sexta-feira, fevereiro 24

Estudo da paisagem como base para a prática da agricultura familiar - Aprendendo a ler a paisagem

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Quem não se encanta ao olhar uma paisagem natural cheia de flores coloridas, água corrente, árvores com frutas, pássaros, borboletas e uma relva bem verdinha. Todo este cenário invariavelmente nos remete a um estado de tranquilidade, de felicidade, de paz e de êxtase para alguns. Muitas paisagens servem até de inspiração para muitos artistas nas mais variadas modalidades e áreas da expressão da arte. Para outros, é uma afirmação da existência de Deus. Enfim não tem como ver e não sentir nada. Mas, a maioria da população não imagina o nível de conexões, de relações que uma paisagem deve ter para ser tão exuberante, e esteticamente perfeita além de ser harmoniosa com todos os recursos que existe disponível no local. 


O nível de conexão existente em uma paisagem é enorme, é tão complexo que às vezes não conseguimos perceber os detalhes, os micros e as macros combinações e conexões existentes entre eles. A cada conexão que ocorre, um novo equilíbrio dinâmico se projeta. Em cada conexão gerada, menos possibilidades de insegurança. Em cada conexão que se cria mais sustentabilidade para todo aquele ecossistema. 

É notório que quanto menos elementos que compõe uma paisagem, mais frágil é o ecossistema em questão ou que está sendo observado. Todas estas observações e muitas outras podem nos ajudar a entender o que esta paisagem é capaz de nos alertar e proporcionar, para as tomadas de decisões necessárias no que se refere ao nosso mundo produtivo. Este texto tenta trazer algumas observações que precisam ser decodificadas a partir da paisagem que se observa, subsidiando com informações as intervenções no nível de produção. Ler a paisagem deveria ser uma prática disciplinar nas escolas. A geografia na minha opinião por mais que desempenhe este papel de ler e entender a paisagem, não alcança os níveis das relações que quero elucidar entre todos os componentes da paisagem observada. Este texto vai tentar mostrar detalhes a partir da leitura desta paisagem indicando o que pode e se deve fazer na prática da agricultura familiar com enfoques Permaculturais. 

O QUE PRECISA SER OBSERVÁVEL NA LEITURA DE UMA PAISAGEM? 

É comum querermos conhecer as pessoas e as coisas, a própria ciência incutiu na nossa cultura a necessidade de conhecer profundamente estes detalhes, ser curioso faz parte de nossa vida. Quando se fala em pesquisa agropecuária existe hoje um patrimônio de informação dos elementos que compõe as paisagens de forma incrível. Sabe-se muito sobre cada elemento existente, existem manuais, livros, boletins, fichas técnicas, todas preparadas para explicar o que é, como nasce, como vive, como se reproduz, o que come, mas quando se pergunta como convive, como se relaciona, com os outros elementos e com o meio, aí o “bicho pega”. Pouca informação neste nível se possui, pouca gente se aprofunda e escreve sobre estes comportamentos e relacionamentos. Saber tudo sobre determinada planta é importante, mas como acontece a relação desta com as demais com a mediação do meio, torna-se mais complicada as respostas do como acontece, porque acontece e em que circunstância pode ocorrer. 




Se olharmos uma paisagem não só com os olhos de olhar, mas com os olhos de ver, poderemos entender muitas informações que são passadas pela natureza que compõe tal espaço. Consegue-se entender parte do seu funcionamento e as conexões que acontecem criando uma teia de elementos, de relações, de combinações que dão garantia a todos que desse espaço faz parte. 

Independentemente da paisagem, ela sempre tem muitas informações que podem nos ajudar a: 

· A entender; 
· A perceber; 
· A conectar; 
· A combinar; 
· A repensar; 
· A preservar; 
· A conservar; 
· A aprender; 
· A imitar. 

· A diversidade da paisagem – O número de elementos vivos e sua diversidade é um dos fatos que demonstra a riqueza do ambiente. É importante que se quantifique o número de elementos por metro². Este conhecimento nos mostra a capacidade de suporte deste ecossistema. Esta informação pode nos ser útil quando precisamos decidir os consórcios dos cultivos que pretendemos montar. A imitação desta estratégia pode garantir resultados produtivos diversificados. Além de diminuir os riscos da não produção. 


· A altura máxima dos elementos no ecossistema natural – Esta dimensão mensurável nos remete a buscar entender o que a altura das plantas pode nos trazer de informações como estratégia de seleção ou escolha na montagem dos roçados cultivados. A partir deste conhecimento pode-se decidir quais as grandes árvores que vão poder fazer parte do agroecossistema cultivado. Árvores menores do que as existentes na paisagem pode ser tranquilamente utilizadas, mas, maiores que as da paisagem não devem ser escolhidas, pois a estrutura do solo, sua fertilidade talvez não consiga atender a demanda dessas plantas. 


· Quantidade de matéria orgânica por metro² - A quantidade de matéria orgânica em uma paisagem nos traz algumas informações que podem nos servir de guia para as áreas cultivadas. Quando a natureza combina a quantidade e a diversidade desta matéria orgânica o ambiente fica com uma riqueza extraordinária. Este entendimento e percepção pode nos ajudar no planejamento da fertilização de áreas cultivadas. Uma boa estratégia para se conhecer a quantidade de matéria orgânica que faz retorno ao solo é a pesagem. Marca-se uma área com 1 metro², e junta toda a matéria orgânica desta área e realiza-se a pesagem. 


