sábado, abril 30

Tempo, Espaço, Parceria e Produção


Antônio Roberto Mendes Pereira

Muitas pessoas alegam de não querer mexer com agricultura urbana ou de quintal porque não dispõe de tempo para dedicar-se a esta atividade/hobby. O dia a dia é muito corrido, existem outras atividades que lhes ocupam até os momentos de lazer. Porém, a Permacultura mostra, que mesmo dispondo de pouco tempo e de pequenos espaços somos capazes de produzir parte da nossa alimentação. O que nos falta é entender cada vez mais a natureza, principalmente seus ciclos e suas combinações, suas necessidades. Precisamos conhecer mais a longevidade das plantas, suas preferências e a partir destes conhecimentos poder  planejar os espaços da melhor forma possível.
Além de ser prazeroso e até alguns estudos mostram que tem efeitos medicinais, isto é curativo. Mexer com a terra, com as plantas e até mesmo com os pequenos animais, estes momentos nos faz sentir que somos parte de uma teia onde todos estes elementos são responsáveis pela ecologização dos espaços onde vivemos, trabalhamos e atuamos e nos alimentamos.

·         Se dispusermos de muito tempo – Podemos plantar muitas hortaliças
·         Se dispusermos de pouco tempo – Podemos plantar alguns tubérculos
·         Se dispusermos de pouquíssimo tempo - Podemos plantar fruteiras

As estratégias podem ser muitas, porém o grande lance é a observação da natureza do comportamento dos elementos e do aproveitamento racional dos espaços que temos.
Vejamos um exemplo hipotético para melhor entender o que esta sendo afirmado
Imagine um quintal de 100 metros quadrados em uma cidade qualquer. Este quintal pertence a um casal que vive viajando e que só chega à casa a cada 15 dias passando apenas de folga 03 dias.
Pergunta-se: O que este casal poderia produzir diante destas circunstâncias no seu quintal? Com certeza para algumas famílias a resposta seria “não tenho tempo, dá muito trabalho, é melhor comprar” em fim este seria o comportamento da maioria das famílias. Mas este casal tomou outra atitude, resolveu transformar os seus 03 dias de lazer em trabalho dedicando-se a produção de alimentos orgânicos, limpos, livres de veneno e de fertilizantes químico em sua pequena área disponível.

Precisou de ajuda e procurou pessoas que pudessem lhe ajudar nestes conhecimentos e planejamento. Esta pessoa foi um Permacultor, que lhe deu varias orientações de como pensar o espaço quintal, como organizar as idéias tornando estas informações em um planejamento eficiente e eficaz. Neste planejamento ele percebeu que ele seria mais um elemento que comporia este ecossistema que começava ser pensado, pois muitos outros elementos também iriam compor este quintal agroecológico. Elementos que iriam substituir o casal nas tarefas durante os dias que eles estivessem ausentes.

Quintal abandonado

Com as explicações que recebeu percebeu que poderia contar com a ajuda dos seguintes elementos da natureza: animais, insetos, plantas e suas partes, água, o sol, o sereno, a neblina, o frio, o calor, a sombra, todos estes elementos poderiam ser grandes aliados durante a sua ausência nos períodos de trabalho fora de casa. Ele e sua mulher perceberam que não estavam sós, teria muitos recursos biológicos querendo compor esta equipe de trabalho.

A partir daí começou a elencar com quem poderia contar no momento inicial de implantação, como também nos momentos seguintes. Verificou que no seu quintal existia muito mato seco e que poderia utilizar para proteger o solo não permitindo que acontecesse a evaporação, secando a área. Como também não permitindo que a temperatura do solo subisse demasiadamente, criando um micro clima na altura do solo muito favorável para que as plantas escolhidas pudessem crescer com facilidade. O solo do seu quintal iria ficar muito mais úmido por muito mais tempo. E isto seria de uma ajuda fantástica, pois ele ou sua mulher fazendo uma boa irrigação tranquilamente às plantas agüentariam até a sua volta. Esta família conseguiu ajuda de um elemento que anteriormente era desprezado, visto como erva daninha, como plantas intrusas e que normalmente era capinado e queimado ou recolhido e jogado no lixo.

Outra tarefa de grande necessidade era a fertilização permanente da área do quintal. Quem poderia ajudar nesta tarefa de fazer com que as plantas cultivadas pudessem se desenvolver satisfatoriamente? Descobriu que os microorganismos seriam outro grupo que poderia contribuir nesta tarefa. Que eles assumiriam uma tarefa muito importante, a de fertilizar a área. Os microorganismos iriam ser o intestino daquele pedaço de terra e sua tarefa seria a de decompor parte da cobertura morta que estava protegendo o solo, transformando este material em alimento para as plantas disponibilizando estes minerais lentamente, guiados pelas necessidades de cada vegetal que está compondo o quintal.

Então, ele concluiu que uma das suas tarefas a cada 15 dias seria contribuir no aumento da quantidade de biomassa para a cobertura do solo de forma diversificada, isto é quanto mais matéria orgânica diversificada ele pudesse estimular a produção mais efeitos benéficos estariam trazendo para o sistema. Além disso, três seres iriam ser beneficiados diretamente: o primeiro seria os microorganismos o segundo seria o solo e o terceiro seria as plantas que estavam sendo cultivadas, que retribuiriam todo este trabalho com frutos, sombra, folhas, galhos e beleza para todos os que lhe ajudaram.

