação tornando os ambientes mais confortáveis. Sem a presença desta grande quantidade de folhas o ambiente torna-se insuportável, e o conforto térmico diminui sensivelmente. 

Elementos que tem cor escura também têm um poder de fazer grandes absorções de radiação através da absorção destes raios, podendo mais tarde irradiar esta radiação absorvida em forma de calor. Este conhecimento pode ajudar muito na projeção de ambientes, onde se precisa aquecer ou esfriar. 

Finalmente precisamos entender também que a luz, consegue mudar o hábito das plantas. Onde há pouca luz, plantas crescem altas e finas fazendo um esforço de capturar mais luz. Onde a há luz abundante, elas tendem a ser redondas e muitas vezes de pequeno porte. Essa informação é muito importante ao planejar o espaçamento do plantio. 

CLIMATIZANDO AS ÁREAS PRODUTIVAS 

1. AGROFLORESTA – É uma forma de imitar os espaços naturais, onde a diversidade de plantas é estimulada a formar um design onde se cria ambientes com grande equilíbrio térmico para as plantas. Instaura-se um microclima que favorece ao equilíbrio para todas as funções necessárias para as plantas cultivadas. 


2. CLAREIRAS PRODUTIVAS – São espaços criados dentro da caatinga, ou da floresta imitando as estratégias utilizadas pelos indígenas. Eles abriam pequenas clareiras no meio da mata para fazer seus cultivos, e após a colheita à floresta cicatrizava a ferida aberta na natureza. Esta estratégia pegava carona no clima do ambiente já existente. 


3. AUMENTANDO ÁREAS DE SOMBRA – O poder refrescante de uma sombra tendo ainda de bônus uma brisa ventilando o ambiente é perfeito, traz um grande conforto térmico. Não só as pessoas e os animais necessitam desse conforto térmico, as plantas também. As áreas a serem cultivadas devem ser projetadas levando em conta esta necessidade. Este procedimento tecnológico vai exigir um bom controle no jogo de luz do ambiente projetado. A distribuição das árvores que irão fazer sombras na área a ser plantada deve ser um procedimento bem anterior ao plantio, para que pós-crescidas possam contribuir com sua sombra. 



4. PLANTIO EM FAIXAS – Conhecida também como plantio em Aléia. Esta estratégia de plantio protege os cultivos menores do vento, como também cria um microclima diferenciado, permitindo um ambiente com mais conforto térmico para todos os cultivos. As aléias são faixas imitando uma avenida sempre seguindo o nível do terreno. São plantadas faixa de árvores e entre elas plantam-se os cultivos menores. 


5. BARREIROS DE INFILTRAÇÃO – É uma estratégia que aumenta a quantidade de água no solo. Esta água é captada, armazenada na bacia de captação deste barreiro e com o passar do tempo parte desta água infiltra-se aumentando a umidade da área. A principal função desta tecnologia deve ser a captação e infiltração de água nas partes mais altas do terreno. Quanto mais água capta e permite infiltração mais ele estará cumprindo seu serviço ambiental e produtivo. Esta umidade interior do solo permite o crescimento dos cultivos como também propicia a criação de um microclima adequado para o desenvolvimento satisfatório das plantas. 


6. TRABALHANDO A ESTRATÉGIA DO ASPECTO – É a direção para qual uma encosta está orientada e é caracterizado pela quantidade de radiação solar que recebe durante todo o dia. O aspecto, afeta diretamente na seleção das espécies de plantas e animais de uma ambiente. 

Algumas plantas preferem aspectos orientais (sol da manhã), outras preferem aspectos mais ocidentais e quentes. Estas informações precisam ser levadas em conta no planejamento do design da área que se vai projetar. A escolha correta do aspecto para a cultura influi diretamente no desenvolvimento da mesma, pois a incidência direta no sol em determinado momento do dia pode fazer a diferença. 


Como se percebe existem muitas estratégias tecnológicas para a criação de microclimas onde o ambiente gere conforto térmico para todos os seres. O ambiente mais quente pode se tornar mais ameno, e no mais frio podemos aquecer, manejando os próprios recursos naturais. O captar e armazenar água, coletar e reter calor e luz, plantar dentro ou fora dos bosques, concentrar ou reduzir os ventos, são todas estratégias que podem ser utilizadas na criação de microclimas. 

