sábado, maio 19

Estratégias agroecológicas de produção no semiarido - Aumentando a umidade no solo e no ambiente

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Quase todos os anos o ciclo se repete e muitos não conseguem perceber este fenômeno como sendo cíclico e constante. Até os jornalistas já sabem, quais as notícias irão ter que ir buscar nesta época. Antes era meramente no nordeste, agora a área de abrangência deste fenômeno natural aumentou, já alcança vários estados do Brasil, até o Rio Grande do Sul já faz parte desta área de ocorrência de seca. Para os nordestinos parece que esquecemos que moramos no semiarido. Parece também que todas as informações e conhecimentos que se tem sobre este ambiente, não servem para nada, pois a cada ano muitos nordestinos ficam apostando em ter um ano bom de inverno. E quase sempre são pegos não de surpresa, mas por não ter colocado em prática, muitos destes conhecimentos que já foram produzidos, terminam por ter safras frustradas. 


Os gestores públicos sempre repetem a mesma atitude, sempre buscando formas emergenciais para sanar um problema fenomenológico com decisões políticas de curta duração e de efeitos passageiros e não estruturais. 

Os órgãos de pesquisa têm muito conhecimento produzido, mas pouco aplicado. O serviço de extensão ainda está muito centrado ao tratar o efeito e muito pouco as mudanças educacionais e culturais. As visões técnicas em muitos casos estão completamente direcionadas ao modelo dominante de produção, aonde o uso dos insumos vindo de fora da propriedade é a garantia aparente dos resultados produtivos. Os princípios agroecológicos ainda não fazem parte da cultura profissional dos extensionistas na sua maioria. 

As escolas/universidades deixam também muito a desejar, pois não trazem de forma permanente o estudo e aprofundamento sobre o fenômeno “seca”. O semiarido não é objeto de estudo nas escolas de ensino fundamental e médio. As escolas agrotécnicas também não trazem este espaço como objeto profundo de empenho na busca e divulgação de manejo adequado a este bioma. Estudam-se todos os biomas, mas o de vivencia maior (o semiarido) não é trabalhado com a profundidade necessária. Os futuros técnicos estudam as mais diversas formas de fazer irrigação, em uma região que tem este fenômeno da seca, como presença garantida, até parece um contra censo. 

Os programas sociais de emergência, já estão virando uma cultura anual. Todos os anos e todo governo operacionalizam estes programas sociais. A não operacionalização é perda de voto garantida. Mas, sempre com foco no imediatismo, no assistencialismo sempre com apelos de apagar incêndio (emergenciais). 


Os campos e os projetos de irrigação terminam por utilizar um grande montante de água armazenada. Projetos estes que na sua maioria são de empresas privadas, beneficiando o particular com água em muitos casos sem outorga para seu uso. 


Os agros e os hidronegócios no semiarido são uma constante nas margens dos grandes armazenamentos de água. O capital avança e muda toda a paisagem, altera a vida dos ecossistemas e o regime das águas. O povo tem que aprender não a viver com a abundância de água nesta região, mas saber viver de forma que possam produzir, tirar seu sustento do solo, sem comprometer nem sua espécie e nem a das demais espécies, pois dizimou uma mexe em toda a teia biológica do ambiente. Diminuísse a sustentabilidade toda vez que se perde uma espécie. 

Diante de todos estes poucos argumentos, este texto pretende ser ousado, e trazer uma série de idéias que podem ajudar não na solução do fenômeno, mas na forma de conviver com ele. Idéias que trazem manejo que podem minimizar os problemas enfrentados com a seca. 

O objetivo maior destas propostas é a tentativa de montar um sistema de design para que as propriedades no semiarido possam alcançar: 

· Produzir colheitas cada vez maiores; 
· Montar um sistema que requeira pouca manutenção para se manter; 
· Montar um estilo de vida onde as iniciativas de sobrevivência gerem pouca poluição; 
· Ter um sistema montado onde se consegue encontrar as necessidades básicas atendidas através de um sistema fechado; 
· Ter diversidade e ser resiliente o bastante para resistir as mais diversas condições adversas de onde se vive. 