Outra ajuda fantástica vieram dos elementos não vivos que poderiam ser utilizados, como as estruturas físicas: telhado, paredes, esgoto e até das sombras, da claridade e temperatura do sol. Como esta ajuda poderia acontecer? Como um elemento não vivo e energias poderiam ajudar? Observou-se que se colocasse uma bica direcionando a água das chuvas para um tambor ou tanque, toda esta água que na sua maioria era desperdiçada poderia ser armazenada. E caso este tanque viesse a transbordar não teria problema, pois iria se construir canais que direcionariam o excesso de água para o solo através de bacias criadas em cada planta. E quando ele voltasse teria um ou mais tambores ou tanques cheios de água que facilitaria a irrigação de seu ecossistema ou quintal Permacultural, lhe trazendo certa segurança em relação à água e a irrigação.  Outra estrutura que poderia contribuir são as paredes do quintal que poderiam servir como quebra vento para seu ecossistema cultivado e que o sol poderia ajudar a aquecer áreas do quintal que precisa de calor e claridade.

Perceba leitor quantos elementos poderiam ajudar este casal? E olha que antes ele achava que a tarefa seria trabalhosa para ele e sua mulher, quanta parceria surgiu. Assim é muito mais fácil produzir.

Mas agora vejamos quais foram as plantas que nosso amigo e amiga resolveram adotar como componente produtivo do seu sistema alimentar. As escolhas destas plantas deveriam seguir a lógica de plantas que pouco precise da presença humana para ser cultivada. Concluiu que não poderia ser plantas horticolas pelo menos naquele momento ou estágio da operacionalização. Que plantas como alguns tubérculos como, por exemplo, macaxeira, batata doce nas áreas que permanecem mais úmidas, algumas covas de inhame seriam ideais para aquele momento, pois depois de plantados precisa de muito pouca intervenção humana. Outras plantas que necessitariam estar presente neste quintal aumentando ainda mais a diversidade seriam as fruteiras. Pois estas suportariam com mais facilidade o pouco tempo disponível pelo casal. É claro que precisaria observar com muita cautela o tamanho da área que se tem. Logo a quantidade de fruteiras seriam poucas. Mas que elas iriam trazer  mais equilíbrio e sustentabilidade permanente quando iniciasse sua produção. Na escolha destas fruteiras também se observou que existem fruteiras perenes e não perenes e que seria interessante plantar ambas, pois enquanto as de ciclo mais curto estivessem na produção às perenes estariam em crescimento e não teria que esperar durante muitos anos para poder comer alguma variedade de fruta do seu quintal. Escolheu como plantas não perene: mamão, banana e algumas fruteiras trepadeiras para ganhar mais espaço, explorando as paredes e outras áreas verticalmente. Quanta diversidade poderia ter com tão pouco trabalho humano.

Todo este consórcio de plantas de ciclos mais curto e mais longo, como também de plantas de médio e grande porte iria criar um ambiente, um micro clima que mais adiante poderíamos cultivar algumas hortaliças menos exigente em cuidados. Estas poderiam ser cultivadas protegidas pelas plantas dos outros extratos.

                                                        Imagem Serta Ibimirim

Desta forma o ecossistema iria se desenvolver do simples para o complexo, do pouco para o muito, do grande para o pequeno, do menos exigente para o mais exigente. É desta forma que a natureza trabalha, ela provoca e cria permanentemente relações, combinações onde o sucesso de um é o sucesso do todos. Os ecossistemas se tornam mais sustentáveis quando mais elementos possuem, ele precisa de abundancia, de diversidade, de flexibilidade.
Este casal também aprendeu que a natureza pode propor outras soluções, colocando outros elementos ou retirando alguns que ele colocou. Muitas conclusões puderam ser aprendidas por este casal vejamos algumas destas conclusões:

  • Que os ecossistemas evoluem para a complexidade, isto é, sai de simples para um mais completo, e que se logo no início do seu plantio as plantas horticolas não se adaptarem por que o sistema ainda não conseguiria sustentar as plantas, agora com o sistema mais montado, mais cheio, mais completo com certeza as hortaliças se desenvolveriam com tranqüilidade. Mas devemos alertar que nem todas as espécies de hortaliças poderiam ser plantadas naquele estágio caberia a família selecionar, escolher as mais apropriadas para o ambiente, como por exemplo, que tolere mais a pouca quantidade de luz, pois elas estariam sendo plantadas embaixo de plantas maiores.
  • Que é possível ter em pequenos espaços produção mesmo que não tenhamos tempo para dedicarmos de forma mais permanente ao cultivo. Podemos contar com muitos elementos que podem nos substituir até com mais perfeição.
  • Que a falta de conhecimento sobre a natureza é o limitante na tomada de decisão de fazer ou não fazer. Que precisamos ler mais sobre os ecossistemas para entender sua organização e perceber que mesmo sem a presença humana os ecossistemas alimentam todos os seres que nele vivem de forma permanente e sustentável. E que nós seres humanos precisamos aprender a montar ecossistemas cultivados com as mesmas características e princípios da natureza.
  • Outra grande descoberta que foi feita é que se percebeu que o homem não é o centro do universo, que ele não é o dono da natureza e as leis que regem a natureza são primordiais para a nossa sobrevivência.

O que você esta esperando? Vá observar o seu quintal ou outro espaço que possui e inicie o planejamento de sua pequena produção, limpa e livre de produtos que podem prejudicar sua saúde. O espaço e o tempo disponível com certeza não serão os problemas para o não produzir.

                                                         Imagem Serta Ibimirim

                      Imagem Serta Ibimirim - alfaces crescendo no meio do mato

Quem disse que não podemos produzir hortaliças misturadas, ou melhor, consorciadas com mato (ervas daninhas como são vulgarmente conhecidas).

28 de abril de 2011

quinta-feira, abril 21

Recompondo a sala aula natural e os espaços de aprendizagens da propriedade familiar


Antônio Roberto Mendes Pereira

Onde o sertanejo aprende a lidar com a agricultura e com as criações?

É impossível compreender onde se dá esta aprendizagem sem conhecer a vida dos sertanejos. A luta pela vida faz dele um experimentador nato, testando isso e aquilo, sempre buscando aprender mais um pouco com a realidade que esta vivendo. A vida primitiva e simples que ele tinha antes, está se tornando moderna, perdendo todas as características do testar primeiro antes de aumentar a quantidade a ser produzida. Toda esta cultura está sendo modificada pela entrada da era do conhecimento onde se não se conhece bem o que se faz não está apto para competir no mercado.

