Antônio Roberto Mendes Pereira
Para manter uma pequena propriedade rural de forma onde todas suas funções produtivas estejam funcionando adequadamente, muitas conexões precisam ser feitas. Em algumas situações especiais muitos equipamentos precisam está sendo utilizados. E no manejo dos insumos, máquinas e destes equipamentos muito desperdício é produzido. A manutenção na reposição de peças, troca de equipamentos entre outros, são normalmente os grandes vilões dos desperdícios que na maioria das propriedades transformam-se em lixo e ou entulho.
Não se pode se dá ao luxo de desperdiçar absolutamente nada, tudo em algum momento pode vir a ser útil novamente de alguma forma. O não permitir que os desperdícios e não uso transforme-se em LIXO, deve ser evitado a todo custo.
Na natureza não existe lixo, nem muito menos desperdícios, todos os resíduos de um elemento é imediatamente reutilizado, servindo para a sobrevivência de outros. É justamente este princípio básico que este texto quer elucidar. Trazendo idéias de planejamento e montagem de espaços de reuso para todos estes materiais que devem e podem fazer parte de um novo sistema vivo.
Estes materiais precisam ajudar novamente a segurar o sistema, complementando o mesmo, protegendo e atendendo as necessidades da vida do agroecossistema da propriedade rural. A intenção não é se transformar em acumulador de entulho, mas na medida do possível incluir na cultura da propriedade o princípio do reuso, da reutilização e da reciclagem de materiais.
Uma das primeiras medidas para evitar a produção destes materiais é evitar trazer de fora para dentro. O evitar comprar e buscar utilizar ao máximo as estratégias da natureza para ter todas suas necessidades atendidas com os elementos daquele local é a intenção prioritária deste texto.
Ecologizar todo pensamento, toda necessidade, todo querer, todo fazer, todo utilizar é o principio que deve nortear as idéias que ora vão ser apresentadas. Ecologizar é um verbo de ação, que traz na sua essência a necessidade e intenção de agir de forma que o ambiente também saia ganhando com qualquer ação realizada.
VOLTANDO A FAZER PARTE DO SISTEMA VIVO
Todo resíduo pode e deve ser reincorporado de alguma forma a outro ciclo vivo da propriedade. Os ciclos são conexões que surgem a partir da necessidade da natureza para continuar a evoluir ou da demanda humana nas propriedades rurais. E para que estes ciclos pensados e provocados possam surgir é necessário a intervenção humana. Juntar, ligar, combinar, conectar, incorporar, misturar, todos são verbos de ação que facilitam e provocam o surgimento de novos CICLOS na propriedade rural ou em qualquer outro espaço.
Como dizia Lavoisier “Na natureza, nada se cria, nada se perde tudo se transforma”, esta é a tentativa de colocar em prática este principio. Todas as vezes que conseguimos combinar e operacionalizar estes verbos a propriedade rural e suas atividades diárias tornam-se mais sustentáveis, economiza-se energia, diminui o uso intenso de mão de obra, evita-se a inutilidade das coisas.
Na permacultura trabalhamos com um principio que reza o seguinte:
“Cada elemento deve executar no mínimo duas funções para e no sistema”
A busca de colocar este princípio em prática permite a ação do reuso, do reaproveitamento de tudo. Quanto mais funções descobrirmos que um objeto possa executar melhor para todo o sistema. Não existe nada sem uso na natureza, tudo tem uso, tudo tem e pode ter várias funções. Crie funções para os elementos, elenque quais as funções um mesmo elemento pode ter no sistema no qual ele está envolvido ou pode ser envolvido. Você irá descobrir quanto você vai deixar de comprar, pois irá encontrar elementos que podem executar muitas das suas necessidades sentidas.
O material quer seja orgânico ou não, precisam fazer parte desta lógica, mesmo depois de ter cumprido a função da qual foi comprado, adquirido, criado ou gerado. Em fim, todo elemento nunca deixa de ter funções para executar no sistema, desde que nós facilitemos.
ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO
· Este espaço não pode ser muito próximo da casa. Também não deve prejudicar a estética paisagística do ambiente. Logo busque uma área mais reclusa da propriedade, lembrando também para não ser muito distante das principais zonas de atividades (0, 1, 2 e 3), para evitar gastos com energia para o reaproveitamento e a acumulação do material. O tamanho vai depender da quantidade de desperdício produzido pela propriedade.
· Toda propriedade deve ter uma pequena oficina para poder fazer, construir, adaptar, adequar e reaproveitar estes materiais e equipamentos. É um espaço onde às vezes com alguns parafusos, pregos e muita criatividade se podem transformar e recuperar equipamentos, tornando-os reutilizáveis novamente.
É um espaço também que pode assumir características pedagógicas para toda a família. Espaço onde se aprende a reaproveitar, colocando a imaginação a disposição da criação e da arte. A criação espontânea pode ser ativada por este espaço. Espaço este, onde determinados talentos pode vir à tona. Deve ser um espaço onde o aprender a reincorporar artisticamente resíduos, fazendo com que os mesmos possam novamente ter valor de uso, compondo mais uma vez um sistema, quer seja como uma ferramenta, um equipamento ou uma obra de arte como colocado anteriormente.
Durante a criação deste espaço para a reutilização dos resíduos, podem surgir várias obras de arte. Podem-se exprimir sentimentos relativos à natureza de forma artística. Este pequeno espaço construído pode e deve Reciclar uma série de materiais sem uso, fazendo com que eles voltem a compor uma paisagem de forma artística, embelezando qualquer ambiente, ou fazendo funcionar determinada ação projetada.
A ARTE DO REAPROVEITAR PARA EMBELEZAR
Praça Stefano Giuliane, SERTA IBIMIRIM Artista Plástico Permacultural Sebastião Alves |
· Quanto mais bem separado e classificado mais utilidade estes matérias podem ter. A mistura destes materiais de forma aleatória pode ao invés de gerar reutilização e menos gasto de energia pode gerar mais desperdício, mais gasto de energia e inutilidade dos mesmos.
· Sempre que for planejar inclua estes materiais no uso da operacionalização. Pense na economia que o reuso destes equipamentos ou partes dele pode representar na execução do todo. Evite pensar em comprar antes de reutilizar. A criação deste espaço vai provocar na família o dom da criatividade aplicada com desperdícios.
· De preferência este espaço deve ser coberto, na intenção de diminuir o desgaste pelas intempéries climáticas. Sol, chuva e sereno causa um grande desgaste e corrosão, causando o não aproveitando além de diminuir a vida útil dos elementos.
A melhor forma de se aprender a reutilizar desperdícios é conectando elementos, espaços e energias. O exercício de aprender a conectar acontece quando se identifica o que se tem e o que se quer, e a partir daí verificar quais as possibilidades de combinar, de conectar, de interligar o que se tem e principalmente envolvendo os que não estão sendo utilizados.
A economia que se pretende não é a economia do não usar, mas a economia do usar sem ter que comprar. Esta é a economia que se quer provocar e operacionalizar.
A entrada de desperdícios de fora da propriedade pode ser até aceito, mas necessita uma análise detalhada destes elementos. O principio básico a ser levado em conta é: traga ao máximo para a propriedade informação e conhecimento, e se precisar trazer materiais, que os mesmos sejam os que causem menos problemas ambientais, evite trazer materiais de difícil reutilização. Materiais de difícil classificação (orgânico, metal, plástico, etc.) precisam ser evitados sua importação. Por exemplo, uma caixa de tetra pak qual sua classificação é papel, ou metal?
O ideal seria que nunca trouxéssemos algo que não pudéssemos eliminar dentro dos nossos próprios limites. Isto é difícil, mas podemos reduzir.
27 de setembro de 2012
Muito bom este artigo. Transformar o que seria lixo em arte é o que falta como planejamento em políticas públicas.
ResponderExcluirCaro professor! O texto é de grande importância para o reaproveitamento de materiais desperdiçados nas propriedades onde muitos chamam de lixo e na verdade é desperdício de material. Dias atrás reaproveitei dois baldes plásticos para construção de um filtro onde foi de grande importância para uma família que estava bebendo água diretamente de uma cacimba sem passar por um tratamento. Enildo Cardoso
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