sexta-feira, julho 29

Disseminação natural de sementes cultivadas - Imitando as estratégias naturais


Antônio Roberto Mendes Pereira

Quando olho para qualquer ecossistema natural sempre me pergunto, como as sementes das espécies que compõe este espaço natural foram plantadas? Como surgiram estas sementes? Quem as trouxe para aquele espaço? Como são transportadas de uma área para outra? Quanto tempo leva para que uma árvore de uma determinada área através da sua dispersam natural de sementes consiga ir produzindo descendentes até atingir áreas muito mais distantes, por exemplo, 10 km além da planta mãe?

Todas estas perguntas me incomodam e fico permanentemente buscando respostas observando sempre o espaço natural. Com certeza as respostas vão estar na natureza, e posso perceber e entender todas elas através da observação atenta e meticulosa destes espaços. Olhar, pegar, medir, fazer, testar, comparar, analisar e sintetizar são minhas ferramentas para compreender este espaço natural. E para complementar estas observações busquei através de conversas e pesquisas literárias cientificas, aprofundar mais ainda os conhecimentos adquiridos. Durante todo este processo, fui chegando a algumas conclusões. Logo, a proposta desse novo texto é expor estas idéias trazendo enfoques que talvez não sejam comuns, mas vale apena serem expostos para mais reflexões.

AS OBSERVAÇÕES PERCEBIDAS

Uma vez madura, as sementes precisam ser liberadas da planta-mãe e distribuídas de modo ágil e eficiente. O objetivo maior é atingir o máximo de área disseminada para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da espécie, evitando que haja acúmulo de descendentes nas proximidades da planta mãe, em uma área muito pequena. Esta estratégia evita a monocultura na área desta espécie, com exceção de algumas espécies.

Para que o sucesso desta dispersão venha a ocorrer, as sementes precisam chegar a locais favoráveis ao seu crescimento, em geral um pouco distante da planta mãe, pois nas proximidades desta, a competição pode ser intensa e o risco de morte por patógenos ou insetos herbívoros é bem maior. Pois, a fartura dessa fonte de alimento naquele momento pode atrair e causar um aumento momentâneo de outras espécies, de insetos e animais que se alimentam desta espécie. É o momento da seleção natural. A natureza através dos seus mecanismos escolhe quem fica e quem sai. E normalmente os mais bem desenvolvidos é que vão permanecer, garantindo a qualidade deste descendente.

Vale salientar, que no solo já se encontram muitas das sementes adequadas para cada ecossistema. A dispersão direta destas sementes acontece na sua maioria no entorno da planta matriz ou mãe com a queda dos frutos maduros. Já a dispersão para áreas mais distante acontece através do vento, dos animais e da água dependendo de espécie para espécie.


Na imagem acima vemos estratégias que a natureza utiliza para disseminar as sementes

Uma única árvore, para que ela consiga propagar suas sementes sem ajuda dos animais, da água e do vento levaria com certeza dezenas de anos para atingir uma distância linear de 5 km por exemplo. Pois, se esta árvore fosse uma jaqueira que para ficar adulta e iniciar seu processo de frutificação leva no mínimo 10 a 15 anos, pode-se imaginar o quanto seria lenta esta propagação.

Suas primeiras sementes cairiam a partir da queda dos frutos maduros embaixo ou no máximo no entorno mais próximo da sua copa. E daí até esta semente vir germinar e crescer levaria mais ou menos 10 a 15 anos. Podendo ainda acontecer que as excreções radiculares da planta mãe podem permitir ou não esta germinação. Projete agora quanto tempo levaria para alcançar uma distância de 10 km? Sem contar quanto tempo esta semente leva para germinar, e se não germinar quanto tempo ela consegue ficar em dormência ou armazenada no solo?

A dureza da casca da semente também diz ou revela para nós o tempo de dormência e sua necessidade de fatores ou condições ambientais para que a germinação venha  ocorrer. Diante do exposto trago mais alguns outros questionamentos. Como fazer para entender e copiar os procedimentos naturais para se ter:

·        As sementes cultivadas por nós já presentes no solo a espera das condições propícias para germinar ao invés de só nascerem plantas que não são do nosso cardápio.
·      Como dosar esta germinação para que o percentual de plantas comestíveis por nós possa aumentar neste mesmo espaço?
·      Qual o manejo que precisamos fazer para que as características e os processos naturais possam estar presentes de forma efetiva e ativa na minha área?
·         Qual o momento ideal para dispersar as sementes cultivadas nesta área?
·         Simplesmente, lança-se? Enterrasse? Ou que outras formas precisariam fazer?
·         Em que momento ou estação do ano deve dispersar as sementes pretendidas?
·         Qual a quantidade de sementes ideal para a dispersão?
·         Podem-se misturar várias sementes ao mesmo tempo para fazer a dispersão?
·         Como a natureza seleciona o que deve ou o que não deve nascer?

