Dispositivos de retenção - Evitando perdas nas propriedades rurais - Práticas sustentáveis

Antônio Roberto Mendes Pereira

Muitas são as perdas diárias que ocorrem nas pequenas propriedades rurais. A percepção destas perdas também em muitos casos é despercebida. Muitos itens que antes faziam parte deste ambiente são carreados, levados e exportados para outras áreas empobrecendo o agroecossistema como um todo. Outro fato bastante comum é quando acontece à entrada de novos elementos ou insumos no agroecossistema e os mesmos não são retidos e incorporados em algum ciclo interno, e terminam por se perder através das saídas provocadas por uma infinidade de acontecimentos internamente. Entram como fluxo, e saem como fluxo por não haver dispositivos de retenção para os mesmos. 

Este texto pretende detalhar estas perdas e ao mesmo tempo trás como idéia principal a orientação para a instalação e operacionalização de DISPOSITIVOS que possam diminuir radicalmente estas perdas tão constantes nestes ambientes. 

Estas medidas podem trazer aumentos significativos nos resultados produtivos internos, além de contribuir para a sustentabilidade do agroecossistema. Vários destes dispositivos são ações que a própria natureza realiza, outros podem ser ações tecnológicas criadas pelo homem. 

AS PERDAS DE MAIOR OCORRÊNCIA NOS AGROECOSSISTEMAS 

PERDAS INTERNAS NA CASA 

PERDAS DE RESTOS DE COMIDA – Na natureza o resíduo de um elemento deve servir de insumo para outro, não se pode gerar lixo, desperdício sem utilidade. Esta mesma lógica deve ser utilizada nas propriedades rurais e urbanas. O que fazer para criar um dispositivo de retenção com estas sobras? Parte destas sobras pode servir como complementação alimentar para pequenos animais, é uma ótima alternativa. E as demais podem ser utilizadas na confecção de compostagem doméstica, transformando estas sobras desprovidas de óleo em adubos orgânicos. 

A criatividade na utilização destes resíduos/sobras deve fazer parte de um planejamento, pois diariamente elas aparecem, e precisam imediatamente ser reutilizada para não criar detritos em estágios de putrefação, gerando mau cheiro e atraindo muitos insetos transmissores de doenças. 

PERDAS DE URINA E FESES- Normalmente por ano, um ser humano produz em média 550 litros de urina, líquido este, rico em minerais que poderiam ser reutilizados na fertilização de solos. Mas, toda esta riqueza é transformada em dejetos que ao invés de entrar em um novo ciclo de utilidade, transforma-se em poluição. 

Seis litros de urina pode fertilizar de um metro a um metro e meio de solo. O que se deve fazer para criar um dispositivo que possa aproveitar pelo menos parte desta urina? Existem bacios sanitários onde acontece uma separação entre as feses e a urina. 

Exemplo de cálculo para aplicação: 

Uma família de 5 membros possui um terreno de 300m2 no qual desejam aplicar a urina que eles coletam em seu sanitário separador de urina. A família vive em um clima que permite realizar dois cultivos por ano. Se assumirmos que podem aplicar 6 litros por m2 por ciclo de cultivo, quantos m2 eles precisam para usar sua urina em seu jardim? 

Resposta: 

Uma vez que eles moram em uma área onde dois cultivos podem ser realizados anualmente e 6 litros/m2 podem ser utilizados por ciclo de cultivo, isto significa que podem aplicar 12 litros/m2 anualmente. Cada pessoa elimina aproximadamente 550 litros (assumindo que se tenha urinado sempre em casa, utilizando-se sempre o sanitário, o que nem sempre acontece), resultando que uma família de cinco pessoas eliminaria 2.750 litros de urina por ano. Isto fertilizaria 229m2 uma vez que cada m2 receberia 12 litros por ano. Deste modo, a área do terreno poderia ser usada produtivamente para o uso da urina coletada. Nos casos em que o tamanho do terreno for muito pequeno para usar a urina produtivamente, devem-se buscar outras formas de dispor a urina (por exemplo, poderia ser como um suplemento de Nitrogênio em compostagens) ou construir um sistema coletor de urina. 

http://www.rcinet.ca/portugues/chronique/ciencia--saude--tecnologia--meio-ambiente/18-26_2011-10-13-morador-de-vancouverertiliza-plantas-comestiveis-com-seu-proprio-lixo-organico-e-isso-mesmo-com-sua-urina/

Estudo feito na Universidade de Kuopio, na Finlândia mostra que a mistura de urina humana com cinzas de madeira é quatro vezes mais eficiente 

Cientistas anunciaram uma descoberta simples e sustentável que pode dar fim ao uso de fertilizantes em plantações e ainda aumentar a colheita. A fórmula? Misturar urina humana a cinzas de madeira e espalhar a espécie de adubo eco-friendly no solo. A combinação ecologicamente correta é tão eficiente quanto os caros fertilizantes minerais, pelo menos para algumas culturas de vegetais, e provoca menos danos ao meio ambiente, além de reutilizar este liquido que é visto como um grande poluidor. 

