sexta-feira, março 25

Aprendendo a cultivar água

Antônio Roberto Mendes Pereira

Um dos grandes problemas atuais e futuros é água. Sua captação, armazenamento, distribuição e qualidade deve ser preocupação de todos. Nos espaços urbanos e rural a sua necessidade é crescente e precisa-se fazer algo para se ter este liquido precioso. Cada vez mais os solos não conseguem absorver a água. E o escorrimento é visivel e perdivel. O que fazer para que cada propriedade possa se tornar sustentável em relação a água?
Precisamos de água para tudo:
  • Para beber
  • Para cozinhar
  • Para lavar
  • Para irrigar
  • Para os animais
  • Para nos higienizar
  • Para gerar energia
  • Para lazer
Como se percebe ela esta presente em quase todos os momentos de nossa vida. Não podemos viver sem ela, mas pouco fazemos para retê-la, guarda-la. Em algumas propriedades já se encontra dilemas como beber ou plantar? E vale salientar que água a natureza nós oferta gratuitamente nas chuvas, no sereno, na garoa e até nas tempestades, o grande problema é que muitos de nós não fazemos absolutamente nada para coletar a mesma. Ela avisa que esta chegando, chega, cai, soca e escorre, e vai embora.
 As próximas gerações com certeza irão viver sobre o controle deste bem chamado água. Embora o público saiba que há uma relação direta entre o desmatamento e a falta de água, poucos sabem que é possível CONVIDAR a água de volta à propriedade rural, através de técnicas de manejo da vegetação. Podemos fazer brotar nascentes que secaram, e limpar riachos turvos. Parafraseando Marsha Hanzi – (Cultivando a Água) “Dispondo de mais de 300 hectares, podemos até influir no regime de chuvas”. E se contarmos com a ajuda poderosa da natureza tudo se torna mais fácil. Observamos que a Natureza sempre evolui em direção à vida, e isto inclui a re-umidificação da paisagem. Onde há vegetação, há água. E qual será o ato mais nobre de cidadania do que fazer algo para aumentar a água disponível nos ambientes onde se vive?
Observe o estudo que o instituto de permacultura IPEMA BRASIL fez através de Marsha Hanzi que é do instituto de Permacultura da Bahia.

RELAÇÃO ENTRE A VEGETAÇÃO E A ÁGUA

1.         A vegetação é composta de água! Mas de 90 por cento da estrutura da planta (e do nosso corpo) é feita de água. Uma floresta (uma caatinga) representa uma enorme reserva de água.
2.            Um dos subprodutos da decomposição da matéria orgânica é a água. Um sistema rico em biomassa em constante decomposição (cobertura morta) é constantemente alimentado com água.
3.        À noite, a folha coleta gotinhas de umidade do ar, e a recicla para o sistema (criando o sereno). Este pode ser uma fonte importante de umidade para o semi-árido. Uma árvore frondosa pode ter meio-hectare de superfície de folhas, todas coletando água. Quando a mata é tombada para plantar culturas baixas (de pouca área foliar), perde-se uma grande fonte de umidade. Já foi provado que sai mais água pelo Rio Amazona que cai em forma de chuva. O restante vem por condensação.
4.        Quando uma corrente de ar úmido bate numa floresta (como acontece no litoral), esta barreira comprime o ar, tornando-o mais pesado, facilitando a formação de chuva. Se os topos da serra do mar são desmatados (para, por exemplo, formar pastos), perde-se este efeito, o ciclo das chuvas é quebrado, prejudicando o interior do estado.
5.      O húmus formado por detritos é uma esponja, com grande capacidade de absorver água. 10 cm de húmus pode armazenar 03 cm de água. Uma floresta esconde um lago raso no seu pé.
6.        As raízes das plantas absorvem a água, não deixando esta escapar do sistema. Esta água é reciclada pela seiva das plantas e transpirada, formando novas nuvens. Merece apontar que esta água transpirada é uma solução rica em produtos de metabolismo e padrões energéticos, totalmente diferentes da água evaporada de um solo nu.
7.          A vegetação rebaixa a temperatura do solo por volta de 8 graus, diminuindo a taxa de evaporação. Esta temperatura mais baixa também faz com que as nuvens desçam, facilitando a chegada das chuvas (o ar quente sobe, o ar frio desce). A árvore cria água por um processo químico! O produto do metabolismo, em presença da luz solar, é o oxigênio. O produto deste mesmo metabolismo, na escuridão do solo, é o hidrogênio. A chuva leva o oxigênio do ar para dentro do solo, onde encontra o hidrogênio-e uma nova molécula de água é criada.

