segunda-feira, junho 4

Criando microclimas - Melhorando o conforto dos espaços produtivos e de vivência

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Muitos cientistas e pesquisadores afirmam que o aquecimento global é um fenômeno irremediável, que não temos mais como reverter este fenômeno. Talvez uma das saídas para um conforto térmico possa ser feito com equipamentos ou tentando imitar os ensinamentos de áreas onde a natureza cria microclimas agradabilíssimo de viver. Durante milhares e milhares de séculos o clima da terra era razoavelmente estável e mais ou menos previsível, mas nos últimos dois séculos a atividade humana vem contribuindo enormemente para aumentar este desequilíbrio chegando desestabilizar climas em todas as partes do planeta, mesmo as menos habitadas. 


O efeito desta ação é um dos fatores mais fortes para que vários fenômenos sequenciados pelo aquecimento global possam ocorrer. A seca com certeza vai ser mais seca, a escassez de água vai aumentar vertiginosamente, muitas espécies vão deixar de existir, tempestades irão acontecer com mais frequência, o aumento do nível dos oceanos já vem acontecendo pelo desgelo. E pergunto, e nos permacultores o que iremos fazer e ou construir de conhecimento para minimizar estes efeitos nas propriedades rurais ou nas nossas residências urbanas? Precisamos urgentemente aprimorar nossos conhecimentos e os espaços onde atuamos. “A permacultura nos oferece o principio da PRECAUÇÃO que diz: Não fique ai parado, se prepare, anteceda-se aos efeitos”. 

Para muitas pessoas o aumento de alguns graus na temperatura é mera bobagem. Estes não conseguem fazer uma leitura mais científica com enfoque biológico. Meio grau de temperatura a mais pode criar situações extremas para várias espécies, que já viviam no limite de sua existência. Um grau a mais, por exemplo, pode retardar o florescimento de várias plantas que alimenta uma teia de espécies que muitas vezes não conhecemos a proporção. É bom saber que um grau a mais não derrete um litro, mas milhões de litros nas regiões polares que vão aumentar em vários metros o nível dos oceanos em todas as partes do mundo. As correntes marinhas que tem seus movimentos norteados pelas mudanças térmicas da água, irão ser afetadas, mexendo na vida de milhares de seres que dessa corrente se alimenta. Os resultados são catastróficos e ainda imprevisíveis. Pois tudo na natureza esta conectado, interligado, interdependente, logo o que acontece a um vai com certeza interferir para melhor ou para pior com os demais. Não podemos esquecer que “O todo é mais que a soma de suas partes”, é uma norma da natureza. 

Você já imaginou na sua propriedade o que este aquecimento pode causar, ou já está causando? 

· Regime de chuva alterado; 
· As previsibilidades de inverno alterado; 
· Solo mais quente e seco; 
· Plantas e suas frutas amadurecendo mais cedo e rápido; 
· Animais entrando cada vez mais cedo na reprodução; 
· Calor intenso; 
· Baixa umidade do ar; 
· Teia alimentar conturbada, aumentando a presença e a quantidade de certas espécies de insetos; 
· Muito mais radiação solar, aquecendo todos os espaços e criando desconforto térmico. 

Estes são alguns dos problemas que vamos enfrentar ou que já está enfrentando em muitas propriedades rurais ou também nos espaços urbanos. 

Este texto vai tentar mostrar algumas considerações utilizadas pela Permacultura para minimizar estes efeitos, montando sistemas onde o conforto térmico é trabalhado criando espaços adequados para a maioria das espécies, quer seja vegetal ou animal. A Permacultura não é tão pretensiosa em dizer que tem como solucionar o problema do aquecimento global, mas com certeza tem formas de diminuir seus efeitos a nível local e particular, e a chave principal destes conhecimentos é ensinada pela própria natureza, as respostas que queremos estão logo ai na sua frente, basta para isto ser mais atento como a natureza cria microclimas. 