Em todos estes questionamentos podemos sugerir idéias, princípios básicos, mas a inteireza e completude do processo são de competência da natureza. Porém precisamos pesquisar e conhecer mais profundamente o local ou o ambiente que se vai agir ou intervir. Esta minha curiosidade permanente é que me faz ser um bom observador, e com toda certeza esta me permiti a cada dia entender ainda mais a natureza. Todo fazer de forma constante nos remete a uma prática de menos probabilidade de erros, porém, uma total segurança é impossível, pois o comando maior das ações produtivas no meio ambiente é da natureza.

O que fazer para que entre duas sementes, uma cultivada e outra nativa as duas germinem no mesmo espaço? A semente nativa por ter sido adaptada através da seleção natural, estará mais adequada à área e rapidamente irá germinar, desde que as condições climáticas e de fertilidade entre outras estejam propícias. Quanto à semente cultivada, quanto mais adaptada e mais próxima de ser nativa mais probabilidade de germinar e de sobreviver terá. Logo, quanto mais exótico aquele ambiente menos possibilidades de se desenvolver.

Para se ter uma semente adaptada ou crioula, ou melhor, mais nativa e que ambas as espécies de sementes (cultivadas ou não) possam germinar juntas precisamos seguir as  orientações técnicas e intuitivas. Orientações estas que quando executadas aumentam a sustentabilidade da área, pois quanto mais próximo das características da natureza, maior probabilidade de sucesso.

1.      Deixar de comprar sementes para o plantio. Deve-se iniciar a seleção das sementes que tem. Planta-se, maneja-se, colhe-se e seleciona-se, escolhendo os frutos mais bem desenvolvidos, desde que estes tenham sido produzidos nas condições que se tem, do local, da fertilidade e das condições de manejo daquele ambiente. Esta é uma condição necessária, pois trazer sementes que foram produzidas em áreas distantes, em outras condições de fertilidade, de bio estrutura de solo, em outras condições climáticas pode causar problemas para que esta semente se adéqüe ao novo ambiente.


Na imagem vemos uma seleção simples de sementes de milho, garantindo uma qualidade na produção. As sementes que vão ser armazenadas para o próximo plantio é a do centro da espiga como se vê na imagem acima. As sementes descartadas de ambos os lados da espiga é para evitar que as sementes com defeitos possam passar estas informações genéticas para as próximas gerações.

2.      Plantios em fila são formas e modelos humanos que vão de encontro às formas naturais. A natureza permite o nascimento quase todo aleatório, misturado e tudo junto. Estas condições de nascerem misturadas ajudam a garantir que suas necessidades possam ser atendidas, pois a concorrência pelas mesmas necessidades se todas da mesma espécie (monocultura) estiverem juntas irá ser maior. Outra vantagem também é que esta mistura ajuda a proteger as plântulas enquanto pequena e com pouca defesa de predadores, pois a não proximidade de outra da mesma espécie diminui o ataque dos predadores, os mesmos terão dificuldades de encontrar outro representante da mesma espécie no entorno mais próximo.


Nas imagens acima observe onde a possibilidade de ataque de pragas é maior? Onde o esgotamento do solo pode acontecer com mais facilidade? Onde tenho maiores garantias de que irei colher alimentos variados para atender a uma dieta variada? Imagem da direita SERTA Ibimirim.

3.      Tente ao máximo escolher cultivos que se combinem. Que a necessidade de um seja atendida pelo outro. E caso esta necessidade não venha a ser atendida, que pelo menos as relações entre uma espécie e outra sejam indiferentes, isto é não se prejudiquem. Existem plantas que são companheiras como também plantas que são antagonistas e indiferentes. Pesquise sobre elas!


Na imagem acima vemos um consorcio perfeito entre plantas companheiras. A parceria acontecendo de forma natural através das plantas. Imagens SERTA Ibimirim.

4.      Que a forma e a distância destes cultivos sejam de maneira que o solo não fique e nem permaneça descoberto, nu, desprotegido, exposto às intempéries naturais. A permanente cobertura do solo é também uma garantia de que vai  ter uma fonte permanente de fertilizantes em constante processo de ciclagem, podendo atender as necessidades dos cultivos e das plantas nativas de forma permanente.


Na imagem acima perceba que ambos os solos estão cobertos, protegidos. A única diferença é que um está protegido com uma cobertura verde e viva e a outra com uma cobertura morta. A melhor maneira é que ambas as coberturas possam estar juntas na mesma área e no mesmo plantio.

