Antônio Roberto Mendes Pereira
Quando olho para qualquer ecossistema
natural sempre me pergunto, como as sementes das espécies que compõe este
espaço natural foram plantadas? Como surgiram estas sementes? Quem as trouxe
para aquele espaço? Como são transportadas de uma área para outra? Quanto tempo
leva para que uma árvore de uma determinada área através da sua dispersam
natural de sementes consiga ir produzindo descendentes até atingir áreas muito
mais distantes, por exemplo, 10 km além da planta mãe?
Todas estas perguntas me incomodam e
fico permanentemente buscando respostas observando sempre o espaço natural. Com
certeza as respostas vão estar na natureza, e posso perceber e entender todas
elas através da observação atenta e meticulosa destes espaços. Olhar, pegar,
medir, fazer, testar, comparar, analisar e sintetizar são minhas ferramentas
para compreender este espaço natural. E para complementar estas observações
busquei através de conversas e pesquisas literárias cientificas, aprofundar mais
ainda os conhecimentos adquiridos. Durante todo este processo, fui chegando a
algumas conclusões. Logo, a proposta desse novo texto é expor estas idéias
trazendo enfoques que talvez não sejam comuns, mas vale apena serem expostos
para mais reflexões.
AS OBSERVAÇÕES PERCEBIDAS
Uma vez madura, as sementes precisam ser liberadas da planta-mãe e
distribuídas de modo ágil e eficiente. O objetivo maior é atingir o máximo de
área disseminada para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da espécie,
evitando que haja acúmulo de descendentes nas proximidades da planta mãe, em
uma área muito pequena. Esta estratégia evita a monocultura na área desta
espécie, com exceção de algumas espécies.
Para que o sucesso desta dispersão venha a ocorrer, as sementes precisam
chegar a locais favoráveis ao seu crescimento, em geral um pouco distante da
planta mãe, pois nas proximidades desta, a competição pode ser intensa e o
risco de morte por patógenos ou insetos herbívoros é bem maior. Pois, a fartura
dessa fonte de alimento naquele momento pode atrair e causar um aumento momentâneo
de outras espécies, de insetos e animais que se alimentam desta espécie. É o
momento da seleção natural. A natureza através dos seus mecanismos escolhe quem
fica e quem sai. E normalmente os mais bem desenvolvidos é que vão permanecer,
garantindo a qualidade deste descendente.
Vale salientar, que no solo já se
encontram muitas das sementes adequadas para cada ecossistema. A dispersão direta
destas sementes acontece na sua maioria no entorno da planta matriz ou mãe com
a queda dos frutos maduros. Já a dispersão para áreas mais distante acontece
através do vento, dos animais e da água dependendo de espécie para espécie.
Na imagem acima vemos estratégias que
a natureza utiliza para disseminar as sementes
Uma única árvore, para que ela consiga
propagar suas sementes sem ajuda dos animais, da água e do vento levaria com
certeza dezenas de anos para atingir uma distância linear de 5 km por exemplo.
Pois, se esta árvore fosse uma jaqueira que para ficar adulta e iniciar seu
processo de frutificação leva no mínimo 10 a 15 anos, pode-se imaginar o quanto
seria lenta esta propagação.
Suas primeiras sementes cairiam a
partir da queda dos frutos maduros embaixo ou no máximo no entorno mais próximo
da sua copa. E daí até esta semente vir germinar e crescer levaria mais ou
menos 10 a 15 anos. Podendo ainda acontecer que as excreções radiculares da
planta mãe podem permitir ou não esta germinação. Projete agora quanto tempo
levaria para alcançar uma distância de 10 km? Sem contar quanto tempo esta
semente leva para germinar, e se não germinar quanto tempo ela consegue ficar
em dormência ou armazenada no solo?
A dureza da casca da semente também
diz ou revela para nós o tempo de dormência e sua necessidade de fatores ou
condições ambientais para que a germinação venha ocorrer. Diante do exposto trago mais alguns outros
questionamentos. Como fazer para entender e copiar os procedimentos naturais para
se ter:
· As sementes cultivadas por nós já presentes no
solo a espera das condições propícias para germinar ao invés de só nascerem
plantas que não são do nosso cardápio.
· Como dosar esta
germinação para que o percentual de plantas comestíveis por nós possa aumentar
neste mesmo espaço?
· Qual o manejo que
precisamos fazer para que as características e os processos naturais possam
estar presentes de forma efetiva e ativa na minha área?
·
Qual o momento
ideal para dispersar as sementes cultivadas nesta área?
·
Simplesmente,
lança-se? Enterrasse? Ou que outras formas precisariam fazer?
·
Em que momento ou
estação do ano deve dispersar as sementes pretendidas?
·
Qual a quantidade
de sementes ideal para a dispersão?
·
Podem-se misturar
várias sementes ao mesmo tempo para fazer a dispersão?