CRIANDO CONFORTO TÉRMICO ATRAVÉS DE MICRO CLIMAS 

Quase sempre estamos trabalhando o conforto térmico das nossas casas. Basta dizer que durante o planejamento ou o projeto, foi pensado de alguma maneira nem que seja de forma mínima a criação de micro climas. A escolha do tamanho dos cômodos, localização, local das portas e janelas tem tudo a haver com o manejo do clima no interior da casa. E depois de construída o manejo do controle aumenta através do abre e fecha das portas e janelas, cobre e descobre, alarga ou estreita, coloca equipamentos como ventiladores, ar condicionado, umidificadores entre outros, todos estes apetrechos é a tentativa de criar um microclima adequado para o conforto térmico das nossas habitações. 


Em algumas criações utilizam-se muitos equipamentos para minimizar os efeitos do clima, por exemplo, na criação de frangos de corte o uso do manejo de cortinas, ventiladores, umidificadores, em alguns casos até ar condicionado é utilizado na tentativa de criar conforto térmico para as aves. Muitas outras espécies animais esta preocupação vem sendo levada em conta. 


Agora questiono! E nos demais espaços da propriedade, como por exemplo: no pomar, no roçado, na horta, este conforto térmico é levado em conta. Cria-se microclimas adequados para que estas plantas possam realizar muito mais horas de fotossíntese? Ou as colocamos em locais não adequados suportando altas temperaturas que as fazem parar de fotossintetizar e depois queremos altas produções. Muito manejo errado é dado logo no início do preparo do terreno e do solo. Muitas tarefas ao invés de ajudarem no conforto térmico contribuem para o contrário, aumentando o desconforto. Vejamos algumas imagens deste manejo errado. 




Como vemos muitas das ações realizadas contribuem para o aumento do aquecimento primeiro local influenciando também o aquecimento global. 

Diante destas constatações vou apresentar algumas medidas que podem ajudar no manejo térmico das pequenas propriedades rurais. Para que este manejo aconteça é preciso ter mais algumas informações que vão ajudar imensamente na adequação o que se esta fazendo. 

Trabalhar com os elementos do clima nas construções e nas zonas de plantio é preciso antes ser definidas estratégias para a montagem dos sistemas produtivos. Precisamos conhecer os setores da nossa propriedade, identificar quais as energias, que vêm de fora da propriedade e que entram sem nenhum controle. Na Permacultura setorização é justamente esta tentativa de identificar ao máximo de qual lado ou setor da propriedade estão vindos os mais variados tipos de energia, como por exemplo: de onde vêm os ventos, a chuva, o barulho e até o lado que vem o fogo, quando se têm vizinhos que utilizam esta prática antiambiental no preparo da área para o plantio. 


Não podemos esquecer que o clima é o fator primordial, primário e determinante da vegetação local. O clima é afetado diretamente pela ação dos ventos, da precipitação (água) e pela radiação solar (raios do sol). A interação entre estes três componentes criam as diversidades dos climas. Cada um desses componentes de clima interage um com o outro o tempo todo e muda em impacto e intensidade de força. Em determinadas circunstâncias um pode ser mais destrutivo que outro. O clima segue padrões cíclicos sempre se repetindo, precisam-se conhecer estes padrões e a partir deles podemos mudar o local onde se pretende criar um design. O manejo da radiação, em energia de luz e outras formas possíveis, podem ajudar a modificar alguns extremos de calor e frio. 

A tarefa ética Permacultural que precisamos assumir diante de situações climáticas deve ser a seguinte: 

· Assegurar a estabilidade climática; 
· Reduzir a poluição da atmosfera. 

E como tarefa operacional quando desenhamos nossos agroecossistemas: 

1. Planejar a modificação dos extremos de temperatura dos ambientes onde convivemos e atuamos; 
2. Criar estratégias de reduzir o risco de uma baixa na safra dos animais e dos cultivos; 
3. Identificar animais e plantas e formas de construção apropriadas às regiões climáticas onde estamos e atuamos; 
4. Selecionar quais os elementos do clima que vamos trabalhar, para fazer as mudanças necessárias; 
5. Evitar ou saber conviver com secas, enchentes e outros desastres ambientais que possam ocorrer. 
6. Ser mais eficientes no uso das energias que existem nos ambientes que estamos atuando. 

Outros fatores locais também influenciam muito nas diversidades climáticas: 

· A Topografia local; 
· Os tipos de Solos; 
· A presença de corpos d água; 
· Estruturas artificiais, como paredes, casas, ou qualquer outra estrutura; 
· Tipo da vegetação. 