Os modelos clássicos de ensinar e aprender novos conhecimentos ou porque não dizer conhecimentos significativos está ficando superados, precisa-se de formas inusitadas de provocar esta aprendizagem. Os modelos pedagógicos utilizados e todos seus instrumentais já não estão alcançando resultados satisfatórios.

E a cada dia, a necessidade por novos conhecimentos vem aumentando. O produzir vem exigindo mais informações, mais conhecimentos. Para fazer agricultura é necessário ter mais conhecimento que antes. Com apenas o conhecimento cultural que a maioria das famílias possui é impossível praticar uma agricultura que lhes traga rentabilidade de forma permanente, justa e ambientalmente correta.

Anteriormente com a experiência e o saber dos avôs era suficiente para praticar uma agricultura produtiva e rentável, pois os solos respondiam a todos os estímulos nele incorporado. A prática da agricultura neste momento histórico e geológico era mais fácil. A população a ser alimentada era menor e os solos ainda estavam com toda sua carga de fertilidade natural.  Havia mais equilíbrio no ambiente das propriedades, mas pelo uso de um sistema de produção criado e divulgado pela revolução verde através do uso de insumos químicos e de um manejo inadequado, estes solos foram exauridos, não respondendo mais aos conhecimentos e experiências que as famílias possuíam.

O mundo moderno está permanentemente progredindo, será que é bom os agricultores acompanharem este progresso do produzir sempre mais? Onde ele vai aprender estes novos conhecimentos? Quem vai selecionar estes conhecimentos? Com qual intenção?

Atualmente, os espaços para aprender novas formas de fazer agricultura são poucos. A escola do campo, que deveria assumir um papel social de produzir conhecimentos sobre o espaço do campo, não o faz, repassa conhecimentos de pouca ou nenhuma serventia para a lida do roçado, e da propriedade como um todo. É como se esta escola preparasse os jovens não para saber viver e lidar no campo, e sim para retirá-las deste espaço, conduzindo estes jovens e seus pais para os centros urbanos, estimulando o êxodo rural, e o envelhecimento e a masculinização deste espaço.

Os instrumentos de mídia como a TV através das emissoras são as grandes vedetes e vendedoras de insumos químicos para uma prática de agricultura onde os meios de produção não são levados em conta, polui o solo, o ar, a água e as pessoas que destes alimentos consomem e produzem. O solo que deveria ser à base da saúde das pessoas hoje é o meio de produção de alimentos de baixa qualidade biológica, além de estarem desbalanceados, quando comparados aos produzidos naturalmente.

Pelas pesquisas apresentadas sobre alimentos contaminados muitos produtos são verdadeiros alimentos recheados de venenos e outras substâncias cancerígenas e intoxicantes. Os programas de TV dedicados as ciências agrárias são veículos que utilizam a mídia e o marketing para o aumento das vendas de todos os tipos de insumos, que contribuem para a baixa qualidade biológica dos alimentos e degradação dos solos. Divulga-se o aumento de produtividade através do uso destes insumos, mas pouco se divulga os males que estes insumos podem e causam ao ambiente e as pessoas.

A assistência técnica infelizmente segue a lógica da agricultura moderna para o aumento do uso de todo um pacote tecnológico centrado no uso de máquinas, aumentando o gasto com energia, aumentando a relação “energia aplicada versus energia produzida ou resgatada”. O sistema de produção que é divulgado como a fórmula para a proteção e produção é o baseado nas pesquisas que também são norteados pela mídia para acompanhar a modernidade produtiva. Alegam que o Brasil não pode ficar a reboque das pesquisas dos outros países que dedicam investimentos em pesquisas na área dos transgênicos, dos híbridos, da monocultura, etc.

Os extensionistas são preparados para prestarem uma assistência ao uso destes produtos. É dada uma assistência ao produto, e não a propriedade como um todo, ela é vista unicamente como uma unidade produtiva, não transcendendo a produção.  Não se acompanha a propriedade na sua inteireza, não se está preocupada com a saúde da família, com a educação, com o meio ambiente, com a cultura local. Em muitos casos é uma assistência que estimula o paternalismo e a concentração do saber, pois a visita é feita ao pai e não a família. A família não é envolvida no processo nem da visita e muito menos do acompanhamento. Ela é protagonista do filme mais não sai na legenda. O protagonista é o técnico e seus ensinamentos e a família é mero objeto da ação deste protagonista.

Como vimos às entidades e os atores sociais que poderiam fazer diferente, ensinar diferente, produzir diferente, acompanhar diferente, não fazem nada de diferente, estimulam e perpetuam o modelo de desenvolvimento que hora esta vigente e divulgado pela mídia e legitimada pelo governo nas suas políticas de ATER (assistência técnica e extensão rural).
Diante de todos estes fatos como fazer para que os agricultores possam aprender e até repensar seus conhecimentos?

Onde aprender? Quem vai ensinar?

Este texto pretende trazer reflexões e sugestões para estes desafios que hora são impostos a realidade rural. Não pretende esgotar o tema, mas influenciar na reflexão de como melhorar as aprendizagens dos agricultores independentemente de uma assistência técnica ou outra forma para se aumentar os conhecimentos.

Os conhecimentos empregados nas zonas[1] 0, 1, 2, 3 e 4 deveriam ser aprendidos na própria propriedade. As propriedades precisam ter um sistema educacional próprio e local, onde as demandas por conhecimento fossem primeiro analisados, comparadas e estudas no local e tomadas às decisões necessárias. A zona 05 na Permacultura é este espaço privilegiado para esta produção de conhecimento. É o espaço onde a natureza deve estar na sua forma original, espaço onde o homem não intervém, simplesmente aprende, estuda, verifica como a natureza agi, faz e executa. O sistema educacional da propriedade é este espaço, onde tudo que vou fazer nas demais zonas devo primeiro entender como a natureza operacionaliza cotidianamente.

