sexta-feira, fevereiro 8

A importância dos elementos fixos e móveis em uma floresta

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Uma floresta é algo inexplicável, magnífico, fantástico, não existe adjetivo super relativo que consiga demonstrar as qualidades e funções inerentes de uma floresta. Não se consegue medir e muito menos avaliar este espaço. A diversidade que este espaço consegue ter é algo que transcende a compreensão de sustentabilidade. E com a sua retirada não se consegue também mensurar as perdas irreparáveis ao meio. 


As conexões existentes neste espaço também não se conseguem mensurar, descrever, estipular onde se inicia uma, onde termina outra e onde se mistura com os demais elementos. Os limites internos de conexões são quase imperceptíveis. A mistura de tudo e de todos não só acontece com os seres vivos, cria-se uma interação entre os elementos vivos e não vivos, entre os elementos e as estruturas. 

Os benefícios oferecidos e depois consolidados por este emaranhado de vida são inúmeros e fantásticos, e vão desde: 

· Manutenção e abastecimento de água pura nos rios, lagos, córregos, barragens, entre outros corpos de água; 
· Preservação dos solos e sua fertilidade; 
· Estabilização dos climas; 
· Manutenção de todas as formas de vida; 
· Reduz o calor refletido do solo; 
· Renovação e qualidade do ar que respiramos; 
· Captura de carbono; 
· Ciclagem de toda matéria orgânica produzida pelo sistema. 

PRESSUPOSTOS CIENTÍFICOS, PRAGMÁTICOS E INTUITIVOS SOBRE OS ELEMENTOS FIXOS E MÓVEIS DE UMA FLORESTA 

Os vegetais são os elementos fixos de uma floresta, a locomoção se dá unicamente pela capacidade do crescimento vegetativo, radicular e apical. A capacidade de explorar novos espaços acontece através da busca incessante por nutrientes, água e luz. Este crescimento acontece desde a germinação até a sua morte. 

Independente do tamanho os elementos fixos executam uma infinidade de funções que servem a ela própria como também a toda coletividade do sistema. Na sua maioria exercem mais funções coletivas do que individuais. 

Os pássaros, fungos, bactérias, macacos, insetos, gambás entre outros são os elementos móveis da floresta. Estes precisam estar permanentemente em parceria, ou melhor, consorciados com os elementos fixos. Quanto maior o nível desse consórcio, mais sustentável e equilibrado está este ambiente natural. A floresta ou a mata como também é chamada oferece habitat, proteção, alimento e água para quase todos os elementos móveis. E não podemos esquecer que quanto mais densa e diversificada for este ambiente mais vida pode ser sustentada por este meio. 

Os extratos da floresta conhecido na Permacultura como os andares, abrigam fauna e flora especifica. Melhor explicando, cada andar da mata consegue alimentar e abrigar uma determinada fauna e flora. O entrelaçamento das copas aumenta e facilita o tráfego dessa fauna como também facilita a captura dos alimentos dessa fauna, mas por outro lado também ajuda no equilíbrio das espécies através da facilidade da predação. 


Esta parte móvel também realiza várias funções para esta flora fixa, realiza polinização, dispersão das sementes, poda, adubação e em alguns casos facilita o cultivo de muitas espécies. É como se fosse uma contrapartida por todos os serviços prestados pelos elementos fixos. 

O comportamento diferenciado das florestas está diretamente ligado a idade desta floresta. Florestas antigas normalmente são muito mais estáveis e equilibradas, e conseguem doar, ou melhor, devolver ao ambiente 25% delas permanentemente através de nutrientes em forma de folhas, raízes, sementes e flores. Logo, quanto mais nova for à floresta menos devolução acontece. 

Florestas ainda novas são grandes consumidoras de nutrientes, doam quase nada ao solo para ajudar a segurar outras plantas. Os nutrientes estão presentes na composição da biomassa das copas das plantas, mais ainda pouco disponível para a manutenção de outras. Somente com o crescimento, a diversificação e o aumento da idade é que este equilíbrio dinâmico chega a alcançar o estágio de clímax. 

O surgimento ou germinação de cada uma nova espécie leva este ambiente a um novo equilíbrio. Logo, o equilíbrio de uma floresta é sempre dinâmico e nunca estático ou repetitivo. 


Muitas interações acontecem para a manutenção do ambiente, não param de acontecer. São instantâneas, aleatórias e sempre estão em um novo estágio. 