ACUMULANDO MAIS ÁGUA NO AGROECOSSISTEMA 
VENDO A NATUREZA FAZER 

Partimos da certeza de que a água é o recurso mais importante do mundo. Sem ela ninguém vive. Existem organismos que vivem sem oxigênio, mas sem água não. Este líquido é precioso demais, para não ser planejado toda sua passagem pelas propriedades. É um visitante ilustre e que precisa passar o maior tempo possível na sua propriedade, sendo usada, reusada se possíveis várias vezes. Não permita que ela chegue, entre e rapidamente vá embora, sem saciar a sede de vários seres, sem ser transformada em seiva para levar alimento as todas as partes das plantas, sem refrescar e umedecer o solo, sem embelezar o ambiente, sem higienizar pessoas e animais e utensílios, sem refrescar o ambiente. Como vimos este líquido é OURO VIVO, que gera vida, que aumenta a quantidade de vida, que alimenta a vida. 

Para alcançar um nível de excelência de água na propriedade, precisa-se de muito planejamento. Não é de imediato que se vai chegar a este estado. Um planejamento meticuloso, cotidiário e cotidiano se fazem necessário. Vale lembrar que a natureza não tem pressa, ela faz seu trabalho há seu tempo e não no tempo do homem. Toda a família precisa estar entendendo o que vai ser feito, precisa que as tarefas sejam divididas entre todos que compõe a família residente. O objetivo de uso da energia maior irá ser dedicado a ÁGUA, sua captação, armazenamento, distribuição, uso e reuso adequado, além da sua limpeza para o retorno a natureza, e acima de tudo a reeducação da família para o uso desse bem preciosismo. 

Todo o trabalho vai ser pensado tendo como base a precaução para segurança hídrica. Todo desenho terá que ser pensado como se houvesse um declínio real e atual das fontes e da qualidade da água na propriedade. 

Uma das primeiras lógicas a ser compreendida é acumular água em volume conhecendo-se os números, em litros, sabendo a quantidade necessária. A família e a propriedade precisam viver dentro do orçamento local e necessário de água. Para muitos agricultores, estes cálculos podem ser considerados impossíveis de fazer, mas precisa se feito, se aproximar desta quantidade real, é uma situação necessária. Precisamos DIMINUIR a quantidade de tudo, para crescer tendo esta segurança sobre o controle natural e humano. Não se pode consumir e usar mais que a água oferecida pela chuva. Este deve ser o índice balizador para aumentar ou diminuir as atividades internas na propriedade. Precisamos saber o volume que temos ou poderemos ter, e daí planejar as atividades a serem desenvolvidas. 

A ESTRATÉGIA DA NATUREZA 

É impossível entender toda a estratégia da natureza sem conhecer o ciclo da água, como acontece, porque acontece o que contribui para que este ciclo não pare, não sofra descontinuidade pelo menos no espaço da sua propriedade, que é a área de seu domínio. Vários desenhos retratam este ciclo que precisa acontecer continuamente. 

A água no estado líquido ocupa os oceanos, lagos, rios, açudes etc. De modo contínuo e lentamente, à temperatura ambiente, acontece a evaporação, isto é, a água passa do estado líquido para o gasoso. 

Quanto maior for a superfície de exposição da água (por exemplo, um oceano ou nas folhas de árvores de uma floresta), maior será o nível de evaporação. Quando o vapor de água entra em contato com as camadas mais frias da atmosfera, a água volta ao estado líquido, isto é, gotículas de água ou até minúsculos cristais de gelo se concentram formando as nuvens. 

Ao se formar nas nuvens um acúmulo de água muito grande, as gotas tornam-se cada vez maiores, e a água se precipita, isto é, começa a chover. Em regiões muito frias da atmosfera, a água passa do estado gasoso para o estado líquido e, rapidamente, para o sólido, formando a neve ou os granizos (pedacinhos de gelo). 

A água da chuva e da neve derretida se infiltra no solo, formando ou renovando os lençóis freáticos. As águas subterrâneas emergem para a superfície da terra, formando as nascentes dos rios. Assim o nível de água dos lagos, açudes, rios etc. é mantido. 


A água do solo é absorvida pelas raízes das plantas. Por meio da transpiração, as plantas eliminam água no estado de vapor para o ambiente, principalmente pelas folhas. E na cadeia alimentar, as plantas, pelos frutos, raízes, sementes e folhas, transferem água para os seus consumidores. 

Além do que são ingeridos pela alimentação, os animais obtêm água bebendo-a diretamente. Devolvem a água para o ambiente pela transpiração, pela respiração e pela eliminação de urina e fezes. Essa água evapora e retorna à atmosfera. No nosso planeta, o ciclo de água é permanente. 


