Antônio Roberto Mendes Pereira
A maioria do tempo dedicado ao trabalho nas pequenas, médias e grandes propriedades está dedicada à geração de recursos financeiros para manter as necessidades econômicas da família. A moeda da sobrevivência e da qualidade de vida está centrada no R$. O ganho desta moeda é visto e reconhecido como o facilitador para a compra e a manutenção de todas as necessidades da maioria das famílias.
O sertão atualmente vem sofrendo uma grande seca, que não devia ser algo novo, já que faz parte fenomenológica desta área, mas para muitos se repete a preocupação, como se fosse algo novo, inesperado, onde não é verdade. Já devíamos ter nos acostumado, já devíamos ter aprendido a viver com este fenômeno natural que acontece nesta região. Porém, muitos habitantes desta área principalmente das pequenas propriedades rurais atualmente estão sofrendo crises econômicas e do maior recurso de sobrevivência e de produção “ÁGUA”.
Este texto é muito pretensioso, ele quer elucidar estratégias e formas de diminuir os custos econômicos de manutenção da vida das pessoas e das plantas e dos animais, aumentando a produção e atendendo as necessidades com produtos oriundos e produzidos internamente nas pequenas propriedades rurais. O que podemos produzir e não comprar, este é o foco deste texto.
PENSANDO E COMPREENDENDO A ESTRATÉGIA
Na permacultura o zoneamento pode ajudar muito nesta estratégia de diminuição de gastos ou custos. O maior gasto que se tem em uma propriedade é com a energia para manter as atividades e as necessidades atendidas de forma permanente.
Todas as zonas (0, 1, 2, 3, 4, 5) têm seu grau de importância, que gera recursos para o meio e para a família. Porém, as zonas onde podemos atuar diretamente na economia de custos são nas zonas, 0, 1, 2 e 3.
Na casa que é o centro das atividades, podemos diminuir muito as necessidades de comprar ou pagar, por exemplo:
· Para cozinhar podemos utilizar fogão solares, biodigestor, fornos solares. A diminuição de gastos com a compra do GLP e outros desaparecem.
· Para aquecer e purificar água pode disponibilizar de aquecedores de água os mais diversos. Além de sistemas de purificação como o sodis e destiladores que tem como fonte de energia o sol.
· Para gelar ou refrigerar podemos utilizar a geladeira de barro (pot in pot), onde podemos conservar quase todos os alimentos in natura, como frutas, verduras e dizem que até carne ela consegue conservar (porém, ainda não experimentei).
· Para clarear, podemos utilizar a lâmpada de garrafa pet e para noite pode-se utilizar o gerador de energia de bicicleta onde com alguns minutos de exercícios físicos consegue-se acumular energia em bateria para algumas horas de uso nos mais variados eletrodomésticos ou até lâmpadas, tomadas de força entre outros.
· Para ventilar pode-se aprender a canalizar vento, através de captadores feitos no alto ou no baixo, onde o vento e a brisa podem melhorar o conforto térmico da casa. Utilizar esta fonte de energia pode significar uma economia grande de recursos financeiros. Temos de graça esta energia e o que precisamos apenas é aprender como lidar e controlar e direcionar ela para onde temos as necessidades a serem atendidas.
Os mecanismos de captação podem ser do simples ao sofisticado, do barato ao caro, a escolha é sua. Mas, não deixe de utilizar esta fonte de energia que nos é oferecida todos os dias gratuitamente.
· Para pintar a casa podemos utilizar tintas de terra com corantes de várias plantas para mudar tonalidades e cores.
· Para impermeabilizar podemos utilizar a baba da palma, que é um polímero natural de ótima aplicação e resultados. Pode-se utilizar esta mistura para impermeabilizar tanques, cisternas, lajes, paredes entre outros.
· Para construir a casa ou alguns compartimentos extras podemos utilizar a bioconstrução com uma infinidade de técnicas como: adobe, super adobe, COB, taipa de pilão, terra compactada, ate construção de estruturas feitas de geodésica.
· Para acumular água podemos fazer cisternas de ferro cimento, lagos de tela cimento, ou plastos.
· Na confecção de móveis podem-se utilizar também técnicas de bioconstrução como o COB, adobe, super adobe e plastos. Pias pré-moldadas podem ser confeccionadas também com plastos ou até ferro cimento.
· Para espantar pernilongos podemos utilizar as cascas de laranja, que possui ácido cítrico que tem o poder de afugentar alguns tipos de insetos. Podemos utilizar o equipamento elétrico substituindo as pastilhas químicas por pedaços de casca de laranja ou limão cortado no mesmo formato das pastilhas.
A casca de laranja comum contém um dos elementos o ácido cítrico que é usado na conservação de alimentos e também pode ser utilizado para afastar mosquitos. Além de espantar mesmo a maioria dos mosquitos e pernilongos, deixa um suave aroma de laranja no ambiente e a certeza de que você não está colocando nenhum componente químico artificial no ar de sua casa.
