Antônio Roberto Mendes Pereira
A natureza tem sua forma particular de atender todas as necessidades dos componentes vivos que a compõe. Ela não os cria, eles se criam por si só. A natureza apenas lhes permite e oferece as condições para que eles encontrem e tenham suas necessidades atendidas da melhor forma possível, não tendo que perambular muito, economizando energia a do elemento vivo e do espaço onde se encontra.
Mas, infelizmente o ser humano prefere criar espaços onde a maioria das necessidades dos animais é atendida de forma artificial e por ele, onde os animais não procuram, não caçam, não perambulam para ter suas necessidades atendidas. Os animais são PRESOS, mas muda-se o nome para CONFINADO para não usar uma palavra tão agressiva, mas a intenção real é prender, restringir o espaço, para caber mais e ter total controle sobre a prisão e dos presos (confinados). Nestes espaços os animais recebem doses diárias de ração ou recebe algumas horas de liberdade presa nas pastagens cultivadas. Os animais deixam de se alimentar escolhendo o quer comer para comer uma ração preparada, chamada balanceada e que em muitos casos pode até suprir as necessidades de nutrientes dos animais, mas não sacia a vontade de se deliciar, fazendo as misturas que lhes dá mais sabor.
O poder escolher o que se quer comer faz uma grande diferença na vida de todo ser vivo, durante a escolha também escolhe-se o sabor que se quer e deseja e não o que os outros querem. O livre arbítrio de poder escolher é uma questão fundamental não para o arraçoamento, mas para o se ALIMENTAR.
Este texto pretende trazer idéias para a montagem de espaços onde os animais possam se criar, com o mínimo de interferência humana, tendo conforto e tranquilidade. Preparar um ambiente onde os animais ou qualquer ser vivo possam ter todas estas necessidades atendidas de forma espontânea, livre, é a forma Permacultural que se quer ensinar. E entender como a natureza faz esta proeza é uma condição essencial e primária para quem pretende ter animais para o consumo em uma propriedade que utiliza princípios agroecológicos.
Ração é o resultado técnico da ação humana na tentativa de alimentar os animais. Precisamos entender que para a fabricação desta ração de forma adequada são exigidos viagens de muitos insumos que vão compor uma ração, encarecendo o produto final, além de criar uma dependência de todos os insumos.
PROPOSTAS PARA A MONTAGEM DE AMBIENTES PARA CRIAÇÃO ESPONTÂNEA DOS ANIMAIS
1. Liberdade assistida dos animais - A primeira idéia que precisa ser internalizada é a de que todos os animais adoram e precisa PERAMBULAR, isto é andar livremente a procura de sua alimentação e conforto. Este é um fator primordial na montagem de qualquer espaço para qualquer espécie animal. O poder escolher entre comer isto ou aquilo é a situação otimizada que se busca na montagem de uma ambiente para a criação espontânea dos animais.
2. Analisando a capacidade de suporte do ambiente - Outra informação necessária para ajudar no planejamento desta área é descobrir a capacidade de suporte do espaço natural onde se quer montar este ambiente. No cálculo da capacidade de suporte, cada espécie terá um indicativo matemático, isto é cada espécie tem exigências alimentares diferentes em quantidade e qualidade. Este indicativo já existe para os pastos cultivados é conhecido como UA (unidade animal), precisamos ter mais ou menos indicativos dos pastos nativos. Olhando e observando atentamente a área que se tem e a espécie que se quer ter e faz-se a seguinte pergunta: Quantos animais desta espécie este ambiente é capaz de suportar sem perder a diversidade e a qualidade? Ou de outra forma soltam-se um número reduzido de animal nesta área e vai se observando o comportamento, a aparência corporal destes animais, se estão perdendo qualidade na massa corporal e na produção, aumentando ou se mantendo, com esta pesquisa in locu, consegue-se ter um indicativo numérico da capacidade de suporte desta área para aquela espécie que foi testada. Para que esta área possa ser utilizada é necessário que ela esteja devidamente cercada, ter limites para a perambulança animal.
3. A escolha dos animais para o ambiente - Na escolha dos animais que vão fazer parte desta criação espontânea, é bom identificar animais adequados e adaptados a região, ao clima, a vegetação natural que se tem. Um erro nesta escolha pode acarretar frustrações pessoais nos poucos resultados produtivos da espécie escolhida, para o ambiente. As espécies naturais surgem moldadas pelo ambiente que existe disponível. Espécies grandes surgem e se adéquam em espaços ambientais que estão maduros, isto é tem uma boa flora encorpada e diversificada, já os animais menores são os primeiros a se adequarem aos ambientes ainda em formação. Logo, a inclusão das espécies e a quantidade destes representantes no espaço vão depender do nível de maturação que se encontra o ambiente que esta sendo escolhido e montado. Que animal vai entrar primeiro no sistema deve fazer parte do planejamento, mas sempre a decisão deve ser respondida primeiro pelo nível de maturação do ambiente, isto é pela natureza.