Aprender com as plantas, com os animais, com os insetos, aprender com a passarada, com a chuva, com o vento, com o sol é o caminho para uma aprendizagem duradoura e por que não dizer sustentável. Entender como acontece à integração entre todos estes elementos sem nenhum subjugar os demais é uma lição para ninguém esquecer jamais. Espaço de parceria, de interdependência, de conexão, de combinação é tudo que se precisa aprender para se montar os agroecossistemas cultivados. Espaço perfeito de equilíbrio desequilibrado, de caos ordenado, de mistura, de tudo junto e misturado.

A matemática deste espaço é fantástica: pesar, medir as distâncias, a quantidade, a diversidade, as relações e equações para a resolução. Alguns pensadores da antiguidade diziam que a linguagem que a natureza utiliza para se expressar é a matemática, numa visão simplista. Mas ela é muito mais complexa e complicada do que se pensa.

Deve ser também considerada como área de observação e contemplação. É o espaço onde ao se contemplar percebe-se a grandeza da natureza. Sua magnífica complexidade onde tudo e todos estão ligados de forma simbiótica e harmônica. Onde tudo que nasce e cresce é espontâneo, completo e singelo.

A partir deste espaço posso aprender e entender conexões, tipos de consórcios, altura máxima das árvores daquela região adaptada ao tipo de solo, a umidade presente e permanente. Ela dá o norte dos cultivos das outras Zonas. É o santuário da propriedade onde abriga e protege a fauna e a flora nativa daquela região. Preserva o material genético de muitas plantas e animais. Além de ser a maior seqüestradora de carbono de toda a propriedade.

APRENDENDO COM A ZONA 05

1.                  Quantidade de matéria orgânica necessária por metro quadrado. Coletando e pesando toda a matéria orgânica que está presente no solo em um metro quadrado, tem-se a média de biomassa que deve voltar ao solo de forma permanente para manter a fertilidade e bioestrutura daquele espaço. A imagem ao lado mostra a coleta da matéria orgânica em 1 metro quadrado para posterior pesagem.

2.                  Observar a altura máxima das árvores desta Zona, este é um bom indicador para  saber mais ou menos o porte das árvores que aquele solo pode suportar. Ajuda-nos a não cometer erros na escolha das culturas e do seu porte.

3.                  É uma fábrica de solo equilibrado e rico. O retorno de matéria orgânica diversificada e a quantidade de funcionários (microorganismos do solo) que decompõe e liberam os nutrientes de forma dosada e gradativa para as plantas. É a melhor fábrica de terra boa que uma propriedade pode ter. Ela nos ensina como fabricar esta terra no seu laboratório natural.





4.                  A quantidade de plantas encontradas por metro quadrado também é um grande indicador da capacidade de suporte do solo. Pode-se contar esta quantidade de plantas, observando as espécies, os formatos e tentar imitar esta quantidade e formas nos plantios das Zonas 01, 02 e 03.

5.                  O jogo de luz deve ser observado e imitado. A natureza sabe como dosar a quantidade de luz para todas as plantas que compõe o espaço. As plantas que precisam de mais luz estão em cima as que precisam de menos estão em baixo, e todas as necessidades são atendidas. Distribui quantidades de luz não iguais e satisfaz a todas ao mesmo tempo.

6.                  Os andares da mata também são uma forma de arrumação que precisa ser entendida e imitada nas demais Zonas. Os andares estão ligadas a otimização dos espaços. Como melhor aproveitar os espaços, os nutrientes, a água e a luz.


7.                  Outra grande aprendizagem da floresta natural é como guardar a umidade do solo. Ela faz isso de forma brilhante sabendo dosar a água que está no solo até que um novo abastecimento natural venha acontecer (chuva). Ela utiliza uma cobertura natural de folhas que evita a evaporação, conservando toda água de forma disponível para as plantas. As florestas transpiram água para o ar. Elas são como bombas biológicas. Nas áreas florestadas chove de 5 a 6 vezes mais do que nas áreas não florestadas.

O efeito da presença da vegetação abundante leva as mudanças na precipitação das chuvas, na quantidade, na qualidade da água, na distribuição e na temperatura interna do ambiente. Chove mais. Cria-se um microclima.


A Zona 05 é abrigo de várias espécies nativas de animais silvestres como, por exemplo: cobras, lagartos, felinos, pássaros diversos. Que ajudam no controle ecológico de várias outras espécies.

 Se os roçados continuarem sendo à base dos conhecimentos para as demais áreas da propriedade e para a reprodução familiar, a lógica produtiva vai continuar a mesma. Todo lógica antinatural vai continuar servindo de referencia. O que se pretende é que o modelo para todas as áreas ou zonas da propriedade seja a floresta na zona da mata e a caatinga no sertão. Espaços intactos destes biomas precisam voltar a existir em parte das propriedades para servirem de sistema educacional e inspirar a operacionalização das tarefas produtivas de toda a propriedade. Sistema educacional onde o professor é um conjunto de equilíbrios instaurados pelos elementos presentes nos ecossistemas naturais. Este espaço está até garantido na lei do código florestal brasileiro – lei nº 4.771/1965 que criou o espaço de Reserva legal nas propriedades (20% as área) que deve ser mantida para conservação da vegetação nativa, como abrigo da fauna e flora. A partir desta proposição minha estou dando mais uma grande utilidade para esta reserva legal a de servir de inspiração para operacionalização da gestão de toda a propriedade. 