De acordo com o biólogo ambiental Surendra Pradhan, que participou das pesquisas realizadas na Universidade de Kuopio, na Finlândia, a curiosa mistura de cinzas de madeira e urina é rica em nutrientes, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e nitrogênio. 

Os pesquisadores envolvidos no estudo fizeram experimentos – controlados em laboratório – para testar a descoberta. 

Ao cultivar separadamente tomates adubados com parte com fertilizantes minerais, parte com urina e cinzas e uma terceira amostra somente com urina, foi comprovado que o rendimento das plantas que receberam urina humana e cinzas de madeira quadruplicou. Além, claro, de ficar comprovado que esses tomates eram seguros para consumo humano. 

Quanto à feses, estas também são riquíssimos fertilizantes que também poderiam ser reutilizadas para enriquecer os solos. Um ser humano produz anualmente em média 40 a 50 kg, de feses. Um dispositivo de retenção que poderia ser utilizado são os tanques de evapotranspiração. 

Os tanques de evapotranspiração hoje já são utilizados para o tratamento de efluentes do vaso sanitário domiciliar. É um sistema de tratamento e reaproveitamento dos nutrientes do efluente proveniente do vaso sanitário. Este sistema foi criado pelo permacultor Tom Watson, nos EUA, com nome de “Watson Wick” e adaptado por vários permacultores brasileiros. É um sistema fechado, ou seja, estanque, e não há saída de água, seja para filtros ou sumidouros. Nele ocorre a decomposição anaeróbia da matéria orgânica, mineralização e absorção dos nutrientes e da água, pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes deixam o sistema incorporando-se a biomassa das plantas e a água é eliminada por evapotranspiração. Não há deflúvio. E dessa forma, não há como poluir o solo ou o risco de algum microrganismo patógeno sair do sistema. 

 Estrutura física e camadas do Tanque de Evapotranspiração Corte transversal de um sistema TEvap

http://falandoaosmontes.blogspot.com/

PERDA DE CALOR – Em quase toda cozinha em especial nos fogões tem perdas de calor que poderiam ser utilizadas para outras atividades. O cozinhar gera energia excessiva, aumentando perdas, pois ao se terminar de cozer o alimento, parte das engrenagens ou peças do fogão permanecem aquecidas, onde todo este calor poderia ser utilizado até mesmo para manter aquecidos outros alimentos que fora cozinhado. 

 http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2011/06/imagens-de-inverno-ii-chaleiras.html

E falando em Inverno, frios e fogões, o Alexandre S. Gomes nos mostra que em cima da chapa do fogão a lenha, não pode faltar muitas chaleiras com água quente. Mate, café, chá ou chocolate, tudo se prepara com muita água quente. Até na hora das mulheres darem a luz (pelo menos nos filmes é assim), as parteiras sempre gritam e pedem: Água quente, muita água quente! 

Ter água morna sempre é uma boa alternativa que pode gerar rapidez e facilidade a qualquer momento do dia nas residências. Ter água pré aquecida é uma grande estratégia de retenção para a perda de calor por radiação. Com esta tão boba atitude, poderemos aumentar a economia no gasto de outras energias a exemplo do gás de cozinha, da lenha, entre outras. 

Um dispositivo de retenção de calor precisa ser operacionalizado para diminuir as perdas com energias as mais diversas, esteja atento. 

PERDAS EXTERNAS 

O processo de ocupação do solo, atualmente equivocado e sem as mínimas condições técnicas, levou a substituição quase que completa em algumas propriedades da vegetação natural ou primitiva pelas culturas produtivas de ciclos curto. E para se chegar ao estado de uso, estes solos sofrem um constante revolvimento, e quando esta prática não leva em consideração o manejo de conservação, as perdas de solo tornam-se uma constante, trazendo prejuízos às vezes incalculáveis para a família e para o equilíbrio do agroecossistema. 

PERDAS DE SOLO – A erosão é uma constante em muitas propriedades, os mais variados tipos de erosão são encontrados. Tanto as causadas pelas chuvas que é a mais comum até a eólica, provocada pelo vento. A forma de manejar o solo contribui significativamente para sua ocorrência ou não. Várias toneladas de solo vão embora todos os anos nas propriedades, só em se vê a cor barrenta na água que está escorrendo tenha certeza que a erosão está ativa. Descobriu-se o solo, instalou-se processos erosivos. 