· A espécie ou espécies que mais dominam o ambiente – A espécie que está no domínio do espaço demonstra determinadas qualidades do ambiente para aquele tipo de planta. Com esta observação reconhece-se a capacidade de tolerância a uma possível preferência pelas características percebidas na planta dominante. Com esta observação também se pode conhecer a aptidão do ambiente para a instalação de uma possível monocultura (não recomendada pela Permacultura). 

· A presença e o comportamento dos animais no sistema – A observação do comportamento dos animais selvagens no habitat natural também é um grande recurso de aprendizagem. Se observarmos, os ambientes onde eles se alimentam livremente, e identificamos as espécies de plantas que lhes servem de alimento estas informações podem nos ensinar que bases botânicas poderão utilizar na alimentação dos animais criados. Da mesma forma, a presença de determinadas espécies animais podem também nortear a decisão de quais os animais podem ser criados na proximidade daquele ecossistema. O comportamento de descanso, de liberdade, de tranquilidade tendo todas as suas necessidades e hábitos atendidos devem ser observadas e copiadas nas suas essências. 




Se esta capivara (da imagem) consegue se alimentar nesta área, e seu porte é quase idêntico ao tamanho de um porco, logo este ambiente tem uma boa chance de alimentar suínos a partir da vegetação local. Na imagem ao lado observamos um pato nativo conhecido na região nordeste do Brasil como paturi, ele se encontra em um ambiente natural demonstrando que se criarmos patos neste mesmo ambiente poderemos ter sucesso na criação, pois as condições naturais facilitam o desenvolvimento da criação. 

O sítio é cheio de informações em cada sujeito natural que compõe o ecossistema, e devemos aprender a ler tudo isso muito bem. A paisagem natural deve nos inspirar para criarmos estratégias produtivas. 

· Direcionamento da copa das plantas – A posição da copa em relação ao vento é outro indicativo de paisagem de aprendizagem, ela nos orienta de que lado existe uma constância de direção dos ventos. Com esta informação posso planejar os quebra ventos necessários para a área do plantio. Além de demonstrar a posição da incidência do vento ainda consegue nos mostrar a intensidade desse vento, se é forte ou mediano. Facilitando para saber qual tipo de quebra vento que se deve instalar. 



· Estágio sucessional da vegetação – Na observação da paisagem poderemos também saber em que estágio de desenvolvimento está aquele ecossistema. Esta informação demonstra-me as características do processo sucessional daquele ecossistema, quais plantas se adéquam para ajudar na instalação da minha agrofloresta. 

· Presença de áreas alagadas na paisagem – É um ótimo indicativo, demonstrando que existem na proximidade áreas que podem servir para plantio de cultivos que se desenvolvem na água (arroz, agrião de água, etc.), além da certeza de construção de reservatórios naturais como barreiros, açudes entre outros. Outra, alternativa para estas zonas é a possibilidade para a criação de animais de áreas alagadiças, como rãs, escargos, entre outros. 



· Presença de plantas de solo ácido – A presença de plantas de solos ácidos concentradas em determinadas áreas da paisagem também é um ótimo indicativo, nos alertando da necessidade de correção do solo para os cultivos, ou de outra forma, saber escolher plantas que tolerem a acidez do solo. Várias plantas são grandes indicadoras da presença da acidez. 


A produção de conhecimento acontece a partir da curiosidade de querer conhecer, de ter informação sobre o elemento ou sistema. Entender o que se vê a partir da dedução, de uma lógica, de uma interpretação é um dos caminhos para a se lê a paisagem. Acredito que esta estratégia pode ajudar muitos agricultores a aprender a partir do tempo de acomodação dos elementos que compõe uma determinada paisagem natural. É mais uma forma de tentar garantir os resultados produtivos com menos impacto possível. Não precisamos inventar a roda, a natureza pode nos ensinar quase tudo que precisamos para se manter no equilíbrio do sistema que estamos envolvidos. Antes de fazer primeiro aprenda com a mestra maior a “NATUREZA” e suas conexões aleatórias e em muitas vezes contraditórias e sem a lógica humana, mas simplesmente natural. 

22 de fevereiro de 2012

sexta-feira, fevereiro 17

A técnificação da agricultura familiar - Apertando botão para fazer produzir ou para aumentar os gastos?

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A cada dia mais, o apertar botão para dá comandos a uma determinada tarefa, vem tomando o espaço de vários trabalhadores quer seja na cidade ou no campo, já estamos vivendo esta transformação em muitos espaços. Na região nordeste do Brasil, por exemplo, na pecuária o cavalo vem sendo substituído em muitas propriedades pela motocicleta. Está se tornando coisa do passado para muitos vaqueiros lidar com o gado, com o gibão, cavalo e peitoral. O dar comida, agora é colocar pela manhã quando necessário, alguns litros de gasolina e pronto, água nem se fala, só para lavar a moto, para retirar a lama quando o período é inverno, e no verão a poeira, mas nada de água no cocho. Não precisa ter mais o compromisso, de todo dia inclusive finais de semana, ter que dedicar um tempo para o arraçoamento do cavalo. 


Na hora de capinar o mato, a enxada começa a ser substituída pela roçadeira motorizada costal manual. Puxou a corda, dar-se a partida e tudo fica mais leve, menos trabalhoso, e rápido, a única coisa que incomoda é o barulho do motor. 


Já existe recomendação da própria assistência técnica do governo para muitas culturas nos seus boletins técnicos, o uso de equipamentos motorizados, passando de uma forma indireta a ideia de uso destes equipamentos como uma forma de garantir os resultados produtivos positivos dos cultivos. 