5.      Que algumas destas sementes permaneçam no solo de maneira natural. Que caiam e permaneça no solo esperando o próximo momento ideal para reiniciarem um novo processo de germinação, como exemplo: alface – que a semente caia no solo e se multiplique através da quantidade dispersada pela flor sem termos que plantá-las. Escolha alguns pés, os mais bem desenvolvidos e permitam que eles floresçam para que esta disseminação genética possa acontecer.


Pés de beterraba e alface crescendo naturalmente no meio de ervas nativas. Germinação espontânea. Imagem SERTA Ibimirim.

Quando a natureza permite que estas plantas germinem, é porque estas encontraram suas necessidades imediatas atendidas, logo vão poder se desenvolver muito bem. Como exemplo, podemos frisar pés de tomate que nascem nos quintais onde as sementes foram jogadas aleatoriamente.


Esteja atento, pois a natureza utiliza estratégias de perpetuação das espécies. As espécies de mais fácil multiplicação, a quantidade de sementes por fruto é menor. Já as espécies de mais difícil multiplicação e crescimento a natureza normalmente disponibiliza mais sementes, pois a germinação e permanência são mais difíceis de situar. Precisamos aumentar a quantidade de sementes cultivadas nas áreas. Este aumento precisa ser planejado, como sugestão ler o texto “A genética desperdiçada.

6.      O tamanho da espécie também é outro fator que influência na seleção natural dos espaços. Quanto maior, mais espaço ela vai necessitar. Ela é mais exigente, necessita de tudo mais, logo, este espaço precisa ter uma disponibilidade de nutrientes, água, luz que correspondam as suas necessidades. Não podemos esquecer-nos de facilitar ou criar estratégias para que não se precise trazer nada de fora. A retirada e a permanência da fertilidade devem ser garantidas.

7.      Precisamos facilitar e até ajudar para que a germinação possa acontecer ao ximo de forma espontânea e natural. Árvores e gramas liberam sementes que caem no chão, onde germinam e se transformam em novas plantas. As sementes plantadas pela natureza não são tão fracas a ponto de crescerem somente em campos arados. As plantas sempre se desenvolveram através da semeadura direta, sem aração. Poucas são as sementes que precisam ser enterradas para poderem germinar, a maioria germina sob a serrapilheira de matéria orgânica do solo.


Precisamos florestar e reflorestar nossos solos com sementes cultivadas, aumentando a diversificação e a quantidade de plantas cultivadas ou comestíveis por m² numa proporção que também não se reduza drasticamente as sementes de ervas e ou plantas nativas. Este equilíbrio precisa ser pensado e planejado, é tentar povoar sem excluir as nativas. Numa floresta natural apenas 7 a 8% são de alimentos comestíveis por nós. A permacultura nos ajuda a aumentar este percentual até a 60%.

Aprenda com ela. Ajude a natureza. Faça você mesmo dispersão de sementes. Distribua. Lance, não desperdice esse grande capital genético. Quando você se alimenta de algumas plantas que possuem uma grande quantidade de sementes, utilize-as. Não permita que estas sementes sejam atiradas no lixo. Espalhe-as em algum solo que você acha que elas podem ter a chance de germinar e tornar-se uma planta que possa atender as mais diversas funções.

Tiago Valiensi nos alerta que:

“Quando uma semente não germina, há pouco que se possa fazer. Você pode regar, pode adubar você pode alimentá-la com os raios do sol. Não cabe a nós decidir se aquela pequena semente se tornará arvore, se dará frutos, se alimentará os seres vivos. A nós cabe apenas não atrapalhar, a nós cabe apenas fornecer o carinho que toda criança semente necessita. Quando uma semente não germina, a culpa está em uma série de fatores, conhecidos e desconhecidos, mas não na vontade humana. A vida é algo selvagem, governada por si mesma. O acaso é dono de todas as decisões. Bem aventurados os alvos da sincronicidade, que podem ver suas sementes germinar, suas árvores crescerem e frutificarem”

24 de julho de 2011

Um comentário:

  1. Não consigo postar comentários pelo google! vou postar como anônimo!
    uma amiga Portuguesa agricultora de orgânicos há tempos, está com um problema nuns tomateiros: "É que eu tenho pela primeira vez na vida, o virus do mosaico do tabaco. Apareceu num tomateiro na horta de Vairão e, contaminei as outras duas hortas. Já arranquei os tomateiros doentes e espero ter controlado a doença. Atacou apenas os yellow pear que é uma variedade de tomate do séc XVII. Isto das variedades antigas tem estes problemas...têm doenças antigas para as quais não há cura. Mas se o virus vira cabeça for o mesmo, pode ter uma planta que o pode curar ?" é que o computador dela é muito lento! e como ela é super disponível para todos nos grupos de hortas do Facebook, eu faço umas pesquisas pra ela!eu sou do Rio, e sua seguidora! :) Horta em casa e hortas na varanda...
    ( ebzimpeck@hotmail.com ) Grata, BETH.

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