As grandes ferramentas são o vento, a água, e os raios do sol, aprenda a manejá-los. Use estas energias que a natureza nos doou, e tire os benefícios necessários. Não deixe que este texto seja a única fonte de informação, pesquise mais, investigue e monte os microclimas necessários. 

04 de junho de 2012

sexta-feira, maio 25

O que os animais podem nos ensinar? O comportamento animal como ferramenta para entender a natureza

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A observação atenta da natureza pode nos ajudar a entender muitas coisas que acontecem no nosso entorno. Estas observações podem contribuir muito nos nossos cultivos e criações. Elas nos orientam a perceber os princípios básicos de fazer com o que se tem, e sempre conduzindo e proporcionando o local a várias dimensões de sustentabilidade, porém sempre aproveitando as características que tem no local. 


Um dos grandes indicadores para entender o que se passa no ambiente em estudo são os animais, sua presença, diversidade e comportamento, são indicadores de como este ambiente está, e como poderá ficar caso não se faça algo para mudar a direção dos acontecimentos. 

Este texto quer trazer a ideia mais uma vez de aprender a ler a natureza e em especial os animais e seus comportamentos. Os animais podem nos dizer e ensinar muita coisa que pode fazer a diferença nos resultados que pretendemos alcançar. Se estiver frio, quente, seco, ventilado demais ou úmido estes podem nos mostrar através do comportamento assumido pelas circunstâncias criadas. 

Da mesma forma que nos os humanos, ao nos depararmos com determinadas situações climáticas, por exemplo, como as frisadas anteriormente buscamos nos proteger e assumimos determinados comportamentos, os animais fazem da mesma forma porém com insumos e recursos locais encontrados na natureza. 


Se formos bons observadores iremos perceber que tudo que existe na natureza passa informações importantíssimas. O grande problema é que não fomos e nem estamos educados para ver e entender muitas destas informações. 

Na permacultura, 04 elementos são objetos de leitura permanentemente, água, solo, clima e planta e por que não também incluir os animais. É essencial para se fazer um bom design que o observador possa perceber e se aprofundar no detalhe de cada elemento ou situação que se encontra aquele ambiente. Todo local é diferente e as características das mudanças normalmente estão relacionadas a estes elementos e suas conexões e combinações. 

Por exemplo, quando o clima é quente e seco, a natureza muda as espécies ou variedades das plantas. Diminui a quantidade de água, logo estas plantas devem ser de baixo consumo de água, e com certeza os animais que neste ambiente irão viver também vão necessitar ter característica que suportem este clima quente e seco. 




A grande pergunta que não pode e nem deve parar de ser feita permanentemente é: 

PORQUE ISSO É ASSIM? 
ISSO É PARTICULAR AO MEU LOCAL OU ACONTECE EM TODOS OS LUGARES? É UNIVERSAL? 

Suas habilidades de perceber, questionar, duvidar e deduzir irá melhorar enquanto você pratica cotidianamente este comportamento. E estar sempre alerta que para desenhar ambientes sempre devemos sair do geral para o particular. Seguindo os grandes padrões da natureza. 

Normalmente quando vemos algum equipamento ou instalação que nos chama atenção e nos interessa, imitamos, copiamos, mas dificilmente copiamos os modelos e os padrões da natureza. Estes padrões levaram milhares e milhares de anos para serem daquele jeito e forma, e simplesmente negligenciamos, não damos o valor e importância que merecem. Criamos os nossos, que normalmente vão sempre de encontro aos padrões naturais. 

Em todos os lugares e espaços existem padrões naturais. As repetições acontecem com muita freqüência na natureza. No sertão nordestino, por exemplo, todos os anos, durante o verão muitas plantas soltam suas folhas para diminuir a transpiração, manter a temperatura do solo baixa, evitar a evaporação, e mais adiante na próxima estação fertilizar o solo. Este padrão poderia ser muito mais utilizado, a natureza mostra, faz, e repete todos os anos e nós pouco utilizamos este padrão nos nossos cultivos. 

