Antônio Roberto Mendes Pereira
A necessidade de produzir alimentos limpos, sem a presença de insumos químicos vem aumentando cada vez mais. Esta necessidade também é crescente nas famílias que residem nos centros urbanos, onde a informação transita com mais intensidade. A mídia divulga que para se produzir hortaliças como tomate, alface entre outros, o uso de insumos químicos para defender a produção destes é cada vez maior, o desequilíbrio causado pelo não respeito ao meio ambiente é vertiginoso. A demanda foi criada e agora precisam criar formas técnicas de praticar a agricultura nos grandes centros urbanos na tentativa de minimizar estes problemas.
Este texto traz a intenção de transmitir conhecimentos práticos de como preparar pequenos espaços urbanos para a produção de alimentos sadios, limpos do uso desta parafernália de insumos químicos que hoje são usados abusivamente. Não consigo entender como se pode misturar veneno com alimento, um representa vida o outro representa morte, e a mídia consegue convencer agricultores e consumidores no uso e no consumo sem a mínima preocupação em rastrear de onde vem? Quem produziu? O que usou para produzir? Este texto vai estar direcionado para a criação de espaços de produção de hortaliças, temperos e ervas medicinal em pequenos espaços, e em especial nos apartamentos. O enfoque utilizado vai ser da Permacultura tendo como base a necessidade de trazer a produção de alimento de volta para as áreas urbanas, reprojetando e retroprojetando.
NECESSIDADES SUBJETIVAS PARA MONTAGEM DA HORTA
1. O querer – A vontade verdadeira, profunda de ter uma horta, de praticar agricultura de lugar e urbana, deve ser a primeira etapa para esta operacionalização. Sem esta decisão pessoal, fica difícil, pois para algumas pessoas praticar agricultura urbana pode se encarado como hobby, para outros é vista como um trabalho cansativo e escravizante, pois ocupa diariamente algum tempo a depender do tamanho do espaço produtivo que se instalou.
2. Satisfação e prazer – Ter prazer em mexer com a terra e com o que ela pode proporcionar de produção vegetal. Imagine que prazer você plantar uma mudinha de alface, tratar, cuidar e depois de certa dedicação colher um belíssimo pé de alface e desfrutar do mesmo com outras plantas produzidas na sua horta em plena cidade grande, em um pequeno espaço dedicado a prática de agricultura urbana e de lugar. Poder admirar cada folhinha surgindo, crescendo, dependendo de você e da natureza, do sol, do carbono, de cada gota de água servida por você, é uma satisfação que não tem como ser explicada, só quem pratica é quem sente.
3. A prática da intuição natural – Mesmo sem nunca ter cultivado hortaliças você é capaz de alcançar este estado de arte. A intuição lhe ajudará a cultivar, até parece que você foi projetado para saber cultivar estas plantas, você irá intuitivamente sentir as necessidades de cada planta. Irá entender o que cada uma vai te pedir, te ordenar e te responder com cada cor, com cada folha ou flor, e em muitos casos te agradecer e te retribuir com um fruto que pode servir de alimento, te saciando, nutrindo tuas necessidades mais básicas.
4. A beleza natural bem pertinho, dentro do teu espaço – A beleza de uma planta comestível em muitos casos é mais bela que muitas outras, admirar o belo que vai me alimentar é uma mistura de beleza, prazer, e satisfação, todas juntas e misturadas ao mesmo tempo. Uma beleza natural, sem químicas inorgânicas manipuladas, sem ter que comprar, sem ter correr riscos de fazer mal, de intoxicação. É poder participar da proeza de ser autótrofo (produzir seu próprio alimento), é ser alquimista, contribuir na mistura de sol, gás carbônico, água e minerais em alimento. É participar do processo da criação de outra espécie.
NECESSIDADES OBJETIVAS PARA PRATICAR HORTICULTURA URBANA
Pequenos espaços de cultivo de alimentos
1. Identificar ambientes favoráveis para as plantas – Precisa-se identificar no apartamento, ambientes onde as hortaliças possam se desenvolver, este espaço precisa ter a presença essencial do sol na maior parte do dia, pois as hortaliças exigem muito sol para se desenvolver bem. Quanto ao tamanho do espaço, a criatividade pode ajudar em parte este problema. Se não tiver lugar que receba sol fica difícil a pratica da horticultura, mas mesmo assim poderemos criar determinadas estratégias técnicas para levar a luz solar até elas. Espelhos ou até aberturas em paredes ou tetos podem ser maneiras que permitem que as plantas possam ter esta energia básica para a realização da fotossíntese. Janelas, varandas, percolados, muros todos estes espaços podem servir de ambientes para o cultivo de hortaliças, plantas medicinais e temperos.