ESTRATÉGIAS PARA RECUPERAR A ÁGUA

1. Reflorestamento dos topos de todas as serras. Pelo efeito de comprimento do ar e condensação, pode reciclar água para os campos abaixo. Eu já vi, no Sertão, um topo florestado dentro da nuvem enquanto um pasto vizinho, da mesma altura, estava descoberto.
2. Matas ciliares (na beira dos rios e riachos). Estas fazem com que a água chegue gradativamente ao longo do ano, evitando enchentes. Estas matas podem ser produtivas com frutas.
3. Reflorestamento de boqueirões (cabeça de vale). São lugares onde junta-se as águas e pode fazer brotar uma fonte ou um riacho.
4. Quebra-ventos para diminuir a evaporação-vital no Sertão, talvez a estratégia mais importante.
5. Plantio de policulturas, incluindo elementos arbóreos e muita massa orgânica. O campo nunca se desnuda, e toda a água se conserva.
6. Quebrar pastos grandes em piquetes menores rodeados por faixas forrageiras.
7. Reciclar toda a água servida em vez de jogá-la diretamente no rio. Isto se faz facilmente com filtros biológicos, feitos de canteiros de plantas aquáticas. 100 litros de água utilizados três vezes significam 300 litros de água.
8. Nas cidades e no campo, captar a água dos telhados. Em Salvador, uma casa de 100 metros quadrados captaria aproximadamente 170.000 litros de água por ano. Mesmo no Sertão, esta casa captaria de 30.000 a 60.000 litros, conforme o ano. Com isto as cidades terão menos necessidade de esgotar os rios.
É claro que estas estratégias, além de melhorar o clima e aumentar a disponibilidade da água nos ambientes em que se vive, melhoram as condições do campo, tornando-os mais produtivos. Assim um ato de cidadania reverte também em benefício direto para o
agricultor.

A VEGETAÇÃO E A CAPACIDADE DE ARMAZENAR ÁGUA

Ao olharmos a vegetação de uma paisagem poderemos tirar uma série de informações sobre aquele ambiente. Um deles é a capacidade que aquele ambiente tem de armazenamento de água no solo. Observe a imagem abaixo e responda onde tem mais água armazenada?



Ambas as paisagens demonstram que a água faz parte do ambiente, mas com certeza a primeira tem muita mais água guardada, pois o desenvolvimento da vegetação é muito mais arbustivo. O volume de água no subsolo é um verdadeiro rio subterrâneo. E toda esta vegetação é co-responsável por esta acumulação de água. As raízes profundas, a matéria orgânica da superfície e toda a copa das plantas são verdadeiras maquinas de captar e direcionar e armazenar água no solo.
Os canais de irrigação subterrâneos são formados pelas raízes, pelas minhocas, pela decomposição das raízes mortas, enfim por toda a fauna e flora. É uma integração permanente de elementos que corrobora para o aumento do potencial e da exuberância da biomassa do ambiente.
Cada uma integração a mais de elementos significa mais aumento de biomassa que conseqüentemente aumenta o poder de armazenamento e de consumo de água. A melhoria do clima e dos microclimas que vão sendo formados também é influenciado diretamente pelo aumento do armazenamento de água no sistema.
Como podemos perceber a paisagem é um grande indicador de informação de como se encontra o ambiente em relação a uma infinidade de parâmetros:
  • Fertilidade do solo;
  • Potencial de captação e armazenamento de água;
  • Equilíbrio do sistema;
  • Bioestrutura do solo.
Até o formato das copas das plantas influencia nesta captação e no armazenamento de água, além de direcionar onde as plantas estão precisando de água. Observe as folhas de um pé de milho, para onde elas direcionam a água da chuva? As folhas de um pé de bananeira, de um pé de caju, e de um pé de alface?




Observe atentamente e descubra onde estas plantas gostam de receber água?
O tamanho das folhas e seu formato também têm um poder de aumentar ou de diminuir e distribuição da água de chuva, logo poderemos criar consórcios onde determinadas plantas exercem uma função de irrigar suas parceiras no ambiente que esta sendo cultivado.