Espero que a partir da implantação ou recomposição possamos ter agricultores orgulhosos em ter uma área de conservação da natureza e ser reconhecido como protetor desta natureza. Além dessas vantagens podemos citar vários outros como aumento da área de captura de carbono, está cumprindo parte de sua cidadania ambiental e ser seguidor da lei ambiental conservando o maior bem da humanidade o meio ambiente e seus recursos. Recompor a área de aprendizagem é deixar que Zona 05 na propriedade caso não exista que ela possa se refazer de forma natural, sem a pressa humana. A natureza sabe como fazer para se recompor só não necessita da intervenção humana. Que ele não mexa, não tire, e que o crescimento espontâneo seja o caminho que a natureza utilize. Durante a recomposição aprenda com a natureza, observe como ela faz, veja os detalhes, os consórcios, os ciclos.
A produção de informação deve acontecer em todas as áreas da propriedade, mas o fluxo correto para uma analogia perfeita com a natureza deve ser:

Sistema educacional tem a informação, o homem pesquisa, verifica, aprende se apropria e tenta utilizar as aprendizagens nas demais áreas ou zonas da propriedade. Todas as vezes que nos depararmos com um problema produtivo pergunte a mata e a resposta vai lhe ser dada através da observação de como acontece e da forma mais correta que possa existir. E não esqueça a zona 05 é interdisciplinar no ensino e na aprendizagem. Este espaço é tão completo e multidimensional que pode orientar como deve ser o comportamento humano para viver em grupo.

E quanto ao espaço de testar as aprendizagens não tem melhor que o terreiro da casa (zona 01), espaço próximo que pode ser acompanhado todos os dias sem muito esforço. Além de ter vários alunos fazendo, vendo, tocando praticando os procedimentos análogos orientados pela natureza. É um espaço privilegiado para a experimentação em pequena escala para depois se fazer a transferência para as demais zonas de produção inclusive a comercial.

A recomposição deste espaço (zona 05) é a garantia de liberdade de aprender, de se libertar da assistência técnica que na maioria das vezes vem com intenções adversas e diferentes as da natureza. Aprendendo formas de fazer sem ter que comprar nada, sem poluir, sem danificar o meio onde se vive e se produz. É por isso que afirmamos que a mata ou floresta, ou até a caatinga são grandes espaços de aprendizagens, que podem nos servir de modelo para quaisquer outros espaços.

“Este mundo está farto de grandes soluções. Está cansado de gente que sabe exatamente o que há para se fazer. Está aborrecido de gente que anda com a ‘pasta cheia’ de soluções buscando problemas que se encaixem com as suas soluções. Creio firmemente que devemos começar a respeitar um pouco mais a capacidade de reflexão do povo em relação à natureza (e de solução do povo) e o poder do silêncio” Eros Marion Mussoi.

Valorizar a diversidade étnica e cultural da espécie humana e fomentar diferentes formas de manejo produtivo da biodiversidade, em harmonia com a natureza é o caminho para as transformações necessárias. Recomponha este espaço e desfrute das aprendizagens perpetuantes.


16 de abril de 2011


[1] Zoneamento – Divisão da propriedade pela intensidade e freqüência de uso de energia utilizado pela Permacultura nas propriedades.

sexta-feira, abril 15

Dietas energéticas uma economia necessária para manutenção sustentável dos ecossistemas cultivados


Antônio Roberto Mendes Pereira

 

Partimos do princípio que todo sistema deve produzir mais energia do que consome, esta é a lógica para a sustentabilidade dos ecossistemas quer sejam cultivado ou não. Logo precisamos criar uma dieta energética para ter energias acumuladas para qualquer necessidade extra. Quando se economiza a probabilidade de ser sustentável é mais real e alcançável. Os sistemas naturais só gastam o mínimo necessário, não desperdiçam, acumulam de várias formas.

Na figura ao lado vemos uma das formas que a natureza utiliza para acumular energia e ir lentamente atendendo as necessidades dos componentes do ambiente, em nutrientes, água e calor. Existe uma estratégia natural de continuidade, a retroalimentação é constante. Esta forma permite a sustentabilidade do ambiente. A fotossíntese é a grande alquimia de todo este processo.

Varias são as maneiras que se pode utilizar em uma propriedade para se implantar uma dieta em energia local, utilizando o que se tem com eficácia e eficiência. A analogia da natureza é o bizu para esta aprendizagem.

CARDÁPIO A SER SEGUIDO

  • Implantando-se sistemas permanentes – A implantação de sistemas que evoluam para uma produção permanente onde a exigência é pouca ou nenhuma de uso de máquinas e pouco ou nenhum uso de insumos como fertilizantes, agrotóxicos, deve ser a busca incessante. Todo sistema deve caminhar para a complexidade através do máximo de conexões possíveis.
  • Aumentando o planejamento para uma produção de consumo local é outra forma de diminuir gastos com transporte para compra dos mesmos. Evitar que os alimentos viajem o mínimo possível. A viagem necessária é aquela que sai da sua horta para sua mesa (leia A cozinha zero km).
  • Aumentando a utilização das energias do lugar – Em todos os espaços existe presença de energias podendo-se criar tecnologias de aproveitamento das mesmas. Como exemplos dessas energias: a gravidade, a força motriz animal, a água acumulada, etc.
  • Aumentado a reciclagem dos dejetos – Os fertilizantes industrializados são produzidos a partir de petróleo e exigem muitos gastos em energia e transporte para a sua fabricação e distribuição. Toda propriedade Permacultural deve criar mecanismos de produção espontânea de matéria orgânica que é a base fundamental da produção de fertilizantes naturais. A produção de biomassa deve ser a base da sustentabilidade através das transformações da mesma. A partir da biomassa posso ter ou produzir:
      Fertilizantes
      Energia
      Defensivos
      Material para cobertura morta
      Repelentes
      A biomassa espontânea também é uma grande fonte de informação sobre o que se passa com o eco ou agroecossistema. Precisa ser lido, entendido e aplicado.
  • Utilizando energias alternativas como o uso de painéis solares, biogás, lenha, fogões solares, cata ventos, estufas sinergéticas, etc. Todas estas tecnologias diminuem a compra e o uso de energias de base elétrica, e fóssil.
  • O horário de trabalho pode também influenciar no aumento do gasto de energias. As horas mais quentes do dia contribuem para o aumento do gasto de energias tanto corporais como de uso de máquinas. Quando transpiramos estamos queimando energias (kcal). Devemos escolher as horas mais frescas e menos quentes para realizar nossas tarefas laborais.
  • Outra forma de economizar energias é conectando os elementos que compõe o agroecossistema. Fazer com que a localização relativa na escolha da melhor localização para o elemento tenha como um dos critérios a ser seguido as conexões em relação à função e ao uso.