Trabalhos de conservação de solo devem ser pensados, planejados e operacionalizados quando se faz necessário implantar áreas de cultivos, independentemente se a área é plana ou não, pois muitas pessoas imaginam que a erosão só acontece em áreas com declives. 

A erosão pode até acontecer sem a que saia nenhuma partícula de solo da propriedade, basta apenas que os minerais que antes estavam no horizonte A, ou melhor, na camada do solo agrícola e foi carreada pela água para outros horizontes mais profundos do perfil do solo. As argilas quando não bem trabalhadas são lixiviadas em muitos casos para as camadas mais profundas do solo, muitas vezes criando lajes compactadas impedindo a penetração das raízes e até da água. 

Vários dispositivos podem ser acionados para evitar erosão: 

· Não realizar desmatamentos em grandes extensões de terra e sim quando necessário em pequenas áreas, para facilitar a cicatrização da área quando se fizer necessário. Manutenção da cobertura vegetal ao máximo; 

· Plantio em curvas de níveis; 

· Captação da água desde as áreas mais altas da propriedade, evitando o escorrimento; 

· Respeitar o uso da legislação ambiental nas áreas de proteção permanente (APP); 

· Adequar às propriedades quanto ao uso e ocupação do solo; 

· Uso de terraceamento e ou muretas de pedras. 

A capacidade de uso do solo dá idéia das possibilidades e limitações da terra, conceituando a sua adaptabilidade para diversos fins. As classes de capacidade de uso do solo podem ser exploradas sem causar danos consideráveis por desgastes e empobrecimento do solo, assim utilizados: 

CAPACIDADE DE USO DOS SOLOS 

Classe I: terras cultiváveis aparentemente sem problemas especiais de conservação. 

Classe II: terras cultiváveis, com problemas simples de conservação. 

Classe III: terras cultiváveis com problemas complexos de conservação. 

Classe IV: terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada, com sérios problemas de conservação. 

Classe V: terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação, cultiváveis em casos muito especiais. 

Classe VI: terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflorestamento, com problemas simples de conservação, cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes protetoras do solo. 

Classe VII: terras adaptadas em geral somente para pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação. 

Classe VIII: terras impróprias para cultura ou reflorestamento, podendo servir apenas como abrigo e proteção da fauna silvestre, como ambiente para recreação, ou para fins de armazenamento de água. 

A análise da capacidade de uso do solo visa ao estabelecimento de bases para a formulação de planos e recomendações com respeito às melhores relações entre o homem e a terra. Assim, antes de formular planos ou mesmo recomendações temos de perceber o sentido e a amplitude que se procura. 

PERDA DE FERTILIDADE – Muitos nutrientes são lixividados e até carreados pelas águas das chuvas, empobrecendo sensivelmente os solos cultivados das propriedades. A cada chuva ou até em cada irrigação mal planejada e manejada, alguns kg de minerais diversos pode ir embora, indo compor novas paisagens. 

Manter a fertilidade dos solos cultivados é um desafio permanente em todas as propriedades rurais. Só pelas saídas das colheitas se perde vários kg de nutrientes, imaginem somado a isto as perdas pelo carreamento e lixiviação. 

As medidas que são tomadas para evitar erosão concorrem também para evitar as perdas de fertilizantes, logo os dispositivos são os mesmos. 

PERDA DE MATÉRIA ORGÂNICA – A reposição ou ciclagem dos nutrientes é feita de forma permanente pelo retorno de matéria orgânica no solo, quando este retorno não acontece à perda de bioestrutura do solo acontece. Estes se tornam duros, compactados e sem vida. O enrijecimento do solo pode ser comparado a um corpo quando morre, pois ele também enrijece. Nos solos tropicais o retorno de matéria orgânica deve acontecer pelo menos a cada 03 meses. 

As chuvas também concorrem para as perdas de matéria orgânica, através dos escorrimentos superficiais. As queimadas também são responsáveis por grandes perdas de matéria orgânica e minerais do solo. 

Os dispositivos que podem ser utilizados para evitar perdas de matéria orgânica iniciam-se por evitar o uso das queimadas. Transformando todos e quaisquer restos de vegetais em matéria para cobertura morta dos solos, cultivados ou não. 

O retorno de matéria orgânica deve ser imperioso, não se pode de forma alguma utilizar unicamente fertilizantes minerais para complementar as perdas ou saídas de nutrientes dos solos. Utilizando-se este procedimento perde-se toda a bioestrutura do solo. Transformando-o apenas em um objeto morto que dá apenas sustentação para as raízes das plantas para que elas possam ficar apenas em pé. 