Para desmatar, o trabalho vem tornando-se leve e rápido, facilitando toda a tarefa, criando uma mudança radical da paisagem. Em algumas situações o fogo já é substituído pelo motosserra, que consegue cortar tudo em pequenos pedaços, que podem ser direcionados para uma infinidade de atividades e serviços. É uma máquina fantástica que causa medo pela facilidade de desmatar grandes áreas sem muito esforço. A facilidade que ela causa estimula o desmatamento. Se o agricultor não tiver uma consciência ecológica o desmantelo está feito. Para esta máquina não existe árvore grossa e grande, tudo ela pode. 


Em relação à criação de animais, a tecnologia vai mais longe, por exemplo, substituiu-se o tirador de leite por ordenhadeiras elétricas, que conseguem esgotar todo leite das vacas em questão de poucos minutos. Durante o toque das mãos do retirante de leite, ele sentia se a vaca estava com algum problema (mamite), será que a máquina consegue ter esta sensibilidade? 

Toda tecnologia tem vantagens e desvantagens, mas normalmente a mídia só divulga as beneficias do seu uso. Antes só o vaqueiro era suficiente para ordenhar as vacas, mas agora com a tecnificação, necessita-se do vaqueiro e de várias ordenhadeiras. São gasta energias do vaqueiro e das ordenhadeiras para se fazer o mesmo serviço “tirar leite”. Antes a limpeza era das mãos do vaqueiro e do úbere da vaca unicamente, depois da tecnificação é necessário higienizar as mãos, o úbere e as ordenhadeiras aumentando o gasto com água, sabões e desinfetantes. Anteriormente a tecnificação mesmo sem energia elétrica executava a ordenha, agora necessita de energia elétrica para realizar todo o processo, sem a energia tudo para, não acontece. 

Será que todo este processo torna mais econômico a atividade ou simplesmente a ordenha torna-se mais rápida? Com quanto tempo depois de implantado consegue-se amortizar o investimento da compra deste equipamento? Que pretextos conseguem justificar o uso de tal tecnologia? São perguntas que talvez se tenha as respostas na ponta da língua, mas faz-se necessário ter o controle numérico desta atividade. Pois, tem uma quantidade que pode até justificar, mas também têm uma quantidade onde os gastos e as despesas de uso tornam-se maiores e antieconômicos. 


Até na pescaria a modernidade tecnológica chegou, hoje se vai para uma pescaria que não é pescaria, pois toda a sensibilidade e sutileza da pesca estão sendo substituída por mecanismos tecnológicos, até a isca é artificial, que graça tem uma pescaria com todo este aparato tecnológico? Toda sensibilidade é repassada para o anzol, linha, molinete e vários outros pequenos mecanismos tecnológicos, só depois para o pescador, anteriormente era você o anzol a linha e o peixe, a sensibilidade era sentida por você, até na hora da fisgada do peixe, e sua INsensibilidade era certeza de não pescar nada. Anteriormente a experiência do pescador era que fazia a diferença, ele sabia quais os locais que os peixes poderiam estar, tinha que conhecer os hábitos das espécies, as iscas preferidas, hoje já existe equipamentos com radares que indicam onde estão os cardumes, e tudo fica muito fácil. É claro que pescar no meio rural sempre foi encarado como uma atividade de lazer e de ter a carne para a refeição. Na criação comercial de peixe a artificialidade tecnológica é levada aos extremos, desde o sexo do peixe, até a ração e a forma de capturar são utilizados meios para apressar o crescimento. E a pressa mais uma vez é o alvo de todo o processo produtivo, que com certeza perde na qualidade do que se produz, afirmando o dito popular “a pressa é inimiga da perfeição”. 


Como vemos, a automação tecnológica vem abrangendo áreas ligadas a criações de animais e a algumas culturas, onde o trabalho humano é intenso e necessário, e que ocupa muito tempo, que se gasta muita energia física. 

Este texto pretende trazer idéias sobre o uso destas tecnologias no âmbito da agricultura familiar, da pequena propriedade rural, onde a discussão deve passar pelo conceito e entendimento de FERRAMENTA, sua escolha, uso e impactos. 

CONCEITOS E FERRAMENTAS BÁSICAS PARA OS SISTEMAS PERMACULTURAIS 

Para o autor Jorge Vivan em seu livro “Agricultura e Florestas” ferramentas são instrumentos de transformação do ambiente. E conceitos são ferramentas de transformação das idéias. Logo, ao usar uma ferramenta, estamos também tendo que adaptar nossos conceitos aos resultados que a ferramenta produz ao mesmo tempo em que refletimos sobre os resultados. 

Quando o uso das ferramentas produz resultados que afetam ou ameaçam nossa a existência? Precisamos estar bem alertas para este tipo de comportamento e resultado, antes do uso da tecnologia baseada no uso de uma infinidade de ferramentas. Hoje com a modernidade e a pós-modernidade acontecendo percebe-se que o conceito de produtividade na nossa civilização está ligado diretamente às FERRAMENTAS, e não ao produto obtido e a sua qualidade. Uma ferramenta aumenta a produtividade quando permite que se obtenha mais (maximizar) do recurso que nos interessa, estamos mais preocupados com a quantidade do que com a qualidade. 

