Antônio Roberto Mendes Pereira
Muitas pessoas podem ter problema para responder qual o conceito que daria de casa. O que entendemos verdadeiramente por casa, está muito limitado aos conceitos e as formas que se utilizam atualmente imposta pela mídia. Os materiais utilizados pela maioria das casas é o resultado do que as empresas construtoras têm a disposição no mercado da construção civil para serem vendidos. A arquitetura também não foge muito das formas retilíneas que se tem utilizado como padrão atual. Todo design das casas estão adequados a estas formas retas, e todo o resto dos componentes da casa irão ter também esta mesma lógica como os móveis, eletrodomésticos, etc.
Para que possamos repensar nosso conceito de casa, precisamos primeiro tentar responder algumas perguntas:
· Para que serve as nossas casas?
· O que é uma casa ideal?
· Quais os compartimentos que devem compor uma casa?
· Todos os compartimentos devem seguir uma norma de distribuição?
· Todos os compartimentos precisam estar ligados entre si?
Respondendo a estas perguntas, veremos que tem muita lógica sem lógica, sendo utilizado, como por exemplo, vez em quando, conhecemos pessoas que quando vão construir a casa dos seus sonhos ou a sua casa ideal, termina por escolher o modelo depois de ter visto ou pesquisado em revistas de construção especializada no assunto, ou até visitando casas de amigos, e muitas vezes até decidindo por modelos de casa que viu no exterior.
E a opção da escolha da casa ideal, termina sendo pelo modelo mais bonito, que dá status, e que normalmente não tem nada a ver com o clima da região e com os recursos locais disponíveis, mas decidiu-se meramente pela arquitetura bonita. A funcionalidade esta ligada apenas ao ter e pouco a necessidade real e necessária. E esta forma de pensar e decidir termina por escolher o modelo e os materiais de construção mais caros e que tem que viajar grandes distâncias para atender as demandas.
O sentimento de ascensão social passa também pela conquista da casa. Mas, a segregação das classes sociais, contribui para a construção de mundos habitacionais diferentes. Cria-se o mundo da favela e o do condomínio fechado.
As arquiteturas são completamente diferentes, porém sempre seguindo a mesma lógica. Outro diferencial são os materiais utilizados, os preços, a decoração, e a qualidade irão dar o tom para se perceber uma casa para uma classe popular e para uma classe social rica.
Se olharmos atentamente a natureza vamos perceber que em uma mesma espécie a habitação é igual, tem o mesmo modelo, é sempre construída com o mesmo tipo de material, levando sempre em conta os insumos que tem no local, mas na espécie humana é diferente, tem a casa do rico e a do pobre. Onde nem sempre os materiais utilizados são os mesmos, a localização também e o uso do espaço é diferente, a arquitetura nem se fala, segue o padrão da imponência do mostrar que tem e poder ter.
O uso de materiais de construção de origem não natural é intenso nas construções atuais. A química sintética vem tomando cada vez mais espaço na compra de insumos para as construções. E muitas vezes a garantia do durar mais, termina por diminuir a vida de quem nela irá habitar. A liberação de muitas substâncias químicas voláteis e residuais pode comprometer gravemente a saúde dos moradores ao longo do tempo de exposição.
Exemplos como: Composições de tintas plásticas, resinas, telhas de amianto, madeiras tratadas com inseticidas, entre outros.
O uso do ferro, do cimento transcende a necessidade de ter uma casa segura. É abusiva e muitas vezes desnecessária, a quantidade utilizada. Muitos engenheiros se protegem dando segurança, aumentando sem limites o uso destes insumos construtivos. Como ter conforto e segurança gastando menos, utilizando ao máximo os materiais naturais que se tem naquele local? Eis a questão para ser trabalhada, pensada e planejada.
O uso da luz elétrica contribui sensivelmente para nos afastar de perceber os ciclos da natureza, não percebo mais, não vejo mais, não sinto mais. O uso da energia elétrica não permite que eu sinta o frio, o calor, as mudanças das estações. A claridade das lâmpadas e sua intensidade nos afastam de ver o céu, as estrelas a lua, pois só no escuro consigo admirar toda esta beleza natural. No estado atual só sinto as mudanças nas contas de uso da energia, quando vou pagar.
A luz intensa e constante me faz ficar até tarde acordado, diminuindo meu tempo de descanso. Em alguns animais o manejo forçado da luz pode controlar o entrar mais cedo na produção. Da mesma forma acontece também com as plantas a quantidade de luz recebida controla a quantidade de fotossíntese.