Se a floresta pode ser vista e entendida como um organismo vivo as células que compõe este organismo seriam as árvores. Com certeza estas células deixam cair durante toda sua vida várias vezes seu peso em matéria orgânica. São verdadeiras máquinas da engenharia natural. Não importa o tamanho, podem ser folhas minúsculas ou enormes, todas desempenham seu papel com perfeição ininterrupta. 

O interessante é que cada ser por menor que seja são mini ou macro ecossistemas e todas as suas partes também são micro ecossistemas que se interligam com os demais formando um ecossistema sempre mais complexo e completo. Precisamos ver os ecossistemas sempre dentro de outro ecossistema, é um emaranhado de componentes de vida que geram vida de forma permanente. Precisamos revisitar nossos conceitos de vida isolada, pois nenhuma vida ISOLADA conseguiria se manter viva. 



Sem os elementos móveis ficaria complicado o deslocamento da energia através dos ciclos de maneira contínua. Cada novo ciclo que se cria ou que se formam mais sustentabilidade é instaurado. As perturbações também acontecem de forma constante, sem elas as novas estabilidades não seriam geradas. Todo ecossistema precisa ser resistente e resiliente, sem a resiliência a flexibilidade não existiria. 

Além da energia da biomassa muitas outras energias se encontram presente nas florestas, o vento, a energia solar irradiada e difusa, além da entropia gerada pela perda de energia dos corpos vivos que habitam este meio. Todas estas energias também são todas utilizadas de forma eficaz e eficiente não permitindo desperdício e desuso. Nas nossas propriedades sempre produzimos perdas e em muitos casos não sabemos como reaproveitar, ou melhor, reutilizar. Mas um motivo para que possamos observar mais os ecossistemas naturais buscando aprender como ele. Aprendizagens estas que nos levam a entender como este sistema faz para manter suas realizações e manutenções equilibradas de forma constante. 

A mistura entre o velho e o recém germinado ou nascido, entre o maduro e o em formação torna o ambiente rico e cheio de alternativas e soluções. Onde cada elemento é responsável pela execução de várias funções e onde também cada função importante é assumida por vários elementos, aumentando a capacidade de flexibilidade e sustentabilidade do ambiente. Se por acaso algum elemento sumir do ecossistema, suas funções são logo assumidas por outros não permitindo a descontinuidade e o desaparecimento de uma infinidade de seres que dependem daquela função. 

TAREFAS QUE ACONTECEM ESPONTANEAMENTE NOS ECOSSISTEMAS NATURAIS 

Para que os ecossistemas possam se desenvolver é necessário que várias tarefas possam ser executadas pelos seus componentes vivos e não vivos. A execução destas tarefas permite que os elementos fixos possam se desenvolver de forma exuberante, viçosa e sadia. Estas tarefas precisam ser reproduzidas nos ecossistemas CULTIVADOS (roçados ou plantios) por nós agricultores agroecológicos. Tarefas como: 

· Semear; 
· Distribuir; 
· Fertilizar; 
· Cobrir; 
· Proteger; 
· Irrigar; 
· Podar; 
· Aniquilar; 
· Reproduzir; 
· Diminuir; 
· Controlar; 
· Colher; 
· Armazenar; 
· perpetuar 

Todas estas tarefas e muitas outras são executadas diariamente pelos elementos vivos da floresta. A realização destas permite que todo ecossistema permaneça ativo, produtivo e exuberante. Se estas tarefas fossem realizadas nos ecossistemas cultivados da mesma forma que acontecem nos ecossistemas naturais, com certeza teríamos produções permanentes com menos gastos de energia e consequetemente também menos insumos vindos de fora. Porém, na sua maioria boa parte destas tarefas é executada (até porque são necessárias para se ter produção), mas na maioria das vezes são realizadas através do uso de máquinas (arados, plantadeiras, pulverizadores. etc.) ou do uso de insumos químicos (agrotóxicos, adubos sintéticos, etc.). 

Porém, o sistema de produção centrado no uso da monocultura e em plantios em grandes extensões de terra além do uso de insumos químicos termina por ser a prática mais utilizada pela maioria dos produtores rurais. Repensar este sistema de produção adequando-se a esta diferente e sustentável forma de praticar agricultura é a forma que se quer propagar, tornando a mesma a predominante. 




08 de fevereiro de 2013


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