· Para processar alimentos, podemos utilizar a energia mecânica produzida pela força humana aplicada a uma bicicleta adaptada para executar algumas tarefas. O processar, misturar, mexer, moer podem tranquilamente dispensar a energia elétrica pela energia mecânico-humana. Esta tarefa pode ser executada agregada a outro serviço: o exercício físico, a malhação além de sarar o corpo pode também executar outros serviços concomitantemente.
· Para limpar, desinfetar utensílios e objetos de forma menos agressivas ao meio ambiente, pode-se utilizar detergentes, sabões e desinfetantes ecológicos, produzidos com substâncias botânicas. Uma limpeza ecológica é realizada como um sistema que permite a utilização de métodos e produtos amigos do ambiente, que pouco deve poluir. A melhor maneira está na escolha dos produtos e equipamentos que vai ser utilizado para a realização desta limpeza, o gasto com energia, e o uso de elementos inorgânicos devem ser muito bem pensado e escolhido. O uso de soluções mais naturais e econômicas é a lógica que precisa ser levada em consideração. Depende de nós, diminuirmos a quantidade de elementos tóxicos que chegam às águas, ao ar e ao solo, através dos ralos das nossas cozinhas e dos nossos banhos e lavagem de roupas, e também do ar da nossa própria casa.
· Gerando energia elétrica – É uma das grandes necessidades de muitas propriedades rurais. A distância da civilização às vezes é medida pela falta da energia elétrica. Esta energia provoca comodidade, o apertar um interruptor pode fazer a diferença no permanecer ou não na zona rural. Muitas tarefas podem ser executadas por máquinas que facilitam muito a vida das famílias. Em muitas atividades produtivas o ter ou não ter pode significar maior rentabilidade ou não. O ventilar, o refrigerar, o acender pode em pequena escala ser atendido por equipamentos que geram a produção de parte da energia necessária para uma residência. Mas uma vez a bicicleta pode desempenhar esta função atrelada a força da malhação humana.
OUTRAS ESTRATÉGIAS DE ECONOMIA LOCAL
DO PRÓXIMO PARA O LONGE – Tudo mais distante normalmente se gasta mais. O ir, o vir, o levar o trazer, são tarefas que quando realizadas em grandes distâncias aumentam muitos as despesas. Uma boa estratégia que pode ajudar muito na economia local é trazendo a produção para o mais próximo de casa possível. Plantar o que se come o mais perto de casa possível deve ser uma das estratégias. Na Permacultura a zona 01 é a área que deve ser dedicada a se tornar o supermercado da família, onde o alimento do consumo de casa deve ser produzido ao máximo nesta área. Ter as necessidades básicas atendidas sem precisar se comprar faz uma diferença fantástica e muito significativa na economia financeira da família.
SÓ PLANTAR O QUE DÁ PARA CUIDAR – Normalmente a intenção de plantar transcende a quantidade de mão de obra e de tempo que se tem, gerando perdas e consequentemente baixas na produção e na rentabilidade da atividade. Dimensionar corretamente o que se quer cultivar ou criar levando em consideração a disponibilidade de mão de obra, de insumos e de tempo deve fazer parte do planejamento da produção. É comum encontrarmos atividades super dimensionadas na tentativa de fazer mais lucro, e sempre percebo que normalmente os resultados são negativos, precisamos montar estratégias de diminuir os riscos e não de aumentar.
UTILIZAR AO MÁXIMO O QUE SE TEM- Antes de comprar qualquer insumo verifique primeiro se existe outro elemento que possa atender a demanda sem ter que se comprar. Um dos princípios da permacultura é que cada elemento deve executar várias funções, logo, aplique este princípio e descubra ou identifique outros elementos que possa atender a demanda. Produto similar ou parecido e que desempenhe a função exigida é a estratégia pretendida.
CRIAR MANEJO DE MENOR INTERVENÇÃO – Qualquer intervenção que se faça no nível de cultivo ou criação, normalmente aumenta as despesas. Uma intervenção também na hora errada aumenta vertiginosamente os gastos principalmente com mão de obra. Por exemplo, tem muitos produtores que durante o cultivo do milho de inverno faz duas a três limpas, enquanto outros produtores mais atentos aos processos naturais já perceberam que uma capina em muitos casos é suficiente, não comprometendo o desempenho produtivo do cultivo e muito menos o retorno financeiro. A estratégia é a hora e o momento certo de aplicar o serviço.
AUMENTANDO A MISTURA DE PLANTAS - Quando se mistura as culturas aumenta-se a capacidade de lucratividade, pois dificilmente acontecerão prejuízos onde se perca tudo o que foi plantado. É uma garantia o plantio consorciado, além de economizar mão de obra, pois ao mesmo tempo em que manejo uma cultura estarei manejando todas ao mesmo tempo.
O aumento da rentabilidade e a diminuição das despesas internas de uma propriedade rural dependem em parte dos fenômenos da natureza e da ação planejada ou não do ser humano. Quando investimos tempo e energia no planejamento diminuímos os riscos. Utilizar os recursos que se tem no local é uma condição necessária para a busca da sustentabilidade das propriedades de modo geral. Trazer de fora não deve ser a postura de quem quer criar um ambiente equilibrado e que não deixe de ter por falta de dinheiro.
10 de junho de 2012
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