4. O comportamento social das espécies - Outro detalhe bastante relevante na escolha da espécie para o ambiente que se tem e ou que se está montando é em relação ao comportamento social da espécie escolhida. Deve-se observar e levar em conta se este animal prefere conviver em família, coletivamente, ou prefere viver isolado. Este detalhe também precisa ser considerado, pois deste comportamento depende também o número de abrigos e instalações.
5. A alimentação livre e de escolha espontânea – Tem um ditado popular que diz a seguinte frase “nem só de pão vive o homem” e eu complemento dizendo da mesma forma nem só de capim vive o gado, nem só de milho vive a galinha, nem só de cenoura vive o coelho e nem só de lavagem vive o porco, logo precisamos entender que quanto mais a alimentação for variada, diversificada, mas capacidade os animais terão para compor um cardápio equilibrado atendendo as suas necessidades preferenciais de paladar e nutricionais. Este ambiente deve ser pensado para atender esta necessidade alimentar dos animais que irão fazer parte do sistema que esta sendo montado.
6. A inclusão de culturas cultivadas – Algumas espécies de pastos cultivadas podem e devem fazer parte do sistema, na expectativa de aumentar a capacidade de suporte do ambiente. Pode-se montar reboleiras (pequenos espaços) aleatória deste tipo de pastagem dentro do sistema, facilitando o manejo dos animais. As espécies a serem escolhidas também precisam ser bem pensadas, pois a pastagem vai se aberta, isto é, os animais é que vão se servirem deste alimento de forma espontânea. A inclusão de algumas leguminosas é uma boa estratégia para melhorar a qualidade da alimentação dos animais no sistema. Na escolha destas leguminosas deve-se levar em consideração a resistência desta aos períodos de estiagem com baixo nível hídrico no solo, além de poderem rebrotar com facilidade (leucena, guandu, etc.).
7. Manejo de verão e inverno – Se faz necessário ter manejos diferenciados nas estações do ano, pois a natureza muda completamente a capacidade de suporte do ambiente, e precisamos acompanhar estas mudanças. O número de animais precisa ser repensado. Vão existir momentos que o ambiente permite o aumento dos animais no sistema, como também vai ter momentos que se precisam diminuir os animais ou através de venda ou consumo. A insistência em querer manter a mesma quantidade de animais nos momentos em que a natureza está nos dizendo diminua é prejuízo na certa. Tente adequar o manejo as estações do ano.
8. Manejo de rebrote de algumas espécies – No sistema com certeza vão existir plantas que permite corte e nos concede um rebrote. Logo, algumas destas plantas poderiam vez por outra a depender da estação do ano, podem ser cortadas a uma determinada altura também dependendo da espécie em questão, para que aconteça seu rebrotamento, oferecendo biomassa nova e vigorosa e principalmente numa altura que permita seu pastejo pelos animais do sistema. Neste manejo o tamanho, a longevidade da espécie, e a rapidez na rebrota devem ser consideradas no planejamento.
9. As aguadas no sistema – A água não pode faltar neste ambiente, o oferecimento deveria também ser aberto, farto e de consumo espontâneo. A montagem de aguadas em vários locais no ambiente é a estratégia que se quer alcançar. Na escolha dos locais evite que os animais para encontrar água tenham que andar grandes distâncias. Em todo caso, se não houver formas de se montar aguadas naturais, deve-se montar bebedouros em locais estratégicos de fácil abastecimento e limpeza e como dito anteriormente em locais bastante estratégicos.
10. Zonas de conforto térmico e de segurança – Os animais criados de formas espontâneas, tendo acesso a áreas abertas têm uma facilidade incrível de identificar zonas de conforto térmico e de segurança, onde temperatura, vento, umidade e sombra estão resolvidas em uma equação equilibrada, onde todos estes fatores estão de uma forma distribuída que agradam aos animais, além de lhes proporcionar segurança durante seu cochilo/descanso. Estes animais passam várias horas em descanso, descontraídos, cochilando. Estes ambientes são locais de recompor as energias gastas a procura de alimentos. São espaços estes que precisam ser imitados, copiados, multiplicados em mais locais.