Todos os anos vêem as sucessões das plantas acontecendo com a mesma lógica, nos terrenos em que os agricultores utilizaram o fogo o processo sucessional inicia-se com as primeiras chuvas. O sistema tenta se recuperar cobrindo o solo com um determinado tipo e tamanho de planta e sucessivamente irão surgindo as demais, porém com tamanhos e de muitas outras espécies, tornando o ambiente cada vez mais diversificado, completo e complexo. 

Esta lógica já deveria ter sido incorporada por todos os agricultores quando vão fazer seus cultivos, mas não respeitamos nada destes ensinamentos, simplesmente escolhemos a sucessão que queremos fazer, não respeitamos nem mesmo o tamanho, e tiramos toda a diversidade de tamanho e de espécies que existiam através do fogo e depois colocamos ao nosso bel prazer a que escolhemos, impondo ao sistema o que queremos. 

APRENDENDO COM OS ANIMAIS 


1. Os animais livres em ambiente natural se alimentam, se protegem, sabem se defender, se deslocam, se entocam, armazenam alimento, constroem suas habitações, sabem tudo e sempre escolhe fazer com o que tem na proximidade, não trazem nada de muito longe. E sabe fazer tudo isto respeitando todas as regras da natureza, não gasta nada em demasia, sempre usa na medida certa para não faltar para os demais. Deitam e rolam com o clima, sabem até a hora certa de procriar, levando em consideração a quantidade de alimento e o momento certo para tal evento acontecer. Será que sabemos tudo isto? Ou pagamos pela maioria das coisas que necessitamos para sobreviver? O que a sua propriedade e sua família são capazes de fazer e produzir juntamente com a natureza? Sem trazer quase nada de muito longe? 


2. Os animais quando natural, ou seja, sem serem criados pelos homens, tem a liberdade o livre arbítrio de escolher, o que quer do ambiente. Este comportamento animal é regido pela orquestra da natureza, todo o ambiente se prepara para poder criar aquela espécie que vai surgir naquele espaço. É quase que um acontecimento simultâneo, tudo e todos se preparam para prover de alimento, água e clima e habitação para que esta ou aquela espécie encontre tudo que precisa para viver ali, naquele local. Quer dizer, existe uma preparação anterior do ambiente para tal acontecimento. Será que os agricultores fazem da mesma forma? Ou pelo menos ajuda o ambiente a se preparar para criar os animais que foram escolhidos por ele? 

Da mesma forma acontece com as plantas, a natureza age da mesma maneira. Ela prepara tudo antes para o depois, mas quando também comparamos as decisões do ser humano diante do preparo do solo para receber seus cultivos ele age estranhamente, tira tudo que poderia ajudar aos seus cultivos, criando uma dependência de tudo para prover o que estas plantas irão precisar. 


3. Os animais nativos criados em liberdade no ambiente natural não têm hora certa para nada, muito menos para se alimentar. Fazem sempre pequenas refeições ou grandes a depender da fartura e da concorrência que tem no ambiente pelo mesmo alimento. Observe os hábitos alimentares dos animais e tente montar um sistema de alimentação para os criados o mais próximo possível do padrão natural. 

Crie ambientes para que os animais criados busquem e encontrem sua ração diária. Deixe que eles escolham o que querem comer, a quantidade e o momento do dia. Diminua seu trabalho e deixe que ele irá saber fazer melhor que você, na quantidade certa e na mistura ideal, ele sabe balancear sua comida. 


4. Conhecendo o hábito e a preferência alimentar dos animais nativos, existentes no meu agroecossistema. Vamos descobrir o que existe de fartura alimentar no sistema, e em que época ou estação tem-se este alimento. Melhorar e adequar os animais que vão ser criados a esta lógica seria de uma racionalidade e de uma coerência fantástica. Lembre-se, se tem de forma natural porque tenho que imporem outros? 

Se por alguma decisão for necessário colocar algum novo elemento no sistema, que se faça de forma parcial, aos poucos e vá observando o comportamento da nova espécie que se está instalando no sistema. Observe se o sistema acolheu de forma adequada, ou se o sistema tentou aniquilar a nova espécie, talvez ainda não seja o momento certo. Lembre-se um sistema mal desenhado e imposto exigem entrada constante de energia para manter o(s) elemento vivo, ativo e produtivo. Pode exigir este gasto de energia em forma de: eletricidade, dinheiro ou trabalho. 