A permacultura está sempre intencionada em aumentar a otimização dos processos e não unicamente em maximizar a produção, e para isto se faz necessário estar focado na qualidade biológica do que no que estar produzindo. Nos ecossistemas naturais a produtividade mede-se pela quantidade de substâncias orgânicas adquiridas pelas formas vivas numa unidade de tempo. Em uma propriedade deve-se buscar permanentemente aperfeiçoar todos os processos produtivos transformando a propriedade em um agroecossistema ao máximo igual ou que se aproxime ao de um ecossistema natural. 



O uso de tecnologia deve estar orientada para otimizar o agroecossistema. Para facilitar o entendimento, acompanhe o seguinte exemplo: “alimentar o solo” passa a ser: criar condições para todas as formas de vida, em quantidade e diversidade. A partir desta lógica, doses maciças de esterco bovino não ajudarão a regenerar a Mata Atlântica, da mesma forma que o reflorestamento de eucalipto não recuperará a fertilidade dos campos naturais. 

Tecnologias em muitos casos estão sendo utilizadas como forma de adiar a frustração produtiva, é uma maneira de protelar a diminuição da produção. Todas as tecnologias apressam os resultados produtivos indo quase sempre, de encontro à capacidade de suporte do agroecossistema para se manter produtivo de forma sustentável. Uma comparação para melhor entender esta lógica é a seguinte: Uma mulher que permanentemente depois de certa idade começa usar produtos para a pele, para evitar o enrugamento, e enquanto estiver utilizando este produto ela não vai perceber os resultados do tempo, mas se porventura deixar de utilizar por alguns dias, rapidamente percebe-se o estado real da pele, a um envelhecimento repentino, pois os produtos maquiavam a realidade real da pele. Da mesma forma acontece com o uso de determinadas tecnologias nas propriedades rurais. 



A VISÃO DA PERMACULTURA DA TECNIFICAÇÃO DOS AGROECOSSISTEMAS 

Para a permacultura o uso de tecnologias é bem vindo desde que ela esteja norteada por princípios ecológicos. Outro critério do uso ou não da tecnologia é a quantidade de energia APLICADA para sua operacionalização e a quantidade de energia RECUPERADA pós uso desta tecnologia. O que através do uso continuo desta tecnologia conseguimos produzir de energia para outros usos? Onde se tem mais eficiência energética? Esta deve ser o pensamento produtivo a ser aplicado permanentemente. 

Muitas das tecnologias utilizadas atualmente têm como base de movimento o uso de petróleo, e isto não deveria ser surpresa, que uma safra cultivada com uma vasta quantidade de energia oriunda do petróleo sofresse um declínio de qualidade e de rendimento econômico. O uso de energia provinda do petróleo na agricultura chegou a tal ponto que se poderia até falar em agricultura de comida sobre o campo de petróleo. Tal grande é o uso deste recurso. Utiliza-se o petróleo para tudo desde o transporte da semente e de seu plantio, sua adubação, o uso de inseticidas, a mecanização, tudo tem como base de movimento e produção o petróleo. Pode-se até dizer que “aceitou a revolução verde, tornou-se subcontratante da indústria do petróleo”. Quando a base energética não é o petróleo a energia elétrica é a bola da vez. Aumentando os custos de produção e consequentemente os preços de venda aos consumidores, impedindo que este produto chegue às mesas dos consumidores de baixa renda. 

É um erro acreditar que o progresso na tecnologia agrícola irá baixar os custos de produção e tornar os alimentos menos caros como afirma Manosubu Fukuoka em seu livro “Agricultura Natural”. Os custos de produção só se baixa voltando a ser e a fazer uma agricultura mais natural. A maioria das técnicas agrícolas de alto rendimento em uso atualmente não aumenta os lucros líquidos dos produtores. E a culpa está no pensamento e na prática considerados vitais para a produção crescente e na aplicação pesada de fertilizantes e agrotóxicos e a mecanização para preparar e aplicar todos estes insumos. Vale apena alertar que os defensivos ou agrotóxicos só são eficazes em solos desgastados e devastados através de uma agricultura de roçados queimados. A tecnologia deveria estar sendo pensada para manter o ambiente produtivo de forma equilibrada, ecológica e não com intenções de apressar e aumentar os rendimentos, desgastando toda a capacidade de suporte do agroecossistema. 

É bom alertar também que tecnificação da agricultura não é somente o uso de máquinas, mas também o uso de vários insumos como: agrotóxicos, adubos químicos, espalhante adesivo, sementes hibridas, medicamentos químicos, entre outros. Quando estou me referindo a tecnificação estou incluindo também todos estes aparatos produtivos. Da maneira como está usando os recursos e as tecnologias, a agricultura está se tornando uma atividade desnecessária, sem relação quase que nenhuma com a NATUREZA. 


Fukuoka afirma “Que houve uma época em que as pessoas acreditavam que usando cavalo e bois o trabalho dos homens se tornaria mais leve. Mas, contrariando as expectativas, nossa dependência desses grandes animais tem sido nossa desvantagem. Os agricultores estariam em melhor situação se usassem porcos e cabras para arar ou revolver o solo. Na verdade, o que eles deveriam ter feito era deixar o solo para ser trabalhado por pequenos animais – galinhas, coelhos, topeiras, até mesmo as minhocas e os microorganismos. Animais de grande porte parecem ser úteis só quando alguém tem pressa do serviço pronto. tendemos esquecer que mais de 8.000 m² de pasto são necessários para alimentar apenas um cavalo ou boi. Este tanto de terra poderia alimentar 50 ou 100 pessoas se alguém fizesse uso completo dos poderes da natureza.” 