Um pé de algaroba por ter suas folhas muito pequenas a distribuição de água é bastante uniforme embaixo de sua copa, ela exige água em todos os espaços observe a imagem ao lado, já um pé de bananeira a distribuição de água se concentra no pé da planta e no final da projeção da copa, dependendo da fase de crescimento que a planta se encontra, enquanto pequena requer água no seu pé, quando já crescida distribui no pé e na projeção final da copa.

Diante do exposto o que podemos fazer para imitar estas estratégias da natureza nos agroecossistemas?

  • Criar microclimas ao máximo nas Zonas;
  • Criar consórcios com plantas que tenham maior capacidade de captar e distribuir água com plantas que tenham pouca capacidade;
  • Aumentar a biodiversidade dos sistemas cultivados;
  • Aumentar a integração entre os elementos do sistema;
  • Aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo.



segunda-feira, março 14

As perdas de fertilidade das propriedades através da cultura e os ganhos através da natureza


 Antônio Roberto Mendes Pereira

Um dos processos que dão sustentabilidade no tempo as propriedades é a segurança de nutrientes. O sistema de produção e ou manejo dado às propriedades levam o solo a uma perda constante de fertilidade, remetendo a economia da propriedade a safras cada vez menores e os produtos com baixa qualidade biológica e de péssima aparência. A busca por rendimentos sustentados deve ser freqüente e não de rendimentos que empobrecem continuamente o solo e a propriedade.

No sistema de produção utilizado pela maioria dos produtores varias são as técnicas que levam a esta perda de fertilidade. Várias destas práticas estão culturalmente entranhadas no manejo utilizado pelos produtores. Muitas delas são realizadas imaginando-se que aquela pratica enriquece o solo. Vários produtores mesmo tendo informação que a operacionalização daquela prática empobrece o solo, continuam fazendo dando as mais diversas explicações para continuar a realizar. Em muitas conversas informais que tive com vários produtores percebe-se a certeza empírica de que estão fazendo a coisa de forma correta, mas quando indagado, questionado, normalmente dão as seguintes respostas ou desculpas para o uso continuo:

·         Uso a queimada porque é mais fácil e mais barato para limpar a área a ser cultivada;
·         As cinzas enriquecem o solo fazendo com que as plantas cresçam rapidamente e bem verdinhas;
·         A queimada mata muitas das plantas que iriam nascer para disputar com as plantas do roçado;
·         O preparo da área e do solo se torna mais fácil e ágil;
·         Meu pai sempre fez desta forma e lucrava e conseguiu nos criar.


·                      


Como se percebe existe toda uma lógica para o uso do fogo para o preparo da área e do solo. Para se desconstruir uma maneira cultural de se fazer determinada atividade, não é fácil. É a maior luta que a assistência técnica enfrenta. O não sucesso em muitos casos da não mudança de atitudes é por que a cultura fala mais forte, impor mudanças radicais  deslegitima o que se aprendeu antes com os pais e com os avôs. É de uma forma indireta negar a sabedoria dos seus parentes mais próximos. A certeza que estão fazendo correto é o alimento da cultura. Em várias formações e capacitações ministradas pelo SERTA (Serviço de Tecnologia Alternativa, entidade na qual trabalho), onde tive várias oportunidades de ser o educador que estava ministrando todo processo formativo, sempre percebi as resistências dos produtores diante dos questionamentos. Percebi que uma boa didática também não muda a cultura, precisa-se de algo mais. Com certeza o fazer, o testar e o colocar em cheque o que se sabe ainda é a melhor maneira de se conseguir as transformações necessárias.

A busca por resultados imediatos é outra forma que o sistema capitalista enraizou na cultura das pessoas, onde se deve aumentar a área plantada para aumentar os rendimentos diminuindo o tempo para se conseguir esta façanha tecnológica e produtiva. E os produtores não percebem que a natureza tem seu tempo, tem sua forma de fazer. Cada área tem suas capacidades e limites próprios de atender, e quando se excede estes limites os resultados são desastrosos. Em muitos casos super-alimenta os pais e empobrece os filhos, comparação com os resultados produtivos conseguidos exigindo do solo ao máximo.

