Antônio Roberto Mendes Pereira
O número de
pessoas que produzem alimentos no mundo vem diminuindo. As luzes da cidade a cada
dia vêm encantando e atraindo os moradores do campo. A saída do campo e a nova
moradia na cidade causam grandes transtornos na vida destas pessoas. A cultura
do produzir alimento vai sendo esquecida e trocada pela cultura do comprar. Na
qualidade da alimentação dos camponeses migrados do campo, a uma perda
irreparável, diminui muitas vezes em quantidade, qualidade e na facilidade do
poder ter, ou melhor, do poder comprar. Na qualidade da vida também tem perdas
irreparáveis, perdas estas que o espaço urbano não consegue atender, nem
ofertar. Assim para alguns a troca já não foi ou é tão boa como se pensava. Outros
indicadores de vida saudável são perdidos como: a qualidade do ar, da água, do
espaço como um todo, além das paisagens que antes era natural, no quintal, logo
a frente da casa, no campo, no jardim, mas não menos importante e belo, estava
ali pertinho e podia-se contemplar apreciar, produzir, dividir, cuidar, ter
prazer sem ter que pagar para ver, e sentir, o cheiro da chuva na terra
molhada, o canto dos pássaros ao amanhecer e o
perfume das plantas que faz bem
a qualquer ser.
E muitos ex-agricultores quando se dão conta desta perda
tentam retornar ao campo, mas, muitos por ter vendido o seu pedaço de terra
tentam compensar estas perdas tornando-se agricultores urbanos que praticam a
AGRICULTURA DE LUGAR, (este conceito mais adiante é explicado) como uma forma
de compensar esta perda quase que irremediável.
A vontade de voltar a produzir torna muitos ex-agricultores
em egressos da prática em agricultura, buscando aproveitar todo espaço livre
que possa ter acesso para voltar a produzir alimento. Uns como hobbies, outros
por necessidade de complementação alimentar, outro, como fonte de geração de
renda para prover parte da dieta da família.
Um quintal, um terreno baldio, até em calçadas e praças, a
cultura torna-se maior e imperiosa do que a falta de espaço. Até em latas, caixotes
esta vontade é atendida, o pensamento é um só, voltar a produzir de forma
constante e agora para atender principalmente a necessidade da família e em
alguns momentos presentear os vizinhos com a intenção de criar vínculos e amizades.
o lado imagem da adaptação de uma calçada para a produção de
alimento no Serta Glória do Goitá.
A terra precisa ser fabricada, pois neste espaço em sua
maioria não existe solo e sim metralhas das construções deixando o solo
empobrecido de suas camadas estruturais. A compactação deste solo estará
presente, e este profissional que se aposentou volta à ativa com mais garra do
que antes. Agora motivado pela vontade de novamente produzir, de novamente
comer bem, de novamente ser dono do produzir e não do comprar e talvez agora
quem sabe do poder também vender.
No momento
do fabricar terra, este agricultor vai precisar produzir fertilidade através de
insumos que em tempos atrás, muitas vezes quando residia no campo nunca
valorizou, nunca deu valor. O mato, o lixo orgânico que antes era queimado agora
vira insumo de primeira qualidade para dar vida a uma terra que estava infértil
e em alguns casos até morta. Vai ter que aprender a fazer compostagem para
poder produzir os fertilizantes necessários para compensar a baixa riqueza do
solo.
A adubação é
um dos grandes entraves para a prática da agricultura urbana, pois a cada pé de
alface que se produz e se consome ou se vende, perde-se parte da fertilidade do
espaço que o produziu, caso não se recicle o resíduo produzido por este alface,
pós consumo (esterco).
A água que
escorria lá no solo do roçado e do telhado da casa no campo, agora tem outro
valor, necessita-se captar a mesma de todas as formas, pois utilizar água
potável, tratada na cidade é proibido, existe legislação que coíbe. Numa
situação desta as estruturas físicas da casa torna-se valorosa. Uma biqueira
torna-se um poço onde se pode captar água para armazenar. A criatividade surge
a partir da necessidade, tem um dito popular que diz na CRISE tire o “s” CRIE.
Esta mesma
lógica aplica-se também ao tamanho do espaço que se tem, se é pequeno
horizontalmente o que fazer para aumentar verticalmente? Daí surge à
necessidade de se praticar com criatividade a AGRICULTURA DE LUGAR. Que é um
jeito de fazer agricultura aproveitando-se ao máximo todos os espaços possíveis
para se cultivar e criar. Neste instante que se toma esta decisão de fazer
agricultura urbana e de lugar abre-se um espaço incrível para a criatividade.
Acontece uma
aprendizagem fantástica, surge um novo profissional das ciências agrárias. O
profissional especialista em produzir alimento em pequenos espaços, e em
espaços pequenos, utilizando os recursos locais, e sendo mais atento as
energias e benefícios oferecidos pela sabedoria da natureza. A professora que
não só ensina ela demonstra e mostra o como fazer.
AS
APRENDIZAGENS NECESSÁRIAS
·
Necessita-se
aprender como produzir conduzindo a luz para determinados espaços, pois sem luz
as plantas não conseguem fazer a fotossíntese. Planta que não recebe sol
suficiente estiola, fica taluda, com um aspecto feio, e de baixo valor
biológico, pois ela não conseguiu ter todas as suas necessidades atendidas. O
jogo da luz faz-se imperioso, precisam-se conhecer as necessidades diárias de
banho de sol das plantas.