Outro detalhe que precisamos entender é como os ecossistemas naturais fazem para aumentar sua capacidade de armazenamento de água. Várias etapas precisam acontecer na estrutura física dos ecossistemas para que aconteça esta evolução. O aumento da biomassa verde acontece na mesma proporção do aumento de matéria orgânica morta e condicionalmente também acontece o aumento gradativo da umidade do solo. Uma coisa está ligada simultaneamente a outra, o aumento de um aumenta condicionalmente os demais itens. 


Observando a imagem acima, vamos perceber que a natureza lentamente vai tornando-se mais complexa, completa, diversificada aumentando dois dos componentes que geram vida, como umidade e fertilidade. O microclima vai sendo criado, e o aumento de um elemento impreterivelmente aumenta os demais. Esta é a tendência normal de qualquer ecossistema cultivado ou não. Sempre a natureza vai do simples para o complexo, aumentando todas as formas de vida, mas sempre levando em conta o estado atual que se encontra o ecossistema. É gradativo e conjuntural todo o processo, tudo e todos são considerados na hora de aumentar ou diminuir o processo. 

ESTRATÉGIAS PERMACULTURAIS SUGERIDAS PARA MELHOR CONVIVER COM O FENÔMENO 

1. Conhecer o caminho das águas na propriedade – Em um belo dia de chuva, sair andando por toda a propriedade conhecendo e marcando o caminho das águas de escorrimento. Conhecer estes caminhos vai poder ajudar enormemente no planejamento de onde precisamos construir acumuladores de água. Sem este procedimento vamos ficar no achismo que não ajuda em nada na tomada correta de decisão. As águas de escorrimentos tomam várias direções na propriedade e sempre são direcionadas pela declividade natural ou artificial do terreno. Para onde ela vai é o que nos interessa, toda esta água precisa ser captada e acumulada, ou no solo ou em qualquer outro mecanismo montado artificialmente. 

2. Acumuladores de água no alto – Normalmente a maioria dos agricultores sempre faz barragens, açudes e barreiros nas áreas mais baixas da propriedade. Recomendamos que depois que foi feita a identificação do percurso da água, que estes acumuladores de água de superfície sejam montados nas partes altas da propriedade. Este procedimento irá permitir que estes acumuladores possam ser utilizados como água de salvação para qualquer emergência hídrica que venha e possa acontecer. Outra grande vantagem é que por estar no alto à força da gravidade pode ser utilizada na distribuição desta água. Caso aconteça que toda água se infiltre não se perdeu nada, pois o solo ficou úmido de cima para baixo, sem causar erosão. Este procedimento sendo colocado em prática com intensidade cria-se área de várzea nas partes alta da propriedade. As barragens subterrâneas também podem ser feita nas partes altas da propriedade contribuindo enormemente para aumentar a potencialidade de terra úmida na propriedade inclusive nas partes mais altas que são as que secam normalmente primeiro. 

3. Captação de água in sito – Esta técnica nada mais é que a capacidade de armazenar água o mais próximo possível na planta. São feitos sulcos em nível onde parte da água da chuva vai ser captada e armazenada, evitando seu escorrimento e aumentando o tempo para que ocorra a infiltração desta no solo, que é a intenção maior desta técnica. 


4. Valas de infiltração (swales) – Estas valas interrompem a passagem da água de escorrimento, permitindo sua absorção no solo. Estas devem ser construídas ao longo das curvas de nível que precisam ser marcadas. O princípio básico é: se as valas transbordam, não há número suficiente delas. A construção destas valas de infiltração é especifica para cada local, embora existam regras que precisam ser consideradas para sua construção: 

· Quanto mais inclinado for o terreno, mais próximas serão as valas uma das outras. 
· Quanto mais arenoso o solo, maior o espaço entre as valas de infiltração. 

Recomenda-se também nas bordas destas valas o plantio de árvores, seguindo a linha de nível. Estas irão aproveitar parte da água captada pelas valas, além de aumentar a produção de matéria orgânica, de duas formas. A primeira através das suas folhas e das podas quando forem necessárias. E a outra forma é através de suas raízes, pois as árvores eliminam em torno de 25% das suas próprias raízes anualmente. Elas, juntamente com a cobertura vegetal das folhas e com os microorganismos do solo, se tornam matéria orgânica. E matéria orgânica armazena grandes quantidades de água no solo. Recomendo também o plantio de capins de corte intercalado com as árvores. Estes podem servir de alimentação para os animais ou mesmo para aumentar a cobertura morta do solo (mulching) entre uma vala e outra. Armazenar água nos solos e plantar árvores é um dos primeiros passos para deixar seu terreno à prova de secas. 