11. Proteção de intempéries – Os animais ao perceberem mudanças de clima para ventanias, tempestades ou até temporais, buscam sempre espaços que possam servir de abrigo, logo nestes ambientes que estão sendo montados é bom pensar em ter áreas que atendam esta demanda repentina e inesperada. Estes espaços vão Além da instalação da habitação ou abrigo. Locas, buracos, grandes árvores, grutas, cavernas podem ser locais que podem resolver esta necessidade nos ambientes projetados.
12. Áreas de ajuntamento coletivo – Este ambiente projetado também vai exigir locais onde se pode juntar a(s) espécies que estão se criando, para determinados manejos coletivos, como por exemplo, vacinações obrigatórias, contagem e recontagem do plantel, tratamento coletivos, ou qualquer outra operação de manejo que se faça necessário. Um bom local para a implantação destas áreas é na proximidade de comedouros ou aguadas onde os animais se juntam espontaneamente.
13. Conhecimento da reprodução - Estou usando o nome conhecimento e não controle da reprodução, pois a intenção aqui é montar espaços espontâneos onde também os animais possam escolher com quem quer reproduzir. O número de machos reprodutores é colocado no ambiente, levando em consideração a quantidade de fêmeas e o comportamento natural da espécie, numero este que permite a formação de famílias. Depois que se percebe que as famílias foram montadas, vai se conhecer quem será o pai das crias que irão nascer desta família. Os reprodutores ao serem escolhidos devem conter apresentar as características que se quer para a atividade comercial ou de consumo familiar, levando em consideração a aptidão da espécie.
14. Rotacionando a área espontânea – Os animais de forma indireta sempre buscam nunca visitar o mesmo espaço todo dia. Sempre estão se deslocando para outras áreas, deixando a anterior se recuperar. É claro que esta área não vai ficar abandonada ela continua sendo visitada, porém por outras espécies, pois na natureza a lógica utilizada é a seguinte, o desperdício ou resto de um, deve servir de insumo para outra espécie.
15. Ter animais rústicos e adequados ao invés de raças especializadas – Na adequação do animal a área tem-se que levar em consideração este fator. Sempre que se dá preferência por animais de alto padrão produtivo em áreas de que não estão adequadas para este padrão animal, a produção se torna ineficiente. Já os animais do local, adequados e rústicos têm demonstrado nas condições ambientais naturais que seus resultados quando comparados são muito mais eficientes e eficazes. À melhora na higiene, no manejo e na alimentação do rebanho antes de propor a aquisição de animais de alto potencial genético e à construção de instalações sofisticadas deve ser a lógica utilizada
16. Evitar preparar rações autoproduzidas – A lógica que se propõe e se pretende é alcançar o balanceamento da alimentação dos animais realizada por eles mesmos. Nada de ração autoproduzidas, fazer com que os animais possam e tenham condições de preparar a partir do que se tem de forma natural, complementada com as idéias humanas agroecologicas. Balancear com o que se tem a partir do se pode, na quantidade ideal para os animais que se possui.
17. Ser mais generalista que especialista – Todas as vezes que se busca a especialização se perde a noção de conjunto, do todo, do holísmo do que se quer fazer. Devemos saber que não se consegue fazer ciência boa com apenas dados apenas coletados, se faz praticando, testando, fazendo, errando. Logo a generalização deve ser a pretensão de quem quer entender e praticar a Permacultura no dia a dia. A propósito, solicita-se não confundir generalista com superficialista ou "todólogo"; porque, agora muito mais que antes, a agricultura de base ecológica requer profissionais do mais alto nível que tenham a flexibilidade e o engenho que lhes permita desempenhar-se dentro da incerteza, da adversidade, da escassez que se encontra o meio ambiente de muitas propriedades rurais.
Como vemos a permacultura pode nos subsidiar com boas estratégias para que os animais possam fazer parte dos agroecossistemas sem provocar grandes gastos com energias, tempo, entre outros recursos. Quanto mais imitamos ou copiamos as estratégias que a natureza utiliza temos melhores resultados de forma sustentável, ou melhor, permanente.
29 de agosto de 2012
Roberto, considero-o um ser raro e absolutamente necessario ao mundo!Tenho divulgado seu trabalho em redes sociais, inclusive a "novater@yahoogrupos.com.br" para que o maior numero de pessoas e agronomos possam ter acesso aos seus artigos, coerentes, equilibrados, preciosos para quem quer que se proponha a trabalhar no campo e na cidade. A sua tradução da Permacultura aplicada ao semiarido e primorosa. Voce merece o Nobel da sustentabilidade! Gratidão, gratidão, gratidão!
ResponderExcluirRoberto, mais um excelente artigo. Parabéns.
ResponderExcluir