Antônio Roberto Mendes Pereira
Técnico, Permacultor e Pedagogo.
A água é essencial para todas as
espécies. Não se consegue viver sem este liquido precioso. Neste século o problema da água vem se
tornando cada vez mais sentido. Várias
são as crises que os seres humanos vêm sofrendo causadas por nós mesmos.
A mais grave atualmente é a crise energética.
As reservas naturais de petróleo, de carvão e gás estão se esgotando. Estas
reservas eram responsáveis por 80 % da energia consumida no mundo. Por incrível que pareça os seres humanos
estão conseguindo cada vez mais colocar muitos dos recursos naturais em cheque
de manutenção. A superexploração é evidente em muitos recursos como, por
exemplo, o corte de árvores é tão intenso e rápido que as plantas não conseguem
acompanhar com o rebrote e nascimento espontâneo ou até cultivado. As
necessidades ultrapassam a velocidade natural de atender a tal demanda. Estamos
convertendo áreas de pastejo nativo em desertos por excesso da carga animal
utilizada nas criações que se dizem racionais e tecnificadas.
Os aqüíferos estão sofrendo com a
mesma forma irracional de uso nas irrigações, no consumo sem controle levando
os rios e suas nascentes a diminuírem suas provisões até chegando a secar. Os
solos pela forma errada de uso estão cada vez mais vem perdendo completamente
sua fertilidade natural, causada principalmente pela erosão nas suas diferentes
formas. Em relação à pesca o mesmo processo vem acontecendo, estamos pescando
mais rápido do que a velocidade do repovoamento natural. O processo de
reprodução esta muito aquém da velocidade do consumo e de exploração. As
maquinas cada vez mais estão ficando mais potentes e velozes. E a capacidade de
transformar uma paisagem é muito mais rápida. A natureza com certeza não
acompanha este consumo desenfreado e irracional. Com toda esta modernidade de maquinaria
estamos lançando na atmosfera quantidades exorbitantes de CO2. Quantidades de
CO2 que a natureza não consegue absorver, acentuando o efeito estufa e
conseqüentemente as mudanças climáticas locais e globais. As mudanças dos
ambientes nesta velocidade também vêm ajudando no desaparecimento de muitas
espécies animais e vegetal. A biodiversidade dos ambientes vem sofrendo rápidas
perdas, e a capacidade de adaptação a estes novos ecossistemas perturbados é
lento, logo se percebe que estamos levando todos os ecossistemas à situação de
extinção em massa. O planeta esta em cheque, e corre-se o risco de um cheque
mate.
Precisamos fazer algo urgentemente. E
que esta mudança seja feita nas mais diversas ações, nas mais diversas
atividades profissionais. Precisamos envolver a todos independentemente da
idade. Pois, todos nós, conscientes ou não somos responsáveis por estas crises
de esgotamento geral. Os agricultores
grandes ou pequenos cada um tem uma parcela de responsabilidade nestes
esgotamentos. E este artigo vem propondo um novo olhar sobre o uso da água, no
âmbito da produção de alimentos.
Nas regiões de clima semi árido
necessita-se cada vez mais produzir conhecimentos sobre este ecossistema. Já se
percebe uma capacidade nas populações rurais de ajustar seus meios de vida aos
ecossistemas em que vivem e produzem. Mas, mesmo diante dessa capacidade
precisamos gerar novidades e percepções que levem cada vez mais a causar menos
impactos ambientais ao mesmo tempo que se consegue uma melhor produtividade sem
causar esgotamentos.
Os camponeses têm toda uma sapiência
empírica nas criações dos animais, reconhece quais os animais que consome mais
água e menos água. Sabe qual o momento de oferecer esta água. Identificam quais
os melhores alimentos para alimentar estes animais. Reconhece quando estes
animais adoecem ou estão passando por muitos desequilíbrios. A mudança do
comportamento destes animais quando criados é perceptível por eles. Mas quando
comparamos estes conhecimentos e experiência em relação aos vegetais cultivados
a percepção não é tão evidente. Percebe-se certa falta dos mesmos conhecimentos
e mecanismos reconhecidos nas criações dos animais. Que plantas cultivadas
necessitam de mais água que outras, o quanto de água cada cultura precisa, de
quanto em quanto tempo, estas e outras são informações que não são tão
evidentes no dia dos camponeses. Elas podem até se sentidas, mas não são
expressas nas falas e em quantidades.
Existe um grande número de plantas
cultivadas adaptadas aos mais variados ecossistemas. Para o semi árido podemos
listar várias culturas umas que consomem mais água outras que consome pouca e
até outras de baixíssimo consumo. Até parecendo que não consome este liquido
precioso. A medida utilizada para se medir a quantidade de água consumida pelas
plantas é o milímetros de água. Na maioria dos livros técnicos direcionados aos
principais cultivos encontram-se estas necessidades de consumo das plantas em
mm. Se dividir-mos estes milímetros pela longevidade da planta teremos um
volume aproximado de consumo por planta dia, semana ou até mensal. Se quisermos
podemos ir mais além, conhecer quais os momentos de desenvolvimento da planta
que mais necessita de água, dosando melhor esta distribuição. Esta
racionalidade só é alcançada a partir do conhecimento mais profundo do
ecossistema e da cultura em questão. As estações do ano também têm grandes
influencia na bebida das plantas. E precisamos conhecer mais profundamente
estas exigências.
Já em uma área onde a diversidade é
aplicada e intensa, este controle se torna mais difícil ou até impraticável. A
mistura de plantas com necessidades diferentes não permite estes cálculos de
forma precisa. O meio que podemos utilizar nestes espaços biodiversos é
procurar manter o solo úmido o mais tempo possível. E isto só acontece
utilizando uma estratégia natural utilizado pelos ecossistemas. A bio estrutura
do solo permitindo que toda a água de chuva que caia se infiltre é uma das
grandes estratégias utilizadas pela natureza. Porém esta estratégia esta
intimamente conectada com outras, onde tudo esta intimamente ligado a tudo. A
cobertura do solo, a presença de microorganismos e umidade além da quantidade
diversificada de raízes intricamente ligados cria um ambiente de riqueza onde a
vida consegue se estruturar da melhor forma possível.
Conheça mais seu agroecossistema
cultivado, conheça mais os elementos vivos que compõe seu espaço produtivo.
Este conhecimento provocará colheitas mais fartas e garantidas.
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