5. Cobrindo o solo de todas as formas – É uma estratégia que a natureza utiliza permanentemente. Ela tenta de todas as formas evitar que o solo fique exposto. Todas as plantas ao chegarem a determinada idade de maturação solta parte de suas folhas. Estas folhas ao manter o contato com o solo vão cumprir vários serviços entre eles, a renovação da fertilidade do solo, protegendo o solo dos raios solares, ajudando também a diminuir a evaporação da água que ainda esta no solo, entre outros. 


6. Acumuladores de água profundos – Qualquer coletor de água de superfície como açudes, lagos, barreiros, deveria ser estreitos e profundos para diminuir que o espelho d’água sofra grande perdas por evaporação, diminuindo o volume da água armazenada. Com esta prática tem-se também uma água de melhor qualidade, pois a área de exposição à poeira e outros poluentes será menor. 

7. Pequenas áreas de cultivos – Os roçados deveriam ser pequenos, porém vários intercalados com vegetação nativa. Grandes áreas abertas aumentam a evaporação d’água dos solos. A ação intensa dos ventos prejudica muito a metabolização das plantas. Os efeitos do clima são minimizados com o uso deste procedimento operacional agroecológico. 

8. Arredondando o plantio – O plantio em linhas ajuda a canalizar a água e o vento, além da projeção uniforme dos raios solares em uma única posição (sombras de manhã do mesmo lado e a tarde do outro). Quando o plantio é realizado em espiral ou em círculos concêntricos a canalização não acontece além de aproveitar melhor as energias do sol, da chuva e do vento. A ação dos ventos e do sol nesta forma de plantar é bem menor, menos causador de evaporação, pois, vão existir áreas que receberão mais sombra diminuindo a perda de água. É melhor ter água acumulada no solo e nas plantas do que perder água para a evaporação. Não esquecendo que a quantidade de plantas quando cultivado em círculos cabem muito mais, do que na forma quadrada, como normalmente se planta. 

9. Textura do solo adequada – No sertão é melhor plantar em solos que tenham uma textura que permita acumular mais água. Solos de textura leve como os arenosos tem pouca capacidade de armazenamento de água. Logo, é bom estar alerta para este procedimento durante a escolha de onde irá realizar os cultivos. 

10. O aspecto do terreno – O lado que seu terreno está virado ou não para o sol tem uma importância fundamental para as plantas. Estes lados são conhecidos na Permacultura como ASPECTO, e precisam ser estudados antes de se fazer as escolhas de onde iremos plantar e o que vai ser plantado. Normalmente o lado leste e o oeste recebem os raios do sol com muita intensidade e diretos, logo estes lados são mais quentes e ressecam com mais facilidade que o aspecto norte e sul. No semiarido esta escolha pode fazer a diferença entre colher ou não colher. É claro que nem toda propriedade tem terrenos com morros onde se consegue perceber claramente os aspectos, mas se tem é preciso levar em consideração o lado que se vai optar fazer os cultivos. 

11. Se protegendo do vento – Quando se utiliza estratégias de quebra-ventos estamos projetando espaços com a intenção de modificar o clima, evitar problemas de erosão e aumentar o volume de água nesta área. 

Dependendo do terreno os tipos de quebra-ventos podem mudar para se adequar da melhor forma possível. Para a instalação desta tecnologia precisam-se conhecer mais detalhes sobre os ventos da sua região, como por exemplo: de que lado vem? Sua intensidade e freqüência? São ventos frios ou quentes? Quanto tempo dura e em quais estações do ano acontecem? Sem estas informações poderemos errar na escolha, na distância entre um quebra-vento e outro. Os ventos têm uma capacidade de ressecar os solos com muita facilidade e intensidade, levando consigo parte da umidade. Agora imagine, no semiarido onde os ventos são fortes e quentes, o que acontece com a pouca umidade que tem? 

Temos que ter cuidado com a escolha das espécies de plantas que sirvam para quebra-ventos, pois nem todas as plantas se adéquam, além do mais que para o semiarido esta escolha tem que levar em consideração a baixa umidade dos solos, logo, estas espécies escolhidas têm que ser plantas de baixo consumo de água e resistentes a altas temperaturas e de preferência de crescimento rápido. Espécies fortes e com sistemas radiculares profundos, planta bem encorpada, isto é, com grande quantidade de galhos fortes, carnudos e muitas folhas e com boa queda de folhas nas estações contrárias a época de cultivo. E se possível plantas fixadoras de nitrogênio. 