O solo é um grande depósito de minerais que é à base da alimentação das plantas, devemos utilizar estes minerais da melhor forma possível para que não venha faltar para as demais gerações de plantas e dos filhos que delas vão se alimentar.

Mas, além dessas práticas que corroboram com a perda da fertilidade dos solos existem outras que precisam ser estudadas, compreendidas, analisadas e postas em prática para que as perdas de fertilidade sejam as mínimas possíveis. Vejamos:

AS CHUVAS – A chuva que é de uma necessidade tremenda pode contribuir imensamente para a pobreza das propriedades, invertendo seu papel de enriquecimento.  O solo precisa estar apto para receber as águas das chuvas e absorver a mesma.  Esta água é a solução que dilui os nutrientes que transporta que eleva, que umidifica todo o espaço onde as raízes devem estar. Logo um solo compactado não permite ou diminui a infiltração, levando toda a vida do solo a sofrer com sua falta.

O solo deve ser a caixa d’água que acumula a água para depois ir distribuindo a partir das necessidades da fauna e flora que vive no solo. E normalmente esta água que não se infiltrou escorre levando com ela muitos kg de nutrientes, carreando para outras áreas até outras propriedades empobrecendo a propriedade em questão. E vale salientar que quanto mais forte a chuva, mais nutrientes vão embora e mais rápido esta área se tornará pobre e improdutiva.

A FORMA DE PLANTAR – Em uma capoeira grossa ou em uma mata, as plantas nascem aleatoriamente, não nascem em linhas. O jogo de luz, água e nutrientes é que cria a oportunidade para que uma determinada planta ou plantas venha a germinar e crescer. A lógica utilizada pela natureza é diferente, os desencontros entre as plantas é uma forma que a natureza utiliza para que toda área seja utilizada. Não pode existir área na natureza sem vida em abundância. O tempo inteiro a vida quer mais vida, todos os espaços são ocupados não permitindo que a água escorra. A força dos pingos das chuvas no primeiro estágio é amortecida pela copa das grandes árvores, esta água vai escorrendo pelos galhos e troncos e folhas e chegam ao solo que deve estar coberto por uma camada de matéria orgânica em decomposição que rapidamente absorve toda esta água facilitando a sua captação e armazenamento no solo e seu excesso no lençol freático, para futura utilização. Mas muitos produtores plantam em áreas declivosas nunca imitando a natureza, mas sempre em linhas retas e na sua maioria a favor da descida, do escorrimento das águas, facilitando a transferência de fertilidade que em muitos casos se transforma em perda de fertilidade para aquela área ou propriedade.

AS CAPINAS – A principio precisa-se entender porque as ervas aparecem e qual sua função no sistema natural. Todas estas plantas desempenham um papel ecológico muito importante “cicatrizando” á área exposta pelo manejo errado. Alem de serem as primeiras plantas no processo de sucessão de evolução da área degradada. A natureza não permite solo desprotegido e nu.

Todo solo tem um banco de sementes com uma grande variedade de plantas, e a função de algumas destas plantas é repovoar rapidamente as áreas expostas sem vegetação, cicatrizando as feridas causadas e deixadas pelo manejo errado. Na sua maioria são plantas que tem um rápido crescimento e muito vigorosas, desenvolvem-se em pleno sol, são muitos resistentes, e se reproduzem facilmente, além de ter um ciclo de vida curto preparando a área para as próximas plantas do processo de sucessão natural ou cultivado. Logo, uma capina feita no momento errado acompanhado de uma queimada dos restos é com certeza uma perda de fertilidade para o roçado. Até o próprio nome diz roçado, quer dizer limpo, sem plantas daninhas, esta cultura de não entender a importância destas plantas e não saber manejar as mesmas em favor do sistema é uma falta de conhecimento de como se dá os processos naturais de sustentabilidade da área que se esta cultivando.

PERDA DE FERTILIDADE PELA VENDA DOS PRODUTOS – A planta para poder crescer necessita retirar os minerais do solo e alguns do ar. Todos estes nutrientes retirados estarão presentes na sua biomassa. Folhas, caule, flores e frutos são os resultados da fotossíntese, e na composição de cada parte da planta estes minerais estão presentes, uns mais outros menos.