·
Ele agora vai ter
que aprender selecionar as plantas pelo tamanho do espaço ou do recipiente que
esta planta irá ser cultivada. Deverá aprender utilizar a água da melhor forma
possível, não pode haver desperdício, têm que usar a mesma água várias vezes.
As posturas de sustentabilidade precisam ser vivenciadas, pois de outra forma o
insucesso da atividade ou até em alguns momentos hobby pode não ser bem
sucedido.
·
Vai ter que
aprender a utilizar um dos primeiros princípios da Permacultura “localização
relativa”, onde melhor localizar seus recipientes para a prática da agricultura
de lugar, levando em consideração a necessidade de cada planta por luz, por
espaço, nutriente e água para se desenvolver.
·
Vai
ter que aprender calcular o quanto de água as plantas bebem por dia. Quanto
será que um pé de alface consome de água por dia, no verão e no inverno? Esta
informação é preciosa para que se possa criar uma segurança no ter e no usar deste
recurso tão valioso.
.
A economia
doméstica é a base para a prática desta modalidade de agricultura. A matemática
do espaço deve estar em consonância com a matemática da necessidade familiar,
atrelada com a capacidade dos cultivos escolhidos, e da criatividade produtiva
da prática da agricultura de lugar. Se utilizar o espaço para mais um pé de
alface tomou espaço de outra variedade de cultivo. A matemática do uso espacial
vai ter que ser dominada para melhor ser praticada.
A agricultura urbana exige muito
planejamento e distribuição dos elementos inicialmente, é uma atividade onde
precisamos estar atento para que a energia recuperada seja igual ou maior do
que a energia aplicada. A elaboração de um mapa do terreno se faz necessário
para a melhor localização dos elementos que vão compor o sistema.
A área urbana é considerada um ecossistema altamente
insustentável, logo os desequilíbrios neste espaço chamado cidade é grande. Muitos
dos insetos que ali existem são pragas, em muitos casos sem a presença dos seus
inimigos naturais ou controladores.
Desta forma, a prática da agricultura urbana e do lugar exige
determinadas tecnologias para a proteção dos cultivos. A agricultura protegida
deve ser levada em conta quando se operacionaliza esta modalidade de cultivo.
Uma espécie de mosquiteiros confeccionados com telas
plásticas é muito utilizada para proteger as culturas destes insetos. O uso de
defensivos químicos deve ser evitado a todo custo. Devem-se dar preferências
por defensores botânicos feitos a partir de extratos de plantas, embora que a
necessidade do uso destes é um indicador de desequilíbrios no ambiente, e a
melhor forma de corrigir estes é buscando praticar uma agricultura onde os
ensinamentos da natureza devem ser copiados ao extremo, leia o texto “A linguagem da natureza”
A operacionalização da agricultura urbana vai
exigir a criação de animais, pois eles são os grandes recicladores da matéria
orgânica. Eles conseguem concentrar os nutrientes nas suas fezes. É de bom
manejo nesta prática a criação de pequenos animais que possam ser consumidores
dos restos de culturas e com suas fezes transformar as mesmas em composto que
serviram para a fertilização dos cultivos, leia “A constante transferência de
fertilidade na natureza”
Quanto mais
junto e misturado estiver os cultivos mais proteção estará oferecendo as
plantas cultivadas. Esta estratégia precisa ser operacionalizada
independentemente do tamanho da área que se têm.
O custo de
produção na agricultura urbana deve ser baixíssimo, pois a tentativa permanente
é a de utilizar e reutilizar ao máximo os desperdícios, as sobras e as forças
da natureza de forma sustentável.
O resultado mágico desta agricultura são os alimentos
biologicamente ricos e saudáveis. Alimentos funcionais que resolvem as carências
do nosso corpo em vitaminas e sais minerais, que fazem parte de toda
alimentação biologicamente equilibrada.
Além do prazer de
produzir estes alimentos podemos ter um lazer que nos traz tranquilidade, paz e
respeito à natureza, tendo ela como a mestra, a professora que ensina todos os
dias e toda hora. Não espere, prove também desta alquimia de transformar solo,
água, ar e luz em comida saudável, pura e de sabores que apuram o nosso paladar, descobrindo verdadeiramente o
gosto dos alimentos.
Saia do lixo da monotonia espiritual e visual para o luxo de
um espaço saudável e belo. Transformando espaços abandonados, com lixo e sem
vida, em áreas produtoras de prazer e de alimentos. A natureza e a humanização
deste espaço precisam da sua intervenção produtiva. Plante e ganhe o presente
de colher para comer como dádiva desta natureza. Você precisa dela para
continuar a viver.
Precisamos criar a cultura do voltar a existir e do manter
existindo, e você é capaz de fazer com que estas proposições possam acontecer,
isto é SUSTENTABILIDADE aplicada ao seu dia a dia.
07 de maio de 2011
Parabens pelo BLOG!! Belo artigo sobre agricultura urbana, precisamos pensar nesta área....
ResponderExcluirMeu querido, a coisa é muito simples ao nosso ver. Antes viviamos dentro da natureza, vivendo dela, protegido por ela e orientado por ela.
ResponderExcluirHoje, com a degradação dos ecossistemas pelos homens, eles tentam compensar o mal causado pelas suas gerações levando uma plantinha para dentro de seu lar. Isso já é um grande passo, pois assim como no filme de WALL.E, sera´um vegetal a salvação de uma vida sem sentido de ter e ser. O texto retrata a vida claustrofóbica de apartamento, concreto,transito parado e mau humor.
Jamais as cidades retrataram a vida do campo.
Como diria o mestre Marcos Figueira: BOA!