Os quebra-ventos também podem servir para direcionar ou canalizar os ventos para determinados espaços que queira, como por exemplo, para ventilar ou arejar algum compartimento da casa, evitando o uso de ventiladores ou outros equipamentos. Da mesma forma os quebra-ventos podem servir para fazer o contrário, evitar ventos fortes e quentes em determinados locais ou compartimento da casa. 

12. Estar atento aos sinais da natureza – A natureza nos dá muitos sinais, mas nem sempre entendemos o que ela quer nos dizer. Muitos agricultores conseguem através destes sinais saber se vai chover ou não entre outras experiências. Normalmente estes sinais são obtidos a partir da leitura do comportamento dos animais, de algumas plantas e até dos astros como a lua. Imagino que as conexões entre estas sabedorias e as previsões meteorológicas podem trazer uma segurança a mais na tomada de decisão, para a escolha do melhor momento para os plantios. 

13. Variedades de pouco consumo d’água – Por já saber que o fenômeno da seca é uma constante no semiarido, deve-se escolher sempre plantas para serem cultivadas que sejam pouco exigentes em água pelo menos nos primeiros anos que você está montando seu agroecossistema. Variedades de alto consumo de água e plantados comercialmente é viver em risco permanente. Se estas plantas fazem parte do hábito alimentar da família plante-as em menor escala na zona 01 para ter apenas atendido esta demanda familiar. Existe uma infinidade de cultivos que podem ser plantados e que não se corre riscos desnecessários, de plantar e perder tudo, como normalmente acontece. O milho, por exemplo, é uma gramínea e muito exigente em água, não é a toa que atualmente juntamente com o feijão são as culturas que mais trazem perda aos agricultores em anos de pouco inverno. 

Estes cultivos plantados em escala familiar facilitam a aplicação de um manejo melhor onde à possibilidade de colheita aumenta. As hortaliças só para o consumo a não ser que se tenham grandes reservas de água. 


14. O animal ideal para ser criado - A mesma lógica também se aplica a criação dos animais sempre escolher animais de baixo consumo de água e resistente ao meio natural que se tem. Animais de pequeno e médio porte se adéquam melhor aos anos de pouca fartura natural. Biologicamente falando quanto mais os animais são rústicos e resistentes, menor é sua produção. Quando se melhora os índices de produção perde-se parte da resistência e vice e versa. Logo encontrar o equilíbrio entre estas duas vertentes não é fácil mais com certeza quem deve dizer ou nortear esta escolha não deve ser o homem e sim o meio onde se vai criar este animal. 

Normalmente em período de crise onde os agricultores necessitam se desfazer de parte do seu rebanho, ele culturalmente opta por se desfazer dos de produção menor, ficando com os mais produtivos, porém de menor resistência. E neste momento o que está se querendo são animais mais resistentes para passar pelo período crítico. E no final se a opção foi feita por ficar com os mais produtivos talvez nem se tenha produção, pois falta alimento para garantir esta produção e corre o risco destes animais não resistirem ao período. Para diminuir os prejuízos o produtor tem saber qual o momento certo para vender seus animais, principalmente por conhecer o fenômeno da seca e seu período de maior atuação. 


15. Garantindo frutas – No semiarido tem muitas frutas nativas resistentes e adequadas ao fenômeno da seca. Uma boa escolha é montar um pomar com  várias plantas que tenham estas características. Elas vão aumentar a possibilidade de se ter colheita. Plantas exóticas é um risco a não ser que se tenha muita água ou um micro clima atuante na propriedade. 


16. O roçado diversificado – Misturar plantas de ciclo curto, médio e longo para primeiro se ter uma garantia de que vai colher alguma coisa e segundo para melhorar cada vez mais a alimentação da família, além de se ter uma melhor oferta de produtos diversos na feira, diminuindo os riscos de baixa de preço de um ou outro produto. 

17. Voltar a coletar alimentos – O homem deixou parte da caça e da coleta para fazer agricultura e com isso começou também a criar formas de produção de alimentos que vão de encontro as formas naturais. Permitir que áreas permaneça nativas e em alguns casos incluir espécies locais que foram dizimadas podem favorecer o retorno da coleta e da caça de alimentos. É claro que não seria o estado total da produção da propriedade, mas com certeza poderia minimizar parte da produção de alimentos nas épocas de baixa produção induzida. Deve-se estimular a zona 04 e 05 para desenvolver esta atividade produtiva natural. 