A colheita é uma forma de empobrecer o solo desde que pós retirada e consumo destes minerais não retornem ao solo através da ciclagem e ou reciclagem dos mesmos. O retorno ao solo da palhada da colheita e das fezes é uma forma de diminuir as perdas de fertilidade para outras áreas. Se de uma determinada área plantada colheu-se 10 toneladas de produtos, pergunta-se como fazer para devolver 10 toneladas de matéria orgânica para o solo, para que a mesma quantidade saída seja a mesma quantidade de entrada, equilibrando o sistema? Esta é uma equação que permanentemente deve preocupar os agricultores, pois de outra forma toda vez que colher e vender estarão empobrecendo sua propriedade, logo sendo um caminho certeiro para a não sustentabilidade do seu agroecossistema. Uma grande produção deve significar uma grande volta de nutrientes para o solo, para que as perdas sejam equilibradas com as entradas.

O sistema natural funciona de uma forma muito perfeita onde tudo que sai entra novamente fazendo com que todo o ambiente esteja em permanente ciclagem, nada fica guardado tudo tem uso freqüente e permanente e tudo volta ao solo reafirmando a frase de Lavoisier “Que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma e volta ao seu estado inicial”.

Diante de todas estas afirmações anteriores surge a seguinte pergunta:
Quais são os elementos de entrada do sistema natural e cultivado e como minimizar ou até evitar as saídas sem volta ou sem retorno?

·         O SOL NOSSO DE CADA DIA - A primeira grande entrada generosa da natureza é o sol. Todos os sistemas vivos precisam de energia para mexer, puxar, moer, morder, comer, correr, ventilar etc. E nós seres humanos modernos para termos estas energias pagamos por ela (volts entre outras medidas). Mas, a generosidade da natureza nos dá de graça a energia solar, e muitos de nós não sabemos como transformar toda esta energia em nosso favor. Muitos produtores não sabem como transformar energia luminosa em energia química, e mais uma vez a natureza nos presenteia com as plantas e sua capacidade de fazer fotossíntese, transformando energia luminosa em comida, em biomassa. Não se percebe muitas vezes que quanto mais plantas mais energia acumulada na propriedade. As plantas são verdadeiras baterias de transformação e acumulação de energia solar. Mas achamos melhor arrancá-las e queimá-las, como somos inteligentes não! Diante do exposto percebe-se que a primeira grande entrada no sistema é a energia solar, deixe-a agir produzindo bateria e baterias para seu agroecossistema e quando necessitar utilizar estas baterias tenta devolver o mais rápido possível insumos naturais que fizeram parte desta bateria para o ambiente para que mais uma vez a natureza possa te ajudar a produzir mais baterias quem sabe até maior da que você utilizou.

·         AS PLANTAS LEGUMINOSAS – É outro grande presente da natureza poder ter plantas que através da sua simbiose com bactérias conseguem captar nitrogênio que está presente no ar e acumulá-lo no solo disponibilizando para algumas plantas que necessitam mais deste elemento, contribuindo para o aumento da produção da área. Não podemos esquecer que só se aumenta a fertilidade da área de forma natural aumentando a quantidade de vida da mesma.

·         AS TROVOADAS – As chuvas de trovoadas também enriquecem o solo, através das descargas elétricas dos relâmpagos. As descargas elétricas nas chuvas de trovoada provocam a síntese do azoto atmosférico, formando ácido nítrico, que, com a chuva é precipitado no solo, formando nitratos, procurados pelas plantas. Os estudos sobre o assunto, realizado na França, avaliam em cerca de 40 kg de ácido nítrico, precipitado do ar, por hectare, em um ano.


Portando na agricultura, as chuvas de trovoada são muito benéficas, pois ajudam no enriquecimento do solo. É facilmente percebido quando depois de uma chuva de trovoada com relâmpagos as plantas têm um rápido crescimento em poucos dias.

·         AS ENTRADAS NA PROPRIEDADE DE OUTROS ALIMENTOS – É outra forma de aumentar o acúmulo e compensar as saídas de nutrientes através das colheitas vendidas. A troca de alimento por outros alimentos é com certeza uma maneira de compensar as saídas, desde que aconteça a reciclagem destes produtos. Pois em muitas propriedades estas entradas alimentam mais por falta de reciclagem as sobras se transformam em lixo que vão poluir os ambientes. Repense o que se faz com o lixo orgânico da sua propriedade tanto o que você produziu e o que você trouxe de fora.