DIRETRIZES QUE DEVEM NORTEAR A CRIAÇÃO E O USO DAS TECNOLOGIAS 

Precisamos entender que tem dois tipos de tecnologias, as de processo e as de produto. As tecnologias de processo são aquelas onde se transforma os ambientes sem ter necessariamente de comprar equipamentos, como exemplo o plantio em nível, o uso da adubação verde, o abandono do uso do fogo, como técnica de limpeza, o uso da adubação verde entre outras. Nos sistemas Permaculturais deve-se dar preferência pelo uso das tecnologias de processo, e evitar o uso das tecnologias de produtos, que são aquelas que a transformação do ambiente e a busca pelos resultados produtivos estão direcionadas para o uso de insumos e maquinários, como exemplo o uso de adubos químicos, agrotóxicos, mecanização, sistemas de irrigação, entre outros. 

1. Dar preferência por tecnologias de processo onde o conhecer, o observar, e o imitar a natureza são os norteadores para uma prática agropecuária menos impactante ao meio ambiente. Com o uso deste tipo de tecnologia, diminui o uso indiscriminado de insumos externos ao agroecossistema. 


2. Buscar ao máximo a eficiência energética do que está fazendo e usando. A preocupação com a energia aplicada e a energia recuperada deve ser um dos norte na escolha e no uso de equipamentos. 

3. Evitar o automático, não se pode esquecer que o automático é quase o sem comando, é repetitivo e a natureza é dinâmica e nunca estática. A realidade não se repete, pode até se parecer, mas jamais ela é igual. Os elementos vivos e a paisagem mudam permanentemente. Evite fazer do mesmo jeito todos os dias, sejam criativos e acompanhem os processos naturais. 

A criação e uso de uma máquina que foi preparada para uma determinada função ou serviço, na intenção da sua criação já traz implicitamente a repetição o fazer igual. Máquinas que só servem para o manejo de determinada cultura e não se adéqua a outra, em tese já propõe o plantio permanente da mesma cultura todos os anos (monocultura). 


A tecnologia deve se adequar ao ambiente e não o ambiente se adequar a tecnologia, como em muitos casos acontece. A tentativa de mudar todo ambiente para a implantação de uma tecnologia vai de encontro à lógica da natureza. Os impactos são grandes quando se tenta adequar o ambiente a tecnologia. Muitas tecnologias têm a capacidade muito rápida de modificar a paisagem, aumentando os impactos ambientais, principalmente se este meio está sendo adequado para que a tecnologia possa fazer parte forçosamente daquele ambiente. 

4. A conexão é à base da sustentabilidade, logo precisamos criar tecnologias que aumentem as conexões, as combinações, as interdependências. A tecnologia deve ser usada primeiramente para unir, ligar, aumentar as relações entre os elementos. E não para criar independência dos demais elementos. 


Exemplo de Tecnologias criadas para unir, conectar. 


5. As tecnologias devem facilitar o fazer e não substituir todos que estão fazendo, precisamos evitar a ociosidade nas propriedades rurais. Mas, percebe-se que sempre a criação e uso das tecnologias estão na sua maioria direcionadas, para gerar ociosidade, e consequetemente desemprego. E como diz o Biólogo Sebastião Alves “O desenvolvimento tecnológico foi tanto que talvez para cada coisa existente na natureza, é bem provável que exista uma tecnologia para lidar com esta mesma coisa. Caso ainda essa tecnologia não exista, existe tecnologia para criá-la”. 

6. Fazer com o que se tem no local é a lógica que deve direcionar a criação de tecnologias apropriadas. Quanto mais localizada for a utilidade da tecnologia mais benefícios ela pode realizar. Na Permacultura a criação de tecnologias massivas, isto é que serve para todo lugar, e para todas as situações deve ser descartada. 

Espero que este texto possa ter esclarecido o que penso sobre as tecnologias, não sou contra a sua criação, mas o que me preocupa é seu uso, manuseio e utilidade. Que elas possam cada vez mais ajudar as pessoas na tarefa de viver bem, sem prejudicar de forma tão contundente o meio ambiente. Precisamos de tecnologia para muita coisa logo, preciso estar atento para as diretrizes que frisei, antes de adquirir e antes também de usá-las. Defenda, cuide, conecte-se aos sistemas naturais com menos impacto possível. 

Referências Bibliográficas 

Vivan, Jorge Luiz. Agricultura e Florestas : princípios de uma interação vital – Guaíba, 1998.
 
Fukuoka, Manosubu. Agricultura Natural: teoria e prática da filosofia verde; tradução de Hiroshi Seó e Ivna Wanderley Maia – São Paulo: Nobel. 1995 

16 de fevereiro de 2012

sexta-feira, fevereiro 10

O lazer nas pequenas propriedades rurais - Os festejos, os brinquedos e as brincadeiras

 Antônio Roberto Mendes Pereira 

Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais." (Dumazedier, 1976, apud Oleias). 

A palavra lazer deriva do latim licere, ou seja, "ser lícito", "ser permitido". 