18. Aumentar zonas de conforto térmico – Tanto no roçado quando no entorno de casa deve ter plantas que façam sombra diminuindo a temperatura ambiente, criando zonas de conforto térmico tanto para a família, animais e também para as algumas das plantas cultivadas. Baixar a temperatura do solo é uma grande contribuição para a criação de microclimas, onde gere este conforto térmico. No roçado podemos plantar aleatoriamente plantas que na idade adulta possam gerar este conforto térmico, além de ser ambiente de refugio nas horas de muito calor. Estas árvores também podem trazer a vantagem de produzir folhas que em determinados períodos elas caiam servindo de cobertura morta (mulche) para o solo. 

19. Reutilizando as águas servidas – Toda água precisa ser reutilizada várias vezes. Estas águas precisam passar por filtros facilitando todo o trabalho da natureza. Temos que ser responsável para devolver esta água para o sistema com a pureza que a recebemos. Várias tecnologias podem ser utilizadas para fazer este tratamento, e lembre-se não podemos no semiarido perder a oportunidade de usar a água várias vezes na produção. Muitos litros de água são utilizados e descartados de forma aleatória, podendo gerar produção, mas ao invés disso, gera poluição nas áreas onde elas são despejadas. 


20. Irrigação gota a gota – Se tiver que usar sistema de irrigação que se escolha por sistemas de baixo consumo de água, e ao máximo perto da planta. Fazer a irrigação nas horas mais frias de preferência a noite. Manter a área do bulbo molhado com cobertura morta na intenção de diminuir a evaporação e o consumo de água na próxima irrigação. Fazer irrigações profundas, mas com intervalos maiores, do que irrigações diárias e pouco poder de criar umidade suficiente (capacidade de campo). 


21. Evitar mexer com o solo – Todas as vezes que mexemos com o solo, revirando, ou fazendo qualquer outro manejo que venha a misturar as camadas do solo onde a umidade está distribuída, aumenta as perdas de umidade. Evite manejar o solo onde o revolvimento do solo seja necessário. 

22. Plantio em terrenos planos – Em locais planos devem-se fazer as linhas de plantio na direção norte/sul. Plantando-se nesta orientação aumenta-se a quantidade de sombra entre as plantas, diminuindo a radiação direta dos raios do sol no solo. Logicamente também tende a diminuir a evaporação e mais tempo o solo permanece úmido. 

23. Usar sementes do local – A seleção natural das plantas e animais é uma das estratégias que a natureza utiliza para se adequar cada vez mais ao ambiente que se encontra. Logo, plantas que se adequaram ao ambiente e produziram sementes tem um diferencial muito grande em relação às sementes vindas de fora. Uma estratégia para aumentar a certeza da colheita no semiarido é selecionar as sementes das plantas que já estão adaptadas ao ambiente. Se ela resistiu aos fenômenos ela terá mais chances de resistir aos mesmos fenômenos quando comparadas com outra semente que ainda não enfrentou as adversidades. 

Sabendo disso, para escolhermos as nossas sementes precisaremos retirá-las apenas das plantas que suportaram a ação do clima, das pragas, das doenças e da competição com ervas espontâneas, (erroneamente chamadas de ervas daninhas) e que conseguiram produzir os melhores frutos, tubérculos ou raízes. 

Como podemos observar foram apresentadas várias formas de poder conviver no semiarido nordestino de forma digna, podendo ter colheitas razoáveis e em um grau de normalidade. Não é uma ou outra técnica que vai tornar a propriedade apta a produzir, mas um conjunto de procedimentos acompanhados de tecnologias adaptadas ao bioma caatinga. O que vai fazer a diferença é aplicação deste conjunto de informação/conhecimento/procedimentos de forma constante, tornando-se atitudes permanentes, que vai gerar uma nova cultura, a de saber viver e conviver no semiarido. 

17 de maio de 2012 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Morrow, Rosemary. Permacultura Passo a Passo. – Pirenópolis, GO : Mais Calango Editora, 2010. 

Revista Agricultura – Experiências em Agroecologia . Leisa Brasil OUT . vol. 7 nº 3 – Água nos agroecossistemas: aproveitando todas as gotas.

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