PERDA DE ÁGUA – Como vimos anteriormente a água entra nas propriedades e ao invés de trazer vários benefícios muitas vezes trazem também problemas, principalmente quando acontece escorrimentos. Mas a pergunta que se faz é o que fazer para evitar que esta água se perca? 

No texto anterior “Os vários caminhos da água” vimos que a água precisa infiltrar-se no solo, para depois infiltrar-se nas plantas. O melhor depósito da água é nas plantas e no solo, e que quanto mais tempo ela passa no interior das propriedades, mas benefícios ela pode gerar, desde que seus caminhos e rotas estejam bem planejados. 

A água de escorrimento leva com ela muitos kg de nutrientes, depositando estes nas águas dos rios, açudes, empobrecendo as áreas por onde passou. Tudo isto acontece quando não se estudou os caminhos desta água na propriedade, é imprescindível identificar e entender como a água entra? Por onde segue? Onde pode ser acumulada? Tendo estas informações poderemos criar os mecanismos de retenção da mesma. Dê um passeio de observação nos dias de chuva e identifique estes caminhos. 

As imagens mostram algumas estratégias tecnológicas que são considerados dispositivos de retenção de água, além de evitar o escorrimento superficial. 

ETAPAS PARA CONSTRUÇÃO DE SWALES 

A primeira etapa inicia-se com a marcação da curva de nível. E em seguida a escavação do SWALES sempre colocando a terra para a parte de baixo do declive do terreno. 

Depois de pronto é esperar para que as chuvas possam ser captadas, facilitando o aumento de infiltração de água na sua propriedade e o transporte de fertilidade por infiltração. 

PERDA DO CAPITAL GENÉTICO – A perda da biodiversidade nas propriedades inicia-se assim que o homem decide fazer o preparo do solo para o plantio. O desmatamento para preparar a área para o cultivo é uma das primeiras atividades que contribuem para a diminuição do capital genético da propriedade. Muitas espécies são retiradas para dar lugar aos cultivos. Atrelado a esta atitude perde-se também muitos animais que antes viviam destes espaços, animais dos mais variados portes, inclusive também predadores e controladores de outras espécies, que contribuíam no equilíbrio de todo o ecossistema e agora do agroecossistema. 

O que fazer para não perder o capital genético que tem nos agroecossistemas? Quais os dispositivos que podem ser utilizados para minimizar estas perdas? Vejamos algumas indicações: 

· Ter uma área onde a preservação seja permanente, que para nós Permacultores chamamos de ZONA 5. É a área onde boa parte do capital genético vai estar preservada. Como sugestão esta Zona 5 não deve ficar isolada em uma única área, mas que na propriedade pudesse ter várias ZONAS 5 espalhadas em toda a propriedade, sendo conectadas uma com as outras através de corredores naturais. E que este corredor também estivesse ligado a outros corredores biológicos das demais áreas externas da propriedade. 

O manejo nestes corredores deve ocorrer de forma integrada para desenvolver a possibilidade de sobrevivência das espécies, do ecossistema e de uma economia local sustentável que respeite os recursos naturais. 

Ligar um trecho de mata a outro trecho é uma das principais funções do corredor ecológico, para que uma área protegida não fique isolada e possa se abrir para outros locais e espécies nativas. A operacionalização desta idéia permite o trânsito de espécies de fauna e flora entre as áreas interligadas. 

· Criar um banco de sementes onde não só se guarda as sementes das plantas cultivadas. Tentar guardar o máximo das espécies encontradas no seu agroecossistema e se possível até catalogar buscando os nomes científicos e os populares de cada espécie. É um desafio fascinante e um hobby muito estimulante, ter uma coleção de espécies sobre seus cuidados. Se possível documente com fotos também toda esta riqueza genética da sua propriedade. Devia ser motivo de orgulho e um bom indicador de comparação para a venda de propriedades rurais. Quanto mais diversidade tiver um metro quadrado de solo, mais caro custasse este solo. 

· Multiplicar comercialmente algumas das espécies nativas encontradas na sua propriedade, fazer com que outros agricultores que já não possuem esta ou aquela espécie possam tê-la novamente. Você exerce um papel de dispersor genético. 

PERDA POR FALTA DE CONHECIMENTOS E INFORMAÇÕES – Um dos grandes problemas atuais das propriedades não é tanto o econômico, mas o gerencial e o organizacional. 