O lazer deve fazer parte da vida de todas as pessoas, independentemente da faixa etária, é uma das condições para se ter qualidade de vida. Quando observo este fator nas pequenas propriedades rurais atualmente, percebo que o lazer nestes espaços é de pouca criatividade e de pouca variedade. Muitas formas de se divertir, de brincar, no campo estão sendo esquecidas, trocadas pela novela ou por programas de auditório, e também pela bodega, prazer alegria provocada pela ingestão de bebidas alcoólicas. A pelada se mantém estimulada pela cachaça pós o jogo de bola. Para as crianças poucas opções, pois não existe uma preocupação dos pais além do disponibilizar o desenho animado na TV de pouca criatividade e opção. O que fazer para mudar esta realidade? Como resgatar brincadeiras e brinquedos para as crianças? Como resgatar outras formas de aumentar a participação na comunidade para criar espaços que possam oferecer um lazer diferente, criativo, e cheios de alegrias, prazer e muita aprendizagem para toda a família? Este pensamento é o que este texto pretende abordar. 


Fomentar o resgate de um estilo de vida feliz, alegre e comum sem renunciar aos avanços tecnológicos, é a tentativa que se deseja na construção de espaços vitais em harmonia com o meio ambiente. E o lazer deve perpassar esta construção de forma interior, em cada um e no exterior demonstrando para os demais a satisfação no fazer, no ter, no comemorar e principalmente no conviver, contagiando as pessoas do entorno para viver e conviver feliz. 

A sustentabilidade também deve passar pelo equilíbrio onde um ponto de sustentação é a alegria, o prazer, e o estar bem, de bem com a vida e feliz. Logo, se quisermos uma sociedade sustentável precisamos também buscar formas para conseguir essa felicidade se possível diariamente, momentos de satisfação com o que sentimos, pensamos, e fazemos. 


HISTÓRIAS DE MOMENTOS DE LAZER QUE ME LEMBRO E QUE VIVI 

Você lembra como eram os finais de semana na zona rural a algumas décadas atrás? Em uma comunidade rural o que se fazia para se divertir de forma saudável envolvendo todas as famílias? O que estimulavam as famílias a sair de casa no sábado e principalmente no domingo para se encontrar, para se divertir? 

Muita coisa acontecia, não sei se podemos dizer que ir a missa é um lazer, mas na verdade o encontro com as pessoas, com a comadre e com o compadre e as crianças eram com certeza um momento de prazer e por que não dizer de lazer, se descontraia, as fofocas aconteciam e se atualizava dos acontecimentos além da porteira da propriedade. A igreja sempre foi um espaço de confraternização, de encontro, de festa como exemplo na quermesse, ainda proporcionando momentos de confraternização e encontros coletivos de muitos festejos, como batizado, casamentos, entre outros. 

Na zona rural tanto os batizados como os casamentos são momentos de muita comemoração regados a música, bebida e muita comida regional e farta, independentemente do poder aquisitivo, sempre davam um jeito para festejar estes momentos com o máximo de pessoas. 


Os aniversários na zona rural pouco são comemorados pelas famílias, pelo menos no nordeste do Brasil, motivado pelo grande número de filhos que as famílias possuem, inviabilizando comemorar cada aniversário. Precisamos construir uma cultura onde o comemorar um aniversário não necessariamente precisa ter festa, precisa sim ser festejado, lembrado, regogizado. Comemorar o aniversário é agradecer a divindade natureza o estar vivo, e ser e estar feliz, mesmo com os atropelos da vida. 

Muitas diversões estão ligadas a cultura local e as tradições, daí nem todos os tipos estão presentes em todas as regiões. A cavalhada, a vaquejada o reisado entre outras fazem parte de festejos muito bem territorializados. Mas, com certeza toda região tem suas formas culturais de festejar, de se alegrar, de se confraternizar, de se religar com o Divino, com a natureza, e com os antepassados. 

Permaculturalmente falando toda propriedade deve ter uma zona de recreação, onde o não fazer nada está direcionado para o lazer, o descansar, o brincar, o festejar. As crianças na propriedade permacultural precisam ter áreas para brincar, para ser criança de verdade. Balanços, gangorras entre outros devem fazer parte da vida cotidiana. Estes espaços é um ótimo lugar para a prática da socialização das crianças com outras crianças de sua faixa etária. É uma forma de iniciar a prática de construção de relações sustentáveis na tenra idade. 

O esporte também era uma ótima estratégia para a prática do lazer, do estar bem com a mente e com o corpo. Muitas modalidades de esporte precisam ser ensinadas e praticadas para fazer parte da cultura local. A melhor idade para a introdução de novas modalidades esportivas é quando se é criança. Temos tempo, vontade, flexibilidade corporal, só faltando incentivo para a prática. 

BRINCADEIRAS DA MINHA ÉPOCA 

Pau de sebo – Brincadeira onde se pegava um pau e passava nele sebo de animal, para criar dificuldade para subir no mesmo. Quem chegasse ao topo do pau recebia um prêmio em dinheiro ou qualquer outro brinde.


Corrida de saco – vestidos com um saco até a cintura, o objetivo é chegar primeiro sem cair a uma distância estipulada. 




A PERMACULTURA NA RELAÇÃO COM O PRAZER E A DIVERSÃO 

Será que a prática da permacultura tem alguma coisa haver também com o prazer? A permacultura é uma espécie de terapia permanente que nos remete sempre buscar o equilíbrio com tudo e com todos que fazem parte dos ecossistemas. Para ser feliz não é necessário especialista, nem divã, basta querer ser feliz, praticar a felicidade, buscar a satisfação em tudo que fazemos. Vejamos o que a prática da permacultura provoca: 

1. Prazer na relação com a natureza – É quase que impossível não sentir este sentimento, esta sensação, se por acaso não acontece isto com certeza não estamos praticando a Permacultura, pode ser qualquer coisa menos permacultura. Ela ti sensibiliza para olhar diferentemente para os ecossistemas e todos seus componentes. Ganhamos uma qualidade nova, um jeito novo de ver, olhar, sentir e praticar. Tornamos-nos mais observadores do detalhe, mais intuitivo e com certeza mais feliz. Só em saber que estou contribuindo no trabalho de construção da natureza e não na destruição é muito gratificante. 