·
Como a natureza
seleciona o que deve ou o que não deve nascer?
Em todos estes questionamentos podemos
sugerir idéias, princípios básicos, mas a inteireza e completude do processo
são de competência da natureza. Porém precisamos pesquisar e conhecer mais
profundamente o local ou o ambiente que se vai agir ou intervir. Esta minha curiosidade
permanente é que me faz ser um bom observador, e com toda certeza esta me
permiti a cada dia entender ainda mais a natureza. Todo fazer de forma constante
nos remete a uma prática de menos probabilidade de erros, porém, uma total
segurança é impossível, pois o comando maior das ações produtivas no meio
ambiente é da natureza.
O que fazer para que entre duas
sementes, uma cultivada e outra nativa as duas germinem no mesmo espaço? A
semente nativa por ter sido adaptada através da seleção natural, estará mais
adequada à área e rapidamente irá germinar, desde que as condições climáticas e
de fertilidade entre outras estejam propícias. Quanto à semente cultivada,
quanto mais adaptada e mais próxima de ser nativa mais probabilidade de
germinar e de sobreviver terá. Logo, quanto mais exótico aquele ambiente menos
possibilidades de se desenvolver.
Para se ter uma semente adaptada ou
crioula, ou melhor, mais nativa e que ambas as espécies de sementes (cultivadas
ou não) possam germinar juntas precisamos seguir as orientações técnicas e intuitivas. Orientações
estas que quando executadas aumentam a sustentabilidade da área, pois quanto
mais próximo das características da natureza, maior probabilidade de sucesso.
1. Deixar de comprar sementes para o plantio.
Deve-se iniciar a seleção das sementes que tem. Planta-se, maneja-se, colhe-se
e seleciona-se, escolhendo os frutos mais bem desenvolvidos, desde que estes
tenham sido produzidos nas condições que se tem, do local, da fertilidade e das
condições de manejo daquele ambiente. Esta é uma condição necessária, pois
trazer sementes que foram produzidas em áreas distantes, em outras condições de
fertilidade, de bio estrutura de solo, em outras condições climáticas pode
causar problemas para que esta semente se adéqüe ao novo ambiente.
Na imagem vemos uma seleção simples de
sementes de milho, garantindo uma qualidade na produção. As sementes que vão
ser armazenadas para o próximo plantio é a do centro da espiga como se vê na
imagem acima. As sementes descartadas de ambos os lados da espiga é para evitar
que as sementes com defeitos possam passar estas informações genéticas para as
próximas gerações.
2. Plantios em fila são formas e modelos humanos
que vão de encontro às formas naturais. A natureza permite o nascimento quase
todo aleatório, misturado e tudo junto. Estas condições de nascerem misturadas
ajudam a garantir que suas necessidades possam ser atendidas, pois a
concorrência pelas mesmas necessidades se todas da mesma espécie (monocultura)
estiverem juntas irá ser maior. Outra vantagem também é que esta mistura ajuda
a proteger as plântulas enquanto pequena e com pouca defesa de predadores, pois
a não proximidade de outra da mesma espécie diminui o ataque dos predadores, os
mesmos terão dificuldades de encontrar outro representante da mesma espécie no
entorno mais próximo.
Nas imagens acima observe onde a possibilidade
de ataque de pragas é maior? Onde o esgotamento do solo pode acontecer com mais
facilidade? Onde tenho maiores garantias de que irei colher alimentos variados
para atender a uma dieta variada? Imagem da direita SERTA Ibimirim.
3. Tente ao máximo escolher cultivos que se combinem.
Que a necessidade de um seja atendida pelo outro. E caso esta necessidade não venha
a ser atendida, que pelo menos as relações entre uma espécie e outra sejam
indiferentes, isto é não se prejudiquem. Existem plantas que são companheiras
como também plantas que são antagonistas e indiferentes. Pesquise sobre elas!
Na imagem
acima vemos um consorcio perfeito entre plantas companheiras. A parceria
acontecendo de forma natural através das plantas. Imagens SERTA Ibimirim.
4. Que a forma e a distância destes cultivos sejam
de maneira que o solo não fique e nem permaneça descoberto, nu, desprotegido,
exposto às intempéries naturais. A permanente cobertura do solo é também uma
garantia de que vai ter uma fonte
permanente de fertilizantes em constante processo de ciclagem, podendo atender
as necessidades dos cultivos e das plantas nativas de forma permanente.
Na imagem
acima perceba que ambos os solos estão cobertos, protegidos. A única diferença
é que um está protegido com uma cobertura verde e viva e a outra com uma
cobertura morta. A melhor maneira é que ambas as coberturas possam estar juntas
na mesma área e no mesmo plantio.
5. Que algumas destas sementes permaneçam no solo
de maneira natural. Que caiam e permaneça no solo esperando o próximo momento
ideal para reiniciarem um novo processo de germinação, como exemplo: alface –
que a semente caia no solo e se multiplique através da quantidade dispersada
pela flor sem termos que plantá-las. Escolha alguns pés, os mais bem
desenvolvidos e permitam que eles floresçam para que esta disseminação genética
possa acontecer.