5. A grande presença de animais nativos no ambiente da propriedade é um indicativo da presença de alimento. A natureza só permite se tem como, diferentemente da forma como o homem vem fazendo, mesmo sem ter condições ele tenta ter e em muitas vezes em demasia. Tem animais acima do que seu sistema consegue alimentar e criar, pois não só de alimento vivem os animais. Eles precisam de uma infinidade de necessidades que precisam ser atendidas pelo sistema ou pelo ecossistema. 

Vemos vez por outra, agricultores colhendo capins nas beiradas das rodovias para alimentar os seus animais, mostrando da insustentabilidade do sistema que foi montado por ele. Tem o que não pode criar. As abelhas utilizam seu instinto para verificar se vai ter fartura ou não, e com isto a abelha rainha aumenta ou diminui sua postura, adequando ao que tem e ao que vai poder ter. 

6. Os animais na natureza foram se aprimorando a partir do que existe no ambiente. Tudo é regulado a partir do que tem ou do que não tem. As modificações na estrutura física, reprodutiva e de alimentação são sempre guiadas pelo meio. Já o homem quer aprimorar os animais sem aprimorar o meio, ele sempre pensa em trazer de fora, comprar o que sempre vai faltar, pois o meio não foi e nem está preparado para os padrões dos animais que estão sendo geneticamente preparado e ou modificado. A pressa é inimiga da perfeição e dos resultados duradouros ou sustentáveis. 

7. A dificuldade de encontrar animais nativos na propriedade é um péssimo sinal. Isto pode significar falta de biodiversidade alimentar. A teia alimentar do ambiente está deixando a desejar. Precisa de mais outras espécies para voltar a ser um ambiente em equilíbrio. Tem algo demais tomando espaço de alguns outros. Ou até existe um grande predador, o caçador chamado homem. 


8. Muitos animais transitam nos ambientes a partir das estações do ano. Migram para ali ou para acolá, sempre guiado pelo instinto da sobrevivência. Quando faltam as condições para prover sua espécie ou raça no ambiente, imediatamente buscam outra migrando ou até hibernando. Dando lugar muitas vezes a outras espécies que conseguem viver naquele ambiente e nas condições que ele oferece naquela estação. Sempre vai ter animais adequados aos ambientes, a natureza precisa dos animais para ter seu equilíbrio equilibrado se assim posso dizer. Será que com este comportamento não se pode aprender em que momento preciso me desfazer dos animais que crio? Ou preciso ir sempre de encontro a meio? Forçando o que ele naquele momento não pode oferecer as espécies que insisto em criar. 

9. Normalmente só vemos animais esqueléticos, desnutridos nos espaços manejados pelos homens, nas suas criações racionais. A natureza não permite este tipo de problema, ela sempre só permite ter se tem condições para dar segurança. Qualquer representante, com dificuldade de locomoção, velho, doente ou com qualquer outro problema, rapidamente os predadores se encarregam de eliminá-lo. 

Já nas criações humanas o dinheiro investido é quem controla a permanência ou não deste representante. Na seca sempre encontramos animais em estados lastimáveis, com certeza são erros da ação humana, em querer criar mais o do que seu ambiente é capaz de suportar. Ou mesmo criar animais que não são adequados para as condições do ambiente que foi montado. O ambiente responde prontamente a investida que se faz na tentativa de querer incluir determinada espécie no ambiente. Aprenda com ela, observe sua resposta, e perceba que quanto mais natural for o ambiente que se permite ter, mais probabilidade de aceitação e resiliência se conseguem ter deste ambiente. 


10. Na natureza nem sempre o mais forte é o mais produtivo, mas com certeza é o mais resistente e resiliente. Nas criações realizadas pelos homens, em muitas situações ele quer que o mais forte seja o mais resistente e nem sempre é. Quanto mais se aprimoram o estado produtivo dos animais, mais ele perde o poder de resistência, fica muito dependente de tudo melhor, sua resposta produtiva esta completamente dependente do que o seu criador lhe oferece de alimento. Se por qualquer dificuldade este animal não receba os nutrientes necessários para que sua produção atinja sua capacidade, a produção cairá e em muitos casos mesmo recebendo os alimentos necessários, mas sua constituição biológica não for adequada àquele ambiente ele não irá responder com a produção esperada. 