Caso no apartamento não tenha espaço adequado para a prática do cultivo de hortaliças pela ausência do sol, pode-se também utilizar a estratégia de cultivar as plantas em vasos, pequenos caixotes que possam ser transportados para janelas ou paredes, que recebam sol. Lembre-se de acompanhar a luz solar, pois o sol se desloca durante o dia. As plantas hortícolas necessitam de 6 horas no mínimo de luz solar dia.
2. Aquisição e escolha dos recipientes – Vai necessitar de vasos de preferência que possam ter uma profundidade de pelo menos 20 centímetros, pois muitos sistemas radiculares são pivotantes.
Evite comprar recipientes, tente ao máximo reciclar, utilizando panelas velhas, caixotes, bacias, latas, garrafas peti, etc. Cada recipiente precisa ter furos para o escorrimento do excesso de água, é bom colocar no fundo de cada recipiente, pedrinhas, pedaços de telha para facilitar a saída da água, evitando possíveis entupimentos. Lembrem-se, as culturas tem tamanhos diferentes, logo exige vasos diferentes. Use a criatividade, use e abuse, faça decorações a partir da localização destes vasos com hortaliças.
3. Aquisição do solo e preparo do substrato – A riqueza do solo é determinante no desenvolvimento das plantas, logo quanto mais fértil melhor. A aquisição de solo para encher os recipientes deve-se dar preferência por solos escuros onde a probabilidade de fertilidade é maior que a dos solos claros. Para manter a fertilidade desse solo, vai ser necessário o uso de compostos orgânicos, e na dificuldade de se fazer este composto no apartamento, existem lojas especializadas que vendem este material orgânico já preparado para o uso.
Na imagem acima à direita, caixa plástica para o preparo de compostagem com desperdícios da cozinha, em escala de programação para não haver períodos de falta.
Para aprender como fazer uma boa composteira caseira você pode acessar o seguinte endereço abaixo. Lá, você vai encontrar informações muito interessantes que vão poder lhe ajudar em todo processo de operacionalização de uma compostagem.
Grande parte dos materiais biodegradáveis pode ser utilizada para a produção de adubo e, quanto maior a variedade dos ingredientes, melhor será a qualidade dele. Podem ser usadas cascas de ovos, restos de frutas ou legumes, sobras de alimentos que foram cozidos, pão velho, café moído, folhas, grama e até papelão picado.
Para ter mais informações - http://arquitetesuasideias.wordpress.com/tag/reciclagem/
A eletrônica já chegou também a contribuir na transformação dos resíduos orgânicos da cozinha, já existem composteira eletrônica, onde dispositivos de temperatura e umidade é controlado apressando a transformação dos resíduos em adubos orgânicos para o uso.
A calda que escorre (chorume) da compostagem pode ser utilizada também como fertilizante, podendo ser aplicado nas folhas ou nas irrigações, a este processo muitos chamam de fertirrigação (irrigação que leva fertilizante). Normalmente utiliza-se 1 litro do chorume para 5 litros de água.
4. O melhor lugar para cada cultura – Dependendo do ambiente que se tem precisamos selecionar os tipos de hortaliças e os melhores locais para o seu plantio. Tem espécies de plantas que requer mais sol, outras menos, umas exigem solos profundos, outras plantas poucos centímetros são suficientes. Umas, até toleram pouca presença de raios solares, logo para isto precisa-se conhecer mais profundamente as variedades, suas características e necessidades.
CRIATIVIDADE NO APROVEITAMENTO DOS ESPAÇOS, OBJETOS E DO SOL
Normalmente os tubérculos (cenouras, beterrabas, rabanetes, nabos, etc.) exigem uma profundidade de solo maior, pois o seu fruto é produzido dentro do solo.
Pinte ou forre (com papel, cartão, tecido...) os recipientes de lata, de plásticos para que o sol não sobre aqueça o recipiente, aquecendo o solo e venha a criar transtornos nas raízes dos cultivos. Para melhor adaptar as plantas aperfeiçoe a utilização dos vasos através da consorciação de plantas de alturas diferentes no mesmo recipiente.