Pés de beterraba e alface crescendo
naturalmente no meio de ervas nativas. Germinação espontânea. Imagem SERTA
Ibimirim.
Quando a natureza permite que estas plantas
germinem, é porque estas encontraram suas necessidades imediatas atendidas,
logo vão poder se desenvolver muito bem. Como exemplo, podemos frisar pés de
tomate que nascem nos quintais onde as sementes foram jogadas aleatoriamente.
Esteja atento, pois a natureza utiliza
estratégias de perpetuação das espécies. As espécies de mais fácil
multiplicação, a quantidade de sementes por fruto é menor. Já as espécies de
mais difícil multiplicação e crescimento a natureza normalmente disponibiliza
mais sementes, pois a germinação e permanência são mais difíceis de situar. Precisamos
aumentar a quantidade de sementes cultivadas nas áreas. Este aumento precisa
ser planejado, como sugestão ler o texto “A genética desperdiçada”.
6. O tamanho da espécie também é outro fator que
influência na seleção natural dos espaços. Quanto maior, mais espaço ela vai
necessitar. Ela é mais exigente, necessita de tudo mais, logo, este espaço
precisa ter uma disponibilidade de nutrientes, água, luz que correspondam as
suas necessidades. Não podemos esquecer-nos de facilitar ou criar estratégias
para que não se precise trazer nada de fora. A retirada e a permanência da
fertilidade devem ser garantidas.
7. Precisamos facilitar e até ajudar para que a
germinação possa acontecer ao ximo de forma espontânea e natural. Árvores e
gramas liberam sementes que caem no chão, onde germinam e se transformam em
novas plantas. As sementes plantadas pela natureza não são tão fracas a ponto
de crescerem somente em campos arados. As plantas sempre se desenvolveram
através da semeadura direta, sem aração. Poucas são as sementes que precisam
ser enterradas para poderem germinar, a maioria germina sob a serrapilheira de
matéria orgânica do solo.
Precisamos
florestar e reflorestar nossos solos com sementes cultivadas, aumentando a
diversificação e a quantidade de plantas cultivadas ou comestíveis por m² numa
proporção que também não se reduza drasticamente as sementes de ervas e ou
plantas nativas. Este equilíbrio precisa ser pensado e planejado, é tentar
povoar sem excluir as nativas. Numa floresta natural apenas 7 a 8% são de
alimentos comestíveis por nós. A permacultura nos ajuda a aumentar este
percentual até a 60%.
Aprenda com
ela. Ajude a natureza. Faça você mesmo dispersão de sementes. Distribua. Lance,
não desperdice esse grande capital genético. Quando você se alimenta de algumas
plantas que possuem uma grande quantidade de sementes, utilize-as. Não permita
que estas sementes sejam atiradas no lixo. Espalhe-as em algum solo que você
acha que elas podem ter a chance de germinar e tornar-se uma planta que possa
atender as mais diversas funções.
Tiago
Valiensi nos alerta que:
“Quando
uma semente não germina, há pouco que se possa fazer. Você pode regar, pode adubar
você pode alimentá-la com os raios do sol.
Não cabe a nós decidir se aquela pequena semente
se tornará arvore, se dará frutos, se alimentará os seres vivos. A nós cabe
apenas não atrapalhar, a nós cabe apenas fornecer o carinho que toda criança
semente necessita. Quando uma
semente não germina, a culpa está em uma série de fatores, conhecidos e desconhecidos,
mas não na vontade humana.
A vida é algo selvagem, governada por si mesma. O
acaso é dono de todas as decisões. Bem aventurados os alvos da sincronicidade,
que podem ver suas sementes germinar, suas árvores crescerem e frutificarem”
24
de julho de 2011
Não consigo postar comentários pelo google! vou postar como anônimo!
ResponderExcluiruma amiga Portuguesa agricultora de orgânicos há tempos, está com um problema nuns tomateiros: "É que eu tenho pela primeira vez na vida, o virus do mosaico do tabaco. Apareceu num tomateiro na horta de Vairão e, contaminei as outras duas hortas. Já arranquei os tomateiros doentes e espero ter controlado a doença. Atacou apenas os yellow pear que é uma variedade de tomate do séc XVII. Isto das variedades antigas tem estes problemas...têm doenças antigas para as quais não há cura. Mas se o virus vira cabeça for o mesmo, pode ter uma planta que o pode curar ?" é que o computador dela é muito lento! e como ela é super disponível para todos nos grupos de hortas do Facebook, eu faço umas pesquisas pra ela!eu sou do Rio, e sua seguidora! :) Horta em casa e hortas na varanda...
( ebzimpeck@hotmail.com ) Grata, BETH.