Antônio Roberto Mendes Pereira
Aprender Permacultura sem praticar é uma equação de difícil
resolução, o resultado não será satisfatório, logo, matematicamente, é
impossível resolver uma equação como esta, e profissionalmente é
desqualificante e pobre. Aprender lendo jamais será igual ao aprender fazendo.
Fazendo é que se aprende |
Na antiguidade para se aprender
uma profissão era necessário passar pelas mãos de um mestre artesão, ele era a
referência, a experiência e a sabedoria naquele ofício. Os pais tinham a
preocupação não unicamente de levar o seu filho para aprender, mas entregava
seus filhos para estes artesões mestres durante certo período, onde toda sua
experiência era transmitida através da operacionalização daquela arte, o jovem
vivenciava no dia a dia do atelier as aprendizagens. Levava-se muito tempo para
preparar um profissional com a qualidade igual ou superior a dos seus mestres.
O fazer predominava sobre o saber. Ter os ensinamentos na
ponta da língua, ou como se diz, memorizado não bastava. Demonstrava-se que
aprendera o conhecimento, fazendo, executando. É claro que o saber era
importante, mas a única maneira de comprovar que sabia era assumindo o saber
FAZENDO, este era o desafio da aprendizagem e da comprovação real.
A “aprendizagem profissional” da época precisava desenvolver
muito bem os conteúdos procedimentais, e a incorporação destes saberes eram
sentidas através das atitudes permanentes do fazer. A atitude do continuar
fazendo com qualidade, com destreza, com cidadania era a comprovação de que o
profissional se misturara ao educador, com o cidadão preocupado em fazer bem
feito e que todos pudessem desfrutar deste serviço.
Não existia o
livro para ensinar, a aprendizagem acontecia no treinar, fazer, no praticar, na
oportunidade de exercitar. E este tipo de ensino e aprendizagem perdurou por
várias centenas de anos. Muitos dos melhores artesões em vários ofícios são da
antiguidade, não querendo descriminar ou menosprezar os atuais, mas os antigos
são de uma estirpe diferente, foram mais detalhistas, sempre buscaram a
perfeição no que estava fazendo e ensinando. Aprenderam executando, resolvendo
dificuldades das realidades vividas na sua época.
Os saberes deste período eram perceptivos, motores, podia-se
sentir e apreciar a aprendizagem na prática. O fazer era sempre motivado na
época a partir de um contexto. É bom elucidar que nem sempre a teoria gera
contexto prático. Quando aprendemos a partir do contexto, temos uma
aprendizagem significativa e funcional. Reconheço para que realidade ou
situação esteja executando meu ofício.
Com a invenção da imprensa o método da aprendizagem foi
levado à mudança. A imprensa conseguiu transformar radicalmente esta
aprendizagem centrada no aprender fazendo. Com a impressão dos livros os
conhecimentos puderam ser escritos e todo mundo teve a oportunidade de ter
acesso aquela aprendizagem especifica. Mesmo sem ir à escola, ou ao o mestre, posso
ter acesso a um livro que me ensina o como fazer. O teórico simbólico entra em
ação e o abstrato passa para ser imagem virtual. Esta aprendizagem não é
praticada, entra em um estágio de simulação abstrata, é operacionalizada na
mente, acho que sei por que li simulei e memorizei. A simulação passa por cima
do fazer prático, da resolução real, de vera como normalmente falamos. Quantas
pessoas se formam sem nunca ter feito, tocado, provado determinados conhecimentos.
A modernidade optou não pelo fazer, pelo praticar, mas pelo
simular de forma virtual. Não sei até onde este tipo de aprendizagem pode
formar profissionais competentes? Uma prova inconteste de que este sistema foi
adotado, é que até a forma como são avaliados os alunos é através da
explicitação do saber, e raras ou nunca são cobrados os procedimentos (faça
para que eu veja). O próprio vestibular é inconteste em relação a isto,
utiliza-se das mesmas ferramentas de comprovação.
Avaliar pelo saber prático pela experiência do vivenciar, do
fazer é pouco valorizado, ou melhor, é pouco utilizado. Até parece que estamos
treinando pessoas para parecer que sabe, coloco parecer, pois competência se
consegue quando se sabe, quando sabe fazer e agi como tal.
A escola moderna é quase que totalmente simulação de
aprendizagem. Muitas pessoas falam: “estudou tanto e não sabe faze nada”. É uma
frase muito utilizada por muitos, querendo nos dizer de forma indireta que esta
pessoa não sabe fazer o que diz que aprendeu. E ainda depois de tudo lhe dão um
diploma que lhe dar um titulo de profissional naquele oficio, legitimando um
fazer que ele não saiba fazer. Pode-se perceber que este método quando
comparado com o anterior é de qualidade inferior, pois mesmo quem esta distante
pode acessar este tipo de informação.