Uma entrada bastante utilizada pelos produtores para compensar as perdas é através da compra de esterco de animais para adubação, mas de forma direta esta é uma solução insustentável quando estamos falando em agricultura sustentável.


·       

  BOMBEAMENTO DE NUTRIENTES – Existem sistemas radiculares de algumas plantas que tem a capacidade de absorver minerais que estão em camadas mais profundas do solo e que estão indisponíveis para a maioria das plantas. Estas absorvem, processam através da fotossíntese e em determinados momentos soltam suas folhas que caem no solo devolvendo parte dos minerais que foram captados disponibilizando agora estes minerais na camada mais superficial para a maioria das plantas. Estes minerais não seriam utilizados nem tão cedo, mas através deste bombeamento aumentou-se a fertilidade do solo agrícola. Este processo pode ser feito também podando estas plantas, que também podem ser plantadas com esta intenção a de bombear nutrientes.

·         O PODER DO TRANSFORMAR – A reciclagem é outra forma de aumentar as entradas aumentando a fertilidade das propriedades. Transformar água em urina e urina em adubo e adubo em minerais é simplesmente fantástico. Uma pessoa elimina aproximadamente 550 Litros de urina por ano, dependendo da quantidade de líquidos que ingere, do clima etc. Deste modo, a quantidade excretada de nitrogênio por pessoa por ano estará entre 1,65 Kg – 3,85 Kg, usando os valores acima. Se a demanda de nitrogênio em um cultivo/gramado etc. é de 100 kg/ha e a concentração de N na urina é de 7 g/Litro de urina, uma pessoa pode fertilizar 385m2 (1,5 L de urina por m2), se apenas uma colheita é feita por ano. Se existir uma restrição no tamanho da área, normalmente é possível aumentar a fertilização de três a quatro vezes (usando-se assim até 6 Litros por m2) sem causar nenhum efeito negativo nos cultivos ou ao meio ambiente. Isto é uma das formas do poder da transformação.

·         O ESVERDEAMENTO DAS ÁGUAS – O esverdeamento de água é outra maneira de aumentar as entradas de nutrientes. A fertilização da água com esterco permite a proliferação de micro algas dando a coloração esverdeada a água, e esta água é um biofertilizante natural muito poderoso.

Esta técnica de fabricar biofertilizante traz uma grande vantagem onde com um pouco de nutrientes eu produzo muito. Além do esverdeamento das águas pode-se também permitir o crescimento de plantas aquáticas com o objetivo também de produzir biomassa com a intenção de transformar toda esta biomassa em compostagem. Este processo também contribui na despoluição das águas.


·         A ÁGUA DE ESCORRIMENTO DE OUTRAS PROPRIEDADES – É um processo que não devia acontecer, mas caso aconteça e se puder captar a mesma para a nossa propriedade é uma entrada a mais de nutrientes, pois na sua maioria estas águas vêm carregando parte de solo agrícola, e consequetemente estas águas possuem muitos minerais na sua composição que poderá ficar a disponível para os seus cultivos, desde que bem planejada a entrada e captação destas águas.

Percebe-se claramente que a cultura ainda é um dos grandes limitadores para que se faça uma agricultura mais ecológica. A ecologização da população é um processo lento e necessita-se iniciar esta mudança através dos mais jovens. Mas não podemos esquecer que estes jovens são educados pelos adultos que na sua maioria tem uma cultura em muitos casos antinatural. A cultura vivenciada por muitos adultos utilizam várias práticas vão de encontro ao meio ambiente, e justamente estas práticas e formas culturais vão sendo perpetuadas de geração em geração, como fazer para quebrar esta perpetuação? Se não envolvermos a escola neste processo é muito difícil que esta mudança venha a ocorrer. Toda mudança só se materializa no fazer, no procedimento “mudar fazendo, praticando e ensinando durante a execução é o caminho” logo FAÇA ALGO, o que esta esperando.

quinta-feira, março 10

Esverdeando o marrom do entorno da casa


Antônio Roberto Mendes Pereira

Atualmente em muitas propriedades rurais o desmatamento inicia-se por dentro de casa, as plantas ornamentais que enfeitavam internamente estão sendo substituídas por plantas artificiais de plástico. O anti naturalismo vem aumentando nos espaços onde o ser humano atua e habita.