E em nós o que será que ela pode acarretar além do cansaço? Qual a parte da sua casa que você vê o firmamento? Sua casa é iluminada de dia pela luz do sol ou elétrica? O que fazer para que na projeção das nossas casas esta preocupação esteja presente no planejamento e no uso?
Este texto pretende abordar princípios básicos de habitação que possam nortear as tomadas de decisão na escolha da forma, do local e dos materiais para a construção de uma casa que utilize ao máximo os padrões mais naturais possíveis. Construir uma casa com vida para abrigar vida é o que se quer.
Todas estas idéias e colocações são para mudar nossa forma de pensar casa, de fazer casa e de morar em casa. Todos os animais possuem uma habitação, que na sua maioria são construídas por eles mesmos, e sempre com materiais encontrados no local. A nossa normalmente não foi construída por nós, pagamos para alguém fazer isto. Nem sempre utilizamos os materiais que se tem disponível no local, sempre queremos fazer diferente, com insumos diferentes, vindos de regiões distantes, simplesmente para sermos diferentes, para mostrar o poder econômico que se tem.
PLANEJANDO A CASA COM A NATUREZA
Permitir que a natureza faça parte permanentemente da nossa casa deve ser uma escolha e preocupação permanente. Olhar para todos os lados e sentir a natureza iluminando, ventilando, ornamentando, alimentando, produzindo, protegendo, acalmando, esquentando, só pode trazer qualidade de vida, para quem destes benefícios desfruta, além da economia e do baixo poder de impacto ambiental. Esta deve ser a pretensão do uso do espaço de nossa casa.
Toda a natureza se arruma se organiza para ter um padrão, ou para seguir um padrão e em algumas vezes vários padrões, o único ser que mesmo sendo um padrão, mas não quer cumprir padrões naturais e cria os seus é o ser humano. Ele vai de encontro em uma série de padrões da natureza, inclusive a habitação que ele projeta vai inúmeras vezes de encontro o que a natureza lhes ensina e permite.
A FORMA – A inspiração deve ser as formas da natureza. A natureza cria formas inimagináveis para proteger o resultado da perpetuação e da reprodução. Em todos os seres este momento e lugar precisam de acolhimento, acomodação, distribuição equilibrada e necessária, aconchego, espaço, comodidade, proteção e segurança.
Observe a reprodução das plantas, onde as sementes se desenvolvem, é a casa dela naquele momento, veja que todos estes atributos do espaço estão presentes. Normalmente as formas são as mais variadas, mas sempre seguindo um padrão de cada espécie de proteção, comodidade e garantia da acomodação.
Estas formas nunca são com linhas retas, sempre seguem as formas arredondadas, pois onde o redondo se apresenta tudo cabe mais, tem mais espaço, e por ser arredondado tem mais segurança, é mais difícil de quebrar, de se destruir, pois as forças estão bem distribuídas. As linhas totalmente retas não existem na natureza, e elas são frágeis quando comparadas com as linhas arredondas. Quebram-se com facilidade.
A única linha completamente reta na natureza é o nível da água, mas mesmo assim propenso a mudar repentinamente a depender das forças da natureza, para tirá-la do estado de repouso.
Estamos condicionados as formas retilíneas e quase tudo que criamos normalmente segue estas formas, nem conseguimos imaginar uma geladeira redonda, uma cama redonda, pois as casas foram projetadas com linhas retas e logo, tudo que vai para dentro deve seguir esta forma. O homem já está tão aculturado pelas formas retas que até em algumas frutas esta se tentando torná-las quadradas, como é o caso da melancia.
O REDONDO E O ARREDONDADO OCUPANDO A LÓGICA E OS ESPAÇOS
A forma tem tanta importância que influencia uma infinidade de atributos. O uso e o gasto de energia têm tudo haver com a forma, no quadrado tudo gasta mais, pois as linhas retas criam dificuldade de fluir, pois todo canto dificulta as passagens, e como que se tivesse quebrando a linha que se tinha. Nos quadrados a força direciona aos ângulos, querendo abrir, separar, já nas formas arredondadas as forças está distribuído de forma homogênea, logo o peso é mais bem distribuído diminuindo os riscos de rompimento.
Nas formas arredondas a acústica é mais bem distribuída. O som desliza nas paredes com mais rapidez sem perder sonoridade e intensidade. Com pouco volume de intensidade se houve mais, princípio da economia de energia. Para comprovar este atributo observe que os grandes shows, são sempre realizados em conchas acústicas que tem formas arredondadas. As salas de aulas, e a sala de som além de outros espaços deveriam ter formas arredondadas, e por que não a nossa casa?