2. Prazer e satisfação no comer bem – Comer bem gera satisfação, saber que foi sua família que produziu toda a comida e que ela foi produzida tendo como parceiro não a indústria, mas a natureza a satisfação é duplicada. Comida deve ser assim alimentar o corpo e alma, além de contribuir com a alimentação de uma infinidade de outros seres pós-consumo, com os resíduos que sobraram, diferentemente do resíduo que se torna lixo, que polui. Colher uma fruta no pé, é gratificante e gera um prazer inexplicável. O conhecer como produzir gera também um empoderamento altruísta de que sou capaz, sei fazer, sei produzir sem esta parafernália de insumos químicos e inorgânicos. Este empoderamento me faz contente, tranqüilo e confiante no futuro da minha propriedade. 


3. A manutenção da paisagem – A beleza de uma paisagem nos remete a tranquilidade, ao belo. A permacultura provoca a manutenção e a criação de paisagens onde as conexões são intensas e cheias de beleza, e acima de tudo também produtiva. Paisagem que suporta uma grande quantidade de vida diversa. No momento em que contemplamos uma paisagem bela instantaneamente dentro de nós gera-se uma sensação de satisfação, de tranquilidade de alegria sem limite, dá uma vontade de rir misturada com o chorar de estar podendo contemplar toda aquela beleza. Deve ser momento de festa poder usufruir de tal paisagem e momento. 

4. Resgata e ensina a festejar as estações do ano – O movimento de rotação da terra em conjunto com o de translação, gera os dias e as noites, como também as estações do ano. Os equinócios e os solstícios são comemorados por muitos povos, como forma de agradecer a natureza por mais uma passagem que vai lhe proporcionar a chance de poder produzir novamente seu alimento. Tem-se a chance de renovar as forças da natureza, de se abastecer novamente destas forças em si e nos espaços produtivos. A comemoração destas passagens é com muita festa e rituais de agradecimento, precisamos ensinar aos nossos filhos este ciclo natural que demarca tempo, estação, momento de chuva, de frio, de calor e de seca, todos estes momentos fazem parte da natureza e precisa ser entendido e compreendido e respeitado, sabendo como aproveitar destas forças cíclicas. Precisamos festejar mais a natureza e o que ela nos proporciona. 


A comemoração junina surgiu no período pré-gregoriano, com a celebração do solstício de verão no hemisfério norte e solstício de inverno no hemisfério sul, conhecida como Festa da Colheita. Com o domínio da religião Católica, a festa foi rebatizada com o nome de Festa de São João, a popular Festa Junina. 

5. Ensina a brincar com o vento, com o sol, com a água, com o barro – Para as crianças principalmente os filhos de agricultores é imprescindível aprender brincar com estes recursos da natureza. Manter contato do toque, do manipular deve fazer parte da vida e das diversões destas crianças. 




As duas imagens acima são modalidades de exploração do trabalho infantil, crianças são forçadas pelos pais a trabalhar para aumentar a renda da família. A infância passa sem ter tempo para ser criança, para poder brincar, correr, se divertir. 

A permacultura provoca, incentiva momentos onde estes recursos devem ser utilizados na diversão e como instrumentos de aprendizagens. O cata-vento, os bonecos de barro entre outros podem ser brinquedos de criança que precisam ser estimulados. É no mexer, no brincar que as aprendizagens vão fazer a diferença entre o conhecer e o não conhecer. 


Manipular com estes insumos da natureza ensina as crianças a se divertir com os recursos que se tem no local, além de estimular a criatividade. Um simples cata-vento ensina qual a posição que vem o vento, o barro demonstra a resistência e a versatilidade de seu uso para fazer uma infinidade de objetos que tem uma durabilidade interessante. 

6. Ensina a brincar com os animais sem maltratar – Ensinar para os jovens da importância dos animais nos ecossistemas deveriam fazer parte do ensino e da aprendizagem de qualquer ser que precisa da natureza para viver. Os índios passam para seus filhos a importância da relação com todos os seres da natureza, em especial com os animais. Cria-se uma relação harmoniosa onde o brincar e a brincadeira com estes seres fazem parte do dia a dia. É uma diversão completa onde se aprende os desejos, os estímulos, e os hábitos dos animais. 


7. Brincar sem ter que pagar – Quando se fala em diversão sempre vem na cabeça dos adultos, parque de diversão, festas de rua entre outras formas. E na maioria das vezes para poder se divertir nestes espaços se faz necessário o pagar para poder ter direito ao brincar. A permacultura é versátil na criatividade para brincar, nas brincadeiras e nos brinquedos, estimula a criatividade, onde o invento é o passaporte para o lazer. 


8. O lidar com a terra – Para muitas pessoas a tarefa de lidar com a terra já é um prazer, é divertido, inusitado, desafiante, criar conexões entre a terra, o vaso, a planta, a flor, o fruto e a cor é instigante. É um raro prazer que precisa ser vivido, vivenciado. A alegria é o plantar e o colher é o prazer. 