A compreensão da função destes elementos e dos elementos climáticos e seu manejo vão ser as ferramentas primordiais para a criação dos microclimas necessários para os ambientes que precisamos montar. 

CONHECENDO MAIS OS ELEMENTOS DO CLIMA 

PRECIPITAÇÃO – Fazem parte deste elemento a chuva, a neve, a neblina, o granizo, o orvalho e a geada. 


Estas formas de precipitação passam normalmente por dois processos que são muito utilizados por nós permacultores na projeção de benefícios estratégicos para nossos designs que são a CONDENSAÇÃO e a EVAPORAÇÃO. Com o conhecimento e o controle destes processos naturais podemos usar na: 

· Projeção de estruturas que controlam a temperatura; 
· Selecionar tecnologias apropriadas para aquecimento e não aquecimento (refrigeração); 
· Reter água nos solos e nos açudes, barreiros, barragens, etc. 

Identificar os padrões e os momentos e as condições favoráveis da precipitação nos ajudam a projetar e planejar nossas produções e os espaços onde elas vão ser cultivadas. 

VENTO 

Estão sempre presentes momentaneamente em todos os espaços, desde que as estruturas e as condições sejam favoráveis. A maioria tem padrões razoavelmente previsíveis, embora que atualmente com o aquecimento global estes estão sendo alterados. É uma energia que precisa ser mais compreendida e utilizada, pois tem capacidade de fazer grandes alterações climáticas nos ambientes projetados. Sua presença e intensidade podem fazer a diferença dos ambientes. O entendimento destes padrões lhes ajudará a: 

· Capturar a energia do vento para gerar eletricidade. 
· Projetar casas e ambientes que aproveitem ou reduzam o impacto do vento. 
· Plantar quebras-ventos para proteger outras plantas e os animais. 

Não podemos esquecer que o homem é capaz de alterar rapidamente a paisagem, logo também somos capazes de alterar o clima criando espaços mais confortáveis para as plantas, os seres humanos e animais. 


RADIAÇÃO 

A grande maioria da radiação é projetada pelo astro rei o sol. Parte de toda energia provinda deste astro pode ser absorvida pelas plantas, pelo solo, pela água e pelos animais. Energia esta necessária para a sobrevivência destes seres. Porém sua intensidade sem um controle necessário pode criar problemas, como também sua falta ou escassez. 

Quando esta energia é captada pode ser de grande ajuda para aquecer elementos, água, entre outros corpos e ambientes. Esta energia precisa ser mais entendida, captada, absorvida, armazenada e utilizada, para criar conforto térmico, atendendo as necessidades projetadas. 

Parte desta energia distribuída pelo sol é absorvida pelas plantas para a realização da fotossíntese. A realização da fotossíntese é responsável pelo resultado produtivos das plantas. Planta que não consegue fotossintetizar bem não responde satisfatoriamente bem em produção. Tanto o excesso quanto a escassez pode comprometer na fotossíntese. 

A luz absorvida pelas plantas tem efeito resfriador do ambiente, logo a retirada da vegetação dos ambientes é responsável pelo aumento da temperatura. Logo o desmatamento é um dos grandes vilões para o aumento do aquecimento local e global. 

Nas regiões tropicais a grande presença das folhas verdes escuro é responsável pela grande parte da absorção do total da radiação tornando os ambientes mais confortáveis. Sem a presença desta grande quantidade de folhas o ambiente torna-se insuportável, e o conforto térmico diminui sensivelmente. 

Elementos que tem cor escura também têm um poder de fazer grandes absorções de radiação através da absorção destes raios, podendo mais tarde irradiar esta radiação absorvida em forma de calor. Este conhecimento pode ajudar muito na projeção de ambientes, onde se precisa aquecer ou esfriar. 

Finalmente precisamos entender também que a luz, consegue mudar o hábito das plantas. Onde há pouca luz, plantas crescem altas e finas fazendo um esforço de capturar mais luz. Onde a há luz abundante, elas tendem a ser redondas e muitas vezes de pequeno porte. Essa informação é muito importante ao planejar o espaçamento do plantio. 