Os jovens filhos dos agricultores necessitam receber orientações para o uso de boas práticas agrícolas criando novas formas de fazer agricultura que causem menos impactos ambientais e consigam produzir alimentos limpos de contaminações por resíduos de produtos químicos. Aprender produzir preservando deve ser uma busca constante para este novo jeito de ser e produzir. 

E uma forma de criar dispositivos para resolver este problema é fazer com que estas famílias, principalmente os jovens possam aprender a como praticar uma agricultura diferente, mais responsável pelo futuro, não se atendo unicamente aos resultados do presente. A educação pela experiência é de suma importância. 

A prática deve fazer parte de qualquer processo de ensino e aprendizagem, mas estas novas formas ou práticas precisam estar norteadas pela ciência agroecológica. A agroecologia[1] é um campo de conhecimento transdisciplinar que contém os princípios teóricos e metodológicos básicos para possibilitar o desenho e o manejo de agroecossistemas sustentáveis e, alem disso, contribuir para a conservação da agro biodiversidade e da biodiversidade em geral, assim como dos demais recursos naturais e meios de vida (EMBRAPA, 2006). 

É importante saber que a agroecologia tem base na relação sinérgica entre a evolução do conhecimento cientifico e do saber popular e a sua necessária integração. A agroecologia quando aplicada a partir de experiências vem contribuindo para a construção de um banco de referências com potencial para inspirar o desenho e o manejo de agroecossistemas sustentáveis nas mais variadas condições e espaços. Como se vê existe uma grande necessidade sentida de introduzir este tipo de conhecimento na vida das famílias do campo. 

PERDA DE PESSOAS – O campo está ficando idoso e masculinizado, são os dados do último recenseamento. A saída do campo das famílias atraída pelas luzes das cidades é uma constatação que vem aumentando gradativamente. Os jovens são os primeiros a ser atraídos. No primeiro momento se ausenta por algumas horas para ir à escola, e daí em diante torna-se difícil sua permanência na propriedade. Os trabalhos da cidade são mais fáceis e muito mais leves, quando comparados com as atividades agropecuárias. 

Mas, na sua maioria tornam-se empregados de uma empresa, raros são os que conseguem montar um negócio e manter-se deste. O assalariamento é à base dos rendimentos econômicos destes retirantes do campo. Deixando o negócio da família para tornar-se empregado, funcionário, agora ajudando a enriquecer o patrão. 

Como fazer para que estas pessoas consigam perceber que podem transformar este espaço em um espaço que lhe permita sobreviver, crescer e se perpetuar? 

O empreendedorismo em muitos casos é visto e entendido como um dom, mas com certeza se pode aprender ser empreendedor. O talento para se tornar um bom empresário aprende-se, pratica-se. 

Esta é uma perda que pouco se tem saídas ou alternativas de retenção para estas famílias, para estes jovens. Cada caso é um caso, que precisa ser analisado, para se encontrar as saídas para a permanência. 

PERDA POR NÃO ENTENDER A ORGANIZAÇÃO EXISTENTE – Todo ecossistema tem um padrão natural de organização, onde as conexões, combinações existentes foram facilitadas e permitidas pelas forças da natureza. Entender esta organização é aprender como manejar com este ecossistema. É aprender seus equilíbrios, sua capacidade de Resiliência para multiplicar todas estas estratégias nos espaços cultivados. 

A perda que ocorre nas nossas áreas por ignorância é abundante, aproveite e aprenda com este padrão ou padrões que estão acontecendo na sua frente, tão perto de você. Qualquer quer seja a imitação destes padrões aumenta a capacidade de sustentabilidade e de equilíbrio da sua área. 

Enumere os elementos; 

Descubra as combinações; 

Entenda a estética e as formas das misturas de plantas; 

Veja beleza no emaranhado; 

O grande desafio da humanidade não está em responder os questionamentos, mas em fazer os questionamentos. Quando ele começa fazer perguntas é porque ele estar observando com mais detalhe, percebeu algo diferente da normalidade que sua percepção ainda não consegue responder. E como diz Capra (1996) “Estamos, na realidade, ainda muito presos ao arcabouço de pensamento criado pela ciência do início do século por Descartes, Francis Bacon, Galileu entre outros. Onde a natureza deve ser torturada para mostrar seus segredos, onde a natureza precisa ser dominada, manipulada onde o ser humano é o ser supremo e superior diante da natureza”. 

Não tente dominá-la, imite sua organização e seus padrões, você só tem a ganhar. 

28 de outubro de 2011 

[1] Agroecologia – de acordo com Gliessman (2001), que considera a agroecologia como “a aplicação dos conceitos e princípios de ecologia no desenho e no manejo de agroecossistemas sustentáveis”.