A luz da mesma forma, até o próprio sol tem forma arredondada, porque será? Porque as lâmpadas também têm formas arredondadas? A distribuição da luz é mais bem distribuída e propagada quando se utiliza equipamentos e espaços redondos. Toda distribuição na natureza é feita sempre se utilizando formas arredondadas.
As formas redondas também têm a magia de reduzir os atritos entre duas superfícies lisas ou rugosas, permite o deslizar, torna o percurso mais rápido para ser percorrido. Não é a toa que os pneus dos carros são redondos. Se não a maior, mas a roda foi e é uma das grandes invenções humana. Todo mecanismo para poder funcionar por si só precisa de muitas peças redondas, sem elas não haveria deslocamento, a inércia tomaria conta do mecanismo e ele ficaria parado. Para se ter a saída necessita de um empurrão e depois a forma redonda se encarrega do resto, o deslocamento. O redondo, roda e se desloca, enquanto o quadrado para, ou se arrasta quando empurrado.
O redondo desce quase sempre sem machucar, enquanto as formas retas e quadradas arranham, machucam, rasgam, por isso que os comprimidos são sempre redondos. O redondo aumenta as freqüências o quadrado diminui. O redondo é a lógica dos ciclos e o reto é fluxo, entra e saí sem compor um ciclo. O redondo percorre o quadrado restringe. A linha redonda ao contrário acumula líquido ou qualquer outra substância, a linha reta não consegue. O redondo aumenta as distâncias e as linhas retas diminuem. O redondo exige movimento enquanto que no quadrado tem fim, para. O redondo se encaixa se acomoda já o quadrado se enquadra. No redondo tem sobras no quadrado não tem. O redondo é permissível o quadrado não. O redondo diminui o desgaste, o quadrado aumenta. O redondo diminui a velocidade por não se vê o que tem depois da curva, a linha reta contribui para o aumento de velocidade, pois sempre estou vendo o que tem na minha frente. Todo canto quadrado tende a quebrar, já os redondos não. As curvas aumentam o perímetro, enquanto as linhas retas diminuem.
Até na limpeza os espaços redondos são mais fáceis de limpar, enquanto os quadrados tendem a dificultar. Nos espaços redondos a sujeira não fica nos cantos, pois os cantos ou vértices não existem, enquanto que nos espaços retos, quadrado por existir cantos existe a possibilidade de se ter sujeira junta nestes cantos.
A natureza não gosta de nada parado, logo quanto mais redondo existir melhor. O estado de repouso é permitido, mas não de inércia. O redondo é o caos inesperado, por não saber o que tem depois da curva, é o principio da incerteza e da probabilidade. O quadrado quebra o contínuo.
Que vantagens podem-se tirar da aplicação destas formas arredondadas nas nossas casas?
A NATUREZA COMO CASA E DENTRO DE CASA
Como vimos anteriormente o uso das formas arredondadas trás muitas vantagens, podem criar espaços habitacionais o mais versáteis possível. Seu uso traz benefícios incalculáveis ao meio. O uso desta forma exige certas mudanças, desde os hábitos dos modelos tradicionais até os hábitos cotidianos, corriqueiros. O uso do redondo não é invenção deve ser encarado como EVOLUÇÃO.
A casa não é só as quatro paredes são também o entorno com todo seu visual de natureza. O espaço externo é muito importante, e se este espaço também produzir beleza e alimento, o ambiente estará no caminho da completude, pois, casa e alimento devem está ligados. A casa deve estar perto da comida, e quando se perde isso, perdeu boa parte da sua sustentabilidade.
Tanto na arquitetura quanto nas paredes quando se opta por esta forma, perde as linhas e os contornos retilíneos para dar lugar ao abaulado, arredondado, sem forma definida. A inspiração está nas formas naturais encontradas no ambiente, e não nas projeções arquitetônicas onde sem a matemática estrutural, não se consegue construir.
As formas habitacionais naturais tendem a serem edículas (casinhas pequenas) e com traços arredondados. Quase todas as espécies têm sua habitação com este tipo de contorno. Uma árvore, por exemplo, é uma habitação para uma infinidade de animais e insetos, e tem forma arredondada. Os ninhos dos pássaros também têm forma arredondada. As cavernas também têm formas redondas.
BUSCANDO O CONFORTO NOS PADRÕES DA NATUREZA
O ESPAÇO – A natureza sempre busca ocupar o mínimo para poder ter mais, caber mais, ter mais diversidade. É comum ou até pode ser um padrão o tamanho das casas, sempre encontramos as edículas sendo utilizadas em quase todas as espécies. A economia de insumos para fazer mais, vai de encontro ao gastar muito para fazer o grande. Para a natureza é melhor ter vários pequenos, pois, também se tornam mais difícil destruir tudo e todos, já que estão distribuídos em vários espaços.