  • A topografia do ambiente também é uma forma de se economizar energias. Podemos tirar vantagens dos terrenos com declives acentuados para facilitar a distribuição dos líquidos. As reservas de águas deveriam como medida de regra ser captada e armazenada nos altos, pois facilita todo o processo de distribuição por gravidade.

  • Tentar identificar ao máximo as várias funções que um determinado elemento pode ter no sistema. Como regra básica todo elemento no sistema deve exercer no mínimo duas funções. Como exemplo pode-se citar: uma cerca pode exercer várias funções dependendo da localização relativa que se implantar ela. Ela em um determinado local pode exercer a função de segurança, de intimidade, de divisão, quebra vento, e em alguns momentos ela pode exercer várias destas funções ao mesmo tempo ocupando o mesmo espaço.
Uma estufa sinergética é outro grande exemplo de uma tecnologia com várias funções. Podendo desempenhar várias destas funções ao mesmo tempo. Nas imagens abaixo vemos uma estufa sinergética no Serta em Glória de Goitá sendo utilizada para amadurecimento de mamão e banana, mas poderia também está sendo usada ao mesmo tempo, para secar grãos, derreter cera de abelha, entre outras funcionalidades.

As imagens acima representam uma estufa sinergética montada  no Serta em Glória do Goitá - Pernambuco.

Como vemos podemos diminuir o consumo de energia local sem perder os serviços e a qualidade dos mesmos. Bastando para isto implantar as sugestões de cardápio que a própria natureza utiliza. Nas Zonas onde mais se gasta energia é justamente onde este cardápio melhor se adéqua.

Economizar energia significa poupar, armazenar logo, quanto mais poupamos mais os nossos ecossistemas aumentam suas potencialidades. Potencialidades que são expressas em sustentabilidade. O poder de resiliência é aumentado, garantindo flexibilidade e tolerância aos desequilíbrios que porventura venham ocorrer. É como numa dieta alimentar (kcal) não se engorda fortalece o corpo tornando-o mais resistente e ágil.

Precisamos repensar o gasto das energias nos nossos ecossistemas cultivados fazendo sempre analogias com os ecossistemas naturais onde tudo esta em um equilíbrio dinâmico e permanente. Todas as nossas atividades produtivas devem ser repensadas buscando sempre utilizar o mínimo de energia e alcançando-se o máximo de eficiência e eficácia no que estamos produzindo.

12 de abril de 2011

sexta-feira, abril 8

A prática constante é indispensável na Permacultura


Antônio Roberto Mendes Pereira

Aprender Permacultura sem praticar é uma equação de difícil resolução, o resultado não será satisfatório, logo, matematicamente, é impossível resolver uma equação como esta, e profissionalmente é desqualificante e pobre. Aprender lendo jamais será igual ao aprender fazendo.

Fazendo é que se aprende

Na antiguidade para se aprender uma profissão era necessário passar pelas mãos de um mestre artesão, ele era a referência, a experiência e a sabedoria naquele ofício. Os pais tinham a preocupação não unicamente de levar o seu filho para aprender, mas entregava seus filhos para estes artesões mestres durante certo período, onde toda sua experiência era transmitida através da operacionalização daquela arte, o jovem vivenciava no dia a dia do atelier as aprendizagens. Levava-se muito tempo para preparar um profissional com a qualidade igual ou superior a dos seus mestres.


O fazer predominava sobre o saber. Ter os ensinamentos na ponta da língua, ou como se diz, memorizado não bastava. Demonstrava-se que aprendera o conhecimento, fazendo, executando. É claro que o saber era importante, mas a única maneira de comprovar que sabia era assumindo o saber FAZENDO, este era o desafio da aprendizagem e da comprovação real.

A “aprendizagem profissional” da época precisava desenvolver muito bem os conteúdos procedimentais, e a incorporação destes saberes eram sentidas através das atitudes permanentes do fazer. A atitude do continuar fazendo com qualidade, com destreza, com cidadania era a comprovação de que o profissional se misturara ao educador, com o cidadão preocupado em fazer bem feito e que todos pudessem desfrutar deste serviço.

Não existia o livro para ensinar, a aprendizagem acontecia no treinar, fazer, no praticar, na oportunidade de exercitar. E este tipo de ensino e aprendizagem perdurou por várias centenas de anos. Muitos dos melhores artesões em vários ofícios são da antiguidade, não querendo descriminar ou menosprezar os atuais, mas os antigos são de uma estirpe diferente, foram mais detalhistas, sempre buscaram a perfeição no que estava fazendo e ensinando. Aprenderam executando, resolvendo dificuldades das realidades vividas na sua época.

Os saberes deste período eram perceptivos, motores, podia-se sentir e apreciar a aprendizagem na prática. O fazer era sempre motivado na época a partir de um contexto. É bom elucidar que nem sempre a teoria gera contexto prático. Quando aprendemos a partir do contexto, temos uma aprendizagem significativa e funcional. Reconheço para que realidade ou situação esteja executando meu ofício.