CLIMATIZANDO AS ÁREAS PRODUTIVAS 

1. AGROFLORESTA – É uma forma de imitar os espaços naturais, onde a diversidade de plantas é estimulada a formar um design onde se cria ambientes com grande equilíbrio térmico para as plantas. Instaura-se um microclima que favorece ao equilíbrio para todas as funções necessárias para as plantas cultivadas. 


2. CLAREIRAS PRODUTIVAS – São espaços criados dentro da caatinga, ou da floresta imitando as estratégias utilizadas pelos indígenas. Eles abriam pequenas clareiras no meio da mata para fazer seus cultivos, e após a colheita à floresta cicatrizava a ferida aberta na natureza. Esta estratégia pegava carona no clima do ambiente já existente. 


3. AUMENTANDO ÁREAS DE SOMBRA – O poder refrescante de uma sombra tendo ainda de bônus uma brisa ventilando o ambiente é perfeito, traz um grande conforto térmico. Não só as pessoas e os animais necessitam desse conforto térmico, as plantas também. As áreas a serem cultivadas devem ser projetadas levando em conta esta necessidade. Este procedimento tecnológico vai exigir um bom controle no jogo de luz do ambiente projetado. A distribuição das árvores que irão fazer sombras na área a ser plantada deve ser um procedimento bem anterior ao plantio, para que pós-crescidas possam contribuir com sua sombra. 



4. PLANTIO EM FAIXAS – Conhecida também como plantio em Aléia. Esta estratégia de plantio protege os cultivos menores do vento, como também cria um microclima diferenciado, permitindo um ambiente com mais conforto térmico para todos os cultivos. As aléias são faixas imitando uma avenida sempre seguindo o nível do terreno. São plantadas faixa de árvores e entre elas plantam-se os cultivos menores. 


5. BARREIROS DE INFILTRAÇÃO – É uma estratégia que aumenta a quantidade de água no solo. Esta água é captada, armazenada na bacia de captação deste barreiro e com o passar do tempo parte desta água infiltra-se aumentando a umidade da área. A principal função desta tecnologia deve ser a captação e infiltração de água nas partes mais altas do terreno. Quanto mais água capta e permite infiltração mais ele estará cumprindo seu serviço ambiental e produtivo. Esta umidade interior do solo permite o crescimento dos cultivos como também propicia a criação de um microclima adequado para o desenvolvimento satisfatório das plantas. 


6. TRABALHANDO A ESTRATÉGIA DO ASPECTO – É a direção para qual uma encosta está orientada e é caracterizado pela quantidade de radiação solar que recebe durante todo o dia. O aspecto, afeta diretamente na seleção das espécies de plantas e animais de uma ambiente. 

Algumas plantas preferem aspectos orientais (sol da manhã), outras preferem aspectos mais ocidentais e quentes. Estas informações precisam ser levadas em conta no planejamento do design da área que se vai projetar. A escolha correta do aspecto para a cultura influi diretamente no desenvolvimento da mesma, pois a incidência direta no sol em determinado momento do dia pode fazer a diferença. 


Como se percebe existem muitas estratégias tecnológicas para a criação de microclimas onde o ambiente gere conforto térmico para todos os seres. O ambiente mais quente pode se tornar mais ameno, e no mais frio podemos aquecer, manejando os próprios recursos naturais. O captar e armazenar água, coletar e reter calor e luz, plantar dentro ou fora dos bosques, concentrar ou reduzir os ventos, são todas estratégias que podem ser utilizadas na criação de microclimas. 

As grandes ferramentas são o vento, a água, e os raios do sol, aprenda a manejá-los. Use estas energias que a natureza nos doou, e tire os benefícios necessários. Não deixe que este texto seja a única fonte de informação, pesquise mais, investigue e monte os microclimas necessários. 

04 de junho de 2012

2 comentários:

  1. Adorei! Muito didático o artigo, muito útil.

    Marisa

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  2. Tbm gostei muito destas informações, não sou da área, mas acho que as Prefeituras deveriam utilizar esses conceitos para criarem microclimas em suas cidades, melhorando assim o clima e quem sabe, consequentemente chegar num ponto que dependendo do nível de alcance, pudessem alterar todo o clima do nosso pais, que neste momento passa por uma terrível crise gerada pelo uso inconsequente de nossos recursos naturais.

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