sexta-feira, maio 25

O que os animais podem nos ensinar? O comportamento animal como ferramenta para entender a natureza

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A observação atenta da natureza pode nos ajudar a entender muitas coisas que acontecem no nosso entorno. Estas observações podem contribuir muito nos nossos cultivos e criações. Elas nos orientam a perceber os princípios básicos de fazer com o que se tem, e sempre conduzindo e proporcionando o local a várias dimensões de sustentabilidade, porém sempre aproveitando as características que tem no local. 


Um dos grandes indicadores para entender o que se passa no ambiente em estudo são os animais, sua presença, diversidade e comportamento, são indicadores de como este ambiente está, e como poderá ficar caso não se faça algo para mudar a direção dos acontecimentos. 

Este texto quer trazer a ideia mais uma vez de aprender a ler a natureza e em especial os animais e seus comportamentos. Os animais podem nos dizer e ensinar muita coisa que pode fazer a diferença nos resultados que pretendemos alcançar. Se estiver frio, quente, seco, ventilado demais ou úmido estes podem nos mostrar através do comportamento assumido pelas circunstâncias criadas. 

Da mesma forma que nos os humanos, ao nos depararmos com determinadas situações climáticas, por exemplo, como as frisadas anteriormente buscamos nos proteger e assumimos determinados comportamentos, os animais fazem da mesma forma porém com insumos e recursos locais encontrados na natureza. 


Se formos bons observadores iremos perceber que tudo que existe na natureza passa informações importantíssimas. O grande problema é que não fomos e nem estamos educados para ver e entender muitas destas informações. 

Na permacultura, 04 elementos são objetos de leitura permanentemente, água, solo, clima e planta e por que não também incluir os animais. É essencial para se fazer um bom design que o observador possa perceber e se aprofundar no detalhe de cada elemento ou situação que se encontra aquele ambiente. Todo local é diferente e as características das mudanças normalmente estão relacionadas a estes elementos e suas conexões e combinações. 

Por exemplo, quando o clima é quente e seco, a natureza muda as espécies ou variedades das plantas. Diminui a quantidade de água, logo estas plantas devem ser de baixo consumo de água, e com certeza os animais que neste ambiente irão viver também vão necessitar ter característica que suportem este clima quente e seco. 




A grande pergunta que não pode e nem deve parar de ser feita permanentemente é: 

PORQUE ISSO É ASSIM? 
ISSO É PARTICULAR AO MEU LOCAL OU ACONTECE EM TODOS OS LUGARES? É UNIVERSAL? 

Suas habilidades de perceber, questionar, duvidar e deduzir irá melhorar enquanto você pratica cotidianamente este comportamento. E estar sempre alerta que para desenhar ambientes sempre devemos sair do geral para o particular. Seguindo os grandes padrões da natureza. 

Normalmente quando vemos algum equipamento ou instalação que nos chama atenção e nos interessa, imitamos, copiamos, mas dificilmente copiamos os modelos e os padrões da natureza. Estes padrões levaram milhares e milhares de anos para serem daquele jeito e forma, e simplesmente negligenciamos, não damos o valor e importância que merecem. Criamos os nossos, que normalmente vão sempre de encontro aos padrões naturais. 

Em todos os lugares e espaços existem padrões naturais. As repetições acontecem com muita freqüência na natureza. No sertão nordestino, por exemplo, todos os anos, durante o verão muitas plantas soltam suas folhas para diminuir a transpiração, manter a temperatura do solo baixa, evitar a evaporação, e mais adiante na próxima estação fertilizar o solo. Este padrão poderia ser muito mais utilizado, a natureza mostra, faz, e repete todos os anos e nós pouco utilizamos este padrão nos nossos cultivos. 

Todos os anos vêem as sucessões das plantas acontecendo com a mesma lógica, nos terrenos em que os agricultores utilizaram o fogo o processo sucessional inicia-se com as primeiras chuvas. O sistema tenta se recuperar cobrindo o solo com um determinado tipo e tamanho de planta e sucessivamente irão surgindo as demais, porém com tamanhos e de muitas outras espécies, tornando o ambiente cada vez mais diversificado, completo e complexo. 