Com a invenção da imprensa o método da aprendizagem foi levado à mudança. A imprensa conseguiu transformar radicalmente esta aprendizagem centrada no aprender fazendo. Com a impressão dos livros os conhecimentos puderam ser escritos e todo mundo teve a oportunidade de ter acesso aquela aprendizagem especifica. Mesmo sem ir à escola, ou ao o mestre, posso ter acesso a um livro que me ensina o como fazer. O teórico simbólico entra em ação e o abstrato passa para ser imagem virtual. Esta aprendizagem não é praticada, entra em um estágio de simulação abstrata, é operacionalizada na mente, acho que sei por que li simulei e memorizei. A simulação passa por cima do fazer prático, da resolução real, de vera como normalmente falamos. Quantas pessoas se formam sem nunca ter feito, tocado, provado determinados conhecimentos.

A modernidade optou não pelo fazer, pelo praticar, mas pelo simular de forma virtual. Não sei até onde este tipo de aprendizagem pode formar profissionais competentes? Uma prova inconteste de que este sistema foi adotado, é que até a forma como são avaliados os alunos é através da explicitação do saber, e raras ou nunca são cobrados os procedimentos (faça para que eu veja). O próprio vestibular é inconteste em relação a isto, utiliza-se das mesmas ferramentas de comprovação.

Avaliar pelo saber prático pela experiência do vivenciar, do fazer é pouco valorizado, ou melhor, é pouco utilizado. Até parece que estamos treinando pessoas para parecer que sabe, coloco parecer, pois competência se consegue quando se sabe, quando sabe fazer e agi como tal.

A escola moderna é quase que totalmente simulação de aprendizagem. Muitas pessoas falam: “estudou tanto e não sabe faze nada”. É uma frase muito utilizada por muitos, querendo nos dizer de forma indireta que esta pessoa não sabe fazer o que diz que aprendeu. E ainda depois de tudo lhe dão um diploma que lhe dar um titulo de profissional naquele oficio, legitimando um fazer que ele não saiba fazer. Pode-se perceber que este método quando comparado com o anterior é de qualidade inferior, pois mesmo quem esta distante pode acessar este tipo de informação.

Não é a toa que as empresas ao necessitar contratar funcionários pedem anos de experiência, e as escolas de formação ainda não incorporaram que um profissional é formado através não só da teoria, mas da praticação constante. Posso errar quando estou aprendendo, mas errar prestando um serviço é complicado. Imagine um erro médico!

Muitos profissionais quando saem da universidade sentem muita dificuldade, tem muita teoria, mas pode não saber bater um prego. Parece até que a escola atual é mais som que significado. É uma escola puramente narrativa e de pouca ação, de pouco fazer, de pouca transformação.

O computador é o triunfo do método simbólico, da simulação. Posso simular quase tudo. Existem programas onde se podem simular muitas situações de forma virtual. O erro não me custa nada, é pura simulação, posso errar quantas vezes quiser. Imagine agora uma aprendizagem onde o método seja educação a distancia, a abstração e o simbolismo são uma das grandes ferramentas para se dá a aprendizagem sem o fazer real. Não sou contra a EAD (educação à distância) ou qualquer outra forma onde a abstração e a simulação sejam as ferramentas da aprendizagem, mas, acho que se aprende muito mais fazendo, praticando, e resolvendo problemas reais das comunidades onde estamos convivendo.

O desafio deve ser a chave e a motivação para uma aprendizagem procedimental. Os problemas até parecem que existem para servirem de provocações permanentes para a aprendizagem, pois nunca se acabam, sempre surgem novos como uma nova oportunidade para se aprender o novo, o inovador, o inusitado. Será que é errado pensar que os problemas são dádivas pedagógicas, para uma nova aprendizagem?

Se são, o que devo fazer para que estes problemas sejam utilizados como ferramenta de aprendizagem?

Em vários momentos da minha vida percebi que os maiores problemas que enfrentei foram os momentos onde mais aprendi realmente. Pois estes problemas me tiraram até o sono, passando momentos em claro, pensando, refletindo, montando estratégias de resolução, e isto me fez aprender muito. Aprender a partir de, e não aprender por aprender, para meramente aumentar meus conhecimentos. Sei também que quanto mais informações se têm, mais condições de tomada de decisão vão ter, mas, se aprende melhor tomando decisões a partir de problemas reais, constantes e vivencias e não hipotéticos.

O ser humano tem mania de querer apressar as coisas, eles têm que impor seu tempo e não o tempo da natureza das coisas e dos elementos. Na educação o processo também acontece. Quer-se ensinar o máximo de conhecimento quanto mais cedo melhor. A criança é bombardeada de informações em um curto espaço de tempo se alegando que é o momento onde a criança mais aprende por que os neurônios estão aumentando suas conexões e não se pode perder esta oportunidade biológica. Além de se selecionar os conteúdos e sua quantidade ainda achamos por bem separar as aprendizagens em pedaços e momentos, não passando a idéia do todo. As disciplinas são sectárias e não passam para as crianças idéia de todo, só se vê as partes, mas depois lhe cobram tudo de uma vez.

Aprendizagem individual
Aprendizagem coletiva

Um filho de um agricultor quando vai aprender criar porco, o pai não separa em disciplinas, ele simplesmente ensina, praticando, fazendo assumindo tarefas das mais simples inicialmente, até as mais complicadas como, por exemplo: manejar toda a pocilga. É praticando que se aprende, mas parece que para a escola este tipo de aprendizagem é demorado, tem custos elevados, dá trabalho, e exige uma infraestrutura de espaço e equipamento para fazê-lo. Será que estes argumentos são fundamentais para negligenciar os procedimentos?

 No SERTA entidade na qual trabalho os procedimentos e as atitudes transcende o saber. Em todos os momentos somos desafiados a resolver problemas interno e externo, hora educacional, hora político, hora pessoal, hora tecnológico, mas sempre somos e vivemos para encontrar formas, saídas, sugestões de resolução. Esta forma de aprender transcende a uma única disciplina. São provocativos para a interdisciplinaridade e em alguns momentos interdimensionais. É outro viés pedagógico de se trabalhar, a partir das situações problemas. Ele nos remete a  novos âmbitos pedagógicos.

