Pequenas Fazendas Urbanas: espaços de produção de vegetais em casa, no bairro e na cidade - Alimento, Criatividade e Arquitetura

Antônio Roberto Mendes Pereira

A cada recenseamento que é aplicado, percebe-se que o êxodo rural se consolida de forma significativa. As luzes das cidades têm um poder incrível para atrair as pessoas do campo convidando-as para este espaço, que cada vez mais se torna insustentável para atender as necessidades dos que nele habitam. Casa, comida, saúde, saneamento, educação, vestimenta, diversão e trabalho são algumas das necessidades dos seres humanos, que precisam ser atendidas independentemente de onde se mora. 

A matéria prima da maioria das necessidades materiais é produzida, extraídas do campo. Mas, com a saída de muitos agricultores, esta produção vem diminuindo e concentrando-se nas mãos de poucos, transformando esta operação em agronegócios de grandes extensões, com uso de monocultura e com todo um aparato de máquinas, adequadas a este tipo de sistema de produção, e a agricultura do roçado vai sendo suprimida por toda esta lógica de produção e de mercado. 

Com o uso desta lógica, a diversidade de oferta dos alimentos tende a diminuir, tornando-se difícil ter e manter uma dieta equilibrada e diversificada, além de ficar inacessível para a maioria da população pelo preço elevado destes produtos. Os produtos para chegar até ao mercado viajam grandes distâncias, agregando ainda mais despesas aos produtos, e consequentemente onerando os preços. Para se produzir estes produtos em escala comercial em grandes extensões de terra são necessários o uso de produtos manipulados quimicamente como: adubos, agrotóxicos, indutores de floração e de amadurecimento, entre outros. E como sabemos, todo este arsenal de insumos contamina e deixa resíduos nos alimentos que causam intoxicações e até em alguns casos a morte. 

O meio ambiente com toda esta operacionalização, recebe um nível de impacto que em curto prazo não consegue ser resiliente, e o processo vai tornando-se irreversível e irreparável tanto nas áreas rurais como nas urbanas. 

A preocupação com os desequilíbrios do ecossistema cidade, já vem sendo pensado por muitos governos, cientistas e pesquisadores. A busca de soluções para as futuras Ecópolis tem que acontecer já.Não dá para esperar mais. O comprar e armazenar alimentos conservando-os em geladeiras está gerando problemas como aumento exagerado no consumo de energia, além do grande risco dos gases CFC (clorofluorcarbono) na camada de ozônio. 

Como produzir alimentos diminuindo esta forma de conservação? Como produzir alimentos em casa, no jardim na janela, no telhado? Este texto pretende trazer idéias para a criação de fazendas urbanas. Este trabalho no primeiro momento pode ser iniciado em pequenos espaços como jardins os transformado em espaços comestíveis, depois como hortas, roçados e alcançando o nível de fazendas, aproveitando ao máximo os espaços ociosos de quintais, terrenos baldios, calçadas, praças, paredes e em muitos telhados. 

Quem disse que precisa ter quintal ou varanda para iniciar uma produção de alimento em casa? O sistema Windowfarm (fazenda de janela), já é uma comprovação dos grandes resultados produtivos, embora que o objetivo maior não é criar um produto perfeito, mas incentivar seus participantes a encontrar soluções criativas para o seu dia a dia, e compartilhar seus resultados e descobertas na produção de vegetais comestíveis em pequenos espaços com criatividade.O sistema de produção que irá ser utilizado deverá levar em consideração a preocupação com a produção de alimentos limpos, com criatividade para o uso de pequenos espaços. 

É bom alertar que os sistemas produtivos da agricultura moderna como hidropônica e a aeropônica, vão de encontro à lógica da produção natural, embora que a produção de alimento aconteça. São alimentos incompletos e produzidos a base de insumos estritamente químicos. 

As vantagens das fazendas urbanas são bem grandes: o alimento é plantado, transportado e consumido na mesma região, evitando o desperdício; há produção de alimentos durante o ano inteiro; maior produtividade, pois a safra estará menos sujeita a problemas climáticos como seca, enchentes ou pragas; pode-se priorizar o cultivo de alimentos orgânicos sem uso de herbicidas, pesticidas ou fertilizantes; eliminação da contaminação do solo por agrotóxicos; reurbanização das áreas com o aproveitamento de espaços abandonados ou degradados; redução dos danos causados pela agricultura ao ambiente; há a opção de reflorestar áreas antes utilizadas pela agricultura convencional; gera emprego urbano; reduz-se o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases poluentes; não são necessários tratores, arados e transporte. 

Além de capturar grande parte do carbono produzido nos centros urbanos que contribuem para o aquecimento global e naturalizando as cidades, esverdeando o cimento e o concreto. 

Essas são fotos da casa da fazendeira urbana Annie Novak no Brooklyn. Não é o máximo? 

Imagem da esquerda a prática de agricultura urbana em Havana (Cuba) e ao lado treliça para que as janelas tornem-se produtivas. 