Esta lógica já deveria ter sido incorporada por todos os agricultores quando vão fazer seus cultivos, mas não respeitamos nada destes ensinamentos, simplesmente escolhemos a sucessão que queremos fazer, não respeitamos nem mesmo o tamanho, e tiramos toda a diversidade de tamanho e de espécies que existiam através do fogo e depois colocamos ao nosso bel prazer a que escolhemos, impondo ao sistema o que queremos. 

APRENDENDO COM OS ANIMAIS 


1. Os animais livres em ambiente natural se alimentam, se protegem, sabem se defender, se deslocam, se entocam, armazenam alimento, constroem suas habitações, sabem tudo e sempre escolhe fazer com o que tem na proximidade, não trazem nada de muito longe. E sabe fazer tudo isto respeitando todas as regras da natureza, não gasta nada em demasia, sempre usa na medida certa para não faltar para os demais. Deitam e rolam com o clima, sabem até a hora certa de procriar, levando em consideração a quantidade de alimento e o momento certo para tal evento acontecer. Será que sabemos tudo isto? Ou pagamos pela maioria das coisas que necessitamos para sobreviver? O que a sua propriedade e sua família são capazes de fazer e produzir juntamente com a natureza? Sem trazer quase nada de muito longe? 


2. Os animais quando natural, ou seja, sem serem criados pelos homens, tem a liberdade o livre arbítrio de escolher, o que quer do ambiente. Este comportamento animal é regido pela orquestra da natureza, todo o ambiente se prepara para poder criar aquela espécie que vai surgir naquele espaço. É quase que um acontecimento simultâneo, tudo e todos se preparam para prover de alimento, água e clima e habitação para que esta ou aquela espécie encontre tudo que precisa para viver ali, naquele local. Quer dizer, existe uma preparação anterior do ambiente para tal acontecimento. Será que os agricultores fazem da mesma forma? Ou pelo menos ajuda o ambiente a se preparar para criar os animais que foram escolhidos por ele? 

Da mesma forma acontece com as plantas, a natureza age da mesma maneira. Ela prepara tudo antes para o depois, mas quando também comparamos as decisões do ser humano diante do preparo do solo para receber seus cultivos ele age estranhamente, tira tudo que poderia ajudar aos seus cultivos, criando uma dependência de tudo para prover o que estas plantas irão precisar. 


3. Os animais nativos criados em liberdade no ambiente natural não têm hora certa para nada, muito menos para se alimentar. Fazem sempre pequenas refeições ou grandes a depender da fartura e da concorrência que tem no ambiente pelo mesmo alimento. Observe os hábitos alimentares dos animais e tente montar um sistema de alimentação para os criados o mais próximo possível do padrão natural. 

Crie ambientes para que os animais criados busquem e encontrem sua ração diária. Deixe que eles escolham o que querem comer, a quantidade e o momento do dia. Diminua seu trabalho e deixe que ele irá saber fazer melhor que você, na quantidade certa e na mistura ideal, ele sabe balancear sua comida. 


4. Conhecendo o hábito e a preferência alimentar dos animais nativos, existentes no meu agroecossistema. Vamos descobrir o que existe de fartura alimentar no sistema, e em que época ou estação tem-se este alimento. Melhorar e adequar os animais que vão ser criados a esta lógica seria de uma racionalidade e de uma coerência fantástica. Lembre-se, se tem de forma natural porque tenho que imporem outros? 

Se por alguma decisão for necessário colocar algum novo elemento no sistema, que se faça de forma parcial, aos poucos e vá observando o comportamento da nova espécie que se está instalando no sistema. Observe se o sistema acolheu de forma adequada, ou se o sistema tentou aniquilar a nova espécie, talvez ainda não seja o momento certo. Lembre-se um sistema mal desenhado e imposto exigem entrada constante de energia para manter o(s) elemento vivo, ativo e produtivo. Pode exigir este gasto de energia em forma de: eletricidade, dinheiro ou trabalho. 

5. A grande presença de animais nativos no ambiente da propriedade é um indicativo da presença de alimento. A natureza só permite se tem como, diferentemente da forma como o homem vem fazendo, mesmo sem ter condições ele tenta ter e em muitas vezes em demasia. Tem animais acima do que seu sistema consegue alimentar e criar, pois não só de alimento vivem os animais. Eles precisam de uma infinidade de necessidades que precisam ser atendidas pelo sistema ou pelo ecossistema. 