9. Ensina a ser feliz ao ser solidário, ao ajudar o próximo, a participar do mutirão, a ser voluntário. Ser solidário é fazer sem querer nada em troca, faz você se sentir um ser feliz consigo mesmo. 

10. Receber visita e ser visitado – A troca de conhecimento deve acontecer durante toda a vida, mas para que isto aconteça é necessário o encontro como outro, a relação com outras pessoas. O hábito de visitar e ser visitado vem diminuindo nas comunidades rurais, as pessoas cada vez mais se afastam, se isolam, são poucos os momentos que estes encontros acontecem. 

Receber uma visita deve ser um momento de prazer, deve ser um momento privilegiado, onde com certeza os conhecimentos podem ser apresentados, ofertado para o outro, a experiência pode ser passada a frente para o engrandecimento da comunidade. Ser comunidade é poder ter as coisas em comum com os demais componentes que faz parte da mesma. 

Receber visita a algumas décadas atrás, se fazia até festa, oferecia-se sempre o que se tinha de melhor em casa em relação a gastronomia. Criava-se um momento onde os homens se encontravam e ficavam sabendo de novas formas de produzir de aumentar a produção, de descobrir onde e quem queria comprar seus produtos, as mulheres também podiam trocar informações, ficar sabendo dos acontecimentos mais distantes da sua casa, até as crianças tinham a oportunidade de brincar com outras crianças, era momentos de muito prazer, de muita brincadeira, de muitas risadas, era com certeza um momento feliz. Este tipo de prazer precisa fazer parte da cultura das pessoas, é engrandecimento humano e a Permacultura preza por estes momentos. 


11. A música – Quem não gosta de música? Dificilmente encontram-se pessoas que não gosta de ouvir musica, de dançar, de tentar acompanhar a musica até cantarolando, estes também são momentos que trazem muito prazer e alegria que devem ser estimulados permanentemente. O rádio ainda é um dos grandes companheiros dos agricultores, dificilmente encontra-se uma casa na zona rural que não tenha um rádio e que o mesmo não passe boa parte do dia sintonizado em uma estação que lhe traga noticiais, música, e informações do desempenho do seu time de futebol, além de poder fazer oferecimentos, é uma gostosa sensação ouvir seu nome sendo falado no rádio. Desde oferecimento de música até nota de falecimento este grande veículo de comunicação contribui imensamente nas áreas rurais onde poucos veículos de comunicação alcançam. 

A música consegue distrair, alegrar, relembrar situações e pessoas, além de poder trazer informações e ensinamentos que falam do dia a dia, de amor, de paixão, de engrandecimentos, de situações históricas e políticas vividas por gerações anteriores. Precisamos entender que a grande intenção da música é trazer paz, tranquilidade, alegria, e facilitar a instalação da satisfação. Para permacultura a busca de qualquer mecanismo que traga melhoria na qualidade de vida, deve ser uma intenção permanente de todo permacultor praticante, e ouvir música, é uma delas. 



PROPOSTAS DE DIVERSÕES EDUCATIVAS 

A necessidade de introduzir diversões inovadoras e acima de tudo educativa, me fez propor algumas formas divertidas de brincar e aprender ao mesmo tempo: 

· Feiras de trocas – A troca sempre foi um meio de se conseguir algo que queremos sem ter que comprar. Podemos estimular feiras de trocas solidárias nas comunidades propondo, por exemplo, troca de sementes, mudas, utensílios e até pequenos animais. É uma forma de aumentar o patrimônio genético da comunidade e de cada família de agricultor. 

· Gincanas genéticas – A competição sempre mexe com as pessoas, o desejo de demonstrar que é o melhor, que sabe fazer melhor, sempre estimulou as pessoas desde épocas remotas. Podemos “propor uma gincana com a seguinte temática: Conhecendo o patrimônio genético da comunidade” onde podem descobrir os seguintes patrimônios: 

Das sementes crioulas; 
Das frutas raras; 
Das raças nativas; 
Das frutas mais doces; 
Das frutas maiores; 
Do animal mais produtivo; 

· Gincana tecnológica – O conhecimento tecnológico também pode ser utilizado como diversão com aprendizagem. A criatividade pode ser exposta para toda comunidade divulgando as expertises, as experiências e os saberes adquiridos com o tempo. Como exemplo pode-se propor para a gincana as seguintes sabedorias: 

A melhor composição de ração balanceada com as plantas nativas; 
A maior quantidade de kg por m² dos mais variados produtos; 
O roçado mais diversificado, entre outras. 

Como se percebe, existem uma infinidade de formas de se produzir prazer e alegria: 

Divertindo-se 
Brincando; 
Fazendo; 
Trocando; 
Criando; 
Competindo; 
Cantando; 
Amando. 

Relembre o que te fazia feliz. Qual eram os momentos que você ficava contente e proporcione estes mesmos momentos aos seus filhos, desde que ecologicamente corretos, saudáveis, ou melhor, ainda que causem o mínimo de impacto ao ambiente. Pense como criar áreas para o lazer, que dê prazer e que sua família possa brincar, correr, pular, dançar, jogar e rir, ri muuuuuuuuuuuuito. 

Lembre-se, precisamos aprender como dosar o tempo para o trabalho e criar tempo para o lazer, isto ti conduz também a saúde, divirta-se, e evite ser e ter uma família triste. Faça do espaço de recreação como um circo cheio de brincadeiras e alegria, não seja um palhaço que vive e transmite tristeza, preocupação e problemas, sorria. 




09 de fevereiro de 2012

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