COMO APROVEITAR E TRANSFORMAR OS ESPAÇOS URBANOS? 

1. O primeiro passo é estar motivado, querer fazer, querer produzir, e deixar a criatividade tomar conta das suas ações produtivas. Precisamos ver boniteza e estética nos vasos plantados com culturas comestíveis. Normalmente as donas de casa cultivam muitas plantas ornamentais que serve unicamente como hobby e beleza. Como associar todas estas vantagens e ainda ter comida de boa qualidade, produzida ali pertinho ou até dentro de casa? 

Porque estes vasos não estão produzindo hortaliças, tubérculos ou até frutas? 

2. Envolver outros nesta produção. Inicialmente os familiares, depois os vizinhos e parentes. Precisamos envolver outros familiares neste hobby produtivo de alimentos naturais, a qualquer momento você poderá ter que viajar e vai necessitar de alguém que cuide da sua mini fazenda. Isto também é qualidade de vida, que pode ser oferecida e praticada por qualquer uma pessoa logo, esta condição precisa ser ensinada, oferecida para outros, isto também é ECO-cidadania praticada. Sirva de exemplo, você perceberá quantas pessoas irão achar o máximo o que você esta fazendo. Contamine outras pessoas para esta atividade que antes de tudo é ecológica e contribui de forma benéfica para o meio ambiente, e sua qualidade de vida. 

3. Leve o sol para dentro dos espaços internos. Esta vai ser uma providência necessária para aumentar as áreas produtivas. Para que possa ocorrer produção de vegetais em qualquer espaço, faz-se necessário a presença do sol, sem ele é quase que impossível a produção de biomassa verde. Logo, o sol é sua fonte energética de sua fabrica, você pode ter água, semente, solo e minerais, mas sem o sol não vai ter alimento. Como fazer para ter ele, nos mais variados espaços da casa? Oferecendo-nos luz, calor, energia e fotossíntese. Dê brecha para que ele entre na cozinha, no quarto, na sala e transforme esta luz em comida. Faça como o girassol, cate sol. 

Para que isto possa acontecer: 

· Acompanhe o sol dentro de casa, ele se desloca durante todo o dia; 

· Use espelhos que podem conduzir a luz a muitos locais que ele não teria acesso. Nas estações do ano o comportamento dele muda, tente acompanhar; 

· Abra janelas e as janelas, deixe-o entrar sem impedimentos, ele traz inúmeros benefícios. 

4. Utilizar os espaços que se tem, independentemente se ele é ideal ou não. A tecnologia e a criatividade se encarregarão de encontrar formas adequadas para os cultivos. Jardins, hortas, latinhas e plantas têm tudo a ver. Crie alternativas produtivas. 

5. Faça estética com plantas comestíveis, elas também produzem flores além de frutos que podem ser consumidos. É um erro pensar que só podemos ornamentar com plantas de jardins, a beleza de um pé de alface roxa ou de uma americana são fantásticos, de rápida produção, além da beleza tem sabor, ti alimenta. 

6. Conheça as necessidades fisiológicas que uma planta precisa ter a sua disposição para que ela possa realizar a alquimia de transformar luz, CO2 e água em alimento. As plantas têm necessidades diversas, umas precisam de mais luz, outras de menos, umas gostam de mais umidade, outras de pouca, umas precisam de tutores para se agarrar, e assim sucessivamente. Seja curioso busque conhecer cada representante que você deseja produzir criando uma parceria entre o sol, a semente, a água e solo e você. 

7. De forma alguma jogue as sementes no lixo, elas são um banco genético que não se pode desperdiçar. Lance-as em espaços em que elas possam germinar espontaneamente. O retorno é incrível, rápido e sadio, você quando menos perceber terá frutos para comer sem ter tido nenhum trabalho. 

8. Busque atender as seguintes seguranças para os cultivos: segurança hídrica, segurança em nutrientes elas vão ser a base para se obter ótimos resultados produtivos. 

9. Crie um espaço de produção de mudas, um berçário onde você terá plantinhas diversas para manter uma constância produtiva dos alimentos mais consumidos ou preferidos, não permitindo períodos sem. É bom lembrar-se dos ciclos naturais onde nem todo o ano a natureza permite a produção de todos os vegetais. 

IDÉIAS DE APROVEITAMENTO DE ESPAÇOS 

· Treliças 

· Varal de ferro para pendurar garrafas pet 

· Paredes com canos, garrafas 

· Telhados 

· Vasos, tambores, bacias, latas 

· Tipis (armações de varas produtivas) 

Algumas imagens foram tiradas do blog: http://siadecor.blogspot.com/2011/07/em-casa.html

Precisamos levar a agricultura para as cidades, é uma forma de contribuir para um meio ambiente muito mais equilibrado. É uma forma também de recriar e aumentar a relação homem urbano e natureza verde e produtiva. 

01 de setembro de 2011