Algumas plantas gostam de crescer agarradas, possuem gavinhas, logo precisamos oferecer este apetrecho para elas. Pode ser utilizada treliça de madeira, que além de oferecer este serviço, são bonitas, atuando também de decoração, além de aumentar a disponibilização de espaço para os cultivos. Outra forma também que pode ser utilizado são os tipís, uma ótima alternativa para atender esta necessidade das plantas trepadeiras, como pepinos, ervilhas, feijão vagem, entre outras.
5. Conhecendo as famílias das hortaliças – Da mesma maneira que nós seres humanos temos nossas famílias, as plantas também foram classificadas em famílias. Esta classificação foi feita levando em consideração alguns itens, como por exemplo, aparência externa (folhas), tipo de raiz, preferências pelos mesmos nutrientes, tipos de inflorescência, formato dos frutos, serem atacadas pelas mesmas doenças e pragas, etc. E para nos é de suma importância conhecer as famílias e os seus familiares, para que possamos planejar a rotação de culturas evitando replantar na mesma área plantas da mesma família, pois já que tem as mesmas preferências como também os mesmos problemas fitossanitários, evitar que estes fatores venham a prejudicar o próximo cultivo. Logo não esqueça, não podemos fazer um novo plantio na mesma área com plantas da mesma família, estaremos induzindo a nova cultura a ser atacada por pragas e doenças ou sofre por carências de minerais consumidos pela cultura anterior.
Você já imaginou que na família da cenoura que é chamada famílias das Apiáceas os irmãos da cenoura são o coentro, a salsa e a cebolinha. E na família das Crucíferas os irmãos são os seguintes: repolho, e todas as couves (Bruxelas, flor, folha), que a família da beterraba é Quenopodiácea e o nabo é um dos seus irmãos, que a Família do tomate é chamada de Solanácea e que os seus irmãos são: o pimentão, jiló, berinjela. Tenho certeza que você ficou muito curioso em querer saber mais sobre as famílias das hortaliças e de forma geral das plantas como um todo, seja curioso pesquise, tente descobrir qual é o nome da família das seguintes famílias ou irmãos: alface, almeirão, chicória, acelga, pepino.
Da semeadura ao transplante – Algumas culturas hortícolas são de plantio direto, isto é, são semeadas diretamente em local definitivo, outras necessitam de sementeira, uma espécie de berçário, onde as sementes são semeadas e ficam recebendo um tratamento especial até alcançarem o tamanho ideal para o transplante, 10 a 15 centímetros ou 5 a 6 folhas definitivas, ou ainda quando o seu talo esteja mais ou menos da espessura de uma caneta. A profundidade para se colocar as sementes no semeio não deve ultrapassar a 6 vezes o tamanho desta semente, pois de outra forma a germinação pode ficar comprometida, o peso da terra seria muito grande para que a nova plantinha conseguisse afastar para que ela emergisse fora do solo. O leito destas sementes precisa estar bem preparado, isto é destorroado, fertilizado com uma quantidade ideal de composto orgânico (1 kg por metro²), seria uma boa quantidade de composto, porém esta quantidade deveria ser mensurada a partir da descoberta da analise da riqueza deste material.
Cuidado também para não colocar sementes demais durante o semeio, uma quantidade exagerada irá provocar disputa entre as plantas por luz, fertilizantes e espaço, comprometendo a qualidade destas. Uma boa maneira para fazer uma sementeira é reaproveitar os copinhos descartáveis. Prepara-se um bom substrato para enchimento destes copinhos, não esquecendo de furar o fundo destes, para que aconteça a drenagem do excesso de água.
Durante o transplante é preciso ter cuidado para não mexer, nem cortar muitas raízes, pois as plantinhas podem sentir, danificando sua raiz, comprometendo seu pegamento, ou até atrasando o desenvolvimento destas. É bom sempre fazer este transplante transportando parte do solo de onde a plantinha estava se desenvolvendo, este procedimento garante o pegamento e evita à entrada de doenças pelos ferimentos da raiz durante o transplante. Sempre após o transplante é bom fazer uma irrigação, para que a plantinha possa aumentar seu contato com o solo, e criar um ambiente mais confortável, para o seu pegamento. Siga esta lógica: plante o que gosta de comer, o que gosta de cheirar e o que gosta de vê.