Não é a toa que as empresas ao necessitar contratar
funcionários pedem anos de experiência, e as escolas de formação ainda não
incorporaram que um profissional é formado através não só da teoria, mas da praticação
constante. Posso errar quando estou aprendendo, mas errar prestando um serviço
é complicado. Imagine um erro médico!
Muitos profissionais quando saem da universidade sentem muita
dificuldade, tem muita teoria, mas pode não saber bater um prego. Parece até
que a escola atual é mais som que significado. É uma escola puramente narrativa
e de pouca ação, de pouco fazer, de pouca transformação.
O computador é o triunfo do método simbólico, da simulação.
Posso simular quase tudo. Existem programas onde se podem simular muitas
situações de forma virtual. O erro não me custa nada, é pura simulação, posso
errar quantas vezes quiser. Imagine agora uma aprendizagem onde o método seja
educação a distancia, a abstração e o simbolismo são uma das grandes
ferramentas para se dá a aprendizagem sem o fazer real. Não sou contra a EAD
(educação à distância) ou qualquer outra forma onde a abstração e a simulação
sejam as ferramentas da aprendizagem, mas, acho que se aprende muito mais
fazendo, praticando, e resolvendo problemas reais das comunidades onde estamos
convivendo.
O desafio deve ser a chave e a motivação para uma
aprendizagem procedimental. Os problemas até parecem que existem para servirem
de provocações permanentes para a aprendizagem, pois nunca se acabam, sempre
surgem novos como uma nova oportunidade para se aprender o novo, o inovador, o
inusitado. Será que é errado pensar que os problemas são dádivas pedagógicas,
para uma nova aprendizagem?
Se são, o que devo fazer para que estes problemas sejam
utilizados como ferramenta de aprendizagem?
Em vários momentos da minha vida percebi que os maiores
problemas que enfrentei foram os momentos onde mais aprendi realmente. Pois
estes problemas me tiraram até o sono, passando momentos em claro, pensando,
refletindo, montando estratégias de resolução, e isto me fez aprender muito.
Aprender a partir de, e não aprender por aprender, para meramente aumentar meus
conhecimentos. Sei também que quanto mais informações se têm, mais condições de
tomada de decisão vão ter, mas, se aprende melhor tomando decisões a partir de
problemas reais, constantes e vivencias e não hipotéticos.
O ser humano tem mania de querer apressar as coisas, eles
têm que impor seu tempo e não o tempo da natureza das coisas e dos elementos.
Na educação o processo também acontece. Quer-se ensinar o máximo de conhecimento
quanto mais cedo melhor. A criança é bombardeada de informações em um curto
espaço de tempo se alegando que é o momento onde a criança mais aprende por que
os neurônios estão aumentando suas conexões e não se pode perder esta
oportunidade biológica. Além de se selecionar os conteúdos e sua quantidade
ainda achamos por bem separar as aprendizagens em pedaços e momentos, não
passando a idéia do todo. As disciplinas são sectárias e não passam para as
crianças idéia de todo, só se vê as partes, mas depois lhe cobram tudo de uma
vez.
Aprendizagem individual |
Aprendizagem coletiva |
Um filho de um agricultor quando vai aprender criar porco, o
pai não separa em disciplinas, ele simplesmente ensina, praticando, fazendo
assumindo tarefas das mais simples inicialmente, até as mais complicadas como,
por exemplo: manejar toda a pocilga. É praticando que se aprende, mas parece
que para a escola este tipo de aprendizagem é demorado, tem custos elevados, dá
trabalho, e exige uma infraestrutura de espaço e equipamento para fazê-lo. Será
que estes argumentos são fundamentais para negligenciar os procedimentos?
No SERTA entidade na
qual trabalho os procedimentos e as atitudes transcende o saber. Em todos os
momentos somos desafiados a resolver problemas interno e externo, hora
educacional, hora político, hora pessoal, hora tecnológico, mas sempre somos e
vivemos para encontrar formas, saídas, sugestões de resolução. Esta forma de
aprender transcende a uma única disciplina. São provocativos para a
interdisciplinaridade e em alguns momentos interdimensionais. É outro viés
pedagógico de se trabalhar, a partir das situações problemas. Ele nos remete a novos âmbitos pedagógicos.
Como foi percebido não dá para unicamente ler sobre
Permacultura é necessário praticar. Inicie a prática em pequenos espaços quer
seja no campo, na cidade, no terraço ou até no jardim. Um pequeno jardim pode
ser um espaço interessante para aprender a produzir parte do seu próprio
alimento, economizar energia, reciclar materiais orgânicos ou até captar a água
das chuvas.
Assim ti convido a não ficar parado! Levante-se! E faça algo
para melhorar a qualidade de vida das pessoas, do ambiente, e porque não dizer do
planeta. E como diz Piaget “O erro é o caminho para o acerto”.
a permacultura é o suficiente para um planeta melhor e mais saúdavel!!!
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