O entorno da casa é desprovido de plantas
(desmatamento do terreiro)
A retirada da vegetação inicia-se por dentro da casa e vai caminhando para seu entorno, chegando até as áreas dos limites da propriedade, é uma devastação descontrolada e intencional. O entorno da casa é desprovido de vegetação e qualquer vegetal que se atreve a nascer neste espaço é arrancado imediatamente e queimado, como se fosse uma caça as bruxas no período da santa inquisição (1721), é atirado ao fogo sem dó. Não se consegue entender a importância que o mato ou erva daninha, ou até inço podem ter para a qualidade da vida das pessoas e sua importância na natureza.


Não se conhece o papel que as ervas desempenham diante da sucessão natural.

Plantas vivas,beleza dinâmica
Flores plásticas, beleza estática



Toda esta cultura esta sendo legitimada de geração em geração, este hábito cultural é tão forte que já não é costume único dos rurícolas o desmatamento, mas dos urbanos também, nos pequenos espaços como jardins e hortas urbanas qualquer vegetal que não seja a cultura cultivada é visto como intruso, oportunista, é arrancado imediatamente e atirado no lixo ou queimado. Em muitas casas urbanas o entorno é cimentado como forma de impedir o crescimento de vegetais em prol de uma limpeza antinatural.


Conhecimentos ligados a botânica é de pouco domínio por parte da população, muitas plantas são chamadas arbitrariamente de pé de pau, demonstrando o pouco conhecimento das espécies cultivadas. Os princípios básicos da nutrição vegetal são desconhecidos para a maioria dos agricultores. Muitos técnicos não conseguem explicar o que é e como acontece a fotossíntese quando são indagados repentinamente. Precisa-se saber que cada planta por pequena que seja captura carbono do ar nos disponibilizando como resultado desta troca o oxigênio. A proposta atual da captura do carbono ainda é um processo lento de ser entendido e aceito, embora em andamento. As famílias rurais precisam ser informadas muito mais, como diz Polan Lacki (1996) “O conhecimento é mais importante que os recursos financeiros abundantes para provocar desenvolvimento”.

Aumentar a área de plantio é fácil e rápido, mas em muitos casos o sistema de produção utilizado vai de encontro a todos os processos naturais. A falta de uma conscientização ecológica é quase que total. O agricultor de hoje e seu manejo podem ser considerados como mais um dos vilões da destruição da natureza. Precisa-se Ecologizar as pessoas e os espaços independentemente de onde se habita (rural ou urbano).
Agora imagine como reverter este caso, como entender profundamente a necessidade do esverdeamento do entorno da casa e das demais áreas da propriedade.

ALGUMAS REGRAS BÁSICAS E PRÁTICAS PARA O ESVERDEAMENTO

1.       O esverdeamento do planeta precisa ser uma constante independentemente do espaço habitado. Inicie o esverdeamento dentro da casa e depois vá aumentando para o entorno da habitação. É uma forma de melhorar o meio ambiente nos espaços onde habitamos. O esverdeamento dentro de casa vai ajudar na melhora do ar interno. Muitas doenças alérgicas têm como causa o ar interno residencial, carregados de poeira, ácaros, mofos entre outros. Muitas toxinas que fazem parte dos vários produtos químicos que são utilizados para limpeza de forma geral poluem este ar. Cientistas descobriram que algumas plantas podem ajudar na limpeza desta poluição do ar. O centro espacial da NASA descobriu que plantas domésticas comuns podem remover produtos químicos voláteis do ar. No livro soluções sustentáveis de Lucia Legan cita-se que duas plantas de sombra em vasos de 35 a 40 centímetros podem limpar o ar de 10 metros quadrados.