11. Talvez o único animal que não tem medo de fogo é o homem, todos os demais animais têm receio do fogo, fogem dele. Embora que em alguns casos a natureza se utiliza do fogo para se renovar, ou para até fazer com que determinados representantes possam nascer como é o caso de sementes muito duras, onde a quebra da dormência só acontece na presença do fogo. Já no manejo racional dos seres humanos o fogo é utilizado de forma permanente, como técnica de produção, todos os anos e sempre utilizado para resolver problemas econômicos, e limpar e controlar mais rápido possível determinada erva nas áreas que vão ou que estão sendo cultivadas, além da ilusão de fazer uma fertilização equilibrada e barata. Precisa-se rever este manejo cultural. 


12. A cor da pelagem e o tamanho dos pelos dos animais nativos podem nos passar muitas informações sobre o clima do ambiente. Quando o ambiente é muito quente existem determinadas padrões de cores que suportam altas temperaturas tentando refletir e não absorver todos os raios solares que chegam a ter ele. Da mesma forma em ambientes onde a temperatura é mais fria, também a natureza tem cores e tamanho de pelos que são mais adequados a este tipo de clima. Estas informações quando observadas podem nos ajudar na escolha dos animais mais adequados ao ambiente que se tem, diminuindo as probabilidades de se ter resultados negativos na atividade que se está praticando. 


13. A presença de animais selvagens no ambiente é um bom indicativo de lugar equilibrado, de diversidade, onde estes podem encontrar alimento com mais facilidade, é uma prova inconteste de manejo adequado ou de excesso de alimento. Com certeza esta presença é um bom indicador biológico de área no caminho da sustentabilidade. 

14. Todas as funções que precisam ser feitas no ambiente são divididas entre todos os representantes que fazem parte daquele ambiente. A co-responsabilidade não pensada, mas do instinto fazem com que todos participem na sustentabilidade do ambiente. Já nas propriedades criadas por alguns seres humanos a responsabilidade é simplesmente de alguns representantes não de manter o ambiente sempre produtivo, mas de tirar e de garimpar toda a riqueza que possa ser retirada deste ambiente. Quanto à divisão de tarefas a uma sobrecarga em alguns em prol dos que não fazem nada, não participam de nada, e em muitos casos, foram até retirados do ambiente. Que aprendizagem pode-se tirar deste comportamento da natureza e dos seres humanos, onde se precisa mudar, mexer, transformar, e adequar? 

15. Normalmente os animais não defecam onde habitam, a não ser quando recém nascidos, mas quando vai se tornando adultas, todas as necessidades biológicas relacionadas aos excrementos são realizadas fora deste ambiente. Foi uma das formas que a natureza encontrou para diminuir problemas com enfermidades, contágios. Já nas criações ditas racionais os animais são criados quase sempre em excesso, muitos animais por metro², fazem todas suas necessidades naquele mesmo espaço, tendo muitas vezes contato direto com as fezes de outros que estão sendo criados no mesmo espaço. Com isto aumentasse o risco de infecções de enfermidades entre outros problemas. Que providencias podemos fazer para acabar ou minimizar este problema tão constante no manejo dos animais? 

16. Descubra qual o período que tem mais animais nativos na sua propriedade e aprenda com eles, o manejo reprodutivo, os hábito e preferências alimentares, estratégia de proteção entre outras aprendizagens. Tente no primeiro momento imitar o que eles fazem, depois adéque ao que você está fazendo e só depois invente, criando seu próprio manejo sempre usando a sapiência contida nos ecossistemas naturais. 

É notório que na natureza os animais transcendem os exemplos do que eles podem nos ensinar. Cabe agora a você ficar mais atento e observador para perceber muitas outras aprendizagens que estes exemplares da natureza poderão te ensinar. O cotidiano dos nossos agroecossistemas pode ficar bem mais equilibrado e sustentável quando tentamos reproduzir os padrões da natureza. 

24 de maio de 2012

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