Pouco espaço é mais fácil para limpar, para dar manutenção, precisam-se de menos tudo, aumenta o toque o contato e até para construir se gasta bem menos. Se precisar crescer aumenta-se aos poucos, até o limite que se tem e se pode.
A otimização dos espaços deve ser um dos princípios do planejamento da casa. Outro princípio que precisa ser praticado no projeto da casa é que cada espaço ou cômodo possa desempenhar várias funções. Como exemplo a cozinha pós a serventia da refeição da manhã, pode tornar-se espaço para outras atividades, a sala da mesma forma, pode ter vários usos, até a noite pode tornar-se quarto de dormida.
Que tal ter cômodos separados do espaço principal? A cozinha podia ser um espaço separado e entre a cozinha e os demais cômodos, muito verde, muito natureza vegetal. A sala ser um espaço aberto, com toda sua área livre e em contato também com natureza, com certeza sua casa teria mais ventilação, já que tem áreas livres e abertas. A estética seria perfeita, flores, tons os mais variados de plantas. As cores estariam em todos os lados, e vale salientar que seria uma beleza viva e dinâmica, mutável acompanhando os ciclos da natureza. Imagine uma noite de lua, uma manhã de chuva. Os quartos seria a parte mais protegida da casa, impermeável para não ter problemas com vazamentos e goteiras, aconchegante, bem protegido, como todo ninho é. Lembrem-se os animais tem o seu lugar de dormir e os demais espaços é a natureza do entorno.
Acredito que todo este verde faria muito bem para toda a família, aumentaria esta conexão entre família e natureza. A relação com a natureza iria progredir sensivelmente. O ver, o cheirar, o tocar, o cuidar, o proteger e ser protegido seria beneficias que todos iriam ganhar. As formas da casa como dito anteriormente, se mistura com as formas da natureza. A casa não seria algo estranho a natureza e sim mais um ninho como de qualquer outro animal ou vegetal que protege sua semente ou sua cria.
Tudo que se produziria na casa como resíduos seriam tratados no próprio ambiente, reaproveitado, reciclado e incorporado novamente na natureza do seu entorno, é uma troca permanente, ou te dou e tu me devolves, e com toda pureza que te dei assim todos ganham.
Já imaginou um lago entre estes espaços que seria abastecido pela captação de água do telhado. Lago cheio de vida. Olha estas imagens abaixo.
Que tal o banheiro e o sanitário estarem em contato direto com a natureza? Você ir usá-lo tendo a natureza como visual. Com certeza fazer o número 1 e 2 seria muito mais prazeroso, já que para algumas pessoas é traumático. O ambiente seria muito tranqüilo e convidativo, não mais para ler, mas para apreciar a beleza da natureza. Todo dia não seria a mesma paisagem, pois ela muda todo dia. Tentar-se-ia descobrir o que mudou de um dia para o outro, será que foi aquela flor que se abriu mostrando toda sua beleza, ou será que foi aquela folhinha nova que nasceu, ou quem sabe também foi aquela plantinha que germinou, é o mais novo ser do ambiente.
Os ciclos das estações seriam sentidos. Todas as estações estariam no entorno, entre e dentro da tua casa. Acordar com o canto dos pássaros na primavera é deslumbrante. Algumas frutas seriam colhidas quase que dentro de casa, da árvore a mesa, tão perto. Imagine vários pés de frutas em produção misturados com outras plantas todas em época de flores, que cenário hem!
O local de refeições aberto, com visual para a exuberância da natureza. Desfrutar de duas coisas ofertadas pela natureza o alimento e a paisagem, este é qualidade de vida. Este alimento com certeza só irá te fazer muito bem.
Natureza, construção, espaço e conforto deve ser o slogan do seu projeto de casa, ou melhor, ninho. Deixe a natureza entrar no teu espaço residencial ela vai te ensinar muita coisa, até perder o medo.
A água é o maior presente que a natureza te oferece depois do oxigênio. Água limpa, pura, de graça. Esta água além de me saciar, e me lavar ainda me presenteia com a beleza, simples e bela, reluzente, pura e cristalina.
Nem precisou de decorador a decoração é toda a exuberância e beleza da natureza que está fora e dentro do espaço que criaste, dispensa até quadros, pois os quadros vivos são mais belos. E como diz a música de Zeca Baleiro “você não precisa ir ao salão de beleza, a sua beleza é maior que a beleza de qualquer salão”.
10 de maio de 2012
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