Vemos vez por outra, agricultores colhendo capins nas beiradas das rodovias para alimentar os seus animais, mostrando da insustentabilidade do sistema que foi montado por ele. Tem o que não pode criar. As abelhas utilizam seu instinto para verificar se vai ter fartura ou não, e com isto a abelha rainha aumenta ou diminui sua postura, adequando ao que tem e ao que vai poder ter. 

6. Os animais na natureza foram se aprimorando a partir do que existe no ambiente. Tudo é regulado a partir do que tem ou do que não tem. As modificações na estrutura física, reprodutiva e de alimentação são sempre guiadas pelo meio. Já o homem quer aprimorar os animais sem aprimorar o meio, ele sempre pensa em trazer de fora, comprar o que sempre vai faltar, pois o meio não foi e nem está preparado para os padrões dos animais que estão sendo geneticamente preparado e ou modificado. A pressa é inimiga da perfeição e dos resultados duradouros ou sustentáveis. 

7. A dificuldade de encontrar animais nativos na propriedade é um péssimo sinal. Isto pode significar falta de biodiversidade alimentar. A teia alimentar do ambiente está deixando a desejar. Precisa de mais outras espécies para voltar a ser um ambiente em equilíbrio. Tem algo demais tomando espaço de alguns outros. Ou até existe um grande predador, o caçador chamado homem. 


8. Muitos animais transitam nos ambientes a partir das estações do ano. Migram para ali ou para acolá, sempre guiado pelo instinto da sobrevivência. Quando faltam as condições para prover sua espécie ou raça no ambiente, imediatamente buscam outra migrando ou até hibernando. Dando lugar muitas vezes a outras espécies que conseguem viver naquele ambiente e nas condições que ele oferece naquela estação. Sempre vai ter animais adequados aos ambientes, a natureza precisa dos animais para ter seu equilíbrio equilibrado se assim posso dizer. Será que com este comportamento não se pode aprender em que momento preciso me desfazer dos animais que crio? Ou preciso ir sempre de encontro a meio? Forçando o que ele naquele momento não pode oferecer as espécies que insisto em criar. 

9. Normalmente só vemos animais esqueléticos, desnutridos nos espaços manejados pelos homens, nas suas criações racionais. A natureza não permite este tipo de problema, ela sempre só permite ter se tem condições para dar segurança. Qualquer representante, com dificuldade de locomoção, velho, doente ou com qualquer outro problema, rapidamente os predadores se encarregam de eliminá-lo. 

Já nas criações humanas o dinheiro investido é quem controla a permanência ou não deste representante. Na seca sempre encontramos animais em estados lastimáveis, com certeza são erros da ação humana, em querer criar mais o do que seu ambiente é capaz de suportar. Ou mesmo criar animais que não são adequados para as condições do ambiente que foi montado. O ambiente responde prontamente a investida que se faz na tentativa de querer incluir determinada espécie no ambiente. Aprenda com ela, observe sua resposta, e perceba que quanto mais natural for o ambiente que se permite ter, mais probabilidade de aceitação e resiliência se conseguem ter deste ambiente. 


10. Na natureza nem sempre o mais forte é o mais produtivo, mas com certeza é o mais resistente e resiliente. Nas criações realizadas pelos homens, em muitas situações ele quer que o mais forte seja o mais resistente e nem sempre é. Quanto mais se aprimoram o estado produtivo dos animais, mais ele perde o poder de resistência, fica muito dependente de tudo melhor, sua resposta produtiva esta completamente dependente do que o seu criador lhe oferece de alimento. Se por qualquer dificuldade este animal não receba os nutrientes necessários para que sua produção atinja sua capacidade, a produção cairá e em muitos casos mesmo recebendo os alimentos necessários, mas sua constituição biológica não for adequada àquele ambiente ele não irá responder com a produção esperada. 