Saciando a sede das plantas – As hortaliças são muito exigentes na freqüência da rega, nem tanto em quantidade, esta vai depender da espécie que se está cultivando. Para entendermos melhor observe o seguinte exemplo, o período de vida de um pé de alface é muito curto, logo uma falta de água em um dia pode acarretar sensivelmente sua produção, criando problemas às vezes irremediáveis. O excesso de água também pode comprometer o desenvolvimento da planta, pois todos os poros do solo podem ficar encharcados de água, ocupando o espaço do ar, comprometendo a metabolização dos nutrientes pela planta. Criar sistemas autônomos de irrigação pode ser interessante para a manutenção desta irrigação. Na internet existem várias tecnologias que podem ser utilizadas para operacionalizar esta autonomia. Uma boa cobertura morta no solo dos vasos pode diminuir a frequência da rega, além de diminuir a evaporação da água do solo. Com o uso da cobertura evitam-se também problemas com a salinização do solo dos vasos.
As ferramentas de manejo – Na manipulação dos espaços de cultivo vai necessitar de algumas ferramentas para facilitar o manejo. A compra não é necessária, pois garfo, colher de sopa e faca podem facilmente substituir estas ferramentas. Mas existem no mercado ferramentas adequadas para a compra como as mostradas nas imagens abaixo. Uma boa escarificação permite um bom arejamento do solo, porém para manter um solo fofo se faz necessário o uso de matéria orgânica não ainda decomposta, pois é durante a decomposição que se forma substancias que permitem a formação dos grumos, dando ao solo uma boa bioestrutura. A fofice causada pela aplicação de matéria orgânica já decomposta tem um curto período de ação.
As doenças e pragas – A primeira medida básica para evitar plantas doentes e praguejadas é uma boa fertilização do solo. A base da saúde das plantas está estritamente ligada ao seu metabolismo de absorção e processamento destes minerais. Evite também criar climas onde existam muita umidade e alta temperatura, estes climas ajudam no aparecimento de doenças. Lembre-se, o aparecimento de pragas e doenças é um indicador de manejo errado, tente descobrir o mais rápido possível o erro que possa ter acontecido, e enquanto não descobre a catação manual pode ser uma alternativa de controle. Evite utilizar agrotóxicos, existem muitas fórmulas botânicas que podem ser utilizadas como paliativo contra estes insetos, porém a maneira correta é descobrindo as causas para sanar os verdadeiros sintomas.
Como vemos a implantação de uma pequena horta no apartamento não é tão complicado, basta ter o espaço e a vontade, o restante se aprende, cuidando, manejando, errando. Mas, o maior prêmio que podemos ganhar é o lazer e a hora da colheita, é um momento mágico, prazeroso, e acima de tudo nutritivo. Saber que foi você que plantou que cuidou, e que é um produto limpo, saudável, não tem dinheiro que pague esta satisfação e nutrição. Estimule-se! faça a sua e desfrute de todos estes benefícios e alegrias. O que está esperando?
18 de janeiro de 2012
Gostei imenso de ler o artigo. Deu-me ideias e vou aperfeiçoar o que já faço! Sou uma aprendiz de horticultura em apartamento! Tenho tido dificuldades de controlar mosquitos brancos nas culturas (coentros, hortelã e hortelã pimenta,...) Podia ajudar-me a ultrapassar este problema? A salsa é por vezes atacada por umas lagartas verdes, lindas mas extremamente vorazes. Não quero usar venenos. Podia dar-me ajuda? Bem haja.
ResponderExcluirOlá, quero fazer uma hortinha em casa reutilizando latas de leite em pó... posso plantar direto na lata ou preciso colocar as sementes dentro de outro vaso e o vaso dentro da lata? Obrigada.
ResponderExcluirè muito bom mesmo essas tecnicas de poder fazer horta em apartamento pois sabemos da grande incidencia de agrotoxicos contendo na maioria dos alimentos comprados, alem de está consumindo um alimento saudavel tambem é mais economico ter sua popria horta em casa.
ResponderExcluirOlá, primeiramente quero parabenizar Roberto Mendes pelo maravilhoso blog, e dizer que é um grande sonho meu ter uma propriedade onde eu possa implementar essas Tecnologias Alternativas e viver apenas do que eu mesmo venha a produzir na minha propriedade, pois só assim terei a oportunidade de fazer intervenções ligadas ao desenvolvimento sustentável no campo, e sei também que esse blog irá me ajudar bastante no que pretendo aplicar seja ligado as seguranças(água, alimentar, nutricional e energética) como a saúde Familiar e o planeta como um todo.
ResponderExcluirEstou imensamente feliz por encontrar este blog! Vou adaptar a ideia das hortas em apartamentos para a sala de aula! Agradeço profundamente o seu trabalho com a natureza e o compartilhar de sua experiência através deste blog!
ResponderExcluirSó mais uma pergunta: É possível cultivar milho em latas grandes ou baldes numa escola?