Como foi percebido não dá para unicamente ler sobre Permacultura é necessário praticar. Inicie a prática em pequenos espaços quer seja no campo, na cidade, no terraço ou até no jardim. Um pequeno jardim pode ser um espaço interessante para aprender a produzir parte do seu próprio alimento, economizar energia, reciclar materiais orgânicos ou até captar a água das chuvas.

Assim ti convido a não ficar parado! Levante-se! E faça algo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, do ambiente, e porque não dizer do planeta. E como diz Piaget “O erro é o caminho para o acerto”.

sexta-feira, abril 1

A dieta alimentar humana na visão da Permacultura


Antônio Roberto Mendes Pereira
A demanda de alimentos está entre os principais fatores que influenciam o uso do solo rural. Historicamente, no Brasil, florestas foram e são eliminadas para ceder lugar à agricultura e a pastagens.
A questão da fome no mundo é preocupante. Precisamos repensar este fato a partir também de outras reflexões como:
  • A fome, enquanto problema econômico é simples questão de distribuição, ou tem a ver com hábitos sociais de consumo?

  • É possível acabar com a fome no mundo ou no Brasil sem mudar dietas e hábitos alimentares?

  • De que maneira a Permacultura, ao fazer a ponte entre a dimensão energética e a dimensão social, pode ajudar a responder a essa questão?
·         Como será que a Permacultura vê os hábitos alimentares das pessoas? 
·         Como levar a Permacultura para a mesa?
·         Uma alimentação biologicamente rica tem tudo haver com solo sadio, com Bio diversidade, com equilíbrio, com ciclo, com propriedade sustentável? 
 As respostas a estas perguntas podem nos ajudar a repensar muita coisa em nossos hábitos de produção, consumo e muitos outros. A Permacultura tem uma forma própria de encarar e traz soluções ao alcance de todos. Formas que causam pouquíssimos impactos ambientais, além de levar a uma produção sustentável e equilibrada.
A demanda de alimentos que estão no topo da cadeia alimentar como as carnes, por exemplo, consome grande quantidade de energia e de recursos naturais para a sua produção, além de gastos com pesticidas. Mas este aumento permanente de consumo por estes tipos de alimentos atrai cada vez mais fazendeiros e até pequenos proprietários para transformar suas áreas diversificadas em monoculturas de capim para alimentar estes animais. Toda esta forma de produção termina colocando o solo destas propriedades em cheque permanente, diminuindo a fertilidade, diminuindo a infiltração de água pela compactação causada pelos animais nos pastos, além de um prejuízo maior que é a destruição de florestas para a implantação de pastos. Caso diminua o consumo de carne e de produtos animais, que se encontram no alto da cadeia alimentar, e sejam privilegiados os vegetais, frutas e grãos, menor pressão estará sendo exercida sobre os recursos naturais, sobre a água e sobre as fontes de energia.





Questionamento alimentar

Comer o milho ou a galinha que comeu o milho?
Eis a questão?

Para facilitar a compreensão

Para um agricultor alimentar as galinhas, planta ou compra mi­lho. As galinhas aproveitando o alimento que ingerem, crescem e produzem ovos e carne. As galinhas servem de alimento para o homem. Vamos imaginar uma situação hipotética na qual o agricultor tivesse apenas o milho e as galinhas. O que ele deveria comer primeiro? É melhor dar o milho para a galinha crescer e depois comê-la ou comer o milho?
Você pode achar mais gostoso comer uma galinha assada do que milho cozinhado, um cuscuz, ou então comer uma deliciosa pa­monha.
Mas não é de preferência gastronômica que estamos falando, vamos analisar esta questão do ponto de vista energético, isto é, qual alimento nos dá maior aproveitamento de energia.
Não podemos esquecer que os vegetais são os primeiros elos de todas as cadeias alimentares. Isso acontece porque, para ob­ter a energia que necessitam os vegetais eles não se alimentam de nenhum outro ser vivo. Eles mesmos produzem seu alimento, realizando um conjunto de reações que transformam a energia solar em energia química.
São os vegetais que garantem que os demais seres vivos tenham alimento para obter a energia necessária para a realização de todo o seu funcionamento, crescimento e reprodução.
 Biologicamente os animais estão classificados em uma pirâmi­de alimentar ou como normalmente se fala “cadeia alimentar”. Existe representante nesta cadeia alimentar, desde os decompo­sitores até os top de linha como os carnívoros. Esta classificação obedece à necessidade de energia que esses elementos necessi­tam para poder viver.
E não podemos esquecer que cadeias alimentares são transferências de energia alimentar desde os produtores básicos – as plantas – para os animais herbívoros – consumidores primários – até os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros. E nós estamos entre as espécies que absorvem energia de vários desses elos da cadeia alimentar. Como grande parte da energia é degradada a cada transferência de um nível para outro, quanto maior a cadeia alimentar, menor será a energia disponível.

Assim, os estudos de ecologia energética revelam a superioridade dos produtos de origem vegetal sobre os de origem animal em termos de produtividade energética.
Esse mesmo estudo da ONU enunciava a tese segundo a qual, se apenas os norte americanos reduzissem em 10% o consumo de carne, seriam poupadas 12 milhões de toneladas de grãos – capaz de alimentar toda a população da terra que sofre com a fome. As dietas alimentares vegetarianas são poupadoras de espaço e meio ambiente, conseguindo, com baixo uso de recursos naturais e alto rendimento energético, alimentar densas populações.

Como vemos a mudança da lógica produtiva e dos hábitos alimentares da família causa um grande impacto positivo ou negativo dependendo do sistema de produção utilizado. A Permacultura traz uma proposta de sistema de produção onde todas estas questões energéticas e ambientais são direcionadas para uma estabilidade. Comer bem não é comer alimentos altamente beneficiados e processados, quanto mais in natura nos alimentamos mais saúde teremos. Os vegetais, grãos, tubérculos, frutas e frutos devem ser a base da alimentação. Diversifique a propriedade e o prato.

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