11. Talvez o único animal que não tem medo de fogo é o homem, todos os demais animais têm receio do fogo, fogem dele. Embora que em alguns casos a natureza se utiliza do fogo para se renovar, ou para até fazer com que determinados representantes possam nascer como é o caso de sementes muito duras, onde a quebra da dormência só acontece na presença do fogo. Já no manejo racional dos seres humanos o fogo é utilizado de forma permanente, como técnica de produção, todos os anos e sempre utilizado para resolver problemas econômicos, e limpar e controlar mais rápido possível determinada erva nas áreas que vão ou que estão sendo cultivadas, além da ilusão de fazer uma fertilização equilibrada e barata. Precisa-se rever este manejo cultural. 


12. A cor da pelagem e o tamanho dos pelos dos animais nativos podem nos passar muitas informações sobre o clima do ambiente. Quando o ambiente é muito quente existem determinadas padrões de cores que suportam altas temperaturas tentando refletir e não absorver todos os raios solares que chegam a ter ele. Da mesma forma em ambientes onde a temperatura é mais fria, também a natureza tem cores e tamanho de pelos que são mais adequados a este tipo de clima. Estas informações quando observadas podem nos ajudar na escolha dos animais mais adequados ao ambiente que se tem, diminuindo as probabilidades de se ter resultados negativos na atividade que se está praticando. 


13. A presença de animais selvagens no ambiente é um bom indicativo de lugar equilibrado, de diversidade, onde estes podem encontrar alimento com mais facilidade, é uma prova inconteste de manejo adequado ou de excesso de alimento. Com certeza esta presença é um bom indicador biológico de área no caminho da sustentabilidade. 

14. Todas as funções que precisam ser feitas no ambiente são divididas entre todos os representantes que fazem parte daquele ambiente. A co-responsabilidade não pensada, mas do instinto fazem com que todos participem na sustentabilidade do ambiente. Já nas propriedades criadas por alguns seres humanos a responsabilidade é simplesmente de alguns representantes não de manter o ambiente sempre produtivo, mas de tirar e de garimpar toda a riqueza que possa ser retirada deste ambiente. Quanto à divisão de tarefas a uma sobrecarga em alguns em prol dos que não fazem nada, não participam de nada, e em muitos casos, foram até retirados do ambiente. Que aprendizagem pode-se tirar deste comportamento da natureza e dos seres humanos, onde se precisa mudar, mexer, transformar, e adequar? 

15. Normalmente os animais não defecam onde habitam, a não ser quando recém nascidos, mas quando vai se tornando adultas, todas as necessidades biológicas relacionadas aos excrementos são realizadas fora deste ambiente. Foi uma das formas que a natureza encontrou para diminuir problemas com enfermidades, contágios. Já nas criações ditas racionais os animais são criados quase sempre em excesso, muitos animais por metro², fazem todas suas necessidades naquele mesmo espaço, tendo muitas vezes contato direto com as fezes de outros que estão sendo criados no mesmo espaço. Com isto aumentasse o risco de infecções de enfermidades entre outros problemas. Que providencias podemos fazer para acabar ou minimizar este problema tão constante no manejo dos animais? 

16. Descubra qual o período que tem mais animais nativos na sua propriedade e aprenda com eles, o manejo reprodutivo, os hábito e preferências alimentares, estratégia de proteção entre outras aprendizagens. Tente no primeiro momento imitar o que eles fazem, depois adéque ao que você está fazendo e só depois invente, criando seu próprio manejo sempre usando a sapiência contida nos ecossistemas naturais. 

É notório que na natureza os animais transcendem os exemplos do que eles podem nos ensinar. Cabe agora a você ficar mais atento e observador para perceber muitas outras aprendizagens que estes exemplares da natureza poderão te ensinar. O cotidiano dos nossos agroecossistemas pode ficar bem mais equilibrado e sustentável quando tentamos reproduzir os padrões da natureza. 

24 de maio de 2012

Um comentário:

  1. Boa tarde, tudo bem com voçe Roberto, aqui quem escreve é o pastor Valdeban um admirador seu,sempre que estou perto de voçe aprendo coisas fantástica, voçe é nota mil, meu email é prvaldebn@bol.com.br o outro é igrejape@hotmail.com

    ResponderExcluir

Obrigado por comentar! Convide seus amigos para participarem também.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Thanks for commenting! Invite your friends to join too.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...