Algumas plantas que estão sendo pesquisadas pela NASA por seu beneficio ecológico de purificação do ar e que podem ser cultivadas dentro de casa:


Areca palma - (Chrysalidocarpus Lutescens)
Coqueiro de Vênus - (Dracaena fragrans)
Lírio da paz - (Spathiphyllum SP.)
Jibóia – (Scindapsus aureus)
Gérgera (Gerbera jamesonii)
Imbé – (Philoderdron erubescens)
Singônio (Synogonium podophyllum)


O esverdeamento do entorno da casa
imagem  SERTA Ibimi
2.       Como segunda medida de intervenção propõe-se que o esverdeamento prossiga pelo entorno da casa de morada. Não permita que o terreiro seja um pequeno deserto quente, seco e sem vegetais. Aumente a quantidade de vida do entorno da casa, e se não tiver tempo para o plantio permita que a natureza haja e depois você seleciona o que quer deixar que se desenvolva. Delimite seus caminhos e o restante deixe o esverdeamento tomar posse. 

3.       O tamanho e a quantidade de plantas vão depender do tamanho da área que se tem disponível. O bom é que se tenham plantas de vários andares, isto é, plantas pequenas, médias e grandes. Quanto maior a diversidade melhor para se criar habitat interessantes e sustentáveis. Podemos montar micro clima muito interessantes com confortos térmicos adequados.

4.       O cultivo de plantas ornamentais que dão estética ao entorno da casa pode ser uma alternativa que exige poucos cuidados, desde que as plantas selecionadas sejam menos exigentes em manejo. Um belo jardim é uma maneira de esverdeamento estético que além de belo é relaxante, transmite paz, tranquilidade.

5.       Como diz Lucia Legan “Plante o que gosta de comer, o que gosta de cheirar e o que gosta de vê”. Esta é uma estratégia bastante interessante para a escolha do que se quer plantar ou cultivar para o erverdeamento. Esta estratégia aumenta a motivação para o plantio.

6.       Aproveite todos os espaços disponíveis, em um pequeno espaço uma planta pequena, um espaço maior uma planta maior acompanhada de outras plantas menores. Caixas, caixotes, latas, pneus, bacias podem ser espaços para ajudar no esverdeamento. O bom é não ver mais a cor do solo e sim o que está plantado sobre ele.  Quanto mais saudável o solo mais vegetais bonitos e bem desenvolvidos. Se por acaso seu solo é pobre não se preocupe os vegetais vão se encarregar de enriquecer seu solo, dê tempo às plantas que elas irão fazer um ótimo trabalho de recuperação. Quando o esverdeamento é intenso e diverso, em pouco tempo ganharemos outras cores, um colorido fantásticos das flores.

7.       Plantas de longevidade diferente também é uma ótima estratégia consorciada com as anteriores. Quanto mais espécies de plantas de longevidades diferentes melhor para o ambiente, pois o solo permanecerá sempre coberto, ou melhor, ESVERDEADO durante mais tempo.

8.       A disponibilidade e a quantidade de água precisam ser levadas em conta na escolha das plantas a serem cultivadas, embora que esta disponibilidade não vai impedir do esverdeamento, pois existe uma diversidade intensa de plantas que toleram viver com pouquíssima quantidade de água, basta escolher bem as plantas para compor o espaço que queremos esverdear.

9.       Para que este esverdeamento possa servir para a melhora do ambiente, precisamos lembrar que o ambiente não deve ser unicamente habitado pelos humanos, mas precisamos de outros seres que vão compor este ecossistema. Muitos bio indicadores podem e devem ser atraídos para este ambiente, bastando unicamente se criar hábitat propícios que o atraiam. Como por exemplo, se queremos atrair pererecas e sapos precisaram montar pequenas lagoas com água, pois a umidade atrai estes seres. Os bio indicadores são o termômetro mostrando se a área que estamos montando esta adequada e ambientalmente correta. Se tiver plantas tem insetos, se tem insetos têm pererecas, se a quantidade de insetos aumenta aparecem os sapos, se os insetos estão no alto surgem às lagartixas e pássaros, é uma teia alimentícia onde todos ganham e o ambiente fica belíssimo.

                Edifício desprovido de verde                      Edifício esverdeado                            




 
As imagens acima mostram o que podemos fazer para transformar de forma natural o ambiente que vivemos.  O meio ambiente irá agradecer ti devolvendo mais saúde, equilíbrio e alimentos ricos, biologicamente equilibrados e sadios. Esverdeie todo espaço que puder. O ambiente necessita de sua ajuda. Não espere faça algo já! Agora! Imediatamente! Plante o verde, o colorido. Dê cor à vida, onde você vive.

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